Ela está com um olhar de ódio em seu rosto e pela primeira vez sinto medo de estar sozinha com ela aqui. Ela me olha e em seu rosto se desenha um sorriso sarcástico.
- Então quer dizer que a delicada Angélica está grávida? E ainda por cima não contou para o querido noivo?
- Quem te falou que ele não sabe? Isso é um assunto nosso e não interessa a mais ninguém.
- Claro que tenho interesse. Seu filho nojento vem destruir a possibilidade de volta entre eu e o Ryan. E eu o quero de volta com ou sem você.
- Você não me faria mal.
- Não realmente não. Posso fazer coisa melhor.
Ela começa a se aproximar de onde estou. Começo a dar passos para me distanciar até que chego até uma parede onde tem a porta de acesso as escadas.
- Quanto você quer para deixá-lo? Eu tenho dinheiro e posso te pagar. Diga seu valor.
- Eu não vou me vender. Você não pode me forçar a fazer isso.
- Hum teoria interessante. Vamos ver até onde você aguenta.
Ela me pega pelo cabelo e me empurra contra a parede. Não posso revidar e com esforço saio do seu aperto e abro a porta de acesso às escadas, quando chego ao primeiro degrau sinto suas mãos me empurrando com toda a força e não consigo me segurar.
A sensação de perder o ar é horrível, me vejo rolando os degraus sem conseguir respirar e a cada queda uma parte do meu corpo reclama por isso. Perco a consciência antes de chegar ao fim.
Não sei bem onde estou. Sinto que estou num local duro e frio, estou deitada sem conseguir me mover. Tento sentir minhas pernas e só de mexê-las dói. Abro meus olhos lentamente e vejo tudo vermelho, fico assustada e tento controlar minha respiração para me acalmar.
Lentamente me recordo da conversa com Charlotte e dela me empurrando na escada quando tentava escapar. Fixo minha vista num ponto e percebo que meu olho direito está embaçado e que com ele vejo vermelho, ergo minha mão e passo em meu rosto lentamente e tenho sangue nas mãos. Vejo minha bolsa próxima de onde estou e tento puxá-la até onde estou e este movimento faz meu corpo todo doer.
Alcanço meu celular e penso em ligar para a primeira pessoa que passa na minha mente: Ryan. Estou para discar seu número quando lembro que ele está longe e não poderá me ajudar. Localizo outro número e disco para ele, sou atendida no terceiro toque.
- Oi Angel.
Mal consigo me ouvir, minha voz não sai e tenho que me esforçar para fazer-me entender.
- Luke... Preciso de ajuda... Venha rápido... Chame uma ambulância... Estou na escada do meu andar...
- Angel o que aconteceu? Fala comigo?
- Depressa....
Não consigo me mover e não sei dizer quanto tempo se passou quando ouço passos e o som abafado de alguém que se assusta me vendo aqui caída. Escuto a voz do Luke me chamando e abro os olhos.
- Angel? Angel pode me ouvir?
- Sim.
- O socorro está a caminho. Aguente um pouco.
Tento rir, mas sinto gosto de sangue na minha garganta, as lágrimas começam a rolar incontroláveis.
Sinto alguém próximo e tento olhar, mas não consigo. Uma mão segura a minha ensanguentada e ouço a voz da Luiza.
- Estou aqui com você amiga não vou te deixar, ok?
- Lu avise minha mãe e o Ryan, por favor?
- Como isso aconteceu?
- Foi a Charlotte. Ela me empurrou.
Neste momento ouço pessoas correndo e logo em seguida a Luiza larga minha mão e começo a ser avaliada pelo médico.
- O que aconteceu?
- Eu não sei ela apenas me disse que foi empurrada. Ela está grávida de um mês e meio.
- Certo vamos colocar o colar cervical e tentar levá-la para o hospital. Ela perdeu muito sangue e precisamos chegar o mais rápido possível.
Eles me movem delicadamente e com eficiência. Um enfermeiro limpa parte do sangue do meu rosto e me direciona um sorriso de encorajamento.
