Capítulo 8

A viagem é de uns 40 minutos. Ryan trouxe uma cesta com comida para fazermos um piquenique na praia que tem lá. Ryan pega minha mão e olho para ele sorrindo.

Coney Island é maravilhoso!

São cinco horas da tarde, o local já está cheio, crianças correndo, adolescentes paquerando em grupinhos e nós dois no meio de tudo isso.

Deixamos a cesta no guarda-volumes do parque. E corro para o carrossel seguido de roda gigante, montanha russa entre outros brinquedos. Estamos na barraca de tiro quando olho ao redor e reconheço um rapaz que está a alguns metros de nós.

- Ryan não é o Luke ali? - ele segue meu olhar.

- É sim, deve já ter voltado das gravações. Ele tinha me dito que talvez perdesse uma semana de aula.

Dou um sorriso e me viro na direção de onde o Luke está e grito seu nome.

- Luke.

Ele olha ao redor e me localiza. Aceno com a mão e vejo-o se despedir de alguém e vir ao nosso encontro. Ele me abraça forte e me gira no ar. Estou feliz em rever meu amigo. Realmente senti sua falta. Falta das conversas do grupo.

- Hei amigo menos tá!- Ryan grita

- E ai amigo.

Eles se abraçam rindo muito.

- Estava com saudades Luke, como foram as gravações? - pergunto

- Cansativas, mas consegui terminar antes. E você Ryan começa quando a gravar?

- Ainda sem data, até lá vou continuar estudando. – Ryan explica

- E como foi a viagem a Barcelona, Angel?

- Foi legal, mas voltei antes do previsto e acabei indo passar alguns dias na casa dos pais do Ryan.

- Bem, amanhã começamos tudo de novo amigo e me falaram que vai ser pesado. Vocês têm notícias da Beth e do Carl? – Luke pergunta

- Não, eu liguei para a Beth algumas vezes, mas o celular dela só entrava em caixa postal. E você? - falo

- Falei com eles a uns dois dias. Eles viriam para cá hoje, mas não encontrei ninguém além de vocês. – Luke responde

O Ryan aponta para a praia.

- Bem, vamos comer na praia quer ir com a gente?

- Cara não quero atrapalhar.

- Você não atrapalha nunca. - digo

Pego no braço dele e no do Ryan e vamos até o guarda volumes pegar a cesta de piquenique.

Estendemos o cobertor que trouxemos e todos se servem. Estamos conversando quando o celular do Luke começa a tocar. Ele fala brevemente e nos fala quem era ainda olhando para o visor do aparelho.

- Era a Beth. Ela e o Carl estão aqui próximos. Falei onde estamos e vão chegar a qualquer momento.

Escuto seu grito de felicidade antes de localizá-la. Levanto e sou envolvida por dois pares de braços e ganho vários beijos no rosto. Estava com saudades deles.

- Angel você está linda! – elogia Carl

- O que você fez? Como foi Barcelona? Porque não me ligou? Tenho muitas coisas para contar e nem sei por onde começar. - fala Beth

- Ei deixe um pouco para mim. - Carl está abraçando a Beth

- É melhor vocês dois saírem bem devagar, pois tem alguém que não está gostando muito destes abraços e beijos. – Luke está dando muita risada da cara que o Ryan está fazendo.

- Querido, ela é nossa primeiro!

- Do que ele está com ciúmes? Disso? Disso? Ou disso?

Carl me abraça me dá beijos na bochecha e por último um beijo na testa. Estou rindo, mas quando olho para o Ryan vejo que ele não está achando nada engraçado. Me solto dos braços do Carl e me aproximo dele.

- Ryan, ele está brincando apenas. Não fique bravo com ele, por favor?

Eu chego próximo dele entrelaço nossos dedos mas ele apenas se solta delicadamente.

- Vou dar uma volta. Preciso ficar um pouco sozinho.

Ele me dá um beijo na testa e caminha em direção a beira da praia.

Me sento no meio do Carl e da Beth e eles me contam como foram suas férias. Ele até está mais bronzeado e várias meninas passam olhando para ele.

Beth curtiu as montanhas como sempre, mas sentiu falta de água quente e nos contou que ficou duas horas debaixo de um chuveiro quando chegou a cidade.

Luke falou das filmagens e que conheceu uma garota na cidade onde filmou. Contou o quanto ela era maravilhosa, meiga, carinhosa e muito gentil. Nos seus horários de folga eles passeavam, conversavam sobre vários assuntos.

Vejo o dia acabar e a noite começar a surgir e decido ir até onde o Ryan está sentado e o abraço.

- Ryan você está bem?

- Estou sim. Só tentando controlar a raiva que estou sentindo.

- Não passou ainda?

- Não. Cada vez que fecho meus olhos vejo aquela cena de novo.

