Anos Depois

Anos Depois.....

Já faz cinco anos que minha melhor amiga foi embora e tanta coisa aconteceu nesse tempo.

A minha vida não mudou muito. Terminei meus estudos na Julliard e fui chamada para tocar com a filarmônica de Nova York e ainda estou lá. Posso garantir que tenho grande satisfação em tocar com eles.

Tenho três CDs lançados de música clássica. E já viajei o mundo em apresentações. Visitei cidades como Berlim, Paris, Lisboa, Amsterdã, País de Gales, Barcelona, São Paulo, Rio de Janeiro, Moscou, Hong Kong, Londres e outras tantas que nem consigo lembrar.

Encontrei minha amiga quando estive em Moscou, ela estava dançando pela companhia Bolshoi e tive a oportunidade de tocar para ela dançar. Foi emocionante. Ela é a primeira bailarina desta companhia e merece estar lá.

Nesta ocasião pude ficar uma semana em sua companhia e conhecer a cidade. Ela está maravilhosa, continua alegre, mas no fundo vemos uma névoa de tristeza que se intensifica ao se tocar no nome do meu amigo Ryan. Ela não fala dele, nem pergunta nada.

- Nossa aqui tem lugares maravilhosos. A Praça Vermelha é divina. O que vamos fazer hoje?

- Vamos visitar o museu de Moscou. Não faça essa cara você vai amar.

E lá vamos nós para mais um passeio cultural que vai me arrebatar.

Minha vida amorosa continua a mesma.  Carl está filmando muito, não conseguiu nenhum papel importante ainda. Ele fala que ser coadjuvante é importante, contracenar vale qualquer sacrifício.

Estou feliz com meu namorado. Estou feliz com minha profissão. O que falta? Casamento.

Ela está me deixando louco com suas cobranças.

“Temos que dar o próximo passo Carl.” “Você não quer ter uma família comigo?” “Morar junto não é casar!” “Você vai ter que se decidir logo senão quem decide sou eu!”

Essas são suas frases favoritas e não estou correndo deste compromisso apenas tenho medo, só isso.

Ver o quanto meu amigo Ryan sofreu pelo amor da sua vida me deixou assim. Até hoje posso ver como isso o afeta.

Não quero casar e me separar em pouco tempo. Passo a imagem de um cara durão que está feliz com os papéis que consegue, mas meu maior medo é conseguir algum que me jogue no topo e isso subir a minha cabeça.

A minha Beth é maravilhosa, está muito bem colocada no mercado da música e me orgulho muito disso só que tenho medo de decepcioná-la.

Certo dia estou em casa e ela entra pela porta muito afobada.

- Nossa onde é a liquidação?

- Não é nenhuma liquidação! Quero conversar com você antes que saia para sua entrevista.

- Então diga. O que aconteceu?

Ela me estende um papel e depois de protelar por um segundo pego e leio o que está escrito. Olho em seus olhos e eles estão brilhantes e seu sorriso é imenso.

- Não acredito Beth. Você conseguiu a indicação?

- Ah amor não é maravilhoso? Vou participar do Globo Dell’Arte Concertos Internacionais. Estou muito feliz.

- Claro essa é a melhor notícia que poderíamos ter. Vai contar a Angel?

- Claro! Ela está num projeto grande e parece que terá que vir para cá. Quero que ela fique Carl. Ela precisa da gente.

- Eu sei meu bem. Ela está sozinha por muito tempo e tem que tirar essa mágoa do coração.

- Vou ligar para ela mais tarde e contar nossa novidade.

Ela me abraça. Pego meu paletó e vou para o teste de uma peça de teatro. Sempre amei os palcos e acho que está na hora de mudar um pouco. Quem sabe?

Chegar à Inglaterra ao lado dele é fabuloso. Passei os melhores anos da minha vida com ele a meu lado e somos tudo: amigos, amantes, namorados, noivos, confidentes e casados. Nos casamos a um ano e foi o melhor momento da minha vida.

Estamos realizados de uma forma que poucos entendem e muitos invejam.

