Capítulo 3

As semanas passam sem que eu perceba e a cada dia aumenta o volume de trabalhos, lições e matérias a serem estudadas. Fora o trabalho que minha mãe está trazendo do escritório que se tornou um extra bem rentável para mim.

Estou cada dia mais esgotada com o volume de coisas para fazer. O pior é que não falo com o Ryan direito desde o episódio do elevador. Todos os dias que tenho tempo sento com o pessoal no intervalo, só que não converso com ele. Sei que parece besteira, mas ele não se desculpou por passar por mim e não ter me visto. Sei que estou sendo idiota por deixar isso atrapalhar. Sou orgulhosa e não vou dar o braço a torcer.

Muitas vezes pego uma fruta e corro para a biblioteca para pesquisar algumas coisas. Evito ao máximo deixar acumular tarefas.

Minha mãe está a cada dia mais atarefada e ausente, isso está me deixando muito solitária, mas já estou acostumada com sua permanência no escritório.

Ela sempre me fala que sou pior do que mula empacada e percebo que ele quer se aproximar, mas agora quem não quer sou eu.

Minhas aulas de dança estão me deixando esgotada e quando chego em casa só tenho tempo para fazer algum trabalho da escola, treinar um pouco e colocar a papelada da minha mãe em dia.

Os professores me elogiam pelo desempenho físico. Estou me saindo muito bem nas provas, mas não vejo a hora das férias chegarem estou precisando de um descanso.

 

Acordo novamente atrasada e tenho prova na primeira aula. Saio correndo sem nem falar com minha mãe. Não tenho tempo nem de comer. Estou desesperada para descer e quando o elevador abre as portas dou de cara com o Ryan.

- Bom dia.

Entro e fico o mais distante que posso, noto que ele fica com um olhar triste pela minha reação ao encontrá-lo só que é automático não proposital.

- Bom dia. - ele responde

Fico olhando para ele através da porta do elevador que é de alumínio e sinto que as borboletas no meu estômago vão me sufocar. Levo um susto quando sua voz me alcança.

- Você quer uma carona?

Me viro para olhar em seus olhos e ele está cabisbaixo e de olhar triste.

- Não quero incomodar. Vou de ônibus mesmo.

- Ele já passou.

Dou um gemido e passo a mão pelo meu cabelo que está amarrado num rabo de cavalo frouxo. Puxo o elástico com raiva e meus cabelos caem pelas costas.

- Droga!

- Ei vamos, eu te dou uma carona vai ser rapidinho.

Fico olhando para ele e acabo aceitando. Quando as portas se abrem no térreo ele aperta o botão para fechar e vamos para a garagem. Ele segura as portas e saio na sua frente, vejo quando ele vai até um armário e pega um capacete extra e me estende.

- Minha mãe vai me matar se descobrir.

- Prometo não contar nada.

Ele está sorrindo e seu sorriso é tão contagiante que acabo retribuindo. Ele se aproxima e toca meu rosto com a ponta dos dedos.

- Desculpe por não ter falado com você aquele dia. Eu realmente estava tão louco de raiva, cansado e com fome que entrei com tudo olhando para o cardápio que não te vi. Eu sinto muito mesmo.

- Tudo bem Ryan. Eu devia ter percebido que você estava olhando para outra coisa. Sem contar que sou baixinha e é normal passar despercebida na multidão.

Ele dá risada e me ajuda a colocar o capacete. Antes pede para que amarre meu cabelo.

- Senão vai ficar todo embaraçado.

Faço isso. Quando ele sobe na moto e me diz onde colocar o pé, percebo que vou ter que me segurar em seu corpo. Meu coração dispara como um louco, engulo saliva e coloco as mãos na sua cintura e subo.

Ele olha para trás e sorri.

- Se você segurar assim vai cair então não tenha medo e me abrace forte.

Ele puxa minhas mãos e as apoia no seu abdômen, sinto minhas borboletas revoltadas e meu coração parece que bate na garganta. Só tenho um pensamento. Que ele não perceba que estou respirando pela boca e que meu coração está disparado.