- Você não precisa ficar assim, somos amigos e é importante que saiba que nunca tive pessoas assim na minha vida. Não posso perdê-los. Precisa entender que eles são meus amigos. E gosto deles.

- Eu sei, apenas não imaginava que eles gostavam tanto assim de você. Estou com ciúmes. Só isso.

- Mas não precisa ter ciúmes.

- Eu sei mas não consegui me segurar. Foi algo inesperado.

- Eu amo você e isso deve sempre estar em sua mente. Não se esqueça nunca.

Ele balança a cabeça em concordância e vamos até onde os outros estão dando gargalhadas de algo que o Luke falou.

 

A noite se estende e acabamos numa pizzaria perto de casa. Beth comenta que outro ator importante estudará conosco mas não quis falar seu nome. Tentei descobrir mas não quis me contar.

Carl fala que já descobriu a grade de aulas e eles ficam discutindo sobre isso durante um longo tempo. Escuto quando falam que no final de cada ano a faculdade promove eventos de cada área para angariar fundos. Então teremos um concerto musical, uma peça de teatro e um musical.

O trabalho que fiz nas férias me ajudará a pleitear uma vaga no musical, temos que demonstrar talento e esforço para conseguir e os únicos que já tem vaga garantida nas suas áreas são Ryan e Luke.

Quando estamos voltando lembro a ele que preciso ir para casa.

- Ryan tenho que pegar minhas coisas no seu apartamento.

- Porque você não fica comigo hoje e amanhã depois da aula levamos suas coisas?

- Certo, mas preciso avisar minha mãe.

Pego meu celular e envio uma mensagem para ela que responde quando estou chegando à entrada do flat.

 

“Filha, não tem problema nenhum, mas passe aqui só para me dar um beijo. Estou morrendo de saudades.”

 

Mostro a resposta para ele e aperto o botão do meu andar. Também sinto saudades dela e me sinto culpada por ter deixado ela na mão. Ela sempre está atolada de serviço e costumo ajudá-la.

Como estou sem minhas chaves toco a campainha e ela atende em seguida. Ela está ligeiramente pálida e com olheiras, sinto um aperto no coração por vê-la assim.

- Oi mãe, tudo bem? A senhora está horrível. O que aconteceu?

- Nem me fale, a matriz mandou um dos grandes embora e estou fazendo o meu serviço e o dele. Para dar conta estou trabalhando dezoito horas por dia. Isso até o fim desta semana depois já irá melhorar terei uma secretária me auxiliando.

- Ah mãe porque não me ligou, eu dava um jeito de vir te ajudar.

- Verdade, porque a senhora não nos ligou que teríamos vindo ajudá-la Dona Beatriz?

- Ah foram só dois dias que ficaram ausentes, isso já vêm ocorrendo desde que voltei.

- Mãe! Não acredito!

- Querida, você está de férias e deve descansar, quando começar suas aulas você irá me agradecer. Bem, podem ir se divertir, vou dormir um pouco. Boa noite e juízo viu?

Dou um abraço forte e um beijo, sussurro um “teimosa” para ela vejo-a sorrir. Ryan lhe dá um beijo e vamos para o seu apartamento.

 

Estamos assistindo televisão quando ouço o toque do meu celular, vou buscá-lo e vejo o nome do Luke na tela, atendo enquanto volto para a sala.

- Oi Luke aconteceu algo?

- Queria te pedir uma ajuda, seria possível?

Sento no sofá e estou olhando para Ryan que está sério.

- Pode, mas você pode esperar só um minuto?

Tampo a entrada de voz do celular.

- Ryan pare agora mesmo com essa cara.

- O que ele quer a essa hora?

- Conversar sobre algo e não vou desligar só porque você quer.

Me arrumo no sofá e puxo minhas pernas para cima.

- Oi Luke desculpe-me. Pode falar?

- Angel não me diga que o Ryan está com ciúmes de mim! Caramba! Nunca imaginei que ele seria tão inseguro assim.

- Eu também não, mas me diga o que posso fazer por você.

- Ele está ai?

- Sim.

- Quer colocar no viva-voz? Assim ele escuta a conversa e não fica imaginando o que pode ser. Não quero perder meu amigo por isso.

- Tem certeza? Ele vai entender que é um assunto particular seu. Ele não é tão ogro assim.

Ryan me dá um apertão e dou risada colocando a chamada em viva-voz.

- Pronto Luke pode começar a falar que o ogro está ouvindo tudo.

- Angel você é maravilhosa. Acho que quero namorar você. O que acha? - Luke fala

Ryan fecha a cara e resmunga.

- Eu vou te arrebentar Luke, juro.

