capítulo 16

SOPHIE LOPES

— Marcos! — Falei secamente. 

  

— Nossa, quanto tempo. Você nunca mais entrou em contato. — Ele continuava o mesmo cínico. Não acredito que ele esperava mesmo que eu iria entrar em contato. Tudo o que eu queria era distância. 

  

— Tudo o que eu tinha para falar foi dito na nossa última conversa. 

  

— Sim, eu lembro. Parece que você não mudou de ideia. 

  

— Pode ter certeza de que eu não mudei. Agora, se não se importa, estamos querendo jantar em paz. 

  

— Você não vai me apresentar sua amiga? — Que ódio que eu tinha daquele homem. Como um dia tinha me relacionado com ele. Elisa me olhava interrogativa. 

  

— Não que seja da sua conta, mas ela não é só minha amiga. — Elisa se manifestou pela primeira vez. Suas palavras me surpreenderam. 

  

— O que isso significa? — Ele falou agressivo. Eu sabia o quão ruim isso poderia se tornar. 

  

— Isso não é da sua conta. — Falei irritada. 

  

— Nossa, Soph, você já foi mais simpática. Não vai me dizer que agora mudou de time. — Seu tom de sarcasmo me dava raiva. 

  

— Por que você não vai embora, Marcos? — Lancei um olhar ameaçador. 

  

— Não, na verdade eu estou me divertindo com toda essa situação. — Ele puxou uma cadeira e se sentou. Minha raiva só aumentava. — Então, Elisa, como é... Você sabe... transar com a dama de gelo? 

  

— Você é idiota ou o que? Já mandei ir embora. — Me alterei um pouco. 

  

— Tudo bem, Sophie. Eu respondo. — Elisa chegou mais perto de Marcos e falou. — O que eu e essa mulher linda fazemos na cama não é da sua conta, mas eu posso garantir que de fria ela não tem nada. Muito pelo contrário, nunca estive com uma mulher tão quente. — Marcos estava vermelho de raiva. Aquilo não acabaria bem. Fiquei em alerta total. 

  

— Vocês duas são nojentas. Suas sapatas de merda. — Ele tinha perdido toda a noção do ridículo. Algumas pessoas olhavam para a nossa mesa. 

  

— E você me dá pena. — A maneira como Elisa estava afetada me deixou preocupada. Ela não era assim. — É um imbecil egocêntrico que não sabe quando perder. 

  

— Do que você me chamou? — Ele ficou em pé. 

  

— Elisa. — Tentei acalmá-la, mas ela nem sequer olhava para mim. 

  

— De imbecil egocêntrico. — Ela também ficou em pé. 

  

— Você vai se arrepender do que disse. — Marcos segurou o braço de Elisa. Nesse momento, um ódio tomou conta de mim. Me levantei, puxei Marcos pelo braço e soquei seu nariz. O impacto foi tão grande que ele caiu no chão. Agradeço pelos três anos de box. Meu cruzado ainda era forte. 

  

— Sai daqui, Marcos, ou eu não vou apenas socar sua cara. — Ameacei e me coloquei na frente de Elisa, que estava assustada. — Você passou de todos os limites. Se você ousar tocar nela novamente, eu acabo com sua vida. 

  

— Você é uma vadia de merda. — Ele xingou enquanto limpava o sangue que escorria do seu nariz. Minha vontade era de chutar a sua barriga, só que muitas famílias estavam nos observando e eu não iria me rebaixar ao nível daquele lixo. 

  

— O que está acontecendo aqui? Elisa, você está bem, minha querida? — Chefe Lorenzo falou apavorado. Mas Elisa não respondeu. Ela parecia em choque. — Fiquem tranquilas, os seguranças já estão vindo. 

  

— Obrigada, Lorenzo. — Agradeci, mas nem o olhei. Estava preocupada com Elisa. Ela estava calada e séria. 

  

— Você vai se arrepender, Sophie. — Marcos continuava a me ameaçar. Precisava tirar Elisa dali. 

  

— Chefe, nós já vamos. — Coloquei algumas notas de dinheiro na mão dele e segurei a mão de Elisa. 

  

— Me desculpem por toda essa situação. — Ele sussurrou. 

  

— Tudo bem. A culpa não é sua. Boa noite. — Levei Elisa até o estacionamento. Ela continuava calada. Aquilo já estava me deixando aflita. Quando entramos no carro, pensei que ela diria alguma coisa, mas nada aconteceu. Suspirei frustrada e liguei o carro. 

  

O caminho até a casa de Elisa foi angustiante. Sei que o que aconteceu no restaurante foi horrível, mas nós devíamos conversar e não ficar caladas. Ela sempre falou pelos cotovelos. E agora mal consigo ouvir sua respiração. Ela está virada para a janela, e não consigo ver sua expressão. Estou com medo, ainda não sei do que, mas estou com medo. 

  

Estacionei o carro na garagem e desliguei o motor. Esperei que ela começasse a falar, mas isso não aconteceu. Eu ainda segurava firme o volante do carro, e minha mão estava pálida por causa da pressão. Olhei para Elisa, e pela primeira vez, ela também me olhou. Só que seu olhar era de decepção. Foi como se um tiro tivesse me atingido. Eu precisava consertar tudo aquilo. 

  

— Elisa, eu... 

  

— Não acredito que você me colocou no mesmo lugar que o seu ex. — Ela estava magoada. 

  

— Do que você está falando? 

  

— Você realmente achou que eu fosse te magoar como aquele idiota fez? 