Eu estou dando aula de dança numa escola renomada em Londres e ele continua atuando. Sempre que precisa viajar a trabalho meus dias ficam cinza.

Nunca imaginei que teria uma vida tão feliz. Tenho muito a agradecer a minha amiga Angel que apenas me deu um conselho que fez toda a diferença.

Pena que ela não segue seus conselhos e se fecha sempre que tocamos no assunto delicado.

Sinto falta dos dois juntos. Eles seriam como eu e o Jacob.

Que destino!

Estou tomando chá em casa com Jacob quando a empregada vem nos informar sobre uma visita inesperada, ao ouvir o nome saio correndo e vou encontrá-lo no vestíbulo.

- Ryan! Que surpresa maravilhosa!

Ele me abraça, faz tempo que não nos vemos ou falamos.

- Você continua linda Luiza. - ele graceja e Jacob vem logo.

- Ei calma ai camarada.

Damos risada e mostro a aliança que estou usando.

- Não acredito! Vocês casaram? Parabéns!

- Viu? Consegui segurar ele pelo resto da vida.

Puxo Jacob pela gola da blusa e dou um beijo estalado na sua boca.

- Quer nos acompanhar no chá? Vamos! Estamos na varanda. - Jacob o convida.

Ele nos segue até a mesa e se senta. A empregada traz uma xícara para ele. Jacob sempre é um anfitrião generoso.

- Sirva-se do que quiser.

- Nossa isso é só um chá?

- Você não viu nada. Bem, o que te trouxe a Londres? - pergunto.

- Vim para o lançamento do meu último filme e pensei em rever velhos amigos.

- Nossa é verdade! Eu havia lido em algum lugar que você estaria por aqui. Vai ficar muito tempo?

- Não, no máximo três dias. Cheguei ontem à noite.

- Que pena! Poderia levá-lo para conhecer a cidade. - diz Jacob.

- Queria que vocês fossem a pré-estreia que acontecerá esta noite. Trouxe os convites para vocês.

Ele retira de dentro do casaco e nos entrega dois convites. Concordo na hora.

- Vamos sim, não vou perder por nada.

Estamos conversando sobre os anos que se passaram quando Jacob faz a pergunta que estou quase para soltar.

- Está namorando a Charlotte ainda? E como está o filho dela? Não vi nada na mídia.

- Nós não tínhamos nada e ela teve um problema na gravidez. Quando ela foi à consulta com o obstetra ele verificou que o bebê não tinha batimento cardíaco e ela teve que retirá-lo.

Estou assombrada com a notícia.

- Nossa que triste! - ele não parece triste.

- Bem, ela mereceu depois de tudo que fez. Não acredito muito em destino, mas neste caso abri uma exceção.

Jacob está sem graça por ser ele a relembrá-lo do que aconteceu

- Peço desculpas não queria trazer recordações ruins para você

- Tudo bem, já foi mesmo, mas quem sofreu mais foi minha mãe.

- Lamento também pelo que aconteceu. Muito triste.

Ele me olha e vejo tristeza no seu semblante. Não sei o que dizer e fico ainda mais sem graça quando ele pergunta.

- E a Angel está bem?

Eu e Jacob trocamos olhares. Jacob responde.

- Deve estar sim. Ela ligou ontem a noite e disse que apesar do frio, ela está bem.

- Ela vem para cá sempre?

- Não, ela evita viajar muito. Ela ensaia oito horas por dia. - digo

- Espero que ela esteja bem.

Trocamos novos olhares e Jacob não se segura.

- Ah Ryan ela sente sua falta, mas não dá o braço a torcer a ninguém. Ela vive triste e só pensa em ensaiar até não aguentar mais. Ela trabalha numa escola comunitária para preencher o tempo e isso acaba com ela.

- Jacob!

- Desculpe Lu, ele precisa saber disso. Ela não te esqueceu, não permite que ninguém mais se aproxime. Ela está fechada para tudo e todos.

- Não é verdade Jacob ela namorou algumas pessoas e não deu certo.

- Ela dispensou todos quando percebeu que estava sério demais. Pare de defendê-la!