Damos risada da reação dele. Luke recupera o fôlego e começa a contar:

- Desculpe cara. Tinha que fazer isso. A Angel é linda, mas eu quero falar de outra coisa com ela. Pode ficar tranqüilo que já tirei meu time de campo quando você me falou que estava a fim dela.

- Cara não faz mais isso. Se você estivesse na minha frente tinha te socado.

- Bem, seria um risco. Angel lembra que comentei sobra a menina que conheci nas gravações?

- Lembro sim.

- Você conheceu alguém? Porque não me contou? – falou o Ryan.

- Cara você estava muito puto com o pessoal que fiquei sem graça de te procurar para falar sobre isso.

- Quer parar de interromper Ryan? O que aconteceu Luke?

- Quando cheguei em casa recebi uma ligação dela. Ela se chama Luiza, e me falou que pediu transferência para cá e que já está na cidade. Amanhã ela vai estar conosco lá na faculdade. Estou desesperado porque não sei o que fazer, estou gostando dela, mas tive medo de me declarar. E agora ela está aqui! O que faço Angel? Me ajude, por favor?

- Ah Luke calma. Ela está em qual curso?

- Dança.

- Legal. Seremos colegas de classe.

- Angel alivia, vai.

- Bem, de cara deixe-a conhecer a faculdade e a receba de braços abertos. Se ela estiver nas mesmas aulas que eu, tento tirar algo dela. Fora isso não sei o que te falar.

- Verdade cara ela vai se sentir melhor assim. - aconselha Ryan.

- Valeu, Angel você vale ouro e mora no meu coração.

Nesse momento sinto o aperto das mãos do Ryan.

- Luke...

- Ryan desculpe mais você tem a namorada mais linda, sexy, meiga, carinhosa e gentil de todo o mundo. Não tem como monopolizá-la. Eu gosto de conversar com ela. Ela é pura de coração e isso é difícil de encontrar.

- Eu sei cara. Só que não consigo me controlar. Fico preocupado se algum dia acontecer de nos separarmos. Sem ela não vejo razão para continuar.

- Gente que papo mais macabro! Nossa! Bem, Luke espero ter ajudado mas agora só o tempo para te mostrar quando poderá falar com a Luiza e se declarar.

- Valeu Angel, amanhã nos vemos. Boa noite. - Luke se despede.

- Boa noite Luke. - respondemos juntos.

Desligo o celular e o coloco na mesa de centro.

 

Primeiro dia! Passo a mão por seu rosto e ele abre seus olhos sonolentos.

- Bom dia.

- Oi, bom dia para você também. Que horas são?

- Deve ser por volta das cinco horas, por quê?

- Humm dá tempo de tomar café da manhã com você.

Depois de comer  desço para meu apartamento e pego meu material e vamos para o estacionamento.

Chegamos e já tem bastante gente, falta ainda trinta minutos para começar as aulas. Encontramos a Beth, o Carl e o Luke na entrada e este último está impaciente com cara de quem não dormiu.

- Oi gente.

- Oi. - eles respondem

Chego próximo ao Luke.

- Luke, você está horrível.

- Valeu Angel você por outro lado está linda hoje.

- Bem eu cuido bem dela. - fala Ryan

Estamos rindo quando percebo uma garota não muito alta acenar na nossa direção, olho para ver para quem e vejo que Luke está vermelho.

Bem, em menos de um minuto estamos de frente com Luiza, uma menina de cabelos castanhos escuros, olhos castanhos, pele clara, com um sorriso gentil.

- Oi Luke.

Ela se aproxima e o abraça, ao retribuir reparamos que ele a aperta em seus braços e suspira.

Ela se vira e fala um oi para todos. Me adianto:

- Oi Luiza tudo bem? Eu sou a Angel e estes são Beth, Carl e Ryan.

Ela arregala os olhos e começa a falar alto e rápido:

- Ryan Russell? Ai Meu Deus! Não acredito! Luke porque não me falou que o Ryan Russell estudava aqui? E ainda por cima é seu amigo! Nossa assisti todos os seus filmes! Muito prazer em conhecê-lo.

Ficamos todos parados olhando de um para o outro até que o Ryan estende a mão.

- Prazer em conhecê-la Luiza, e obrigado pelo elogio.

- Vai estudar o que? – pergunta Beth

- Faço dança. E vocês?

- Luke, Ryan e eu fazemos artes cênicas, a Beth música e a Angel o mesmo que você. – fala Carl

- Que legal!!! Vou fazer aulas com você. Será muito bom. Já tenho uma amiga para me ajudar.

O Luke pigarreia.

- Luiza você está assustando eles, sabia?

Ela olha para ele e dá um sorriso sem graça.

- Bem, vamos entrar? Tchau Angel, Luiza nos vemos no almoço.

