Capitulo 4

Acordo como se uma carreta tivesse passado por cima do meu corpo. Tentei não beber, mas não teve como. Esse pesadelo está acabando comigo e preciso dormir com urgência senão vou parecer um zumbi daqui a pouco.

Pego meu celular e ligo para Jess. Ela atende depois de alguns toques.

- Oi.

- Oi Jess tudo bem?

- Sim e você?

- Também, queria saber se não quer vir para cá, assim podemos viajar juntos para Los Angeles na próxima semana.

- Claro vai ser bom ficar um tempo com você antes de toda loucura.

- Quer que te busque no aeroporto?

- Te mando mensagem com o horário do voo.

- Fico esperando.

Desligo e fico pensando porque fiz isso. Agora não tem volta. Levanto tomo um banho e me agasalho.

Vou direto para a cafeteria. Peço café puro e um sanduiche, sento-me na mesma mesa e fico olhando pela janela para as pessoas que passam apressadas indo para o trabalho.

Saio da cafeteria e caminho sem direção. Observo os prédios e pessoas na rua. Vejo um flash de cabelos ruivos saindo de um táxi. Paro e fico observando a mulher se dirigir para o prédio em frente. Meu coração se acelera e estou respirando pela boca. Ela está linda. Faço menção de atravessar, mas paro. E se não for ela? E se ela não quiser me ver? Fico observando por mais alguns minutos e depois sigo meu caminho.

Chego ao apartamento com Jess, compro pizza e depois de jantarmos vamos nos preparar para dormir. Ela caminha até a penteadeira e pega a escova para arrumar os cabelos. Toda vez que ela vem aqui e faz isso sinto um aperto no peito. Tenho que me desfazer dessa penteadeira logo.

Ela se deita ao meu lado e começa a me beijar. Acaricia meu corpo. Inverto as posições e começo a beijá-la com fúria, mordendo seu lábio inferior. Ela geme loucamente. Entro em seu corpo rapidamente e ela acompanha meus movimentos. Fecho meus olhos e imagens dominam minha mente, mas afasto tudo. Preciso esquecê-la.

No dia seguinte, Jess quer sair para fazer compras. Estamos no elevador quando este para e entra Beatriz. Ela sorri.

- Oi Beatriz tudo bem?

- Oi Ryan tudo e você? Melhorou?

- Um pouco.

- Estou vendo.

Jess olha e me me dá um pequeno beliscão:

- Não vai me apresentar?

- Esta é Beatriz, mãe da minha ex-noiva, Angélica e, vizinha.

- Prazer em conhecê-la. Eu encontrei sua filha uma vez num evento. Ela é muito bonita e simpática.

- Obrigado. Ela é uma pessoa extraordinária.

- Ela já voltou Beatriz?

- Parece que sim, mas não vai ficar muito tempo.

Encaro seus olhos, ela está com um sorriso no rosto e olha para a Jess que está praticamente pendurada em mim.

- Que bom, será que vou vê-la?

- Tenho certeza que sim.

A porta se abre, ela se despede com um aceno.

Depois de algumas lojas, vamos almoçar num restaurante tranquilo. Depois mais lojas. Compro um terno para a cerimônia.

Jess ainda está em dúvida do que vai vestir. E ficamos entrando e saindo de lojas por algum tempo.

Entramos numa loja famosa e estamos vendo as roupas quando a gerente se aproxima e me reconhece.

- Olá Sr. Russell.

- Olá tudo bem?

- Bem, o que o traz aqui novamente?

- A Srta. Green procura por algo deslumbrante para a cerimônia de premiação mais esperada.

- Sigam-me tenho alguns modelos que chegaram para esta ocasião.

Vamos até a parte reservada da loja e ela mostra diversos modelos. Ela acaba escolhendo um que realmente valoriza muito seu corpo e depois de escolher os sapatos acertamos a data da entrega.

Quando estamos quase saindo ela me aborda:

- O vestido que o senhor comprou comigo serviu na pessoa?

- Não sei. Eu dei de presente, mas a pessoa não teve oportunidade de usá-lo. Aconteceram alguns contratempos. – ela percebe que estou desconfortável com a pergunta,

- Entendo. Sinto muito por perturbá-lo.