- Vocês não precisam brigar por isso. Fico feliz por ela estar bem e apenas sinto muito a falta dela. Segui em frente também e isso é o que importa.

Fico olhando em seu rosto e vejo a mesma tristeza que vejo na Angel quando ela vem me visitar. Não vou contar sobre as noites de insônia e nem sobre os pesadelos que ela tem, é muito particular. Eu sei o que aconteceu de fato quando viemos para a Inglaterra. O quanto ela sofreu por deixá-lo no aeroporto. Me calo.

- Bem espero vocês lá. Talvez vocês conheçam minha namorada.

- Certo, nos vemos então. - fala Jacob.

Ele se despede e o acompanhamos até a porta, ele nos abraça e se vai.

Estaciono meu carro na frente do restaurante. Estou atrasado e ela vai me matar. Jogo a chave para o frentista e corro para entrar. Ajeito minha roupa e olho em torno no salão, não preciso me esforçar para achá-la. Vou contornado as mesas enquanto seus olhos azuis me seguem constantemente.

- Oi amor me desculpe pelo atraso.

- Tudo bem acabei de chegar também.

Eu me inclino e dou um beijo em seus lábios. Sento a sua frente e o garçom já vem anotar nosso pedido.

- Como foi a reunião? - ela me pergunta.

- Bem, vou ingressar num novo projeto, antes quero analisar o script para ver se vale a pena.

Ela sorri e pego sua mão sobre a mesa, fico acariciando com meu polegar o dorso. Foi maravilhoso o dia em que cheguei ao set de filmagem e revi a Alexandra Adamanto, ela me recebeu com um abraço apertado e disse que sentiu minha falta.

Depois de ter namorada a Luiza achei que não teria uma segunda chance e antes dela partir para a Inglaterra acertamos nossas diferenças. Sei que ela está feliz com o Jacob. Até hoje mantenho contato com ela, mas a Alex não gosta muito, por isso evito falar com a Luiza na presença dela.

Minhas ligações são sempre para saber da Angel, uma amiga que sofreu muito pelo meu melhor amigo. Os dois sofrem em silêncio. Teimosos.

- Alex, eu preciso fazer uma viagem para Moscou. Você quer ir comigo?

- Vai fazer o que por lá?

- Vou visitar minha amiga Angel. Por favor, me espere explicar. Ela me ligou ontem e não parece bem, precisa conversar sobre algo grande que apareceu para ela. Não sei bem, a ligação caiu e não consegui falar com ela novamente. Preciso ajudá-la. Ela sofreu muito pelo Ryan e não posso apenas fazer de conta que ela não existe.

- Ela é aquela amiga que sofreu o acidente?

- Sim, ela mesma. Vamos comigo?

- Claro que vou. Nem precisa pedir mais uma vez.

Nossa comida chega e ficamos de mãos dadas sempre que temos uma chance.

Chego ao Aeroporto Internacional de Domodedovo e percebo que o frio está intenso. Pegamos um taxi e vamos para o hotel indicado. Desço e ajudo o motorista a tirar as malas, logo um funcionário vem ajudar. Ajudo Alex a descer do carro e levo-a para dentro. Está bem mais quente e logo que alcanço o saguão posso vê-la numa calça preta, bota marrom, blusa gola alta preta e casaco vermelho dobrado em seu braço. Está linda e com um sorriso que ilumina tudo.

Todos os homens estão deslumbrados com sua beleza, pego Alex pela mão e vamos ao seu encontro. Ela me abraça forte e quando nos afastamos ela está com lágrimas nos olhos.

- Você está lindo Luke!

Ela tenta disfarçar, mas as lágrimas escorrem por seu rosto. Alex vendo a situação se aproxima e a abraça com carinho. Ela tenta se desculpar, mas sua voz não sai.

- Tudo bem fique calma. Não vamos fugir.

Ela sorri e olha na minha direção.

- Onde você a achou? - minha amiga pergunta.

- Trabalhamos juntos.

- Fico feliz por você ter encontrado uma mulher maravilhosa para ficar ao seu lado.