Todos se vão e quando estou caminhando para a porta percebo que ela não está me acompanhando, olho para trás e ela está parada no mesmo local ainda. Volto até ela.

- E ai, vamos?

Ela continua com o olhar seguindo os rapazes.

- Acho que o magoei de alguma forma que não sei.

- Foi só porque você se empolgou ao conhecer o Ryan. Até o almoço ele vai se recuperar.

- Ah Angel me desculpe, você é a namorada dele e me ouviu falando aquilo tudo pode ter pensando que “gosto mesmo” dele e não é assim, ele é um ótimo ator e tal.

- Sem problemas. Vamos correr se não chegaremos atrasadas.

Corremos para nossa primeira aula juntas.

 

Desço para o almoço e localizo nossa mesa. Estão todos lá conversando e só não vejo o Ryan por lá. Vou até a cantina e pego um pouco de salada, purê de batata e suco de uva.

Vou para a mesa e me sento ao lado do Luke que está entretido no relato da Luiza. Beth e Carl estão falando sobre os trabalhos e provas que virão.

- Eu tive aula prática hoje e estou quebrada, tive que fazer abertura total. Quero ir para casa dormir muito. - Luiza está falando

- Eu tive que tocar uma peça de Bach por quase duas horas. Eles estão cada vez mais exigentes. - Beth fala gemendo

- Nem me fale hoje fomos massacrados estudando diversos personagens e para piorar o Ryan discutiu com o professor. Está na sala do coordenador agora. - diz o Carl

- O Ryan? Por quê? Ele discutiu de novo? Ele não toma jeito mesmo. - digo

Engulo a comida e compro um lanche para o Ryan. Vou até a coordenadoria e ele está sentado lá com a expressão mais desconsolada do mundo. Me aproximo e sento ao seu lado.

Estendo o pacote com o sanduíche e suco. Ele me presenteia com um sorriso e começa a comer.

- Você está bem? Entregou o trabalho? Falaram alguma coisa?

- Ryan o que aconteceu? De novo você discutiu na aula? Quando vai ver que isso não ajuda em nada?

- Ainda não falei com ninguém, meu professor ainda está lá falando com o coordenador. Vou ouvir um sermão e ser dispensado.

Passo a mão pelo cabelo e fico olhando para o chão.

- Ei Angel não fique chateada comigo.

- Não estou. Só queria que você pensasse um pouco.

A porta se abre e o Sr. Wilson aparece na porta e nos observa.

- Boa tarde Srta. Angélica Rodriguez o que está fazendo aqui?

- Boa tarde, eu fiquei sabendo que o Ryan estava aqui e trouxe um lanche para ele. Já estava de saída.

- Então é verdade que vocês estão namorando?

- Sim, estamos.

Ele me olha e balança a cabeça num sinal de aprovação.

- Bem, espero que coloque um pouco de juízo nesse cabeça-dura. - olha para Ryan - Quero que tente se conter nas aulas, falta pouco e criar atrito nessa época pode custar alguns pontos. Dispensado Russell. Caia fora daqui.

Dou um sorriso de agradecimento, puxo o Ryan pela mão e vamos embora.

No final das aulas nos encontramos no pátio externo. Luke e eu chegamos primeiro.

- Oi Luke como foi?

- Ela é cega, ainda não percebeu que gosto dela. Age como minha amiga.

- Amigo você terá que se declarar se quiser ter algo com ela.

- Eu sei.

Nesse momento os outros aparecem.

- E ai gente o que vocês querem fazer? - Carl chega intimando.

- Eu quero ir para casa e descansar. Esqueceu que vamos começar a ler os scripts amanhã? Temos que nos preparar para os testes. - comenta Ryan.

- Vamos tomar um café Carl? - Beth diz puxando o braço do Carl.

- Claro!

O Luke aceita o convite também.

- Eu também vou. Quer ir Luiza?

- Sim. Nós não temos como evitar as aulas então estarei quebrada pelos próximos meses mesmo. Só estou curiosa com a escolha do projeto. Espero poder participar já que não montei nada. - Luiza fala.

- Ah vai ser legal, o projeto auxilia na nota já os papéis serão conquistados por mérito nas aulas.

- Seu projeto é sobre o que Angel?

Dou um sorriso e olho para o Ryan.

- Hum... segredo absoluto. Vamos? - pego em sua mão.

Quando chego no estacionamento ele me pergunta:

- Porque não falou do seu projeto?

- Não sei. Quero que seja surpresa se for escolhido.

Estamos no mercado quando do nada aparece uma menina e começa a conversar com ele. Estou um pouco longe, mas vejo quando ela se aproxima dele e rouba um beijo.

 Ele a segura pelos braços, mas não existe censura em seu olhar e ele apenas conversa como amigos.

