A tempestade havia passado, mas a sensação de perigo ainda pairava pesada sobre a caverna onde Ayumi, Renji e Kaori encontraram refúgio. O fogo tremeluzia, lançando sombras que dançavam nas paredes rochosas.
Ayumi observava Renji dormindo, o rosto dele sereno apesar dos cortes e hematomas. Ela sabia que cada segundo de paz era uma ilusão passageira. Em breve, teriam que se mover de novo.
Kaori, sentada um pouco afastada, parecia distante, atormentada pelos próprios pensamentos. Ela mexia compulsivamente no pingente em seu pescoço — um pequeno cristal azul.
Ayumi se aproximou.
— Você está bem? — perguntou em voz baixa.
Kaori hesitou antes de responder.
— Há algo que vocês precisam saber.
Ayumi franziu o cenho, o estômago se revirando com a antecipação.
— O que é?
Kaori respirou fundo.
— Kaito não está sozinho. Ele tem apoio dentro da família de vocês, Ayumi. Pessoas que querem destruir o legado dos Takahashi.
Ayumi gelou.
— Minha família?
Kaori assentiu.
— Seu tio, Hayato, e sua prima, Misaki. Eles estão aliados a Kaito. Eles querem tirar tudo de você.
Ayumi levou a mão à boca, tentando abafar o grito de incredulidade. Hayato sempre fora gentil. Misaki, sua confidente desde a infância.
— Por quê? — sussurrou ela.
— Poder. Dinheiro. Eles acham que você é fraca. — Kaori olhou para Renji, que começava a se remexer. — E pensam que Renji... é uma distração perigosa.
Ayumi sentiu o peso da traição apertando seu peito.
Antes que pudesse responder, Renji acordou, os olhos atentos, como se já soubesse que algo grave havia sido dito.
— O que está acontecendo? — perguntou.
Ayumi se virou para ele, os olhos marejados.
— Estamos cercados de inimigos... até dentro da minha própria família.
**
Na manhã seguinte, partiram da caverna. Renji liderava o grupo, atento a cada som da floresta.
Eles tinham um plano.
Seguir para o outro lado da ilha, onde, segundo Kaori, havia um antigo esconderijo usado por rebeldes décadas atrás. Lá, poderiam se reagrupar, planejar.
Mas a floresta parecia mais hostil do que nunca.
Cada galho quebrado, cada sombra movendo-se ao longe fazia Ayumi estremecer.
E seus pensamentos estavam longe.
*Hayato. Misaki.*
*Traidores.*
A lembrança dos momentos felizes com eles agora parecia um veneno lento, corroendo suas memórias.
Ela sentiu a mão de Renji tocar a sua.
— Não vamos deixá-los vencer — disse ele, firme.
Ela apertou a mão dele em resposta, buscando força naquele toque.
**
Horas depois, chegaram ao esconderijo: uma antiga construção de pedra, semioculta pela vegetação. Era pequena, mas sólida.
Enquanto Kaori inspecionava o local, Renji puxou Ayumi para um canto.
— Há algo que preciso te contar. — A voz dele era tensa.
Ayumi franziu a testa.
— O quê?
Renji hesitou.
— Antes de fugir... eu... fiz parte dos negócios sujos de Kaito. Ajudei a família Takahashi a encobrir crimes. Inclusive... coisas que envolvem o seu pai.
Ayumi recuou como se tivesse levado um soco.
— Meu pai?
Renji assentiu, o olhar cheio de culpa.
— Ele não era o homem que você pensava. Ele comandava uma rede de lavagem de dinheiro e... outras coisas.
Ayumi sentiu o chão sumir sob seus pés.
— Por que você está me dizendo isso agora?
— Porque eles vão usar isso contra você. Vão tentar te destruir com a verdade.
Ayumi virou o rosto, lágrimas caindo silenciosamente.
O mundo que ela conhecia estava desmoronando.