- Ei eu sou sortuda por tê-lo também.

- Eu sei. E fico feliz pelos dois. Vamos nos sentar? Já comeram?

- No avião, mas vamos jantar. - respondo

Nos dirigimos ao restaurante. Angel pede uma mesa privada e o garçom nos leva para um reservado. Sentamos e ela faz seu pedido e nos dá dicas do que pedir. Tem cada nome!

Ela começa a me contar o que a está preocupando assim que o garçom se afasta.

- Luke, eu te pedi para vir aqui porque preciso de um conselho seu. Sei que o fiz fazer uma viagem longa como essa para um assunto que poderia tratar por telefone, mas quero que você leia algo e me ajude, por favor.

Ela retira uma carta do bolso do casaco e me estende. A carta está bem manuseada e há marcas nela, percebo que ela deve ter chorado muito ou amassado e depois desamassado a carta.

A carta é um convite para a 88ª Cerimônia do Oscar que será realizado em 2016, sendo que ela competirá na categoria de Melhor Coreografia, elevo meus olhos da carta e estou abismado com a guinada que a carreira dela teve nesses últimos anos.

- Angel você foi indicada ao Oscar! Garota você vai brilhar!

- Luke leia o restante.

Eu volto a ler e vejo onde está o problema: ela tem que comparecer e se apresentar na cerimônia. Agora entendo porque ela me pediu para vir.

- Você vai?

Eu estendo a carta para Alex e ela arregala os olhos e encara minha amiga pela primeira vez.

- Luke, não me diga que a Angel é Angélica Rodriguez!

Ela me olha e apenas confirmo com a cabeça.

- Caramba! Você é uma lenda no nosso país. A bailarina mais jovem a se tornar primeira bailarina numa companhia estrangeira. Coreógrafa de inúmeros musicais da Broadway e para finalizar indicada ao Oscar?

-Nossa você conhece meu trabalho!

Ela ri, mas está surpresa pela Alex saber tanto sobre ela.

- Você já mandou resposta? - pergunto

- Não. Eu realmente não sei o que fazer.

- Você tem que ir! É uma honra participar e você vai ganhar a premiação. Tenho certeza. Seu trabalho é impecável. - Alex opina.

- Você pode deixar ela aqui comigo?

- Por quê?

- Ela está massageando meu ego.

Damos muitas risadas e jantamos em clima de camaradagem. Na hora da sobremesa voltamos ao assunto do convite.

- Angel eu aceitaria o convite da academia se fosse você. - tento sugerir.

- Seria maravilhoso ter você lá, estaremos apresentando uma categoria e você poderia rever seus amigos. - Alex consegue despertar algo dentro da Angel.

- Luiza e Jacob vão? Ou seria Carl e Beth? Não falaram nada comigo. Que estranho.

- Bem, nós vamos apresentar uma categoria e Ryan Russell concorre como melhor ator e a namorada dele, Jessica Green, a melhor atriz.

Não tenho tempo de detê-la e vejo a palidez tomar conta do rosto da Angel e me levanto, ajoelhando aos pés da sua cadeira.

- Angel, eu não sabia, juro. Alex sabe mais sobre essas coisas. Eu teria te contado se soubesse.

- Ele está namorando a Jessica?

- Sim está, mas é recente.

Alex nota que algo não está bem.

- Luke o que está acontecendo?

Explico resumidamente o que aconteceu, mas deixo de fora os detalhes mais pesados.

- Desculpe-me eu não sabia.

- Tudo bem, ele não me interessa.

Vejo a transformação ocorrendo. Ela se fecha novamente e delicadamente pede licença para ir ao banheiro.

- Alex posso te pedir uma coisa?

- Claro que pode.

- Você me deixaria conversar a sós com a Angel? Ela sofreu muito e sei que ela vai recusar o convite se eu não a convencer.

- Amor, eu não devia ter falado sobre o Ryan e a namorada. Sinto muito mesmo.

