O amanhecer tingia o céu de cinza pálido quando Ayumi, Yumi e Renji chegaram ao refúgio improvisado: uma velha cabana esquecida nas montanhas.
Ayumi carregava Renji nos braços, o peso dele dobrando suas forças. O sangue quente manchava suas roupas, cada passo era um lembrete da fragilidade da vida.
Yumi corria na frente, abrindo caminho, as mãos trêmulas, o rosto manchado de lágrimas e sujeira.
Quando finalmente entraram, Ayumi deitou Renji sobre um colchão empoeirado no chão. O peito dele subia e descia em respirações irregulares.
Ela rasgou a manga da própria camisa e pressionou a ferida no abdômen dele.
— Aguenta firme, Renji — murmurou, a voz falhando.
Ele tentou sorrir, mas era mais uma careta de dor.
— Já passei por pior — disse ele, os olhos semicerrados.
Mentiroso. Ela sabia. E ele também.
**
As horas seguintes foram um borrão de movimento e tensão.
Ayumi limpou a ferida como pôde, usando água suja fervida na pequena lareira da cabana. Não era ideal. Nada era ideal. Mas era tudo o que tinham.
Yumi ficou sentada em um canto, abraçada aos joelhos, balançando-se levemente.
O silêncio entre eles era pesado.
Ayumi sentiu a culpa se instalar como uma lâmina em suas costas.
Se Renji morresse...
Ela fechou os olhos por um segundo, expulsando o pensamento.
Não. Ela não perderia mais ninguém.
**
Quando Renji finalmente adormeceu, exausto, Ayumi sentou-se ao lado dele, observando-o respirar.
O rosto dele, tão duro e fechado na maioria das vezes, agora parecia vulnerável. Humano.
Ela pensou em tudo o que haviam passado juntos.
As brigas. As promessas. As traições.
E agora, este momento. Cru. Real.
Ela pegou a mão dele, apertando-a levemente.
— Obrigada — sussurrou.
Por não desistir.
Por acreditar nela.
Por lutar.
**
O sol já estava alto quando Ayumi e Yumi finalmente conversaram.
A menina ainda parecia assustada, mas seus olhos tinham um brilho novo. Um brilho de força.
— Você vai me deixar de novo? — perguntou Yumi, a voz pequena.
Ayumi sentiu o coração se partir.
— Nunca mais — respondeu com firmeza.
Yumi olhou para ela por um longo momento, como se pesasse suas palavras, antes de finalmente se atirar nos braços da irmã.
Ayumi a abraçou forte, sentindo as lágrimas silenciosas da menina contra seu peito.
Elas ficaram assim por um tempo, duas almas quebradas tentando se remendar.
**
Quando Yumi adormeceu, Ayumi saiu para o lado de fora da cabana.
O ar da montanha era frio e limpo.
Ela se sentou em uma pedra, olhando para o horizonte.
O que viria agora?
Kaito estava morto.
Mas a organização não.
Eles sabiam demais. Eram muitos.
E agora que Ayumi havia desafiado suas regras, eles viriam atrás dela. Atrás de Yumi.
Ela não podia simplesmente esperar.
Precisava agir.
**
O vento trouxe consigo o cheiro de chuva.
Ayumi fechou os olhos, sentindo cada gota de suor, sangue e poeira em sua pele.
Ela pensou em Kaori.
O sorriso dela.
O som da risada.
A última mensagem deixada no gravador antigo: *"Confie em si mesma. Você é mais forte do que pensa."*
Ayumi abriu os olhos.
Sim. Era hora de parar de correr.
Hora de lutar de verdade.
**
Durante três dias, eles ficaram na cabana.
Renji melhorou lentamente, embora ainda estivesse fraco.
Yumi, pela primeira vez em meses, parecia mais leve.
Ayumi usou o tempo para traçar um plano.
Ela sabia onde estavam os arquivos secretos da organização — documentos, gravações, provas suficientes para destruir a base deles de dentro para fora.
Era arriscado. Loucura.
Mas era a única chance.
Na última noite, enquanto Renji dormia e Yumi desenhava na poeira do chão, Ayumi tomou sua decisão.
Ela pegou o mapa amassado do bolso e traçou a rota com o dedo.
O cofre ficava em uma instalação subterrânea, escondida sob uma fábrica abandonada.
Defendida por alarmes, homens armados e armadilhas mortais.
Perfeito.
**
Na manhã seguinte, Ayumi acordou Renji.