Vamos pelas ruas e sinto minhas mãos sendo aquecidas por seu corpo, ele vai num ritmo razoável para não me assustar e aprecio a visão da cidade andando nas ruas abraçada ao seu corpo.

Quando chegamos à faculdade, desço e estendendo o capacete para ele guardar. Ele prende tudo na moto e vamos para a entrada encontrar os outros.

Localizo nossos amigos e quando o Luke me vê dá um sorriso amplo e assim que o alcanço ele me abraça com tanta força que sinto meus pés saírem do chão.

Acabo dando risada do cumprimento eufórico dele.

- Oi Luke você viu o passarinho verde foi? – pergunto

- Vi uma menina linda chegando com cabelos ao vento.

- Bobo. Você está me chamando de descabelada é?

- Só um pouquinho.

Ele fica me olhando e em seguida cumprimenta o Ryan.

- E ai cara tudo bem?

- Tudo e você? – Ryan pergunta, mas seu tom de voz está estranho e olho na sua direção.

Ele apenas vai onde a Beth e o Carl estão e fala com eles, depois já se dirigi para a sala de aula.

O que será que aconteceu? Será que falei algo que ele não gostou? Fiz algo errado?

Pego minha mochila e vou atrás dele. Consigo vê-lo no corredor na frente do seu armário pegando algumas coisas. Quando me aproximo percebo que ele está muito nervoso, pois está jogando tudo com muita força no armário e esse comportamento não é normal, várias pessoas ficam olhando para ele assustadas.

Me aproximo e toco seu ombro. Ele vira e me encara com olhos quase verdes.

- Você está bem? - pergunto

- Estou sim por quê?

- Você saiu muito bravo e fiquei preocupada. Fiz alguma coisa que te chateou?

- Não, você não fez nada.

- Então o que aconteceu? Poderia me dizer?

- Angel você percebeu que o Luke parece que está afim de você?

Olho para ele e não entendo o que ele quer dizer com isso.

- Ryan, o Luke é meu amigo e já conversei com ele sobre isso. Ele não gosta de mim assim. Você está vendo coisa onde não tem.

Me viro para sair de lá e ele me segura pelo braço. Sinto meu corpo responder ao seu toque com um calor que se espalha começando por onde sua mão está e corre por todo meu corpo. Olho para o ponto onde ele se conecta comigo e dou um suspiro.

- Desculpe Angel você não tem culpa por eu estar me sentindo assim. – ele passa a mão pelos cabelos e fica me olhando.

- Eu preciso ir Ryan senão vou perder minha prova.

- Ok, nos veremos na hora do intervalo?

- Até lá.

Vou para minha sala e fico distraída. Não consigo prestar atenção e acabo levando tempo demais para responder na prova. Na hora do intervalo fico presa na sala com a Srta. Smith me passando um sermão devido a tanta distração e só consigo ter tempo para tomar um suco de pé mesmo.

Quando estou indo em direção a mesa ele fica me olhando com olhos questionadores e já chego me explicando.

- Desculpe fiquei presa com a minha professora de balé. Ela falou que eu não me empenhei o suficiente. – faço uma careta de desgosto e todos riem.

- Senta um pouco. – Ryan aponta o banco ao seu lado.

- Sem condições tenho que correr para a biblioteca e pegar umas informações para a próxima aula. – digo já caminhando em direção ao corredor.

- Posso ir com você? – pergunta o Luke

Percebo na hora que o Ryan trava a mandíbula e os punhos. Que droga ele está com ciúmes? Dou um sorriso para o Luke e vamos juntos para a biblioteca.

 

Estou terminando minhas anotações quando ergo a cabeça e dou com o olhar do Luke. Fico olhando em seus olhos e percebo que ele quer conversar comigo. Aguardo ele começar a falar.

- Angel,  você não gostou da forma como te abracei hoje de manhã?

- Porque está me perguntando isso?