- Não se preocupe não foi nada. Vamos? – Jess responde.

Nos despedimos e pegamos um táxi para voltarmos ao flat.

Estou na sala e Jess está dormindo ainda. Estou me sentindo sufocado preciso respirar ar puro e conversar com alguém.

Desço até o apartamento de Beatriz e toco a campainha, ela atende toda sorridente.

- Oi fi... Oi Ryan.

- Está esperando outra pessoa? Se for o caso, volto depois.

Estou me virando para ir embora quando ela segura meu braço e me impede de sair.

- Entre e me diga o que está acontecendo.

- Realmente eu sinto por atrapalhar. Depois venho conversar.

- Venha tomar café da manhã fiz um monte de coisas gostosas.

Eu entro e tem uma mesa montada cheia de coisas. Sento a mesa e começo a comer.

- Meu relacionamento não está muito bom. Algumas coisas que ela faz me deixam irritado. Tenho vontade de sair correndo. E quase todas as vezes que estamos juntos tenho que pensar para não trocar seu nome.

- Bem, isso seria engraçado, mas não pode compará-las. Tente ver quem está com você.

- Não consigo, quando acordo e olho para o lado e não vejo a Angel me sinto mutilado e não quero ficar com ela ali. Sinto que ela é uma intrusa na minha vida, ao mesmo tempo não consigo ficar sozinho.

- Você tem que ser forte. Espere passar a cerimônia e depois procuramos ajuda especializada. Eu te ajudo no que precisar.

Ponho a cabeça entre as mãos e fico me sentindo um lixo.

- Será que um dia vou esquecê-la? Vou conseguir seguir em frente?

- Não sei. Você só saberá o que sente quando olhar nos olhos dela novamente. Depois disso você pode me dizer como se sente realmente.

Nesse momento o interfone toca.

- Preciso descer para receber uma encomenda. Quer ir comigo?

- Não, vou subir, deixei a Jess sozinha e ela deve ter acordado já.

Estou indo em direção à porta, paro por um momento e olho em seu rosto. Elas não parecidas fisicamente mas os olhos são idênticos. Vou até ela e a abraço forte.

- Obrigado por sempre me ajudar.

Seguimos até o elevador e ela sobe comigo e depois segue até o saguão.

Acordo com o cheiro de alguma coisa queimando e dou um pulo do sofá, encontro Jess tentando cozinhar algo. Corro até ela e a cena é engraçada, ela está fazendo careta para derrubar massa numa frigideira.

- Quer que eu faça?

- Estava querendo fazer uma surpresa, mas sou péssima na cozinha.

Assumo o fogão e ela fica do meu lado.

- Arrume a mesa.

A massa está deliciosa e ficamos conversando sobre as propostas de trabalho. Sinto que precisamos sair, pego o celular e ligo para a Beth.

- Oi Beth tudo bem?

- Oi Ryan tudo e você?

- Queria saber se ainda está de pé aquele jantar?

- Claro! Quer vir hoje? Eu e o Carl vamos receber o Luke e Alexandra.

- Vai ser ótimo, vou levar a Jessica, ok?

- Sem problemas. Vai ser ótimo ter vocês aqui em casa. Sabe nosso endereço?

- Claro.

- Então esteja aqui às dezenove.

- Estarei.

Chamo Jess:

- Nossa estou dormindo muito ultimamente.

- Vamos nos arrumar que temos um jantar hoje à noite com alguns amigos meus.

- Certo, vou me aprontar.

Ela vai para o quarto e fica por lá algumas horas. Quando ela volta para a sala com um vestido curto vermelho, maquiada e pronta, vou para o quarto me arrumar.

Tomo banho e faço a barba. Pego um terno e me arrumo. Encontro-a na sala.

Ao chegar à casa da Beth e Carl já estão todos nos aguardando. Abraço minha amiga e seu marido.

Vamos para a sala e Luke está lá com Alexandra, sua atual namorada.

- E ai Luke como vão as coisas?

- Tudo bem e você?

- Tranquilo. Oi Alexandra.

- Oi Ryan.

- Vocês conhecem a Jessica? - apresento.

Todos se cumprimentam, Carl me oferece uma taça de vinho e fico rodando-a na mão durante um tempo e tento tomar o mais lentamente possível.