Dou alguns passos na sua direção e é nesse momento que consigo ouvir parte da conversa:

- Porque ela... Você sempre falou que ficaríamos juntos.

- Marcie não podemos. Estou...

- O que ela...

Congelo no lugar quando ouço sua última frase:

- Ela é apenas uma amiga... tão importante assim...

Seus olhos me localizam e o vejo empalidecer. Quando estou ao lado deles ela se vira sorrindo e me olha de cima a baixo.

- Quando estiver entediado pode me ligar, estarei sempre te esperando.

Ela joga o cabelo e sai rebolando pelo corredor, sem pensar me viro em sua direção:

- Ryan o que foi isso?

- Angel não foi nada...

- Nada? Ela te beija e você ainda admite que não sou nada? Só uma amiga? Sabe de uma coisa fique com ela, vocês se merecem.

Ele me pega pelo braço e me puxa em direção ao caixa, passa as compras e me arrasta para o carro. Tento sair do seu aperto, mas ele apenas me ajuda a entrar.

- Não vou te deixar aqui. Te levo para casa.

- Quando chegarmos vou buscar minhas coisas no seu apartamento. Não quero olhar na sua cara mais.

Vejo seu olhar magoado, mas não me deixo abater.

- Queria saber o que faria se fosse comigo. Se alguém se aproximasse e me beijasse sem você saber quem é. Não sou burra ou surda.

- Você ouviu tudo? Sei que foi errado, mas ela me beijou, não fui eu que dei o primeiro passo. Ela é amiga da Charlotte, nós ficamos várias vezes mas isso foi antes. Nunca mais tinha encontrado com ela.

- Bem, você conseguiu acabar com tudo hoje.

Olho para fora o resto do caminho e quando ele estaciona o carro me movo e  saio do carro indo em direção ao elevador, aperto o botão e quando as portas se abrem entramos juntos. Aperto o andar do seu apartamento.

Ele tenta se aproximar, mas evito olhar na sua direção.

- Você não vai me deixar explicar?

- Não, vou pegar minhas coisas e descer para meu apartamento. Acho que já conversamos o suficiente por hoje.

Ele concorda. Descemos e entro no apartamento deixando a porta aberta. Vou até o quarto e pego minha bolsa e saio guardando as roupas que estão espalhadas. Sinto uma vontade enorme de chorar mas respiro fundo.

Quando chego a porta vejo que ele ainda está parado ali com o saco das compras nos braços, passo por ele e caminho para o elevador sem olhar para traz uma única vez.

Encontro minha mãe na sala assistindo televisão, me jogo ao seu lado e começo a contar tudo para ela. Ela me ouve calada e no final fala:

- Filha, não vou questionar seus motivos pois não acho que agiu de forma errada, mas ele tem direito de se explicar. Você não ouviu a conversa e conclusões só causam problemas. Ele deveria ter dito quem você era e nada disso teria acontecido.

Ela está falando isso quando alguém bate na porta. Ele aparece e minha mãe faz sinal para ele sentar, mas apenas nega com a cabeça.

- Dona Beatriz eu queria conversar com a Angel, mas...

- Já falei que nosso assunto acabou. Não quero ouvir suas desculpas.

- Eu não tive como sair fora do beijo, não esperava este tipo de atitude dela. Tem muito tempo que não nos encontramos e apenas queria evitar as indiretas ácidas que ela poderia soltar.

- Ryan você devia ter tido uma reação diferente. Você demonstrou insegurança e simplesmente meteu os pés pelas mãos, minha filha não tem que entender suas ações, você que deveria ter pensado antes.

- Eu a amo e não existe desculpa para minha reação, mas ela poderia me escutar. Porque é tão teimosa?

- Bem ela nunca se escondeu de você. Se seu passado lhe assombra deveria ter pensado nisso antes de se envolver com minha filha, não?

Sem articular uma palavra ele sai, olho para minha mãe e apenas vou para meu quarto.

O dia seguinte chega e o reflexo no espelho não pode ser o meu. Não sou eu! Só a imagem de uma garota com olhos inchados e pálida.

Chorei muito e o que sempre me retornava era o fato de que ele podia ter empurrado a garota ou me apresentado, ou qualquer coisa. Foram tantas as possibilidades que no final só ficou a certeza que o Ryan demonstrou que não me ama realmente. Será que ele tem vergonha de mim? Uma tristeza profunda me invade, como um buraco que não se fecha.

Encontro minha mãe na cozinha ela ainda grita alguma coisa mas sigo meu caminho. Estou esperando o elevador quando ela aparece na porta.

- Angel você não vai tomar café da manhã?

- Não, estou sem fome mãe.

- Leve essa maçã e vai comendo.

- Valeu.

Dou um meio sorriso e entro no elevador.

