P.O.V Alex
- Deixa ele ir, Alex.
Solto o homem corpulento a minha frente que parece finalmente percebe que não sou um inimigo.
Ele ajeita a farda que subiu fazendo uma dobra em sua barriga.
- Nós estávamos nos divertindo.- Falo provocando o homem que me lança um olhar assassino.
- Henrique, preciso que você verifique isto. -Vitor lhe entrega alguns pacotes pardos, contrariado o homem segue pelo corredor.
-Bem, vejo que chegou fazendo amigos...- Eu sorriu em resposta.
Ele se aproxima com um abraço de lado.
Só esqueci de avisar que odeio coisas muito afetivas, tipo abraços.
- Soube que vocês estavam precisando de ajuda por aqui, não deram conta do recado.- Era para soar divertido, mas o humor negro já está enraizado.
- Não vamos ir por esse lado filho.- Ele responde sério.- Como vai o Aaron?
- Ele vai bem, está seguindo o tratamento e teve uma pequena melhora no último ano.
-E você? A última vez que te vi estava formando no ensino médio. Como o tempo passa...- Ele fala mais para si.- E o coração, como está?
- Vou bem, e o coração batendo, o trabalho não permite mais do que isso.- Ele me lança um olhar estranho que mesmo tentando não podia identificar.- E como vai a Tia Paula?
Antes que ele respondesse um homem engravatado aparece por uma das portas.
- Desculpa interromper a reunião dos dois...- Sarcástico.- Mas estou com um pouco de pressa.
Vitor concorda com a cabeça e seguimos o homem até a sala, lá já estavam quatro outros homens, dois que já trabalharam comigo e os outros eu não conhecia.
- Bem, já perdi muito tempo então vamos começar.- Falou o engravatado.
- Como vocês já sabem estão aqui para reconhecimento e acareação dos fatos, me disseram que são os melhores e eu espero que até o fim do dia já tenham um plano de ação, por ser uma missão de risco vermelho vocês podem escolher os soldados melhores qualificados e montarem a equipe como queiram.
o índice de criminalidade na cidade subiu, a polícia tem colido provas, realizado diversas prisões mas nada que leve ao foco disso.- o tal Victor fala pegando uma pasta sobre a mesa e retira algumas cópias.
-Recentemente ouve um atentado contra o governador, a filha dele foi encontrada morta no próprio quarto. Suspeitamos que tenha sido uma retaliação porque o governador votou contra várias propostas que posso dizer serem polêmicas. Algumas que envolvem crimes do colarinho Branco- Cada um pega uma cópia dos arquivos e ele continua- Sabemos que os crimes pequenos são para nos distrair de algo muito maior, por exemplo...
-Ele fala agora se virando e chamando a atenção para a projeção que se fazia na parede. Com o controle e a luzinha vermelha ele aponta para o mapa, uma área verde mas pontilhada também de vermelho.
- Aqui antes era considerado uma vizinhança segura apesar de estar bem próxima a comunidade. Isso porque como já devem imaginar, os traficantes da região não gostam de chamar a atenção para o entorno. Recentemente houve três assaltos seguidos, algumas viaturas começaram a circular a região mas o assaltante não foi capturado por que os próprios integrantes da gangue cuidaram de dar um fim à ele. Não queriam atenção. Até agora. Esses pontos são todos os crimes cometidos, variando de pequenos delitos até tentativa de assassinato. Passou de três para 15 boletins registrados em menos de 3 meses. O mesmo se repetiu por toda a cidade.
Ele passa para a próxima página em que o mapa é atualizado espalhando milhares de pontos vermelhos.
- A cidade em si é conhecida pela quantidade de crime, mas não é normal o que estamos vendo. Enquanto isso, temos informações que levam a crer que a circulação de drogas pela cidade reduziu quase pela metade. Muitos traficantes tem ficado enfurecidos e por alguma razão também estão quietos de mais...
- Desculpa interromper.- um dos homens que não reconheço começa.- Mas está sem nexo essas informações. Eu não consigo ver o grande problema nisso, os bairros mencionados ficam próximos a zonas de risco e é normal que a criminalidade uma hora saísse das mãos até da milícia da região, o número de boletins tem aumentado porque finalmente as pessoas estão tomando coragem para denunciar e deveríamos agradecer que a distribuição de entorpecente esteja sendo contida!
O engravatado que nem deu ao trabalho de se apresentar continua como se não tivesse sido interrompido.
Passando para a próxima imagem que eram 5 homens mortos. Todas em locais diferentes Mas com os mesmos sinais de violência, as mãos amarradas ferimentos por todo o rosto e corpo e uma marca de tiro na cabeça. Foram torturados.
