A cidade velha se erguia no horizonte como um esqueleto de concreto e ferrugem. Prédios desmoronados, ruas engolidas pela vegetação, postes de luz tombados como cruzes tortas. Era o cenário perfeito para uma emboscada — e Ayumi sabia disso.
Ainda assim, ela caminhava em direção ao perigo com passos firmes.
Renji estava ao seu lado, calado, a expressão sombria.
O sol já começava a mergulhar no horizonte, tingindo o céu de laranja e púrpura. Um vento frio soprava, espalhando folhas secas e o cheiro de mofo e morte.
Ayumi apertou o punho da faca que trazia escondida na manga. Cada fibra do seu corpo gritava em alerta, mas ela manteve o rosto impassível.
Por Yumi, ela faria qualquer coisa.
Qualquer coisa.
**
Quando chegaram à entrada da cidade, viram uma figura esperando.
Era Takeshi, o braço direito de Kaito.
Alto, magro, com olhos tão frios quanto o inverno.
Ele sorriu ao vê-los, um sorriso que não alcançou os olhos.
— Vocês vieram. — Sua voz era quase gentil, como se comentasse sobre o tempo.
Ayumi manteve a mão longe da arma. Ainda não.
— Onde está Yumi? — perguntou, a voz controlada.
Takeshi fez um gesto vago.
— Sigam-me. Sem truques.
Renji lançou a Ayumi um olhar rápido, e ela assentiu quase imperceptivelmente.
Eles seguiram Takeshi através das ruas desertas.
Cada sombra parecia esconder um inimigo. Cada som fazia o coração de Ayumi bater mais rápido.
Ela estava tensa como uma corda de arco.
E então eles chegaram.
**
O teatro abandonado era uma estrutura imensa, decrépita. O letreiro desbotado balançava ao vento, rangendo como uma criança choramingando.
Dentro, tudo estava mergulhado em sombras.
Takeshi conduziu-os até o palco principal.
E lá, sob um facho de luz crua, estava Yumi.
Amarrada a uma cadeira, com um lenço sujo na boca e os olhos arregalados de medo.
Ayumi deu um passo à frente, o instinto gritando para correr até ela.
Mas Renji segurou seu braço, firme.
Foi então que Ayumi viu: no chão ao redor da cadeira, fios metálicos brilhavam, conectados a explosivos improvisados.
Qualquer passo em falso e Yumi morreria.
Takeshi sorriu, satisfeito com a reação deles.
— Agora que estamos todos reunidos — disse ele —, vamos conversar.
**
A conversa foi uma farsa.
Takeshi falava de "alianças" e "segundas chances", mas Ayumi sabia a verdade.
Eles queriam quebrá-la.
Fazê-la escolher entre a irmã e a própria vida.
Ayumi respirou fundo, pensando rápido.
Cada segundo que passava era um segundo mais perto da tragédia.
— O que você quer? — perguntou, mantendo a voz firme.
Takeshi se aproximou, o rosto a centímetros do dela.
— Você. De joelhos. Suplicando. Admitindo que perdeu.
Ayumi sorriu.
Um sorriso frio e afiado como lâmina.
— Então você é mais burro do que eu pensava.
Antes que Takeshi pudesse reagir, Renji já havia sacado uma pequena bomba de fumaça do casaco e a jogado no chão.
Em um segundo, o teatro se encheu de fumaça espessa.
Gritos. Tiros. Confusão.
Ayumi correu em direção a Yumi, desviando-se dos fios como uma dançarina.
Takeshi tentou agarrá-la, mas ela girou no ar, acertando um chute no maxilar dele.
Renji cobria a retaguarda, trocando tiros com capangas invisíveis na névoa.
Ayumi chegou até Yumi, cortando as amarras com uma faca em movimentos rápidos e precisos.
— Vai ficar tudo bem — sussurrou, puxando a irmã para fora da cadeira.
Mas não seria tão simples.
**
Do alto das galerias, uma sombra surgiu.
Kaito.
O próprio.
Ele apontava uma arma para Ayumi, o sorriso distorcido pela fúria.
— Não tão rápido — disse ele, a voz ecoando no teatro vazio.
Ayumi puxou Yumi para trás de uma pilastra, o coração disparado.
Renji subiu pelas escadas laterais, tentando flanquear Kaito, mas ele era rápido demais.
Tiros ecoaram.
Poeira caiu do teto.
Ayumi sentiu o calor de uma bala passar a centímetros da cabeça.
Yumi chorava, agarrada a ela.
— Fica abaixada! — ordenou Ayumi.
Ela precisava ganhar tempo.
Precisava encontrar uma abertura.
Mas Kaito era um predador experiente.
E ele não tinha intenção de deixá-las sair vivas.