Estamos todos conversando quando avisam que está tudo pronto e Beth nos faz seguir para a sala de jantar. Fico ao lado da Jess. A casa não é enorme, aconchegante seria a palavra mais adequada.

Estamos falando de trabalho e o assunto sobre a cerimônia de premiação surge.

- Li que você foi indicado para melhor ator e Jessica para melhor atriz. - diz Carl.

Jess responde com um sorriso enorme.

- Sim, estamos nessas categorias e o filme está em outras mais, são ao total: nove indicações.

- Bem isso é muito bom.

- Eu e Alex vamos participar da cerimônia apresentando um prêmio. Jacob também, e Luiza virá com ele. - diz Luke.

- Então estaremos todos juntos em Los Angeles? - pergunto.

Beth responde automaticamente.

- Parece que sim. Até a Angel já está lá com a delegação russa.

O garfo cai da minha mão e sinto diversos olhos em cima de mim. A mãe dela falou que ela voltou, mas está em Los Angeles? Dou um leve pigarro para limpar a garganta e pego o garfo novamente.

- Angel já está lá? Ela vai apresentar algum prêmio?

Eles se olham e posso perceber que ficam sem graça. Luke tenta explicar.

- Ela está concorrendo a melhor canção original e parece que receberá uma homenagem. Algum prêmio que foi retirado há anos atrás. O filme concorre a melhor filme de língua estrangeira.

- Caramba! Ela se deu bem lá fora, não? - digo

- Ela está bem aqui também. Dá aula na Julliard. Estamos sabendo que está coreografando alguma coisa para a Broadway... Ai Luke! - Alex fica esfregando seu braço e Luke está olhando feio para ela.

- Você não consegue manter sua boca fechada mesmo, hein?

- Não precisam brigar por isso. Já entendi que todos sabiam que ela estava por aqui e não podiam me contar.

- Porque tanto segredo assim? - Jess pergunta.

Beth pigarreia.

- Não há segredo algum, apenas estamos poupando os dois de se enfrentarem pessoalmente. Você vai ver como se cria uma tempestade quando eles se aproximam.

Todos estão rindo e eu encaro meu amigo de tantos anos nos seus olhos e os meus apenas dizem “porque não me contou?”

Ele abaixa a cabeça e se mantém calado.

Terminamos o jantar e vamos para a sala tomar café. Me aproximo do Luke e ele apenas nega com a cabeça.

- Desde quando ela está aqui?

- Há alguns meses.

- Porque não me contou?

- Ela me fez jurar que não te contaria. Desculpe.

- Entendo. Ela sempre confiou em você.

- Não queria perturbar os outros...

- Mas perturbou você.

- Ryan, ela é minha amiga e precisava de alguém a seu lado. Ela me escolheu e não neguei isso a ela. Não depois de tudo que vi e vivi ao lado dela naquele ano.

Eu entendo que ele só tentou ajudá-la e no fundo me sinto feliz por ter sido ele.

- Ela me odeia, não é?

Ele dá uma risada sem humor.

- Não, ela apenas se fechou numa concha que ninguém consegue abrir.

Aperto seu ombro e vou me envolver na conversa. A noite termina com a sensação de que talvez, algum dia, possamos voltar a ser pelo menos amigos.

Decidimos viajar juntos para Los Angeles. Luke, Alex, Carl, Beth, Jess e eu. Vamos nos hospedar no mesmo hotel.

Temos que comparecer a uma série de eventos e festas antes da cerimônia. Vamos todos juntos e numa dessas encontramos Luiza e Jacob.

Chega sexta a noite e não quero ir a nenhum evento hoje. Jess que vá sozinha. Não me importo.

Fico deitado por algumas horas e depois decido caminhar pelo hotel.

Acabo chegando à piscina e quando vou sair do elevador percebo que o outro acaba de descer. Dou de ombros. Percebo que alguém estava nadando, pois tem marcas de pequenos pés pelo piso.

Dou um sorriso em cumplicidade a pessoa que foi esperta em vir nesse horário usufruir de uma paz imensa.

Sento numa espreguiçadeira e encontro uma toalha nela. Pego a toalha na mão e sinto um perfume, aproximo a toalha do nariz. Não pode ser? Sinto o cheiro do perfume que a Angel usa.

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