A caminhada é longa e quando chego já tenho vontade de voltar. Encontro a Beth e o Carl numa discussão sobre ritmos.

- Oi Angel tudo bem? - ela me cumprimenta.

- Oi Beth. Carl. Tudo bem e vocês?

- Você não parece bem. O que aconteceu? - Carl se aproxima e me pega pela mão.

- Nada demais.

Tento sorrir, mas não consigo e sinto meus olhos rasos d'água peço licença só que o Carl não deixa e me segura mais forte pelo braço.

- Angel, o que o Ryan fez? E não me diga que não foi nada. Vou arrebentar ele. Juro!

- Ele... Eu... Nós tivemos uma briga ontem e ele... e acabamos ficando sem nos falar.

- Como assim? – pergunta Beth.

Explico para eles o que aconteceu. Tudo. Até o que minha mãe falou e eles ficam do meu lado. Não é essa a intenção.

Luke e a Luiza chegam. Só na forma como respondo já faz o Luke franzir a testa e me olhar.

- Aconteceu alguma coisa? – Luke pergunta e Carl faz um gesto que depois ele conta.

Me perco nos meus pensamentos e percebo que Carl está tentando contar ao Luke e Luiza parte do que aconteceu. Estou ainda distraída quando o Luke se aproxima e toca meu ombro com o seu.

- Ei não fique assim, logo ele se desculpa e tudo fica bem. Ele está apaixonado por você. – Luke fala carinhosamente.

- O Ryan não está apaixonado por mim, sou apenas alguém que estava disponível.

- Não acredito nisso. Ele olha diferente para você. Só não investi primeiro por isso. - levo um susto e encaro seu olhar - Desculpe-me. Não devia ter tocado nesse assunto.

- Esqueça. Fale sobre seus sentimentos com a Luiza. Você gosta dela, teve apenas um interesse por mim e já passou. Tenho certeza que ela sente algo por você também.

- Você está certa.

Eu dou um sorriso e começo a me virar quando ele fala:

- Mas fico pensando se não valeria a pena lutar por você.

Volto meu olhar para seu rosto, um silêncio reina e quando me viro vejo o Ryan. Ele ouviu nossa conversa ou parte dela. Olho para o Luke e pergunto baixinho:

- Será que ele ouviu?

- Tenho certeza. Está com uma expressão assassina.

- Ótimo! – falo e caminho para a entrada sem olhar para trás.

Na hora do almoço a Beth vem me procurar.

- Você está bem?

- Estou sim, terminando um trabalho. - ela concorda com a cabeça.

- Carl estava preocupado e me pediu para ver por onde você andava.

Dou risada e balanço a cabeça.

- Você almoçou? - pergunto.

- Já, a mesa está quieta hoje. Infelizmente o Carl discutiu com o Ryan e parece que o Luke também. O clima está péssimo.

- Não deviam brigar. O que aconteceu é assunto meu e do Ryan, ninguém tem que defender ninguém.

- Angel não é te defender, ele não devia ter feito aquilo. Ele podia reagir de tantas maneiras e decidiu justamente pela errada.

- Beth apenas garanta aos outros que estou bem. Juro! Agora só preciso me acostumar com a situação.

- Está certo. Mas se ele ousar te magoar de novo eu vou acabar com ele.

Recolho minhas coisas e vamos para a sala, Ryan cruza conosco mas não ergue o olhar, num canto vejo a Luiza e o Luke conversando, quem sabe eles não se acertem?

Caminho para minha aula no teatro e depois de me trocar chego ao local que está lotado de pessoas que só encontro na hora do almoço.

Vejo minha professora discutindo com um homem de echarpe rosa.

Localizo o Carl do outro lado da plateia e respondo aos seu aceno. Vejo Luke de relance, mas começo a prestar atenção na aula. Luiza se coloca ao meu lado e sussurra:

- Você viu os meninos?

Aceno em afirmação.

- Eles estão discutindo os papéis que estão disponíveis. Os testes começam na semana que vem. Vamos assistir?

- Claro, será interessante.

Somos orientados a ficar em pares, como os rapazes são poucos fazemos um círculo e nos revezaremos para giros e suspensões.

Peter estende sua mão e já me coloca a sua frente iniciando a tarefa. Ele é alto com cabelos loiros acinzentados, olhos azuis.

A professora fala alto com sua voz estridente.

- Parabéns Angélica e Peter estão perfeitos.

Dou um sorriso e ele me solta para pegar outra colega. Faço alguns giros e volto para a fila no exato momento que outro colega me ergue e volto aos exercícios.

Peter se aproxima e passo a fazer um trecho de uma peça clássica, quando a música acaba estão todos silenciosos.