  

— Elisa, não é bem assim, eu... 

  

— Sophie, você não confiou em mim. Mesmo depois de tudo que passamos, você não confiou em mim. Sua voz estava chorosa. Eu queria desesperadamente que ela não chorasse. 

  

— Claro que eu confio em você. 

  

— Não, você não confia. E hoje ficou tudo mais claro. Ou melhor, desde o início foi assim. 

  

— Do que você está falando? 

  

— Você nunca quis ter um relacionamento comigo. — A mágoa era nítida em sua voz. 

  

— Nós temos um acordo. 

  

— Eu odeio esse acordo. Ele é simplesmente uma droga. 

  

— Elisa, você que começou com isso. Tá, eu não devia ter falado aquilo, mas não estava pensando direito. 

  

— Você acha que eu gosto desse acordo? Você acha que eu gosto de sair às escondidas com você só para que ninguém saiba disso. — Apontou para nós duas sem saber o que realmente nossa relação significava. — Você acha que eu tive escolha? Você nunca aceitaria ficar comigo se não fosse dessa forma. Mas eu pensei... — Sua voz sumiu, e ela começou a chorar. 

  

— O que você pensou? Perguntei, aflita por vê-la tão vulnerável. 

  

— Eu pensei que você iria mudar de ideia. Que iria ver o quanto sou diferente do seu ex. Droga, eu não sou ele, Sophie. 

  

— Eu sei que você não é ele. Você é maravilhosa. 

  

— Mas não o suficiente para você me levar a sério. 

  

— É claro que eu te levo a sério. É por isso que você está estranha esses dias? Acha que eu não te levo a sério? Nós temos um acordo. 

  

— Esquece essa droga de acordo. Você não acha que ele é meio irreal? Sexo sem envolvimento? Isso é uma... — Ela respirou fundo. — Sophie, eu não quero mais esse acordo. — O meu desespero se tornou maior. Ela estava terminando comigo? 

  

— Você não quer mais ficar comigo? 

  

— Claro que eu quero. Eu só quero que seja diferente. Quero acordar ao seu lado todos os dias e poder te chamar de minha namorada. Quero poder dizer para todo mundo que estamos juntas. Quero participar da sua vida, nos momentos alegres e tristes. Nos momentos fáceis e difíceis. Quero ter problemas de casais e depois resolvê-los. Porque eu te amo e não consigo mais esconder. — Nossa, ela me amava. 

  

— Você me ama? 

  

— Desde que te vi pela primeira vez. Eu não consigo ter sexo com você, porque para mim toda vez estamos fazendo amor. Sophie... — Elisa segurou na minha mão. — Deixa-me te amar. — Não sabia o que dizer. Eu estava tão confusa. Agora tudo estava complicado. 

  

— Elisa, eu... — Tentei falar, mas não sabia o que dizer. O silêncio se tornou sufocante. 

  

— Por que eu achei que você mudaria de ideia? — Ela balançou a cabeça negativamente. — Eu preciso entrar. Elisa abriu a porta do carro, e aquilo me deu muito medo. Ela caminhou a passos rápidos, e eu a segui sem saber o que fazer para consertar toda aquela merda. 

  

— Elisa, espera! — Ela parou, mas não se virou. 

  

— Sabe de uma coisa? Você está tão preocupada em não se magoar que não quer nem se arriscar. Eu não posso te curar, Sophie. Isso é algo que você tem que resolver consigo mesma. É uma pena que eu não tenha percebido antes. — Elisa abriu sua porta e, antes de fechar, disse — Eu te amo, mas eu amo mais a mim mesma, e não posso continuar me machucando dessa forma. Adeus, Sophie. — Ela fechou a porta, e eu simplesmente não conseguia me mexer. 

  

Quis tanto correr atrás dela. Mas estava com muito medo. Por que eu não conseguia agir? Meu coração doía, e senti como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado. Entrei no carro e dirigi até o meu apartamento. Era como se eu estivesse anestesiada. Não conseguia sentir nada. Abri a porta e escorreguei lentamente até que estivesse sentada no chão. Tudo estava escuro, assim como minha alma. 

  

A imagem de Elisa veio em minha mente. Ela estava chorando e me olhava com decepção. Toquei em meu rosto, e ele estava molhado. Me encolhi no chão e chorei até que me faltasse o ar. Eu tinha perdido ela. Tinha perdido a pessoa que me fez feliz desde o primeiro momento. E a pior parte é que eu não sabia como reconquistá-la. Elisa tinha razão, eu precisava me curar. Mas como eu iria fazer isso? Tudo o que eu sabia é que ela não dormiria comigo, eu não teria os seus carinhos no meio da noite e não veria o seu sorriso ao acordar. 

  

Angústia tomou conta de mim. Queria ouvir sua voz, queria ligar para ela e pedir perdão, mas isso não ia acontecer. Elisa não merecia nada disso, e o mínimo que eu podia fazer era respeitar seu espaço. A tristeza tomou conta de mim, e eu só queria que amanhã, o dia fosse melhor. 

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Comments

Adriana Gomes

Adriana Gomes

as vezes as pessoas ficam tão presas nas suas mágoas que não se permitem viver algo novo e verdadeiro!

2023-05-24

5

Adriana Gomes

Adriana Gomes

esse capítulo deu umas pontadas no ❤️

2023-05-24

0

Andy

Andy

Senti até uma dorminhoco de tristeza no meu coração. Cada dia mais emocionante...

2022-07-15

0

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