Ele passa a mão pelos cabelos e fica com um sorriso estranho no rosto.

- O Ryan está com ciúmes de você, Angel.

- Pare de inventar Luke. Ele apenas está chateado com algum assunto dele mesmo.

- Ele está com ciúmes. Ele veio me pedir para não ficar te abraçando do jeito que fiz e quando perguntei o porquê ele respondeu que você não gostava.

- Tem certeza? Ele acha que você está afim de mim.

- Eu sou seu amigo, Angel, e gosto de tratar bem meus amigos. Ele sabe disso muito bem. Não vou mentir que poderia me apaixonar por você, mas você me falou que não estava interessada e respeitei isso. Gosto de você como amiga e gosto muito.

- Eu sei disso, mas ele não acreditou.

- Talvez porque ele esteja gostando de você. Já reparou na forma como ele te olha?

Dou risada do que o Luke fala, mas ele não ri comigo.

- Você não está falando sério não é?

- Estou sim. Ele está gostando de você, é só olhar nos olhos dele.

- Luke você tem cada ideia.

- Não estou tendo ideia nenhuma, é só olhar como ele se aproxima de você, suas reações quando te vê falando com outro rapaz, e até como ele fica quando eu ou o Carl brincamos com você.

Dou risada e como ficamos conversando perco minhas aulas e fico com ele do lado de fora esperando o Ryan para irmos para casa.

Quando ele aparece estamos conversando sobre alguns dos trabalhos do Luke para o cinema e ele está me contando como é filmar, as sensações e até como é legal os erros de filmagem que acontecem.

Estamos rindo quando ele me estende o capacete.

- Vamos?

Viro para o Luke, dou uma piscadela e coloco o capacete e vou em direção a moto. Ele sobe, liga a moto e encaixo meu corpo no seu e sinto seu corpo ficar tenso na hora. Abraço sua cintura, minha mão está apoiada no seu abdômen e ele sobe minhas mãos em direção ao seu peito.

A volta é mais rápida e percebo que ele quer chegar logo ao destino e me abandonar. Tenho que concordar com o Luke que tem algo de errado, mas não vou perguntar nada.

Ele guarda os capacetes e vamos para o elevador. Me despeço dele e vou para casa. Tenho tanta coisa para fazer que o assunto acaba sendo esquecido.

 

Os dias passam rapidamente e quando percebemos as provas chegam e isso se torna minha maior preocupação. Estou estudando junto com o Ryan e ele acaba passando bastante tempo no meu apartamento me fazendo companhia.

Minha mãe está cada dia mais ausente, mas numa bela sexta-feira ela chega em casa e estamos terminando de estudar um trecho de Tristão e Isolda. Ela fica observando da porta da cozinha. Acabo dando muita risada da declaração de amor.

Quando sentamos para jantar minha mãe começa a conversar sobre as férias.

- Filha, assim que você estiver de férias precisaremos viajar para Barcelona.

Fico com o garfo parado a caminho da boca olhando em seu rosto.

- Tenho que resolver algumas pendências e gostaria que fosse comigo. O que acha? Serão apenas por alguns dias.

- Tudo bem mãe. Vai ser legal rever todos meus amigos. Tenho saudade de Barcelona também.

Percebo que Ryan não gostou muito da notícia. Não sei por que. Ele já tem planos e eu vou ficar aqui sozinha?

 

Chega o dia! As provas acabaram e estamos mais sossegados nas matérias, estou feliz comigo mesma fiquei com notas ótimas em todas e vou poder viajar e descansar.

Faltando uma semana para as férias estamos todos na nossa mesa de almoço discutindo as melhores coisas para se fazer. O Ryan é o último a chegar, percebo que está calado, mas como sempre deixo-o falar quando estiver com vontade.

Nisso a Beth já está se vangloriando.

- Bem eu vou para as montanhas com meus pais e meu irmão, vamos ficar lá uns quinze dias. Adoro a cabana do meu tataravô. O lugar é maravilhoso. Tem árvores por todos os lados, um lago e podemos andar de barco a remo sem problema algum. Vai ser muito legal!

