XIV- Jantar

"Diante da fogueira, o amor e o pecador

O fogo que revela a impureza é o mesmo purificador

Vem me queimar, Senhor

Não desista de mim"

P.O.V Taís

Quando cheguei ao local combinado não sabia como agir, usava um vestido simples preto transpassado com branco bem social com uma sandália básica de salto branco. Logo sou recepcionada pelos funcionários que me levam até a mesa reservada. Eu sentia minhas mãos geladas, meu coração acelerado ansiosa para receber a proposta, agradeço a moça gentil que me levou e aguardo balançando os pés por sobre o pano cor de creme que cobria a mesa.

Não demora para ele chegar, Levi se aproximava chamando a atenção de todos para si, vestia esporte fino, mas o enorme relógio no seu pulso era o que mais chamava a atenção, brigando apenas com o sapato social que eu poderia jurar ser pele de cobra. Ele se aproxima e antes que eu me levante ele se inclina para me cumprimentar, estendo a minha mão para impedir então ele a beija se sentando à minha frente.

-Espero não ter a feito esperar muito...

-Não, eu acabei de chegar.- Ele sorri para mim me deixando um pouco desconcertada.

Observo suas mãos, mas ele não carregava nenhum papel e nem aliança diga-se de passagem. Me preocupava que ele tivesse desistido de me fazer uma proposta.

-Esse lugar é muito bonito, obrigada por me trazer aqui.- Puxo assunto.

-Eu pensei que você fosse gostar, sempre venho aqui quando passo pela cidade.

-Com licença- Um casal se aproximou chamando nossa atenção, o homem era bem mais velho, usava um terno e a mulher um conjuntinho rose, ambos aparentavam ter muito dinheiro.-Quanto tempo meu rapaz!

Levi levanta rapidamente estendendo a mão para o casal.

-Sr.Alberto, não esperava encontrá-lo aqui.

-Eu estou a trabalho e aproveitei para passear com minha Senhora.- Ele aponta para a mulher loira que o acompanhava, ela parecia ser no mínimo uns 20 anos mais nova, mas eu não via nenhum problema nisso e a forma com que ele a apresentou só deixava claro que havia amor.

-É um prazer conhecê-la.- Levi cumprimenta a mulher que retribui e olha-me com curiosidade estampada nos olhos.

-E quem é essa bela moça com você?- O senhor Alberto se adianta.

- Essa bela moça é a Taís, está começando a carreira como empreendora.- Ele estende a mão para mim, eu me levanto com muita vergonha.

-Prazer!- Cumprimento com um aceno leve na cabeça já que estava com vergonha demais para me lembrar de estender as mãos.

-Então imagino que seja uma jovem muito especial, já que está acompanhada do "Doutor" mestre do empreendedorismo.-O senhor fala empolgado.

-Nos acompanha no jantar?- Levi pergunta ao casal que se comunica com o olhar.

-Não, hoje não. Não queremos atrapalhar o jovem casal.- A mulher responde pelo marido.

Espero que Levi corrija o termo "casal" mas ele apenas sorri concordando o que faz minhas bochechas corarem.

-Então vamos indo, nos vemos em breve!- O senhor fala se despedindo enquanto Levi e eu voltamos a nossos lugares.

-O senhor Alberto é dono de uma concorrente do grupo que eu administro. Nos conhecemos a bastante tempo...

-Nunca iria imaginar, vocês pareceram tão bem juntos.- Me admiro, talvez pelo estereótipo de que concorrentes são rivais.

- Não, negócios são a parte, e nós junto com um terceiro somos responsáveis por um trabalho voluntário com crianças carentes.

- também não cogitaria que os concorrentes pudessem trabalhar juntos.

-Só assim uma indústria como a nossa consegue se manter de pé, ele já tem o mercado dele e eu o meu, se um grande cliente meu, tenta ir para a empresa dele, agimos para que eu me mantenha na jogada e vice-versa, a transparência entre nós é fundamental.

-Eu não poderia imaginar algo assim.

-Nem sempre é tudo perfeito, já tive que lidar com algumas decepções, mas faz parte do processo.

-Entendo. E a propósito, a proposta que o senhor.- Me corrijo antes de continuar.- que você disse que me faria...

-Eu encaminhei para seu e-mail.

Pego o celular com pressa e verifico a notificação de mensagem do e-mail a menos de 1 h atrás. Abro o arquivo e começo a ler a proposta que se tratava mais de formalidades iniciais.

-Essa semana foi muito corrida, e eu gostaria de deixar os assuntos de negócio um pouco de lado se não se importar, posso fazer o pedido por você?-Ele perguntou tirando minha atenção do telefone.

-Sim, pode!- Até porque eu achava que não saberia o que pedir nesse lugar tão chique, estava acima dos que eu costumava frequentar.

Levi estende a mão e rapidamente um rapaz vem anotar nossos pedidos.

-Boa noite, sejam bem-vindos ao Amour Bistrô, vocês querem ouvir o menu da noite?

- Não precisa, para a entrada queremos camarões em crosta de coco e cubos de manga com cebolas crocantes, o prato principal cavaquinha grelhada com molho do chefe e de sobremesa o creme de mascarpone.- Ele fala com muita naturalidade.- tudo bem para você?-Levi me pergunta.

-Parece perfeito.- Respondo.

-E é mesmo.- O garçom concorda impressionado.-Vocês já sabem o que querem beber?

-Pediremos depois.

-Okay, aproveitem a noite!- O garçom fala se retirando e o celular do Levi começa a tocar.

Ele hesita se deve ou não atender e no fim recusa a chamada, o celular volta a chamar e ele fica no processo de recusar mais umas duas vezes.

-Você não vai atender?- Pergunto.

-Não é importante.-Ele encerra novamente, mas dessa vez desligando o aparelho.

O garçom volta trazendo uma garrafa de vinho.

-O chefe pediu para dar-lhes de cortesia pelo pedido.

-Sinto, mas eu não bebo nada alcoólico, você aceita Taís?

-Também não, mas muito obrigada!-Reforço o agradecimento ao garçom.

-Podemos pedir uma bebida não alcoólica ao invés do vinho?- Levi completa.