- Eu sei e ela também, mas eles eram muito próximos e ela perdeu o bebê deles antes de sair de Nova York, por isso ela está reagindo assim. Pelo que vejo, ela não anda lendo muito sobre ele.

Alex se levanta me dá um beijo e vai para a recepção nos registrar e subir para o quarto, fico esperando minha amiga na mesa. Ela retorna depois de algum tempo e posso ver que ela chorou, finjo que não vejo nada.

- Onde está a Alex?

- Foi para o quarto. A viagem foi cansativa. E aí vai aceitar o convite?

Ela nega com a cabeça vigorosamente.

- Angel é uma oportunidade única, você pode pedir para ficar longe dele e não vai encontrá-lo, o máximo que acontecerá será ele te ver dançando no palco. Vamos aceite! Nós vamos adorar te receber em nossa casa e poderemos juntar todos novamente.

- Sinceramente não sei o que fazer.

Fico em Moscou por uma semana e não toco mais no assunto. Ela nos leva para conhecer a cidade, o centro comunitário que dá aula e os ensaios no balé Bolshoi. Ela me conta como foram esses anos e que em menos de dois meses ela voltará para a Inglaterra.

Quando chega a hora de partimos ela nos acompanha até o aeroporto e na hora das despedidas a lembramos do que tem que fazer. Alex é a primeira a tocar no assunto.

- Sei que não quer falar disso, mas vá para a cerimônia. Aceite. Será maravilhoso tê-la lá.

- Angel, passe por cima do seu orgulho e se dê uma chance. Apesar de não ser do cinema tudo isso está fazendo seu nome brilhar. Cresça junto com ele. Deixe o passado para traz e siga em frente.

Ela me abraça, deposita um beijo no meu rosto e sei que sentirei saudades da alegria que só ela sabe despertar.

Acordo com meus gritos chamando seu nome. Mais uma vez o mesmo pesadelo, ele me atormenta nos últimos cinco anos, sempre acordo no mesmo momento angustiante.

Meu corpo está trêmulo e estou transpirando muito, mesmo estando na época do frio. Calafrios atravessam meu corpo, acendo o abajur e apoio as costas na cabeceira da cama.

Olho o quarto e meus olhos se fixam na penteadeira que está num canto do quarto. Nunca mais foi usada e está como ela deixou.

Fecho meus olhos e apoio minha cabeça na parede. As cenas retornam sem muito esforço e me vejo envolvido no sonho novamente: ela está num corredor longo e claro e usa um vestido branco longo, com cabelos soltos e estou na outra ponta do corredor no escuro e grito seu nome, mas sinto que estou sendo contido por inúmeras mãos, em algumas ocasiões parece piche. Não consigo me mover e apenas meus gritos são ouvidos. Chamo seu nome. Quando estou sussurrando seu nome já fraco de lutar contra o que me impede de correr ao seu encontro ela se vira e seu vestido está sujo de sangue. Suas mãos seguram seu abdômen que está liso ainda e ela estende as mãos com medo de mim. Apenas ouço seu sussurro “Você fez isso comigo.”

Grito mais forte que me perdoe e é nessa hora que acordo. Sempre assim.

Levanto e vou até a cozinha. Tenho que me anestesiar para poder descansar. Tudo que aconteceu afetou meu trabalho e minha paz.

Esses anos foram sedentos de sua presença e fico como um zumbi neste apartamento. Recordo de cada dia de felicidade que tive ao seu lado.

Dentro destas paredes sou eu mesmo, mas lá fora passo a imagem do cara que está feliz e vive bem. Sou obrigado a viver de aparências.

Minha solidão me sufoca e preciso afogar meu desespero todos os dias.

Nos primeiros meses eu pegava meu celular e ligava para o dela, desligava antes que atendesse, ela me deixou.

Eu morreria por ela, mas ela não faria o mesmo por mim.

Mentira! Sou um mentiroso, dissimulado, falso, tratante, idiota, imbecil... Quando percebo estou chorando novamente e acabo quebrando a garrafa que está na minha mão.

Eu retorno aos poucos a me sentir mais vivo. Termino as gravações do meu último filme e me envolvo com a atriz que trabalha comigo: Jessica Green, minha amiga há muitos anos.