— Preciso ir — disse ela.
Renji, ainda fraco, tentou se sentar.
— Eu vou com você.
Ela balançou a cabeça.
— Você mal consegue ficar de pé. Preciso que fique e proteja Yumi.
Renji franziu o cenho, irritado, mas sabia que ela tinha razão.
— Vai sozinha? — perguntou, a voz rouca.
Ayumi sorriu de lado.
— Desde o começo, sempre estive sozinha.
Renji pegou a mão dela.
— Não mais.
Ela hesitou, o coração apertando.
Então assentiu.
**
Antes de partir, Ayumi ajoelhou-se diante de Yumi.
— Preciso que seja corajosa — disse.
Yumi mordeu o lábio, lutando contra as lágrimas.
— Você promete que volta?
Ayumi acariciou o rosto da irmã.
— Prometo.
Era uma promessa feita de sangue e esperança.
Uma promessa que ela não podia quebrar.
**
A viagem até a cidade levou o dia inteiro.
Ayumi caminhou pelas estradas secundárias, evitando olhares curiosos.
Quando o sol se pôs, ela já estava nos arredores da fábrica abandonada.
Parecia vazia.
Mas ela sabia que era uma ilusão.
Tudo ali era uma armadilha.
Ela estudou o prédio, memorizando as entradas e saídas.
Respirou fundo.
E entrou.
**
O interior da fábrica era um labirinto de corredores estreitos e salas escuras.
Ayumi movia-se como uma sombra, silenciosa.
Evadiu câmeras de segurança, evitou sensores de movimento.
Cada passo era medido.
Cada respiração controlada.
**
Finalmente, ela chegou à porta do cofre.
Uma monstruosidade de aço reforçado.
Protegido por um teclado biométrico.
Ayumi tirou do bolso um pequeno dispositivo que Renji havia lhe dado.
— "Um presente dos velhos tempos", ele dissera.
Ela conectou o dispositivo ao teclado.
Luzes piscaram.
Códigos correram pela tela.
Finalmente, um *clique*.
A porta se abriu.
**
Dentro, pilhas de documentos.
Pen drives.
Discos rígidos.
Ayumi sabia que o tempo era curto.
Pegou o máximo que conseguiu carregar em uma mochila.
Mas ao sair, o alarme disparou.
Alguém a esperava.
**
Uma dúzia de homens armados surgiram nos corredores.
Ayumi correu.
Tiros ecoaram atrás dela.
Ela deslizou por baixo de canos enferrujados, pulou sobre entulhos, desviou por corredores estreitos.
Cada bala que passava zunindo era uma sentença de morte evitada por centímetros.
**
No pátio da fábrica, ela foi cercada.
Sem saída.
O líder deles — um homem corpulento com uma cicatriz atravessando o rosto — avançou.
— Entregue o que roubou — rosnou ele.
Ayumi ergueu a cabeça, desafiadora.
— Venham pegar.
Ela tirou duas pequenas bombas de fumaça dos bolsos.
Jogou-as no chão.
O mundo se encheu de fumaça e caos.
Ayumi correu, usando a confusão a seu favor.
Conseguiu escalar o muro lateral da fábrica, usando vigas enferrujadas como apoio.
Uma bala rasgou sua perna, mas ela não parou.
Não podia parar.
**
Quando finalmente alcançou a floresta além da cidade, o corpo dela tremia de exaustão.
O ferimento queimava.
O peso da mochila parecia multiplicado.
Mas ela continuou.
Cada passo, uma vitória.
**
Chegou à cabana ao amanhecer.
Yumi correu para ela, gritando seu nome.
Renji tentou se levantar, mas desabou de novo.
Ayumi caiu de joelhos, ofegante.
Mas sorriu.
Conseguira.
Sobrevivido.
Conquistado.
**
Enquanto Yumi a abraçava e Renji a ajudava a entrar, Ayumi sentiu algo dentro dela mudar.
Não era mais a menina assustada de antes.
Era uma guerreira.
Uma sobrevivente.
Uma líder.
Ela olhou para os rostos daqueles que amava.
E soube.
A guerra ainda não havia acabado.
Mas juntos, eles tinham uma chance.
Uma chance real.
**
Ayumi fechou os olhos por um momento.
Depois os abriu, cheia de uma nova determinação.
Eles tentaram quebrá-la.
Tentaram destruí-la.
Mas ela ainda estava de pé.
E agora, era a vez deles de correr.
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Atualizado até capítulo 53
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