Ayumi esperava em um café discreto da cidade, sentada perto da janela. Suas mãos tremiam levemente enquanto brincava com a xícara de chá diante dela. O envelope de Kaito agora repousava na bolsa ao seu lado, como um lembrete silencioso da dúvida que corrompia seu coração.
A porta se abriu, e Renji entrou. Seus olhos a encontraram instantaneamente, e ele caminhou até ela com passos decididos. Havia cansaço em seu rosto, como se noites sem dormir o perseguissem. Ainda assim, seu olhar era firme, intenso.
Ayumi se forçou a respirar fundo.
— Ayumi — ele disse, puxando a cadeira e sentando-se à sua frente —, obrigado por ter vindo.
Ela manteve o olhar frio, a voz controlada.
— Não estou aqui para um reencontro, Renji. Estou aqui por respostas.
Renji assentiu lentamente, como se já esperasse aquilo.
— Eu imaginei.
Ayumi tirou o envelope da bolsa e jogou sobre a mesa. O som oco do papel ressoou no pequeno espaço entre eles.
— Recebi isso ontem à noite — disse ela. — Explicações, agora.
Renji olhou para o envelope, seu maxilar se contraindo. Não parecia surpreso, apenas… triste. Exausto.
— Kaito — murmurou.
— Você sabia que ele viria atrás de mim? — Ayumi perguntou, a voz carregada de mágoa.
— Eu sabia que ele tentaria alguma coisa. Mas não imaginei que fosse tão cedo — respondeu Renji, massageando as têmporas.
Ayumi cruzou os braços.
— Então? Essas fotos, esses documentos... são reais? Você está envolvido com tráfico? Com desaparecimentos?
Renji a encarou, a dor estampada em seus olhos. Demorou alguns segundos até que começasse a falar.
— Parte disso é verdade. E parte é mentira.
— Parte? — Ayumi quase gritou, o coração acelerado.
Renji se inclinou para frente, os olhos presos nos dela.
— Minha família tem negócios antigos, Ayumi. Negócios sujos, que começaram muito antes de eu nascer. Quando eu assumi parte da empresa, tentei limpar tudo. Tentei cortar as parcerias erradas, acabar com o que era ilegal. Mas… nem todos aceitaram isso de bom grado.
Ele passou a mão pelos cabelos, claramente perturbado.
— Kaito era meu melhor amigo. Meu irmão de criação. Mas quando decidi acabar com os lucros fáceis dele... ele se voltou contra mim. Plantou provas, manipulou situações. E agora, está tentando me destruir por meio de você.
Ayumi sentiu seu coração estremecer. Parte dela queria acreditar nele. Parte dela queria gritar, fugir.
— E a mulher na foto? — ela perguntou, a voz falhando.
Renji fechou os olhos por um instante, como se aquilo o dilacerasse.
— Akane. Ela era minha secretária. Descobriu documentos comprometendo Kaito. Quando ela veio me contar, foi sequestrada. Eu tentei salvá-la... mas falhei.
A dor em sua voz era palpável, e Ayumi sentiu um aperto no peito.
— Ele usou a foto para parecer que eu estava envolvido no desaparecimento dela. Mas eu juro pela minha vida, Ayumi, eu tentei protegê-la.
Ayumi piscou rapidamente, tentando afastar as lágrimas.
— Como eu posso acreditar em você, Renji? Depois de tudo?
Ele estendeu a mão sobre a mesa, hesitante.
— Não peço que acredite apenas em palavras. Peço que olhe nos meus olhos e sinta a verdade. Eu nunca machucaria você. Nunca.
Ela olhou para ele, para a sinceridade crua em seu rosto, para a dor que ele não conseguia esconder.
E seu coração, tolo e valente, quis acreditar.
**
Do lado de fora, um carro preto estacionou discretamente. Dentro, Kaito observava a cena, apertando o volante com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos.
— Então é assim — murmurou. — Você vai escolher ela em vez de tudo que construímos juntos, Renji?
Kaito pegou o telefone.
— Hora de avançar para a próxima fase.
**
No café, Ayumi ainda lutava contra seus sentimentos quando um barulho ensurdecedor quebrou a tranquilidade.
Vidros se estilhaçaram, pessoas gritaram, e três homens mascarados invadiram o local, armados.
— Todos no chão! — gritou um deles.
Ayumi congelou de medo. Renji, em um movimento rápido, puxou-a para trás da mesa, protegendo-a com o próprio corpo.
— Fique abaixada — ele sussurrou.
O líder dos mascarados apontou a arma para Renji.
— Você, Sakamoto. Conosco, agora.
Ayumi arregalou os olhos.
— Não! — ela gritou instintivamente.
Renji olhou para ela com uma expressão amarga de despedida.
— Vai ficar tudo bem. Confie em mim.
Sem resistir, ele se levantou e ergueu as mãos.
— Deixem os outros irem — disse ele, encarando o líder.
O mascarado sorriu de forma ameaçadora.
— Que nobre da sua parte. Mas não estamos aqui para fazer favores.
Antes que Renji pudesse reagir, eles o agarraram e o arrastaram para fora.
Ayumi tentou correr atrás, mas outro mascarado a empurrou brutalmente, derrubando-a no chão. Tudo aconteceu rápido demais: em segundos, eles desapareceram, levando Renji com eles.
**
Quando Ayumi conseguiu sair do café, ofegante e trêmula, o carro preto já havia sumido na noite.
Desesperada, ela chamou a polícia, mas sabia que seria inútil. Isso era algo maior, muito maior do que a polícia comum podia lidar.
Sua mente fervilhava. Ela sabia quem estava por trás daquilo.
Kaito.
Ela precisava agir. Precisava salvá-lo.
**
De volta ao apartamento, Ayumi vasculhou suas coisas até encontrar o cartão que Yumi lhe dera tempos atrás — de um detetive particular de confiança.
Pegou o telefone com as mãos tremendo e discou o número.
— Alô? — a voz grave atendeu.
— Eu preciso de ajuda — disse ela, tentando soar firme. — Meu nome é Ayumi Tanaka. E alguém foi sequestrado hoje.
Fez uma pausa, reunindo toda a sua coragem.
— Quero contratá-lo para encontrar Renji Sakamoto. Antes que seja tarde demais.
**
Enquanto isso, em um galpão abandonado na zona industrial da cidade, Renji estava amarrado a uma cadeira, sangrando por um corte na sobrancelha.
Kaito caminhava ao redor dele, como um leão em torno da presa.
— Você me decepcionou, Renji — disse ele, a voz gélida. — E agora, vai pagar.
Renji, mesmo ferido, ergueu os olhos.
— Se você tocar nela...
Kaito riu, um som seco e sem humor.
— Ayumi? Ah, não se preocupe. Ainda não. Primeiro, vamos quebrar você. Depois, veremos o que fazer com ela.
Renji apertou os punhos, jurando a si mesmo: Não importa o que aconteça. Vou protegê-la. Custe o que custar.
**
Longe dali, Ayumi olhava pela janela de seu pequeno apartamento, o coração partido, mas a determinação crescendo dentro dela como uma chama incontrolável.
Ela salvaria Renji. E derrubaria todos que tentassem destruí-lo.
Nem que tivesse que enfrentar o próprio inferno para isso.
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Atualizado até capítulo 53
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