Ele me solta sorrindo sem graça, mas nossa professora elogia nossa brincadeira. Somos dispensados e estou saindo quando sinto um par de olhos esverdeados me seguindo por todo trajeto.

 

Em casa mais tarde encontro minha mãe. Ela está como sempre de passagem mas perde alguns minutos e conversamos:

- Vim tomar um banho, comer e volto para o escritório. Alguma reação do Ryan?

- Não, estamos sem nos falar desde aquele dia. Nesse momento prefiro que seja assim.

- Certo, mas nada de ficar sem comer. Nada de ficar doente. – fala com o dedo apontado na minha direção.

Dou um sorriso e ela sai fechando a porta delicadamente.

A pior parte do dia são as noites, a solidão que sinto me sufoca as vezes e quase sempre adormeço depois de chorar por algum tempo jurando sempre que será o último dia.

Quando chego na faculdade e ele já está com os outros passo direto e vou para a sala, mas neste dia ouço Luiza chamar meu nome e vamos juntas a biblioteca.

- Angel queria conversar com você um pouco.

- Claro, se puder ajudar.

Ela senta numa mesa e me acomodo ao seu lado. Sua expressão é de apreensão.

- Ontem o Luke me falou que está gostando de mim há algum tempo. Fui pega de surpresa pois nunca imaginei que ele se sentisse assim.

- Ele conversou comigo um dia antes do início das aulas e me falou que estava sentindo algo por você. Porque não dá uma chance a ele? Ele vale a pena Luiza.

- Eu sei disso. Só tenho receio que ele esteja confundindo os sentimentos, ele sempre falava de você de como era e que tinha receio que o Ryan fosse magoá-la. Nunca demonstrou o que sentia por mim. - ela olha na direção da saída - Sempre achei que ele gostasse de você.

- Parece que se enganou, ele gosta de você. - afirmo.

- Eu ainda tenho minhas dúvidas, mas vou conversar com ele. – ela levanta e me olha profundamente – Sei que está chateada, mas queria que soubesse que ele está muito mal pelo que aconteceu, não toca no assunto e quando o fazem ele sai ou desconversa. Estamos preocupados com seu isolamento e a culpa está recaindo sobre ele. Talvez não seja de propósito...

- Eu sei. Depois converso com eles. Só não quero encará-lo ainda. Você entende?

- Entendo. Angel quando os vi juntos pela primeira vez tive certeza que o amor é real. Já sofri tanto que acabei me isolando e tenho dificuldade de perceber que alguém está gostando de mim.

Dou uma risada triste.

- Sabe Luiza eu sei que ele é famoso, que o assédio é grande, mas nada me impede de ter o mesmo destino. Sinto que a indecisão dele em assumir nosso namoro está mais para problemas pessoais que está passando. Não estou desculpando seus atos. Vou seguir em frente.

- Você está certa. E quem sabe não encontre o amor na nossas aulas? Dançar com o Peter  é m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o. Além de ótimo bailarino ainda se destaca. Mark me derrubou duas vezes.

- Deve ser por não ter pegado seu jeito, logo ele se acostuma. Ele ajudou algumas meninas e percebi que ele teve algumas dificuldades.

- Mudando de assunto já está fazendo o trabalho de História?

- Preciso adiantá-lo. Estou preocupada com a escolha da peça, tenho certeza que assim que sair o resultado nossas vidas vão virar um inferno.

- Posso ficar com você e adiantar o meu?

- Claro e dê uma chance ao Luke, ele realmente é maravilhoso.

Ela concorda e começamos a pegar os livros.

Resolvo participar do almoço e depois de pegar um suco sento ao lado da Beth. Estão discutindo os testes.

- Preparada para os testes?

- Sim, não preciso me preocupar com isso.

- Para que ela vai se preocupar se vai fazer o teste com o Peter bonitão. - Luiza não perde a oportunidade de acrescentar.

Ryan está me fuzilando com os olhos. Fico encarando-o durante alguns minutos e acabo desistindo desta luta silenciosa.

- Caramba! Estou nervoso. Não vou passar nos testes e vou me matar depois. - sussurra Carl.

- Vou te dar uns tapas e você vai parar com essa frescura toda. - Beth o ameaça.

Luke está rindo quando comenta.

- Bem, nem precisamos nos preocupar, certo Ryan? Nossas participações estão garantidas. - ele esfrega as mãos uma na outra - Cenas de amor!

Eles estão rindo ainda quando Luiza tem uma reação nada amigável.

- Bem, Luke, que bom saber disso, quem sabe não posso arrumar um parceiro em cima e fora do palco? Tenho muito tempo para isso.

Olho em sua direção e vejo sua ira. O clima está ficando pesado.

- Pega leve tigresa, assim você espanta a caça. – falo apenas para ela ouvir.

Ela me olha e apenas confirma com um aceno de cabeça.