Sou levada até a ambulância e em poucos minutos estou numa sala clara com muitas pessoas a minha volta. Um médico se aproxima e me faz algumas perguntas, depois pede para que fique calma que fará o possível para me ajudar a ficar bem.
Ele pede a limpeza dos diversos machucados e acabo indo para uma sala fazer vários exames de raios-X. Estou sendo medicada e tenho um curativo na cabeça quando minha mãe entra pela porta. O médico pede que ela se acalme, pois não posso ficar nervosa e ela vem lentamente para o meu lado.
- Oi filha como você está?
Eu tento dar um sorriso só que não consigo e as lágrimas descem pelo meu rosto. Ela segura minha mão e fica ao meu lado o tempo todo.
O médico vem conversar conosco e passa todo o diagnóstico e tratamento a ser feito: tenho duas costelas fraturada, luxação no tornozelo direito, um corte que já foi suturado na cabeça e perdi o nosso bebê.
De todas as notícias essa é a que me deixa arrasada. Ela conseguiu o que queria. Acabou com minha vida. Me sinto vazia e sem forças para lutar.
Meu último pensamento antes de apagar é que o Ryan não sabia do bebê.
Fico num quarto no quinto andar e meus amigos veem me visitar todos os dias depois dos ensaios. Eles tentam me alegrar, só que estou num estado de letargia. A única coisa que se passa na minha cabeça é que o Ryan não veio me ver até agora.
Sempre que o pessoal chega minha mãe não deixa espaço para que eu pergunte se ele deu notícias.
Hoje a Luiza veio me ver sozinha e tenho a oportunidade de perguntar.
- Lu você sabe me dizer porque o Ryan ainda não veio me ver?
- Ah Angel eu não posso falar sobre isso. Foi um pedido da sua mãe...
- Então porque não vai visitá-la? Você parece ser mais amiga dela.
Ela me olha e dá um suspiro.
- Bem, Luke ligou para ele como você pediu, ele ficou muito preocupado só que depois ele ligou e comentou que sua mãe proibiu as visitas dele,
- Como assim?
- Eu não sei bem o que ela falou. Ouvi o Luke comentando com o Carl na hora do almoço.
- Me desculpe esqueci que você e o Luke não estão mais juntos.
- É. Vou embora em janeiro.
- Nossa está perto
- Bem, vou indo e tente não se preocupar logo ele aparece.
Fico sozinha pensando se deixaria a mãe dele me afastar numa situação como essa. Não. Eu lutaria. Então chego à conclusão de que sou inútil quebrada e marcada como estou.
Tenho tantos hematomas no corpo que não sei onde fica minha pele realmente.
Neste momento minha mãe entra no quarto.
- Oi filha tudo bem?
- Não. Quero saber por que você proibiu as visitas do Ryan.
- Este não é o momento de conversarmos sobre isso.
- Claro que é!
- Desculpe-me filha, mas você não sabe como me senti ao saber o que aquela garota te fez com tanta frieza e maldade. - ela está com lágrimas nos olhos - Queria te pedir para não vê-lo mais.
- Porque está me pedindo isso?
- Por que ele não te faz bem. Olhe o que aconteceu?
- Ele sabe o que ela fez?
- Não. Eu não contei.
- Bem por enquanto será como a senhora quer só que tenho que contar a ele sobre o bebê e sobre o que ela fez.
Minha mãe concorda e logo em seguida sinto o sono me levar.
Fico durante cinco dias no hospital e chega o dia de ir para casa. O médico que está cuidando do meu caso aparece e coloca uma tala no tornozelo, me orienta sobre como caminhar com ela. Me orienta sobre aa fratiras das costelas e me pede para não fazer nenhum esforço. A faculdade terá que esperar. Falta apenas uma semana para as apresentações e pelo visto estarei de fora.
- Angélica você está bem e pode ir para casa, sem grandes esforços. Receitei alguns remédios e quero que retorne para o acompanhamento. Entendido?
- Sim, doutor. Queria perguntar se posso dançar. Tenho uma apresentação em uma semana...
- Vamos ver isso depois. Por enquanto nada de esforços.