- Eu vou para a casa da minha avó no Texas, vou andar a cavalo e ajudar na fazenda como sempre faço, sei que é um pouco monótono mais meus tios gostam quando vou para lá. Posso ir à cidade e curtir um pouco da música country. – fala Carl

Luke está triste e nos conta o motivo.

- Vou para casa ficar com meus pais. Faz algum tempo que não os vejo. Depois de uma semana começam as minhas gravações então não vou ficar curtindo muito.

- Bem, como minha mãe tem assuntos para resolver na Europa vou para Barcelona. – falo

- Que legal! Vai matar as saudades? – diz Carl

- Claro. Vou poder visitar todos os meus amigos de lá. Vai ser muito legal!

- Nossa que inveja. Se pudesse iria com você. Tem muitos rapazes bonitos lá? – nessa hora a Beth leva um beliscão do Carl. - Ai!

- E como! Tenho vários amigos lindos. Você ia gostar.

Acabo de falar e o Ryan levanta sem falar nada, saindo da mesa, fico sem entender. Olhamos uns para os outros e o Carl dá de ombros. Acabo perguntando.

- Carl o que aconteceu?

- Não sei, ele está assim desde que chegou de manhã. Vocês não vieram juntos?

- Não, ele me mandou mensagem falando que estava resolvendo uns problemas e que viria direto.

- Então é verdade. A Charlotte voltou.

- Como assim? - Beth fala olhando para o Carl e depois para onde o Ryan saiu.

- Não posso falar nada. - ele passa a mão pelos cabelos - Ah gente é chato ficar falando da vida do Ryan. Deixe-o resolver estes problemas e ele logo volta a ser ele mesmo. Se ele quiser contar ai será por conta dele.

Fico olhando para onde ele foi e balanço a cabeça. Olho na direção do Luke e ele me faz sinal para ir atrás do Ryan.

- Tá certo Carl, é melhor deixá-lo contar o que aconteceu.

Levanto da mesa e vou procurar o Ryan  acabo encontrando-o na parte externa da escola. Sento ao seu lado.

- Oi está tudo bem?

- Oi. Está sim.

- Você quer conversar ou quer ficar sozinho? Estou preocupada com você.

- Pode ficar, mas não quero conversar sobre o que está acontecendo. Senão vou acabar magoando você e não quero isso.

- Porque me magoar? Eu falei algo de errado? - porque ele está falando assim será que ele aceitou a Charlotte de volta?

- Olha Angel você vai viajar e ficar longe, estou tentando me segurar para não pedir para você não ir. Sei que não posso fazer isso, pois vou trabalhar a maior parte dos dias das férias, mas ouvir você falando dos seus amigos realmente me deixou chateado.

- Ryan você está com ciúmes da minha viagem?

- Não, da viagem não, estou com ciúmes dos seus amigos.

- Mas não deveria ficar assim.

- Por que não? Você está toda feliz por estar indo para Barcelona de novo.

- Você tem que entender que amo aquele país. Se algum dia for passear por lá e avistar suas alamedas, ruas, edifícios vai entender o amor que tenho por aquela cidade. E meus amigos são apenas amigos, não deixei nenhum amor lá, nem pretendente. E quando vim para cá eles não se importaram muito com a minha partida. – respiro fundo – Droga eu não vou ficar aqui vendo você se acertar com a Charlotte enquanto tenho que ficar trancada no apartamento.

Ele me olha e fica com a testa franzida.

- Eu falei que não seria bom tocar neste assunto. E quem foi que falou que eu estou voltando com a Charlotte?

- Deixa para lá. A vida é sua e você precisa aprender a confiar nas pessoas.

- Eu confio em você. Só que vou sentir sua falta e não estou conseguindo aceitar isso.

- Somos amigos Ryan. Podemos nos falar todos os dias, o que acha?Posso falar com minha mãe e pedir  para voltarmos antes, mas só se você prometer desmanchar essa cara.