E mesmo assim... mesmo assim... ela sabia que Renji era a única coisa verdadeira que lhe restava.
Ela se voltou para ele, os olhos brilhando de dor e determinação.
— Se eles querem guerra, é guerra que terão.
Renji a puxou para um abraço apertado, como se pudesse protegê-la do próprio passado.
**
Enquanto o sol começava a se pôr, Kaori voltou, o rosto sombrio.
— Temos problemas. Eles sabem onde estamos.
— Como? — Renji perguntou, os músculos tensos.
Kaori mordeu o lábio.
— Eu... eu ainda tenho o rastreador que eles implantaram em mim.
Renji amaldiçoou em voz baixa.
Sem pensar duas vezes, Kaori puxou uma pequena lâmina e cortou a própria pele na altura do ombro, removendo o minúsculo dispositivo.
Ayumi correu para ajudá-la a estancar o sangue.
— Temos que sair daqui agora — disse Renji, olhando ao redor.
— Não — respondeu Ayumi, a voz firme. — Vamos lutar. Aqui.
Renji sorriu, orgulhoso da coragem dela.
— Então vamos preparar a armadilha.
**
Durante a noite, trabalharam como fantasmas.
Armaram armadilhas improvisadas, esconderam armas, memorizaram rotas de fuga.
Cada minuto parecia eterno.
Ayumi sentia o coração martelar de ansiedade e adrenalina, mas também de algo mais: uma vontade inabalável de não se curvar. De não ser vítima.
Pela primeira vez, ela não era apenas a herdeira inocente.
Era uma guerreira.
**
Ao amanhecer, o ataque começou.
Homens mascarados, liderados por Misaki, invadiram o esconderijo.
Renji e Kaori responderam com força brutal, lutando com tudo que tinham.
Ayumi, escondida em um ponto estratégico, disparava pedras e dardos improvisados com incrível precisão.
A batalha foi feroz.
Gritos, tiros, sangue.
Renji viu Misaki se aproximar de Ayumi e gritou, mas estava ocupado lutando contra dois homens ao mesmo tempo.
Misaki sorriu cruelmente.
— Sempre fui melhor do que você, prima.
Ayumi, tremendo, levantou uma faca.
— Você era minha irmã. — sussurrou.
Misaki avançou.
Num movimento desesperado, Ayumi rolou para o lado e golpeou Misaki no braço.
Ela gritou e deixou a arma cair.
Ayumi a encarou, ofegante.
— Fique longe de mim.
Antes que Misaki pudesse responder, Kaori a nocauteou com um golpe certeiro na nuca.
O silêncio caiu sobre a clareira.
Os poucos sobreviventes inimigos fugiram, deixando seus líderes para trás.
**
Horas depois, amarraram Misaki e os outros em árvores próximas.
Renji se sentou com Ayumi na beira da floresta, limpando suas feridas.
— Você foi incrível — disse ele, a voz cheia de orgulho.
Ayumi sorriu fracamente.
— Eu não sabia que era capaz disso.
Renji olhou para ela, sério.
— Você é capaz de muito mais.
Seus rostos estavam próximos.
Muito próximos.
Renji tocou o rosto dela, deslizando os dedos pela pele marcada pela luta.
— Eu te amo, Ayumi.
Ela sentiu o peito explodir de emoções contraditórias.
Dor.
Alegria.
Medo.
Desejo.
— Eu também te amo, Renji. — sussurrou.
O beijo deles foi feroz, desesperado, uma promessa silenciosa de que, acontecesse o que acontecesse, eles se teriam.
**
Mas, nas sombras da floresta, outros olhos os observavam.
Kaito.
Vivo.
Furioso.
E com aliados ainda mais poderosos ao seu lado.
— Vocês acham que venceram? — murmurou ele. — Isso foi só o começo.
Ele sorriu.
Um sorriso que prometia destruição.
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Atualizado até capítulo 53
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