Ele sai do quarto e caminho até o banheiro lentamente e depois de um banho coloco uma roupa que minha mãe trouxe. Vou de cadeira de rodas até a saída e só percebo que estou sem as alianças neste momento.
- Mãe cadê minhas alianças?
- O médico teve que tirá-las é procedimento do hospital.
Ela abre a bolsa e me entrega um envelope bem pequeno pardo. Fico com o envelope nas mãos e ao alcançar as portas vejo que tem muitos fotógrafos esperando. Olho em sua direção.
- Eles estão aqui perguntando sobre o que aconteceu. Ninguém sabe a verdade, apenas que sofreu um acidente
- Mãe! Porque não me contou!
- Porque não era importante. Agora precisamos sair e retomarmos para nossa vida.
- Bem vamos ao encontro dos leões.
Na entrada tem um taxi parado, com cuidado vou em sua direção, entro e a todo momento me direcionam perguntas as quais apenas digo: "Sem comentários."
As perguntas são as mais variadas possíveis e tento não prestar atenção só que algumas ficam gravadas na minha memória.
Chegar ao flat é outro sacrifício porque parte dos repórteres e fotógrafos estão lá esperando. Começa tudo de novo.
Minha mãe desce e me ajuda, quando estamos entrando percebo que o porteiro fala algo com minha mãe. Ela acaba mudando sua atitude e me acelerando para entrar. Vamos para o nosso apartamento e ela me leva para meu quarto, vejo que está tudo como deixei. Fico observando minhas coisas e é assim que ela me deixa, sai lentamente e fecha a porta.
Deito na cama e ainda posso sentir o seu perfume nos travesseiros. Grossas lágrimas caem por meu rosto e me pergunto se não teria me esforçado mais para vê-lo se fosse eu na posição dele. Porque ele me abandonou nessa hora? Por quê?
Acabo adormecendo e sou acordada por gritos que vem da sala, me levanto e ao abrir a porta percebo que minha mãe está discutindo com o Ryan.
- Você não tem direito nenhum sobre minha filha. Ela já sofreu o bastante em suas mãos.
- Eu não fiz nada, não estava aqui e a senhora não pode me acusar assim.
- Posso, pois foi sua namorada que empurrou minha filha.
- Ela não é minha namorada! Sou noivo da sua filha.
- Você acha que sou idiota? Olhe o que achei ontem nas bancas!
Ela deve ter entregado algo para ele, pois ele fica calado. Ele respira fundo.
- Olhe Beatriz sei que está nervosa e que fez de tudo para mandar a Charlotte para a cadeia. Eu não paguei a fiança dela, foi minha mãe alegando que ela está grávida e não poderia ficar trancada numa cela...
- Sua mãe pode salvar ela do destino que a espera, mas ela não veio salvar minha filha de perder o bebê dela!
Eu coloco minhas mãos sobre a boca para abafar qualquer som. Meus soluços são contidos. Na sala o silêncio reina.
Ele não sabia! Ele não sabia!
Ouço alguém tossindo de leve.
- A Angel estava grávida? A senhora está me dizendo que a Angel estava esperando um bebê é isso?
- Sua mãe não te contou... Meu Deus! Ela foi ao hospital e contei a ela o que aconteceu. Contei o que a Charlotte fez. Ela me deu apoio e eu pedi para ela te contar sobre o que havia acontecido. Eu implorei para ela me ajudar a fazer essa mulher pagar e o que ela fez? Foi lá e tirou ela da prisão.
- Eu preciso falar com a Angel, Beatriz, por favor.
- Não. Ela já sofreu demais, prometi nunca mais deixar você se aproximar dela caso a magoasse e é isso que estou fazendo. SAIA DAQUI!
- Beatriz entenda que minha mãe não podia deixar a Charlotte na prisão para satisfazer o seu ego.
- Meu ego? Ela vai pagar pelo que fez a minha filha.
Eu não ouvi isso! Eu não ouvi isso! Eu não ouvi isso!
Caminho lentamente até a sala e a primeira pessoa a me ver é minha mãe, ele está de costas para o corredor, mas percebe que minha mãe está olhando para alguém e se vira rapidamente. Sua expressão é de surpresa. Ele não esperava me ver muito menos a resposta que lhe dou e juro que dói demais fazer o que faço.
