O vento assobiava entre as árvores enquanto Ayumi tentava estancar o sangramento da perna. Yumi observava em silêncio, os olhos arregalados de medo, mas também de algo mais profundo: esperança.
Renji ajudava como podia, mas ainda estava fraco demais para fazer muito. Ele cerrava os punhos, a frustração queimando em seu peito. O que haviam feito a Ayumi, a Yumi — o que ele próprio permitira acontecer por tanto tempo — agora pesava sobre ele como uma maldição.
— Você precisa descansar — disse ele, a voz rouca.
Ayumi olhou para ele e sorriu de um jeito que fez seu peito doer.
— Não podemos nos dar esse luxo — respondeu. — Não enquanto eles ainda estiverem lá fora.
Ela sentia no fundo dos ossos: eles viriam. Sabiam demais. Haviam roubado a arma mais poderosa da organização — a verdade.
E a verdade, mais do que qualquer faca ou bala, podia matar.
**
Durante o dia, Ayumi, Renji e Yumi trabalharam sem descanso.
Esconderam a cabana, apagaram rastros, prepararam armadilhas improvisadas ao redor. Cada movimento era movido pelo instinto primitivo de sobrevivência.
Renji encontrou uma velha pistola escondida sob o assoalho — um presente esquecido de tempos antigos. Ver Ayumi manuseando a arma, fria e precisa, deixou-o dividido entre admiração e tristeza.
Yumi, pequena mas determinada, ajudava como podia. Ela carregava lenha, buscava água. Sua coragem silenciosa era um lembrete constante para Ayumi do que estava em jogo.
Não era só por elas. Era por todos que haviam sofrido nas mãos da organização.
Era por Kaori.
Era por ela mesma.
**
Naquela noite, Ayumi sentou-se com Renji na frente da lareira fraca.
— O que vamos fazer com os arquivos? — ele perguntou, a voz baixa.
Ayumi olhou para o fogo, os olhos refletindo as chamas.
— Expor tudo. Nome por nome. Rosto por rosto.
— E depois?
Ela sorriu, um sorriso sombrio.
— Depois, terminamos o que começamos.
Renji assentiu, respeitando a fúria silenciosa nela. Mas ele sabia: não seria fácil. A organização tinha olhos e ouvidos em toda parte. Políticos. Empresários. Policiais.
Ninguém estava realmente seguro.
**
Horas depois, enquanto a cabana dormia, Ayumi ficou acordada.
Ela revisou os documentos, o brilho fraco da lanterna iluminando rostos familiares. Traidores. Assassinos. Monstros.
Ela encontrou o dossiê de Kaito.
E ali, entre as mentiras e verdades, estava a revelação: ele a usara. Desde o começo. Cada toque, cada palavra doce, cada promessa vazia.
Um grito preso em sua garganta.
Mas ela não o soltou.
Engoliu a dor.
Transformou em aço.
**
No amanhecer, ouviram o primeiro tiro.
A bala atingiu a moldura da porta, espalhando farpas de madeira pelo chão.
Ayumi reagiu instantaneamente.
— Yumi, vá para o esconderijo! — gritou.
A menina correu, sumindo sob o alçapão secreto que haviam preparado.
Renji se posicionou ao lado da porta, arma em punho.
Ayumi respirou fundo.
Eles estavam cercados.
Era agora ou nunca.
**
A primeira onda de atacantes veio rápida, brutal.
Homens de preto, rostos cobertos.
Ayumi e Renji atiraram, cada bala um sussurro de resistência.
O barulho era ensurdecedor. Pólvora e sangue impregnavam o ar.
Ayumi se movia como um animal encurralado: rápida, mortal.
Ela derrubou dois inimigos antes que eles atravessassem a sala.
Renji segurava a porta, mas logo foi forçado a recuar, um corte profundo no ombro.
Ayumi puxou-o para trás, cobrindo-o enquanto recarregava a arma.
— Aguenta — rosnou.
Renji sorriu, ensanguentado.
— Sempre.
**
Quando as balas acabaram, Ayumi partiu para o combate corpo a corpo.
Era brutal.
Ela quebrou braços, esmagou narizes, derrubou homens duas vezes maiores que ela.
Mas eram muitos.
E ela estava cansada.
Muito cansada.
Um dos atacantes conseguiu agarrá-la, prendendo seus braços.
Ayumi lutou como uma fera, mordendo, chutando.
Mas ele era forte.
Renji tentou ajudar, mas outro inimigo o derrubou com uma coronhada na cabeça.
Sangue escorreu de sua testa.
Ayumi gritou, um som primitivo e desesperado.
Foi então que ouviu: um estalo. Um tiro.
O homem que a segurava caiu morto.