- Ok. Você venceu só dessa vez.

- Ela vai me matar por pedir para voltar antes, mais não custa tentar.

Ele dá um sorriso e passa seu braço sobre meus ombros e voltamos para o salão e nos juntamos aos outros.

Chega o primeiro dia das férias e vou para o aeroporto com minha mãe. Ela convenceu o Ryan a nos levar.

Estou eufórica, foram seis meses de separação e não vejo à hora de encontrar todos meus amigos. Será que ficaram com saudades?

No aeroporto vamos para a sala de embarque, fazemos o check in e ficamos aguardando a chamada para o embarque, sento numa das cadeiras e o Ryan fica do meu lado, minha mãe sai discretamente e vai tomar um café.

Estamos sentados lado a lado sem nos falarmos e sinto que existe algo no ar, uma energia ou força que nos impulsiona a ficarmos próximos. Ele me olha e depois de um meio sorriso pega minha mão e a coloca no seu rosto. Ele fecha seus olhos e respira fundo. Sou pega de surpresa e quando olho em seus olhos vejo a mesma aflição, desejo e saudade que tenho no meu coração. Porque mudou? E quando isso aconteceu? Talvez seja saudade da amiga. Tenho que deixá-lo seguro de que vou voltar. E essa certeza é que me mantém firme com um sorriso no rosto.

- Vai passar rápido, quando você menos esperar já estarei de volta.

- Hum, hum. Eu sei.

Ele não solta minha mão e delicadamente entrelaça nossos dedos. Meu coração está batendo acelerado no meu peito e tenho certeza que ele pode ouvir.

- Você quer ir antes do embarque?

- Não. Vou ficar até você entrar no avião.

- Ok.

Continuamos juntos, nos olhando durante o tempo todo como se isso fosse ajudar a gravar nossas feições. Balanço a cabeça e dou um sorriso. Não tem como esquecê-lo, a distância irá apenas nos trazer mais saudades.

Estou tão envolvida que me assusto quando começa a chamada de embarque, sinto suas mãos tremerem levemente. Porque ele está assim?

Levanto e ele me acompanha, ficamos de frente um para o outro. Ele ainda segura minha mão.

Minha mãe chega afoita e lhe dá um abraço, pega sua bagagem de mão. Eu chego perto e dou um abraço apertado nele. Respiro fundo sentindo seu perfume. Ele retribui o abraço e sinto seus braços me apertando. Quando vamos nos afastar ele sobe suas mãos pelos meus braços até que suas mãos seguram meu rosto, ele se aproxima lentamente e seguro a respiração imaginando o que ele irá aprontar. Seus lábios se apossam dos meus, sua língua lambe meus lábios e meu suspiro é tragado por sua boca. Ele invade minha boca e sinto o sabor de seus beijos que ficam cada vez mais exigentes.

Quando ele se afasta me sinto paralisada e observo sua reação. Ele me dá um sorriso, sua voz está rouca.

- Eu precisava disso. Assim vou poder sonhar todas as noites com a sua volta.

Minha voz sai baixa e insegura.

- Quando eu voltar, juro que vamos conversar sobre isso.

Abaixo e pego minha mala de mão, dou outro abraço nele e sou presenteada com o mais lindo sorriso. Sigo para o embarque.

Enquanto ando pelo corredor sinto um sorriso nascer e ponho os dedos sobre meus lábios. Ainda sinto o calor da sua boca sobre a minha.

 

A cidade continua a mesma, tudo no mesmo lugar, os mesmos aromas, as mesmas paisagens.

Reencontrar meus amigos foi decepcionante. Apesar de termos passeado por todos os nossos lugares favoritos, senti que não tínhamos a mesma ligação e acabei preferindo ficar sozinha nas minhas excursões pela cidade.

Descanso e curto tudo com a sensação de que vou demorar em voltar uma próxima vez. Talvez seja o fato de que aqui não seja mais meu lar.