- E eu podia ficar naquela escada lavada em sangue e sem condições de me mover? Você imagina como foi difícil recobrar a consciência naquele chão? Você imagina como fiquei ao saber que ela fez de tudo para tirar o filho que eu estava esperando? Não. Você não sabe. Agora vai embora da minha vida e não volte nunca mais!
Dou-lhe as costas e vou para meu quarto e lá, no meu travesseiro com o cheiro do seu perfume abafo meu choro desesperado por ter sido tão rude com ele e por saber que perdi a pessoa que mais amei em minha vida.
Sou recebida com muitos abraços e beijos na faculdade. Até a Srta. Smith chora quando me vê de volta.
- Oh Angel estamos precisando de você aqui para finalizar tudo. Sentimos demais a sua falta. Sei que você está com limitações e verei o que podemos fazer. Não desisti de você garota.
Assisto o ensaio do grupo, minhas entranhas se contorcem de vontade de dançar, mas ainda é muito cedo.
Os dias passam e todos os dias Luke me busca em casa e venho para acompanhar os ensaios. Aos poucos vou que deixando levar e vou voltando. Meus colegas são tão atenciosos que quando alguém percebe que estou cansada ou com dor, pedem para fazerem uma pausa. Luiza se torna minha vigia e sempre me lembra de que tenho que tomar água, comer e descansar.
Ela está sofrendo pelo término do namoro com o Luke e isso fica claro na forma como ela o olha na hora do almoço.
Estamos sempre juntos, mas nossas conversas não são mais tão longas, às vezes, cai um silêncio que se torna insuportável. Nesses momentos me levanto e vou para algum lugar me isolar. Depois de algum tempo Luiza aparece e não diz nada, se senta ao meu lado e fica ali me fazendo companhia.
Os ensaios estão acabando e o esgotamento físico é imenso. Estamos no meio das tarefas quando a Srta. Smith entra na sala e chama a todos ao centro do palco.
- Meus queridos nosso espetáculo estava previsto para esse sábado, mas devido a uma falta de comunicação iremos realizá-lo no próximo final de semana. O diretor antecipou o concerto filarmônico, então seremos o segundo evento para a finalização do ano letivo.
- Tentem aceitar isso como uma oportunidade e vamos voltar ao trabalho!
Minha mãe não ficará feliz com este adiamento só que eu estou. Vou poder ver a Beth tocar.
Vou para o almoço junto com a Luiza feliz por essa oportunidade de poder ver minha amiga, compro sanduíche e um suco. Sentamos à mesa de costume que está vazia e o celular da Luiza toca. Ela me olha com uma cara de espanto e mostra o celular, está o nome do Jacob nela.
- Vai atender logo.
- Não sei o que dizer.
- Ele vai te falar. Atende logo.
Ela atende e sai para a área externa, fico sozinha até que Carl chega praticamente sem fôlego fazendo sinais com as mãos e não entendo nada. Logo em seguida a Luiza entra desligando o celular também correndo.
- Angel, o Ryan está aqui!
Eu olho de um para o outro e vou ficando pálida. Eu não quero vê-lo. Não tenho forças para passar por isso.
Levanto da cadeira e pego minha bolsa, jogo o resto do lanche dentro e fico com o suco na mão que está trêmula. Neste instante Luke chega me pega pela mão e me puxa.
- Vamos se mexa Angel. Você quer encontrá-lo?
- Não.
Minha voz está estrangulada na garganta e assim que meu cérebro processa a informação estou correndo junto com o Luke. Minhas costelas reclamam pelo esforço de correr, mas continuo até chegar a sala de música e nos escondemos lá.
Entro sem fôlego e damos de cara com Beth. Ela está fazendo um solo de violino e atrapalhamos.
Quando o professor vai começar a nos mandar embora ela pede um momento.
- O que foi Angel? O que aconteceu?
- Ele está aqui. Preciso ir embora.
Estou assustada e não quero vê-lo de jeito nenhum. Não posso.
