Acho que nunca chorei tanto na minha vida, chorava de soluçar. A garganta parecia querer se fechar e o coração sair por ela. Ainda com os olhos lacrimantes vejo o motorista do carro da frente descer e tirar fotos dos nossos carros, averiguado o tamanho do estrago. Será que ele não percebeu que os carros só encostaram? Não deve ter sido suficiente nem para arranhar a pintura!
Com raiva dou um soco no volante e continuo meu show de horrores, muitos carros passam por nós buzinando. O motorista caminha até minha janela e percebe meu estado.
-Mocinha, calma! Esse tipo de coisa acontece o tempo todo.
Eu escutava só ecos da voz. Não sei quanto tempo levou.
-Calma, Respira...- Ele abriu a porta do meu carro e passou sobre mim abrindo meu sinto.- Ei, não precisa chorar por isso.
Com delicadeza o homem coloca as mãos no meu rosto, eu estava sem forças para reagir, precisava de um colo, um consolo.
- Não é por causa do carro né...- Ele fala mais para si do que para mim.
Balanço a cabeça em negativa.
- Tudo bem então.- Outro carro passa com um buzinaço infernal.- Vamos sair daqui antes que tenha outra batida.- Ele sorri e eu tento o acompanhar.
Ao menos estávamos no canto da pista, os carros estavam contornando os nossos.
- Está melhor?
- Sim. Obrigada.- Falo envergonhada.
- Meu nome é Levi, qual é o seu?
- Taís.- enxugo meu rosto com as mãos.- Meu seguro vai cobrir o seu carro, não precisa se preocupar.
Falei voltando ao meu juízo.
- Não estou. - Ele fala calmo.
Olhando melhor para o automóvel em minha frente não estava mesmo. O carro valia o tanto que nem meus dois rins seria suficiente para pagar. Não que o meu ficasse muito atrás, mas é o tipo de carro que só compra quem tem dinheiro para desperdiçar.
- Bem, eu estou bastante atrasado, Pode me passar o seu número?
Obviamente por causa do seguro.
- Claro.- Falo e fico sem fôlego, por espasmos de soluço.
Ele tira do bolso uma mini agenda preta. Quem em pleno século XXI ainda faz isso? Pelo visto, ele.
Alto, Moreno, forte, obviamente rico ou motorista de alguém muito rico, camiseta simples e sapatos preto, calça jeans, relógio de marca um perfume incrível e principalmente um sorriso tímido.
- Okay. Se sente melhor para voltar a estrada?- ele termina de anotar, se erguendo ao lado do carro. Eu só balanço a cabeça em afirmativo.- Nos vemos em breve Taís.
Ele saí com uma piscada de um olho que por um segundo até esqueci o motivo do choro.
Ele parte na frente e eu ainda fico um tempo respirando fundo, até olhar para as horas e me assustar. Faltava 15 minutos para a reunião.
Desligo o Pisca-Alerta do carro que nem me lembrava de ter ligado.
O resto do dia passou dentro da normalidade, algumas crises de choro Mas é o que se espera quando alguém que se ama te traí. Na hora do almoço orei, pedindo a Deus perdão pelos meus pensamentos que estavam longe dele e principalmente para que ele me desse força para continuar sendo minha prioridade até nesse momento de dor.
Não é fácil terminar um relacionamento de sete anos, muito menos a beira de um casamento.
Eu poderia dizer que Deus é injusto por ter me deixado chegar até aqui em um relacionamento errado mas o que ele realmente fez foi impedir que eu me casasse de forma errada. Forma, porque não existe pessoa certa, mas pode ter certeza que existem relacionamentos que segue de forma errada. Deus me livrou de um fracasso, e deu a oportunidade para que tanto o Pedro quanto eu pudéssemos reavaliar nossas prioridades.
A noite eu cheguei em casa mais animada fiz o balanço do mês e as projeções de venda para o próximo ano eram ótimas, os negócios cresciam de um jeito que me deixava orgulhosa, quando estamos no mesmo propósito de Deus esse é o resultado. Eu já podia olhar até mais uma franquia em outro shopping center.