A única coisa que me faz sorrir enormemente é saber que estarei falando com o Ryan em pouco tempo. Nossos encontros via videoconferência ocorrem todas as noites. Nossas conversas ficaram cada vez mais íntimas e ele me contou até sobre a volta da Charlotte antes das férias.

Ele me falou que ela queria reatar o namoro só que ele não deseja mais estar com ela. Ele me falou que quando eu voltar nós teremos que sentar e conversar. Sinto meu coração dar pulos só de imaginar do que se trata este assunto.

Já se passaram quinze dias das férias. Estou com vontade de ir para casa, sinto falta do apartamento e dos meus amigos.

Só que minha mãe ainda está terminando algumas reuniões e tenho que esperar.

Um dia ela chega em casa e tento conversar com ela sobre voltarmos

- Boa noite filha, como foi o seu dia?

- Fiquei em casa hoje. Estou sem vontade de ir passear e com saudades da faculdade, dos meus amigos e, principalmente do Ryan.

- E ele está onde? Está gravando?

- Sim, está na Califórnia com a equipe e daqui três dias volta para casa dos pais no Kentucky.

- Bem, amanhã será a minha última reunião se você quiser posso reservar as passagens para sexta. Chegaremos no sábado, mas você tem que me falar agora senão não consigo lugares no avião.

Pulo em cima dela e a abraço.

- Verdade? Podemos mesmo? Vou avisar o Ryan!

- Porque você não faz uma surpresa?

- Porque ele me falou que sairia das gravações e já embarcaria direto para a casa dos pais. Se eu não avisá-lo, não vou vê-lo antes do inicio das aulas.

- Ok então vá logo contar a novidade enquanto reservo nossos lugares.

Dou um abraço e um beijo na minha mãe, saio correndo para o quarto. Sinto apenas pelo fato que minha mãe não descansou nada desde que chegamos e sei que ao retornar ela vai ficar muito mais cansada com tantas coisas para resolver.

Vou para o quarto e pego meu celular e mando uma mensagem para o Ryan avisando que voltamos no sábado. Estou pensando quanto tempo deve demorar para que ele me responda quando meu celular começa a tocar. Atendo com um sorriso.

- Oi.

- Você não está brincando, não é?

- Claro que não, conversei com minha mãe e ela acaba as reuniões na empresa amanhã e embarcamos na sexta, chegaremos sábado, mas não sei em qual voo e horário.

- Eu ainda devo estar dormindo. Estou sonhando certo?

Olho para o relógio e rapidamente percebo que é de madrugada na Califórnia.

- Nossa eu esqueci que aí está de noite! Me desculpe Ryan. Nossa esqueci  completamente disso. Pode voltar a dormir depois nos falamos.

- Ah não sua voz é sexy e você já me acordou então pode conversar mais um pouco, apesar de serem três horas da manhã.

- Você tem que descansar, vai filmar amanhã e não posso atrapalhar depois mais tarde nos falamos.

- Nada disso pode falar agora já perdi o sono mesmo, não vou dormir mais.

- Está certo, mas eu queria apenas avisar sobre a volta. Só queria te falar isso.

- Você me manda mensagem do horário do vôo para que eu vá buscá-las no aeroporto?

- Não precisa, vamos de táxi. Você já tinha comentado que ia para a casa dos seus pais. Se quiser pode ir que quando você voltar estarei aí.

- Angel me mande à mensagem com o horário, por favor?

- Mas você tem que visitar seus pais Ryan.

- Eu vou depois que você chegar de viagem, mas quero buscar vocês.

- Ok. Eu mando mensagem.

A linha fica muda por um momento e escuto um suspiro que vem dele.

- Vejo você no sábado então?

- Nos vemos no sábado.

Vou até a sala e encontro minha mãe ao telefone reservando nossos lugares, ela me vê e faz sinal para esperar, sento ao seu lado esperando.

- Tudo certo. Vamos embarcar na sexta as 12:25h e chegaremos as 21:55h, está bem?