Eu vi várias fotos dele com a Charlotte, passeando juntos ou indo a algum evento importante.
Essa traição foi a pior de todas. Saber que ela quase me matou e ele voltou a ficar com ela.
Beth pede licença ao professor, me leva para o corredor e começamos a correr.
- Luke você está de carro? - ela pergunta.
- Claro, está no estacionamento.
- Me dê as chaves e distraia ele dizendo que a Angel não veio. Fale qualquer coisa, mas não entregue ela de jeito nenhum. Faça-o sumir senão eu vou fazer.
Ela agarra a camisa dele ao falar isso e eu me aproximo dela.
- Beth não faça isso. O Luke é meu amigo também.
- Eu sei, mas ele é amigo dele.
- Não vou entregar a Angel pode ficar tranqüila. Tome as chaves e esconda-a.
Eu dou um beijo em seu rosto e saio de lá com a Beth. Vamos por um caminho que não conheço e ao chegarmos ao estacionamento está tudo vazio. Ela abre o carro e fico deitada no banco de trás.
- Eu volto para te buscar.
Eu confirmo com a cabeça e ela sai. Fico ali de olhos fechados e percebo que estou chorando. Um choro de ódio, frustração e saudade. Eu queria vê-lo! Isso acaba comigo. Estou aos prantos e meus soluços não cessam quando a Beth aparece com os outros. Eles ficam desesperados e quem vem me ajudar é Luke. Ele me abraça e fico chorando em sua camiseta por muito tempo. Suas mãos acariciam meus cabelos e ele tenta descobrir o que aconteceu.
- Ele te achou? Foi isso? O que aconteceu Angel? Fala comigo?
Depois de algum tempo eu me afasto e olho cada um deles: meus amigos, suas expressões são de preocupação, solidariedade e consideração.
Estendo minha mão e Beth é a primeira a pegá-la e eles me abraçam. Todos de uma vez e sinto que não estou sozinha. Passo a mão no rosto e dou um sorriso triste.
- Melhorou?
- Sim estou melhor, obrigado.
Dou um abraço apertado no Luke e apenas sinto os cabelos da minha nuca arrepiarem. Olho para trás e não vejo ninguém, tenho a impressão que tinha alguém nos observando.
- Desculpe-me eu fiquei assim por que eu estou com saudades do Ryan. Muita mesmo, mas não posso voltar a ficar com ele. Não depois de tudo. Perdoá-lo agora seria minha sentença de morte. Jamais teria paz e vocês sabem disso.
Beth está brava com tudo que aconteceu.
- Ele não merece perdão.
- Beth não é assim, algumas coisas podem ser perdoadas. – Luiza tenta acalmar e percebo que Luke sabe o que acontece.
- O que ele fez não deve ser perdoado. Ele continua saindo com Charlotte e não está nem ai para o que aconteceu.
Neste momento Carl se aproxima e aperta meu ombro com carinho.
- Angel eu conversei com ele e ele me explicou tudo.
Ele faz um gesto impedindo que qualquer um fale algo.
- Ele está preocupado com você e afirmou que a mãe dele pediu para que saísse com Charlotte, mas que ele não está interessado nela de forma alguma. Que sente sua falta demais e que ainda te ama.
A Beth bufa e cruza os braços.
- Ele te pediu para falar isso?
- Não, ele conversou comigo e me falou isso. Ele sabe que vocês a tiraram de lá. Não tem raiva de ninguém, mas ele queria muito te ver, saber como você está. Sinto muito Angel.
Eu vou até ele e o abraço. Ele é meu amigo e fico grata por não esconder de mim algo tão intenso.
- Seria errado eu perguntar se teria como irmos a uma pizzaria? Estou com fome e preciso muito comer. - Luiza pergunta.
Todos começam a rir e até o Luke entra na brincadeira.
Chega o sábado e hoje minha melhor amiga vai brilhar. Me arrumo com cuidado, coloco um vestido longo preto de alças finas e costas nuas, sapatos altos fechados, prendo meu cabelo num coque, faço uma maquiagem e saio do quarto com minha bolsa de mão e um xale vermelho de franjas.