Atrás dele, pequena e tremendo, estava Yumi.
A arma ainda fumegava em suas mãos.
**
Por um momento, tudo parou.
Ayumi correu até Yumi, tirando a arma de suas mãos delicadas.
— Você está bem? — sussurrou.
Yumi apenas assentiu, olhos arregalados.
O choque. A culpa. A dor. Tudo escrito em seu rosto.
Mas Ayumi sabia: não havia volta.
A inocência de Yumi morrera ali, junto com aquele homem.
**
O ataque cessou tão repentinamente quanto começara.
Os corpos dos atacantes jaziam espalhados pelo chão.
Ayumi, ofegante, olhou em volta.
Sabia que aquilo era apenas o começo.
Uma mensagem.
"Sabemos onde você está."
"Podemos alcançá-la."
**
Nos dias seguintes, Ayumi, Renji e Yumi se esconderam mais fundo nas montanhas.
Cada noite era uma luta contra o medo.
Cada amanhecer, uma vitória silenciosa.
Eles se moviam de um abrigo para outro, nunca permanecendo no mesmo lugar por muito tempo.
A comida escasseava.
As feridas infeccionavam.
O cansaço era esmagador.
Mas desistir não era uma opção.
**
Uma noite, enquanto o vento uivava como um lamento antigo, Ayumi encontrou Renji sentado sozinho, olhando para o céu estrelado.
Ela se sentou ao lado dele, o silêncio confortável entre eles.
— Está pensando em Kaori? — ela perguntou.
Renji assentiu.
— Sempre.
Ayumi inclinou a cabeça contra o ombro dele.
— Eu também.
Por um momento, foram apenas duas almas quebradas compartilhando a dor.
Sem máscaras.
Sem mentiras.
**
Na manhã seguinte, Ayumi decidiu.
Eles não podiam mais se esconder.
Precisavam agir.
— Vamos expor tudo esta noite — disse ela.
Renji arregalou os olhos.
— Está louca? Eles estão nos caçando!
Ayumi sorriu, aquele sorriso frio que ele aprendera a temer e amar.
— Exatamente. E vamos obrigá-los a mostrar suas caras.
**
O plano era simples.
E suicida.
Usariam a rede da cidade vizinha para enviar os arquivos a todas as agências de notícias, fóruns e redes sociais.
Uma explosão de verdades.
Uma bomba que ninguém poderia ignorar.
**
Eles invadiram uma pequena estação de rádio abandonada.
Yumi ficou no carro, de vigia.
Renji monitorava os sinais de segurança.
Ayumi conectou o pen drive ao sistema principal.
O upload começou.
1%.
3%.
10%.
Cada segundo parecia uma eternidade.
No monitor, viu as primeiras imagens vazarem.
Nomes.
Fotos.
Conspirações.
Crimes.
A verdade nua e crua.
**
E então, a rede caiu.
Alguém os havia encontrado.
Renji praguejou.
— Temos companhia!
Ayumi pegou a arma, o coração batendo forte.
— Hora do show.
**
Eles lutaram até o último cartucho.
Mas sabiam que estavam em desvantagem.
Quando Renji foi atingido no peito, Ayumi gritou.
Ela correu até ele, sangue jorrando.
— Não! — sussurrou, desesperada.
Renji sorriu, um sorriso triste.
— Valeu a pena...
Ayumi pressionou as mãos sobre a ferida.
— Fica comigo. Por favor, Renji.
Mas seus olhos já estavam vidrados.
A vida deixando-o em silêncio.
**
O ódio explodiu dentro dela.
Ela pegou a arma caída e enfrentou os atacantes.
Cada tiro, uma sentença.
Cada passo, uma vingança.
Ela sabia que não sobreviveria.
Mas não se importava.
Eles a haviam tirado tudo.
**
Quando o último homem caiu, Ayumi cambaleou.
Sangue manchava suas roupas.
Seu corpo tremia.
Mas o sistema reiniciou.
O upload completou.
Ela sorriu.
Eles haviam vencido.
A um preço terrível.
**
Horas depois, o mundo explodia em escândalo.
A organização caiu.
Prisões.
Investigações.
Revolta.
Mas Ayumi não estava lá para ver.
Ela desapareceu como uma sombra na noite.
Levando Yumi pela mão.
Para um novo começo.
**
O passado ainda a assombrava.
As cicatrizes ainda doíam.
Mas pela primeira vez em muito tempo, havia uma centelha de esperança.
Ela não era mais apenas uma vítima.
Era uma sobrevivente.
Uma guerreira.
E enquanto caminhassem juntas, Ayumi e Yumi sabiam:
ninguém mais iria quebrá-las.
Nunca mais.
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Atualizado até capítulo 53
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