- Está ótimo mãe, vou passar uma mensagem para o Ryan do horário, ele faz questão de nos buscar.

- Será melhor mesmo vamos estar cansadas, ainda temos que arrumar as malas e deixar tudo separado.

- Pode deixar, eu arrumo tudo amanhã. Só separe a roupa que você quer usar na viagem que o restante eu arrumo.

- Então está bem, vou deitar estou cansada. Boa noite filha.

- Boa noite mãe.

 

Vou até meu quarto e mando a mensagem para o Ryan com o horário do voo. Vou para sala, fico assistindo um filme e acabo dormindo no sofá, acordo com o celular tocando.

- Alô? - estou meio dormindo ainda.

- Oi, você está acordada?

- Agora estou, mas não tem problema ter me acordado, dormi no sofá de novo.

Ele começa a rir.

- Só você para gostar de dormir no sofá.

- Você me ligou para ficar rindo é?

- Não, liguei porque não conseguia dormir, estou com saudades e não vejo a hora de chegar o sábado.

- Paciência. Eu vou chegar ai logo. Já pensou se fosse só daqui a um mês?

- Ok, vou parar de falar isso senão você muda de idéia e fica mais tempo por ai só de pirraça.

- Hum ideia tentadora... - faço um pequeno suspense – Mas não, eu vou na sexta. Estou com saudades de você também.

Tento disfarçar meu embaraço.

- Ahhh foi algo espontâneo, não estou com tantas saudades assim e sem contar que está chato ficar aqui. Minha mãe está trabalhando direto e estou chateada por ela não estar se divertindo ou saindo em nenhum desses dias.

- Vamos dar um jeito nisso assim que você voltar.

- Hum estou com medo disso.

- Eu preciso desligar. Estão me chamando. Queria poder conversar com você mais um pouco.

- Eu também. Até sexta, Ryan.

- Até sexta, minha pequena.

Desligo o celular e fico com um sorriso idiota no rosto. “Minha pequena”. Ele me chamou assim carinhosamente e isso me marca profundamente. O dia tem que passar voando amanhã.

 

Chegou o grande dia, estou voltando e posso dizer que estou nervosa. Nervosa? Sim, nervosa demais.

Acordo cedo, as malas já estão arrumadas na sala para que nada atrase nossa volta. Eu e minha mãe tomamos o café da manhã em completo silêncio. Estou sem fome e minha mãe acaba reparando.

- Filha, ficar sem comer não vai adiantar.

- Não estou ficando sem comer. Tomei um copo de suco. Meu estômago não está muito meu amigo hoje.

Ela dá risada e fica me olhando.

- O que está te deixando nervosa?

Essa é a pergunta que estou me fazendo a algum tempo. Depois de tantas conversas fico pensando o que mudou. Como as coisas ficaram mais intimas, próximas num ponto que não consigo ficar sem conversar com ele.

- Mãe, eu realmente não sei. Talvez seja pelo que ainda não está certo.

Descemos para pegarmos um táxi.

Ao chegar ao aeroporto realizamos o check in e vamos para nossos lugares, a viagem é calma. O dia está bonito e tento me distrair assistindo um filme.

Minha mãe está entretida lendo um livro que comprou, o que é raro porque normalmente ela estaria revendo seus relatórios e papelada do escritório.

Acabo cochilando e acordo com o aviso de aterrissagem. Coloco o sinto e vejo minha mãe voltando do banheiro. Ela sorri.

O desembarque é tranquilo, pegamos nossas malas e colocamos num carrinho, quando olho ao redor me deparo com um par de olhos me observando. Ele está nos esperando.

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Comments

Clara Oliveira

Clara Oliveira

Parabéns pela escrita. Raramente, se encontra nesta plataforma um livro sem erros e com boa pontuação.

2024-04-18

0

Maria De Fatima Carvalho

Maria De Fatima Carvalho

👏👏👏💯💯💘💘💘

2023-09-19

0

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