- Essas mortes também são dos últimos três meses. Mas, que tipo de pessoa perde tempo torturando se no fim dará uma morte rápida e indolor? Alguém se arrisca?
Todos sabemos, mas ninguém fala. Queriam obter resposta, torturam enquanto interrogam, assim dão esperança a vítima de que poderá sair livres em algum momento. Se colaborarem. Mas eles não querem deixar rastros. Vão matar do mesmo jeito, falando ou não, o fim é a morte.
Entediado mas autoritário ele continua o que mais parece uma palestra Com slide.
- Alguém?- Insiste intercalando o olhar entre os presentes. -Poxa pessoal, ninguém aqui sabe?- Juro que se não fosse uma autoridade eu já tinha quebrado a cara desse mané.
- É comum quando buscam informações da vítima, mas as mesmas já estão marcadas para morrer.- Vitor responde por nós apenas para que o homem continue sem parecer que fala com adolescentes no colegial.
- Correto.- ele passa para outra imagem, que me faz ficar com a postura mais ereta. Também com o estômago embrulhado mas essa última parte não admitiria em voz alta.
A imagem de uma menina, completamente sem roupa mas com o corpo encolhido em posição fetal. Provavelmente uns 13 ou 14 anos, uma criança com rosto angelical mas os olhos abertos, vazios sem vida. A franja tampava a testa mas era possível ver um fio de sangue que se misturava ao escuro do cabelo. Marcas escuras e arroxeadas pelo tórax e o que parecia queimaduras nas mãos e diversos outros hematomas que iam até os pés, mas nada além da bala atingiu o rosto. Sinal de estrangulamento também estava presente.
A sala de repente parecia mais escura, fria e desconfortável.
- Essa é a filha do governado.- Agora ele tinha toda a atenção dos 6 homens presentes na sala.- Helena morreu as 23 horas da quarta-feira passada. Diferente dos homens, ela recebeu o tiro na testa quando já estava morta, os laudos determinaram que foi devido a arritmia cardíaca, foram longas horas de tortura, o tiro foi apenas forma de deixarem seu registro.
- Teve abuso sexual?- Um outro, cujo eu conhecia de uma operação que participei no Rio de Janeiro, Carlos, pergunta com muita seriedade. Até onde eu sabia ele era solteiro mas possuía duas filhas adolescente. Não é comum compartilhamos informações sobre nossas vidas mas certa vez vi em sua carteira duas fotos 3×4. Um pequeno empréstimo feito na hora do almoço. Posso imaginar o que se passa em sua mente.
- Não. Descartamos esse ideia logo no princípio. A menina tinha 16 anos, e houve sim o ato, mas peritos disseram que não há sinal de abuso ou ao menos sem nenhum sinal de violencia, e o indivíduo usou preservativo para não deixar DNA, luvas, tudo profissional apesar da ordem parecer amadora. Imaginamos que foi assim que tiveram acesso a ela, a casa estava com o sistema de segurança desligado e no dia não tinha nenhum funcionário. Ela inconscientemente ajudou a apagar as provas, possivelmente escondendo o relacionamentos dos pais.
Criança tola.
- O que tem acontecido está de alguma forma relacionada. Querem dividir nossa atenção nas coisas pequenas para que não nos concentremos nas grandes. Já realizamos muitas prisões mas ninguém quer ser o dedo duro, estão com mais medo de lá de fora do que de nós. Cartéis estão sendo monitorados no momento, eles literalmente estão nos entregando outros criminosos, bandidos, jovens delinqüentes para distração.
- E como chegaram a essa conclusão?
- Tentaram subornar o policial errado. Estão se agrupando, treinando, o tráfico de drogas diminuiu mas interceptamos um caminhão lotado de armas do mais grosso calibre e fuzil de precisão, tudo de uso militar, acreditamos que outros tenham passado sem nós percebermos e vocês sabem o que isso significa...
Todos estavam em silêncio digerindo nossa próxima missão.
-Por isso chamamos vocês aqui, a guerra está vindo e precisamos das nossas forças especiais no caso. A polícia local não consegue entrar na comunidade com o armamento disponível e nem conseguem investimentos para uma investigação criteriosa. É tudo que precisam saber. A operação é arriscada, eu já consegui colocar um dos meus homens, mas leva tempo até que ele ganhe confiança e entre cada vez mais fundo. Enquanto isso, externamente preciso que vocês investiguem o que está de fato acontecendo e o que estão escondendo. Ainda essa tarde vocês estarão em posse dos relatórios e dóceis dos casos, até lá podem se adaptar ao novo ambiente. Como sempre vocês são fantasmas e cada um vai receber uma nova identificação para se enturmarem pela cidade e não serem ligados a nenhum órgão nosso então esse é nosso primeiro e último encontro nessa delegacia.
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Atualizado até capítulo 20
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