Sempre fomos próximos e quando ela teve uma decepção amorosa acabamos nos aproximando.

Ao seu lado fico feliz e quase volto a ser o mesmo, mas nas noites solitárias perco todo o controle.

Sinto remorso das noites de amor que tenho e passo a me culpar por tentar amar outra pessoa. Ela roubou meu coração e minha vontade de viver.

Minha mãe vem me ver sempre e não nos falamos como antes, sinto que ela sempre quis minha volta com a Charlotte e que apenas aceitou a Angel por minha causa. Bem, o castigo veio a galope e a Charlotte não teve o bebê devido a alguns problemas na gestação.

Ela pagou caro por ter feito o que fez com a Angel. Sinto pela criança, mas não compartilho da dor da Charlotte. Ela é puro veneno e quero manter distância dela.

A mãe da Angel vem aqui sempre conversar comigo, ela me perdoou pelo que aconteceu.

Ela viu que eu não tive culpa, só uma mente insana faria o que a Charlotte fez e por entender, ela acabou deixando a Charlotte viver a vida dela sem prejudicá-la.

Isso lhe custou o amor de sua filha, pois a Angel não falou muito com sua mãe nesses últimos anos.

Bem, a vida continua e as tempestades são apenas isso: tempestades.

Seguir por aquele corredor foi a tarefa mais difícil que já fiz em toda a minha vida, mas o que me impulsionou a continuar foi a recordação de que não ia deixar a Charlotte na prisão para fazer a vontade da minha mãe.

Isto me impulsionou a seguir em frente e nunca voltar.

Sinto a raiva me corroer constantemente e isso é o que alimenta minha vida por muito tempo.

Só que o tempo cura tudo e por muitas vezes me vejo sem conseguir dormir, a única coisa que me acalma é pegar as alianças que ficaram comigo e colocá-las.

Ao observar as asas que circulam o diamante lembro-me do que ele disse e minhas lágrimas molham meu travesseiro.

Acabo fazendo minha vida correr normalmente. Só tenho um problema, não consigo amar ninguém. Envolvo-me com outros rapazes, saio para jantares e festas, mas eles não passam de passatempo.

Sou como uma ostra fechada. Mantenho meu amor guardado como a pérola que se instala lá dentro. Apenas uma pessoa tem o poder de abri-la.

Nos primeiros meses fiquei como um zumbi, comia, dormia e estudava quando mandavam. Aos poucos acordo dessa letargia e me afundo no trabalho e ensaios.

Minha vida melhora quando coloco inúmeros continentes a nos separar e evito todo o tipo de mídia. Não leio jornal, revistas ou assisto aos programas de entrevistas.

Viver em Moscou se mostra uma renovação para minha mente cansada.

A única coisa que não paro de fazer é dormir com sua camiseta surrada, que nem tem mais seu perfume. Colocar as alianças que são as lembranças mais felizes que tenho.

Não! Tenho outras lembranças felizes mais bloqueio todas elas para que não me destruam com saudades.

Vivo um dia de cada vez. Tolerante e o mais feliz que posso.

Mas às vezes, me pego dentro do trem olhando a paisagem e me lembrando daqueles olhos esverdeados que me encaravam com tanto amor.

Lembro-me das muitas vezes que suas pupilas dilatavam tanto que ficava apenas uma faixa minúscula verde a ser visível.

Recordar de seus beijos me traz uma sede voluptuosa que chega até o fundo do meu corpo. Sonhar com ele é o que mais me atormenta.

Estou ainda numa decisão difícil sobre aceitar o tal convite e me vejo pensando nisso dia e noite.

Minha única preocupação é com ele. Como ele estará? Será que ficará feliz em me ver? O que poderia acontecer?

Como o filme foi indicado, será enviada uma delegação, mas eu não estarei mais aqui. Volto para a Inglaterra amanhã.

Pego o telefone e faço uma ligação. Tenho certeza de que essa pessoa me ajudará a decidir o que fazer.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***