Tomo meu banho demorado, curtindo a paz que estava sobre mim, sem preocupação. Lembro também de mandar uma mensagem para meus dois novos amigos em Cristo.
Mirian e Gabriel,
Mirian que logo respondeu com um "Boa noite", Mas Gabriel ainda não havia visualizado a mensagem. Conversei rapidamente com a moça e marcamos de nos encontramos sábado para um estudo bíblico, só nosso.
Animada pela honra que Deus estava me dando de cuidar dessas almas, desci para poder jantar.
- Então Taís, como passou o dia?- Meu irmão pergunta se referindo aos últimos acontecimentos.
- Bem, tirando o fato de que bati em um carro.
- Bateu? Que história é essa?!- Minha mãe pergunta preocupada.
-Na verdade só encostei no carro da frente, deu um amassado bem leve no meu mas acho que o outro não teve nada.- Falei considerando que o dono da Mercedes (que não reconheci modelo) não tinha entrado em contato para cobrar algo.
-E você fala isso na maior naturalidade?- Minha mãe se exalta.
- Calma amor, acontece.- Meu pai intervém.- Mas você tem que deixar de ser distraída, já tem 24 anos e continua lerdando igual criança.
Eu mereço! Me seguro para não revirar os olhos.
- Vamos falar de coisas boas. Hoje eu recebi a proposta para trabalhar no Hospital de Raízes, o salário é quase o dobro.- Meu irmão me salva e meu pai sorri todo orgulhoso e cumprimenta meu irmão com uma batida nas costas e sobe para um carinho na cabeça.
- Mas você vai trabalhar com que tipo de pacientes?- Minha mãe pergunta.
-Com crianças mesmo, na verdade era para ser clínico mas conversaram e me abriram a vaga de pediatria.
-Que maravilha, Deus é fiel está vendo!
-Sim, ele é fiel.
- Ah, e o pessoal está perguntando quando você vai voltar lá no asilo, sentem a sua falta.
Fazia anos minha mãe trabalha como diretora de um asilo, e meu irmão faz trabalho voluntário com os idosos de lá.
- Assim que possível vou ir lá, tenho um colega que também está interessado em ajudar.
- uhm, já ia me esquecendo.- Meu pai fala parecendo lembrar de algo muito importante. - Hoje encontrei o Alex, ele vai passar uma temporada resolvendo umas questões aqui da cidade.
Meu coração gela e minhas mãos soam, tinha anos que eu não ouvia esse nome na mesma frase que nossa cidade.
-Serio?- Meu irmão pergunta parecendo uma criança descobrindo que vai ganhar muitos presentes de Natal.- E ele nem me avisou!
-É esposa dele por acaso?- Meu pai pergunta tirando sarro.
- Mas nós conversamos semana passada, ele podia ter comentado.
- Porque ele ainda não passou aqui?- minha mãe faz uma pergunta já se respondendo.- O pobrezinho deve estar muito ocupado, passar aqui é a primeira coisa que ele sempre faz.
-Realmente, depois do fracasso na operação da Comunidade... Por isso pediram reforço das forças especiais de fora da cidade, não podemos mais arriscar a vida dos nossos homens.
-Mas não é muito perigoso para ele?- Minha mãe pergunta aflita.
- Claro que é, Paula. Mas também é a profissão que ele escolheu, e pelo o que ouvi o menino vai dar trabalho pros bandidos- Meu pai comenta.
-Que Deus o proteja, porque só ele sabe o quanto eu amo esse menino, tanto quanto meus filhos.
Meu irmão sorri levemente e eu torço os lábios. Me dá até arrepios pensar no Alex como irmão. Eu até gostava dele quando éramos crianças mas depois que ele perdeu os pais mudou completamente, não é como se eu não entendesse o sofrimento dele, mas simplesmente ele se tornou algo que classifico como "diferente" ou "insuportável".
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Atualizado até capítulo 20
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