Minha mãe assovia ao me ver e estou terminando alguns retoques quando a campainha toca. Luke veio me buscar e saímos juntos até o elevador. Instintivamente aperto seu braço ao olhar na direção da porta de acesso as escadas.
Descemos e seu carro está parado no meio fio. Ele abre a porta para que eu entre. Vamos para o teatro da faculdade. Ele está lindo num terno escuro.
Encontramos Luiza e Jacob que veio para os espetáculos. Ela está num vestido verde escuro longo.
Vamos até nossos lugares e encontramos o Carl muito nervoso num smoking.
Depois da apresentação terá uma festa e todos estão vestidos a rigor.
Soa uma sirene e nos acomodamos em nossos lugares. Os músicos entram no palco e o espetáculo começa. A música é maravilhosa, mas Beth arrasa. Ela emociona a todos e não sentimos as horas passarem.
No final do segundo ato ela vai até próximo ao maestro e ele anuncia que a próxima canção será uma homenagem a seus amigos. Luiza e eu estamos com lágrimas nos olhos e ficamos assim durante toda a sua apresentação.
Ao final aplaudo minha amiga de pé. Foi maravilhoso. Ela poderia tocar a noite toda que eu não me cansaria de ouvi-la.
Vamos todos para o saguão aguardando a Beth, quando ela chega cumprimentamos e elogiamos sua apresentação. Ela está sorrindo muito.
Vamos em carros separados e ao chegarmos no salão da festa nossa amiga é aplaudida por todos que já estão presentes.
A noite é de alegria e nos divertimos muito. Dançamos com nossos acompanhantes e trocamos de pares.
Sucesso! É disso que nossos espíritos precisam. De se elevar com tudo que há de bom nessa vida.
Luke me leva para casa e me despeço dele com um abraço e agradeço por ele ter ido comigo.
- Eu jamais deixaria você ir sozinha.
- Bem, só tenho que lhe agradecer pelo resto da vida.
- Vou sentir sua falta, Angel.
- Você pode ir me visitar.
Dou um sorriso e beijo seu rosto. Entro em casa.
Chega o grande dia e estamos todos nervosos. A equipe de palco fez um trabalho emocionante e lindo. Visto minha roupa para a personagem principal. Faço minha maquiagem de palco e me arrumo para entrar. Minhas costelas estão presas por uma faixa elástica como o médico orientou, o tornozelo não dói mais.
A casa está cheia e neste momento vejo meus amigos no final do corredor. Vou até eles e nos abraçamos. Luke me pergunta preocupado.
- Que história é essa de quebrar a perna?
- Estamos desejando sucesso. Coisa de bailarinos.
- Bem, quero que você se divirta e seja a melhor. - diz Carl.
- Arrasa amiga. Vamos estar lá torcendo por você. - Beth me abraça.
- Eu sei e vou estar lá pensando em vocês também. Obrigado por me aturarem.
Eles se vão e estou com os olhos fechados me concentrando.
Peter se aproxima e me abraça.
- Vamos? Está na hora.
Concordo e caminhamos para o gargarejo e ficamos ali aguardando nossa hora e quando ela chega esqueço-me de tudo que aconteceu e dou o melhor no palco.
Giro, salto, danço, inclino e, principalmente, vivo para mostrar que amo o que faço.
Na cena do casamento beijo o Peter e ao me afastar ele sussurra.
- Se tivesse ideia que você beijava tão bem já teria feito isso antes do Russell.
Não deixo a peteca cair e continuo meu show.
Luiza arrasa também, ela dança divinamente e sei que tem um par de olhos azuis assistindo seu desempenho brilhante.
Ela parece flutuar e sei que está linda. Me emociono vendo-a do gargarejo. Estamos dançando Mamma Mia.
Uma história sobre quem são os pais de uma garota. Sua mãe cantava e dançava e não sabe quem é seu pai.
Altero meu vestido por um macacão azul escuro, tênis e camiseta branca e aguardo a sirene que anuncia a segunda parte.
