XV- Cristão

P.O.V

-Eu sou cristão.-Ele explica.- Por isso não bebo, e você?

Acima de rico, lindo, estiloso, cheiroso, alto e Cristão. Cristão que não bebe!

"Deus, porque o Senhor não me apresentou um homem desses ao invés do Pedro?!"- Questiono em pensamentos

-Também sou cristã.-Sorrio ao saber que seria compreendida.

-Que interessante, você faz parte de algum ministério?

-A minha igreja é independente, mas ainda conservadora em alguns aspectos, não acho que você possa reconhecer pelo nome. E você?

-Sendo sincero, faz tempos que não vou à igreja por causa do meu trabalho, mas minha mãe era da assembleia de Deus, uma vez quando eu ainda era menino um amigo me deu uma garrafa com um tipo de cerveja, eu não tinha tomado ainda, mas minha mãe sentiu algo estranho quando eu cheguei em casa, então ela revistou minha mochila até achar a bebida, eu apanhei sem ter feito nada, acredito que hoje é mais por costume e um pouco de medo de beber e minha mãe aparecer aqui com um chinelo na mão...

-Você não é um filhinho da mamãe, é?- Falo impressionada por um homem tão bem aparentado comentar que apanhava de chinelo com muita naturalidade. Achei engraçado.

Ele joga a cabeça para trás sorrindo com a pergunta.

-Não, não sou. Na verdade, minha mãe faleceu há quase dez anos, mas eu ainda guardo essas "boas" lembranças dela...

-Eu sinto muito.- Falo sincera e com um aperto no peito, não podia nem imaginar viver sem a minha mãe por perto.

-Não sinta, ela era uma verdadeira serva de Deus, se tem alguém nessa terra que viveu em santidade além de Jesus, foi ela... Tenho certeza de que ela está num lugar melhor do que nós estamos agora.

A certeza com que ele falava era impressionante.

-Então você ainda é um cristão mais tradicional?- Mudo de assunto.

-Acho que sim, já tentei ir em uma dessas igrejas mais renovadas ou variadas, mas no fim percebo que meu estilo é mais tradicional e conservador, foi assim que Deus me chamou e eu me sinto mais próximo dele, afinal, o Deus do passado é o mesmo de hoje.

-Verdade, não podemos mudar a igreja só para se encaixar no que nós achamos hoje, que nos aceita, sendo que não é o que está escrito, as igrejas estão muito liberais, mas esquecem que para o reino de Deus precisa de santidade e renúncia.

-Exatamente, como o rei Josias, ele foi radical em abandonar todos os ídolos do seu tempo, todos os hábitos e costumes, é o que Deus espera de nós.- Ele me observa por um momento e eu a ele, era tão bonito, parecia perfeito e principalmente cristão.- E você está comprometida com alguém da sua igreja?

-Não, na verdade, eu terminei um noivado recente.

-E tem alguma possibilidade de reatarem?- Penso por um momento no Pedro e me sobe um arrepio pelo corpo, suponho que preciso de um tempo para pensar sobre ele.

- Não foi um término muito legal.-Explico.- Eu espero encontrar em Deus paz para perdoar, mas não voltar.

-Entendo.- Ele fala.- Eu passei por algo parecido a alguns anos, depois não tive mais tempo para pensar em relacionamentos.

O nosso jantar é finalmente servido, o resto da noite esquecemos tudo sobre trabalho, apenas sobre nós como pessoas e cristãos, eu já não o via mais como um investidor, eu o via apenas como um homem gentil que esteve comigo no elevador. E então nos despedimos com a promessa de continuar nos falando por telefone, e de em breve nos reencontrarmos para falar especificamente sobre o contrato.

.............

O resto da semana voltou a seguir a sua normalidade, eu não chorei mais pelo pedro, mas também não achava que já tinha superado, meu coração doía e o arrepio continuava toda vez que me lembrava dele, somos corpo, alma e espírito, às vezes em ⅓ da nossa vida precisamos de ajuda de Deus, mas os outros ⅔ é obrigação nossa correr atrás, eu confiava plenamente no meu pai celestial e que ele deu sabedoria a nós humanos para resolvermos algumas situações, por isso agendei um terapeuta para colocar para fora o que sentia e resolver a situação do caos que ficou minha mente.

Enquanto eu dormia sonhava estar num campo cheio de flores rosas, amarelas e vermelhas, caminhava por entre as folhas e sentia o sol cobrir meu rosto, então olho para longe e vejo a figura de um homem me observando, algo nele me era tão familiar, mas não conseguia me lembrar de onde o conhecia, tento me aproximar, mas parece que o caminho fica mais longo, e ele mais longe, corro em sua direção para ver se rosto, mas acordo com os gritos da minha mãe. Em pleno sábado.

-Taís, acorda menina!

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