A respiração de Ayumi era curta, entrecortada. Seu coração martelava no peito como se quisesse romper as costelas. A viela onde estavam parecia se estreitar ao redor deles, as sombras se fechando, o perigo se aproximando como uma maré sombria.
Kaori ajudava Ayumi a se levantar enquanto Renji pegava a arma caída de Hayato. O traidor, desacordado, jazia no chão, mas eles sabiam que não teriam muito tempo.
— Precisamos sair daqui — disse Kaori, olhando ao redor com urgência.
Renji balançou a cabeça.
— Eles vão estar por toda a cidade. Kaito não vai desistir.
Ayumi apertou os lábios, tentando controlar o pânico que ameaçava dominá-la. O cheiro de pólvora ainda impregnava o ar, misturado ao odor metálico de sangue.
— Para onde vamos? — perguntou ela, a voz rouca.
Kaori respondeu sem hesitar:
— Para o porto. Conheço alguém que pode nos tirar da cidade.
Renji hesitou, trocando um olhar rápido com Ayumi. Confiança era um luxo que eles não podiam mais se dar, mas não tinham outra escolha.
— Vamos — disse Ayumi, a decisão firme em sua voz.
**
Correram pelas ruas ainda meio desertas, cortando esquinas, pulando obstáculos. Cada som de motor ou sirene fazia seus corpos se retesarem, prontos para o confronto.
Ayumi sentia os pulmões queimarem, as pernas falharem, mas se obrigava a continuar. Era a vida deles em jogo.
Chegaram a uma avenida movimentada, onde a multidão começava a se formar para o início de um festival local. As pessoas riam, carregavam bandeiras coloridas, completamente alheias à guerra silenciosa que acontecia nas sombras.
— Vamos nos misturar — disse Kaori.
Ayumi pegou na mão de Renji instintivamente. Mesmo com a dor latejante em seu peito, o toque dele ainda a ancorava.
Mergulharam na multidão, usando as pessoas como escudo. Mas Renji, com seus ferimentos e seu jeito tenso, chamava atenção.
— Ali! — gritou uma voz atrás deles.
Ayumi se virou a tempo de ver três homens empurrando as pessoas, abrindo caminho em sua direção.
— Corram! — gritou Renji.
A adrenalina explodiu em Ayumi como um raio.
Eles dispararam entre as barracas, derrubando mesas e espetinhos no caminho. Gritos de protesto se erguiam por onde passavam.
Um dos homens sacou uma arma.
Ayumi viu o brilho metálico e, sem pensar, empurrou Renji para o lado.
O tiro passou raspando por onde ele estava segundos antes.
— Merda! — gritou Kaori, puxando-os por uma viela lateral.
Correram sem olhar para trás.
**
O porto finalmente surgiu diante deles, com seus guindastes enferrujados e o cheiro de mar salgado queimando suas narinas.
Kaori apontou para um pequeno barco atracado discretamente.
— É ali.
Mas entre eles e o barco, uma fileira de homens armados os esperava.
E no meio deles... Kaito.
O líder da gangue sorria, como um predador que finalmente encurrala sua presa.
— Olha só — disse ele, a voz carregada de desprezo. — O grande Renji, fugindo como um rato.
Renji cerrou os punhos.
Ayumi viu o conflito nos olhos dele: raiva, culpa, ódio.
— Não precisa ser assim — disse Renji, dando um passo à frente. — Eu não quero mais lutar.
Kaito soltou uma gargalhada fria.
— Você acha que pode virar as costas para nós? Depois de tudo o que fez? Você nos traiu, Renji. Você me traiu.
O olhar de Kaito se voltou para Ayumi.
— E agora arrasta essa pobre menina para sua queda.
Ayumi sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
Renji se posicionou na frente dela.
— Ela não tem nada a ver com isso.
— Ah, tem sim — disse Kaito. — Você a ama, não é?
O sorriso de Kaito se alargou.
— E sabe o que é mais divertido? Assistir você sofrer.
Ele fez um sinal com a cabeça.
Dois homens avançaram.
Renji reagiu no instinto, derrubando o primeiro com um soco violento. Mas o segundo sacou uma faca, rasgando o braço de Renji com um corte profundo.
Ayumi gritou, correndo para ajudá-lo, mas Kaori a puxou de volta.
— Fique atrás!
Renji, mesmo ferido, lutava com a fúria de um homem que não tinha mais nada a perder. Mas eram muitos.
Tiros começaram a zunir no ar.
Kaori respondeu, puxando sua própria arma e abrindo fogo.
Ayumi se abaixou, protegendo a cabeça.
O porto virou um campo de batalha.
**
Em meio ao caos, Ayumi viu Kaito se aproximar. Ele não portava uma arma — apenas um bastão de ferro em mãos.
Ela viu Renji cair de joelhos, exausto, sangrando.
Sem pensar, Ayumi correu até ele, pegando a arma que ele deixara cair.
Ergueu a mão, apontando para Kaito.
As mãos tremiam.
Kaito parou, erguendo uma sobrancelha.
— Você vai atirar em mim, princesa?
Ayumi hesitou.
Era contra tudo o que acreditava.
Mas se não fizesse algo... Renji morreria.
Fechou os olhos por um segundo.
Respirou fundo.
E puxou o gatilho.
O tiro acertou Kaito no ombro, fazendo-o girar e cair com um grito de dor.
O silêncio que se seguiu foi surreal.
Os homens de Kaito pararam, olhando entre si, confusos.
Kaori aproveitou o momento, derrubando o último dos capangas armados.
Ayumi correu até Renji, ajoelhando-se ao lado dele.
— Estou aqui — sussurrou ela, lágrimas escorrendo. — Você vai ficar bem.
Renji a olhou, um sorriso fraco nos lábios.
— Você me salvou... de novo.
Ela pressionou a mão contra o ferimento dele, tentando estancar o sangue.
Sirenas começaram a soar à distância.
A polícia.
Kaori olhou em volta, respirando pesadamente.
— Não temos tempo. Vamos!
**
Carregando Renji, eles chegaram ao barco. Um velho pescador os esperava, olhando nervosamente para a cena caótica que deixavam para trás.
— Rápido! — gritou ele.
Subiram a bordo, e o motor roncou, afastando-os da costa.
Ayumi olhou para trás.
A cidade diminuía no horizonte. As luzes da polícia se espalhavam pelo porto, homens sendo algemados, gritos ecoando.
Ela sentiu um nó apertar sua garganta.
Tudo o que conhecia... estava ficando para trás.
Renji agarrou sua mão, apertando-a com força.
— Obrigado... por não desistir de mim — murmurou ele, antes de desmaiar.
Ayumi apertou os olhos fechados, sentindo as lágrimas caírem.
Ela não sabia o que o futuro reservava.
Mas uma coisa era certa:
Nada seria fácil.
Nada seria seguro.
Mas, ao menos, estariam juntos.
Entre laços.
E mentiras.
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Atualizado até capítulo 53
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