Novamente entro e estou ao lado do Peter e ele me faz rir e isso torna mais fácil as cenas que contém intimidade.
Ele me abraça por trás, sussurra várias coisas no meu ouvido e estou rindo com ele. Ninguém nos ouve e é engraçado, pois a música é alegre. De repente a atmosfera muda, é o momento do romance e fico um pouco nervosa. Num breve momento penso que esta seria a parte que ele odiaria, mas não preciso me preocupar. Ele não está aqui.
Peter nos coloca de lado para o público e suas mãos estão na lateral do meu rosto e se aproxima lentamente fico olhando em seus olhos azuis e ele deixa uma mão na minha nuca e a outra desce até minha cintura ele me gira e volta à mesma posição. Ele levanta minha perna e apoia na lateral do seu quadril, nossas bocas estão próximas. Eleva minha perna e ficamos muito próximos e ele me gira 180º e me beija intensamente. Sua língua invade minha boca e minhas mãos sobem do seu peito a sua nuca e puxo seus cabelos.
Ele sussurra próximo aos meus lábios.
- Você é muito linda sabia?
- Você está se esquecendo de que estamos no palco.
Ele sorri e me gira novamente. Suas mãos passeiam por meu corpo numa dança que mostra sensualidade, amor e paixão.
Acabamos nossa dança sorrindo, testas coladas, suas mãos estão na minha cintura, as minhas no seu rosto.
Seus olhos prendem os meus.
- Angel, gostei do beijo e não vou pedir desculpas.
- Eu sei, só não quero me envolver com ninguém agora.
- Entendo.
Saímos de cena e corro para me trocar. A peça acaba com a demonstração do amor dos personagens principais.
A Srta. Smith sobe e anuncia as apresentações individuais para a próxima parte. Estamos frenéticos nos arrumando.
Será a parte mais cansativa do programa, mas a nossa professora pediu que agíssemos rápido na entrada e saída assim não há pausa entre as apresentações e no telão atrás de nós será exibido o nome da pessoa que está se apresentando.
Estou pronta com meu collant preto, minhas meias cor de pele, saia de gaze preta de rendas e pequenos strass bordados no peito e saia. Ajusto minha maquiagem para essa parte e faço uma trança embutida que tem diversos pontos de luz.
Estou aguardando novamente a sirene quando localizo minha mãe na plateia perto da Beth e Carl.
Estou no gargarejo e fico olhando as pessoas de forma geral e quando olho na parte de cima localizo o Luke, ele está olhando diretamente na minha direção e sua expressão é esquisita. Dou um passo para trás e nego com a cabeça. Ele acena em afirmação e eu ponho a mão na minha boca e outra na garganta sinto as lágrimas subirem.
Vejo Luke falar com alguém do seu lado e sair do camarote. Vou para o fundo do camarim e logo em seguida ouço a voz da Luiza.
- Angel o que aconteceu?
- Ele está aqui.
- Quem?
- Ryan. Está no camarote junto com o Luke.
- Não pode ser Angel, o Luke estava perto da sua mãe.
- Ele não está lá. Eu o vi no camarote.
Neste exato momento ele aparece atrás de nós.
- Angel não fique preocupada ele não vai vir aqui. Ele me disse que havia prometido a você que estaria aqui hoje e veio cumprir sua promessa.
Sinto que não há mais esperanças. Relutante apenas concordo e volto para a minha posição.
Sou a última a se apresentar. Neste exato momento começa a tocar a música que escolhi, uma música que não é clássica, nem instrumental. Uma música que conta minha história, a história da minha dor e do meu sofrimento(1).
Entro em ponta e caminho até o centro do palco, braços na altura do peito e, após um giro lento, me posiciono de frente a plateia.
Danço como se minha vida dependesse disso e me sinto feliz ao terminar e saber que este é o fim de uma fase.
Me levanto e sou aplaudida de pé, agradeço e alguém sobe e me coloca um buquê de rosas nos braços.
Apenas sinto meu rosto molhado pelas lágrimas neste momento. A Srta. Smith vem até onde estou e estende um lenço na minha direção.