- Hum verdade, mas não admito este tipo de brincadeira. – se levanta - Vou a biblioteca terminar aquele trabalho. Quer ir comigo?

Estou me levantando quando ele fala pela primeira vez, sua voz me atravessa fazendo todo o meu corpo estremecer na mesma hora.

- Luiza a Angel não comeu ainda, será que não notou?

- Nossa me desculpe, não percebi. – ela responde

- Não precisa se preocupar e comi sim. Vamos?

Sai em direção a porta sem nem dirigir um olhar ou resposta a ele.

Começo a chora assim que entro na biblioteca. Lágrimas quentes escorrem por meu rosto num acesso de dor e desespero que me vem quando relembro o que ele fez. Idiota! Idiota! Idiota!

No final daquela tarde quando meu celular toca e não reconheço o número vejo como estou apreensiva para que ele não me perturbe. Atendo com receio...

- Oi.

- Oi tudo bem? Estou ligando para te chamar para ir ao cinema. O pessoal combinou de ir hoje a noite e como não te vimos na saída pediram para te ligar e ver se quer ir conosco.

- Ah Luiza não estou muito a fim de ir não. Se divirtam.

- Pode deixar. Beijos.

Vou para a sala e ligo a televisão mas acabo cochilando no sofá.

Acordo com o celular tocando no quarto. Novamente é a Luiza. Olho o relógio da cabeceira da minha cama e são duas horas da madrugada.

- Luiza? Aconteceu alguma coisa?

- Não, só que estamos aqui embaixo no hall do flat. Desce.

- Luiza são duas horas e você quer que eu desça?

- Por favor!

- Certo esperem um pouco.

Eles estão todos aqui! E quando meus olhos recaem sobre o Ryan sinto como se tivesse borboletas no estômago. Num gesto de nervoso torço meu cabelo e faço um coque com um nó. Carl percebe meu desconforto e passa seu braço sobre meus ombros.

- Venha minha dama celebrar o namoro dos nossos amigos Luke e Luiza.

Ele me arrasta para a rua e só neste momento lembro que estou descalça.

- Carl, não posso ir com vocês estou descalça.

- Ninguém irá reparar. Vamos te carrego.

Ele me pega no colo e atravessamos a rua em direção ao Central Park.

Tem tanto tempo que não venho aqui que estou com saudade dos cheiros que pairam no ar.

Eles não vão tão longe e acabamos sentados na grama com copos de plástico e uma garrafa de vinho. O Carl serve todos e fazemos um círculo para brindar.

O Luke está com um braço na cintura da Luiza e eles estão realmente felizes.

- Aos nossos amigos que iniciam uma nova fase de felicidade. - brinda Carl.

Gritamos juntos: - Ao Luke e a Luiza.

Bebemos o vinho e ficamos conversando. Depois de algum tempo o Carl se levanta.

- Bem preciso ir, ainda hoje terei meu teste, preciso dormir uma hora pelo menos.

- Eu também vou. - se despede Beth.

Luiza ergue a garrafa.

- Vamos acabar com o vinho e já vamos todos de uma vez.

Quando estamos voltando para o prédio sinto meu corpo leve e esqueço do fato que estou descalça e piso em alguma coisa e uma dor no calcanhar.

- Ai, que droga!

Carl corre e me segura.

- O que foi Angel?

- Pisei numa tampa de garrafa e machuquei o pé. Que merda!

- Deixe-me ver.

- Não tudo bem, em casa, peço para minha mãe olhar.

Caminho mais devagar e quando sinto uma fisgada e piso em falso sinto mãos conhecidas me ampararem. Ryan me segura para não cair. Agradeço e me solto do seu aperto.

Na despedida abraço forte o Luke e Luiza desejando muitas felicidades aos dois.

Manco um pouco, mas consigo caminhar.  Percebo que não subirei sozinha e me mantenho perto da porta. Me assusto quando ouço sua voz:

- Seu pé está doendo muito?

- Não.

- Você me deixaria ver se não foi muito fundo o corte? Está sangrando.

- Não precisa. Obrigado.

- Angel...

- Eu não quero falar com você. Será que pode me deixar em paz?

- Eu só quero te ajudar.

Olho em seus olhos e digo o que dói mais em mim.

- Bem neste momento não preciso da sua ajuda.

Em casa encontro minha mãe assistindo televisão na sala.

- Mãe a senhora pode olhar um corte no meu pé?

- Claro filha, mas o que aconteceu?

- Andar descalça na cidade.

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Comments

Margarida Barbos

Margarida Barbos

gente essa Autora quê escrever a história num só capítulo aff

2023-05-20

0

Bruna Oliveira

Bruna Oliveira

tem q indentificar qm ta falando.

2022-03-09

0

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