**
Renji conseguiu acertar um tiro no ombro de Kaito, fazendo-o recuar.
— Vamos! — gritou ele para Ayumi.
Ela puxou Yumi, correndo para a saída dos fundos.
Takeshi ainda tentava se levantar, cambaleando na fumaça.
Ayumi deu-lhe um golpe rápido na têmpora com o cabo da faca, fazendo-o desabar.
Não havia tempo para misericórdia.
**
Saíram para o beco nos fundos do teatro.
A rua estava vazia.
Por enquanto.
Renji veio logo atrás, sangrando de um corte no braço, mas ainda de pé.
— Para onde? — perguntou ele, ofegante.
Ayumi pensou rápido.
Havia um velho túnel de esgoto que cruzava a cidade e levava para fora das muralhas.
Arriscado. Sujo. Perigoso.
Perfeito.
— Por aqui! — disse ela, puxando Yumi pela mão.
**
Correram pelas ruas escuras, o som dos perseguidores ecoando atrás deles.
Kaito não desistiria fácil.
Chegaram a uma tampa de bueiro enferrujada. Renji a ergueu com esforço, e um cheiro pútrido invadiu suas narinas.
Ayumi ajudou Yumi a descer primeiro, depois ela mesma.
Renji fechou a tampa acima deles, apagando a luz.
Estavam nas entranhas da cidade agora.
Na escuridão total.
**
O túnel era claustrofóbico, o chão escorregadio.
Ratos corriam pelas bordas.
O som da água pingando era o único guia.
Ayumi segurava a mão de Yumi com força, sentindo-a tremer.
— Vamos sair daqui — prometeu.
Renji caminhava à frente, arma em punho.
O tempo parecia distorcido.
Cada passo era um esforço monumental.
Mas não podiam parar.
Não podiam hesitar.
**
Atrás deles, ouviram o som da tampa do bueiro sendo aberta.
— Corram! — gritou Renji.
Ayumi puxou Yumi, forçando-se a correr mais rápido.
O túnel parecia se estreitar, as paredes fechando ao redor deles.
A adrenalina era a única coisa mantendo-a de pé.
**
Finalmente, viram a luz.
Uma saída adiante, coberta por grades velhas.
Renji atirou nas dobradiças, chutando a grade com força.
Atravessaram para o lado de fora, cambaleando para a liberdade.
O ar fresco bateu em seus rostos como uma benção.
Mas o perigo ainda não tinha acabado.
**
Kaito saiu do túnel, ileso, furioso.
Ele apontou a arma para Ayumi.
— Chega de jogos.
Ayumi empurrou Yumi para trás dela.
Ela e Kaito se encararam.
Velhos conhecidos.
Velhos inimigos.
Velhas feridas.
O dedo dele no gatilho.
O coração dela batendo como um tambor de guerra.
**
Renji tentou disparar, mas Kaito foi mais rápido.
Um tiro.
O som explodiu na noite.
Ayumi esperou pela dor.
Mas não veio.
Ela abriu os olhos e viu Renji, caído no chão, sangue manchando a camisa.
— NÃO! — gritou ela.
Renji sorriu fracamente.
— Acabe com ele — sussurrou.
Ayumi sentiu o mundo afundar.
O ódio tomou conta.
O medo evaporou.
Ela correu.
Não pensou.
Apenas agiu.
**
Kaito tentou disparar de novo, mas Ayumi desviou, rolando pelo chão e lançando a faca.
A lâmina acertou a mão dele, fazendo a arma cair.
Ela se levantou em um salto, atacando com tudo o que tinha.
Punhos. Joelhos. Cotovelos.
Uma dança violenta de dor e fúria.
Kaito tentou lutar de volta, mas Ayumi era um furacão.
Ela acertou um golpe brutal na garganta dele, seguido de uma joelhada no estômago.
Kaito caiu de joelhos, ofegante.
Ayumi pegou a arma do chão e apontou para ele.
O dedo no gatilho.
Kaito ergueu o olhar, desafiador.
— Faça — cuspiu ele.
Ayumi hesitou.
Se o matasse, seria como ele?
Seria o fim da linha?
Ela pensou em Kaori.
Em Renji.
Em Yumi.
E soube a resposta.
**
— Isso é pelo que você tirou de nós — disse ela.
E atirou.
Uma. Duas. Três vezes.
Kaito caiu de costas, morto.
Finalmente morto.
**
Ayumi caiu de joelhos, chorando, enquanto Yumi corria para abraçá-la.
Renji estava ferido, mas ainda respirava.
A guerra não tinha acabado.
Mas eles haviam vencido a primeira grande batalha.
E Ayumi sabia que, enquanto tivesse algo pelo que lutar, continuaria de pé.
Sempre.
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Atualizado até capítulo 53
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