Agradeço uma última vez e saio do palco, meus colegas me abraçam. Elogios de toda parte. Nossa professora vem até o camarim e me chama eufórica.
- Angélica parabéns! Você recebeu uma proposta de uma companhia internacional, deve responder até o final da semana que vem.
- Vou analisar e retorno a eles.
- Venha conhecê-los.
Eu sigo até a parte debaixo do palco e posso ver minha mãe, Carl, Beth, Jacob e Luke conversando. Sou apresentada aos representantes da companhia e muito elogiada, me passam informações sobre a escola e em quais festivais terei que dançar.
Quando me despeço deles e estou subindo as escadas laterais para voltar para o camarim tenho um vislumbre do Ryan no Camarote e ele está com o rosto molhado de lágrimas, segurando sua cabeça entre as mãos. Sinto uma pontada no peito, mas continuo meu caminho e encontro Peter me esperando, ele me abraça e parabeniza.
Quando olho para trás ele não está mais lá.
Chega o dia da peça teatral.
Tinha decidido não ir, mas de última hora coloco um vestido azul escuro e um casaco com capuz. Entro no teatro e fico num canto esperando.
Quando Luke passa puxo a manga do seu terno e ele me olha.
- Angel? O que está fazendo...
- Quero um local privado para assistir a peça, você pode arrumar algo?
- Venha comigo.
Ele me coloca num camarote em que não tem ninguém e me sento ao fundo dele. Apesar dele ter falado que não iria se apresentar, vejo que está ali para participar.
Assisto a história de amor que venceu o tempo.
Na hora da morte não há alterações e Ryan faz um Romeu divino.
Sem esperar os aplausos terminarem saio do teatro e pego um táxi. Volto para casa.
Conversei com minha mãe e tomei minha decisão. Vou embora para a Europa.
Sei que meu sofrimento é banal, mas não vou aguentar ficar mais um ano na mesma faculdade que ele.
Mando mensagem para o pessoal avisando que dentro de cinco dias vou embora e que gostaria de vê-los antes de partir.
Despedidas não são fáceis, mas eles foram pessoas importantes na minha vida e um dia vou voltar para cá. Algum dia.
Minha decisão tem data marcada e estamos no aeroporto. Minha mãe vai ficar por aqui e eu vou para a Inglaterra junto com a Luiza e Jacob.
Vou estudar na escola de artes em Londres junto com Luiza e depois vou para a companhia Bolshoi e ficarei lá por mais um ano e meio.
Faço o check in e fico no saguão aguardando chamarem nosso voo. Abraço Carl e Beth e peço para que me deixem informada de tudo.
Abraço Luke e desejo sorte nas filmagens que irão começar em breve e ele me abraça prometendo me visitar.
Minha mãe fica por último.
- Filha desejo sorte lá. Só que quero pedir desculpas. Não devia ter tirado a oportunidade de você se acertar com...
- Não mãe. Não se preocupe vai ficar tudo bem. Ele não gostava tanto assim de mim.
- Ele a ama sim e sei disso agora. Filha, quando você dançou ele chorou durante todo o tempo e sei que ele está sofrendo demais. Pense em procurá-lo. Vocês podem ser amigos.
- Quem sabe um dia?
Chamam pela última vez meu voo e me direciono ao portão de embarque. Sou a última a entregar o bilhete e sigo pelo corredor tranquilamente. Ouço alguém me chamar.
Não! Alguém está gritando o meu nome e paro olhando para trás.
Ele está parado na porta de embarque sendo contido por dois seguranças.
- Angel me perdoe, por favor! Eu te amo!
Eu olho em seus olhos e dou um sorriso triste.
- Desculpe, mas eu não posso voltar atrás.
Me viro e sigo adiante. Foi isso que prometi a mim mesma quando terminei minha apresentação.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 45
Comments
Henrique Oliveira
são apenas crianças precisam crescer e ficar fortes.... relacionamento precisa disso
2024-04-18
0
Maria De Fatima Carvalho
tá chato. separar os dois . Essas duas mães atrapalhando Angel bancando criança
2023-09-19
0
Mia Li
Acredito que ela fez certo
2022-03-20
0