O som do trovão cortou o céu cinzento quando Ayumi acordou, o coração disparado no peito. O calor de Renji ainda impregnava os lençóis rústicos, mas a cama ao lado dela estava vazia.
— Renji? — chamou, a voz rouca pelo sono e pela preocupação.
Nenhuma resposta.
Ela se levantou rapidamente, envolvendo-se na manta fina e pisando na madeira fria do chão. A porta da cabana estava entreaberta, balançando com o vento crescente.
Do lado de fora, a tempestade se formava. A areia da praia voava em redemoinhos violentos. Ayumi avistou pegadas frescas levando para a floresta atrás da cabana.
Sem hesitar, correu atrás delas.
**
Renji avançava com dificuldade pela mata fechada. Seu corpo ainda doía das feridas recentes, mas a preocupação o impulsionava. Kaori não estava na cabana. Ela deixara um bilhete amassado sobre a mesa: "Não posso mais confiar em vocês. Adeus."
Algo estava errado.
Muito errado.
Enquanto lutava para abrir caminho entre os galhos, ouviu passos atrás de si. Virou-se a tempo de ver Ayumi correndo até ele, o cabelo desgrenhado e a expressão desesperada.
— Renji! Onde você vai?
Ele a segurou pelos ombros.
— Kaori sumiu. Algo não está certo. — Ele ofegava, a dor evidente em seu rosto.
Ayumi olhou ao redor, a floresta parecia viva, sussurrando ameaças invisíveis.
— Temos que voltar. Agora. — disse ela, sentindo um calafrio percorrer sua espinha.
Mas antes que pudessem se mover, o som inconfundível de tiros ecoou na floresta.
Os dois se jogaram no chão instintivamente.
— Eles nos encontraram! — murmurou Renji, puxando Ayumi pela mão.
Correndo por entre as árvores, desviando dos disparos, eles se embrenharam cada vez mais na mata fechada. O som dos perseguidores ficava mais próximo a cada segundo.
Ayumi sentia o coração martelando em seu peito, a adrenalina queimando em suas veias. Um dos homens de Kaito gritou ordens em meio ao caos.
— Vivos ou mortos! Não importa!
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Kaori observava a cena de longe, escondida entre as árvores.
Ela mordia o lábio inferior, o olhar cheio de culpa.
Tinha sido forçada a trair Renji e Ayumi. Kaito havia capturado seu irmão mais novo — a única família que ela tinha — e ameaçara matá-lo se ela não entregasse o esconderijo.
— Me desculpem — sussurrou, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
**
Renji e Ayumi chegaram a uma clareira e pararam, sem fôlego.
Diante deles, um penhasco se erguia, abrupto, terminando em rochedos pontiagudos banhados pelas ondas furiosas.
Sem saída.
Renji puxou Ayumi para trás de uma árvore.
— Temos que lutar.
Ela assentiu, os olhos brilhando de determinação.
Do outro lado da clareira, os homens de Kaito surgiram como predadores, armados e implacáveis.
Renji apertou a mão de Ayumi.
— Se algo acontecer, corra. Não olhe para trás.
— Eu não vou te deixar. — Ela cravou os olhos nos dele, a voz firme.
Antes que pudessem dizer mais alguma coisa, os tiros começaram de novo.
Renji usou o que restava de suas forças para derrubar o primeiro agressor, lutando corpo a corpo, desviando dos golpes com dificuldade. Ayumi, armada apenas com uma pedra, acertou outro homem na cabeça, derrubando-o.
Mas eram muitos.
Logo, ambos foram dominados.
Ayumi foi jogada de joelhos na beira do penhasco, Renji imobilizado contra uma árvore.
Kaito surgiu das sombras, a expressão sombria e triunfante.
— Que cena bonita. — zombou ele. — Dois traidores, prestes a morrer juntos.
Renji tentou se soltar, mas levou um soco no estômago.
— Você achou mesmo que poderia me vencer, irmãozinho? — sibilou Kaito.
Ayumi olhou para Renji, o medo e a raiva misturados em seu peito.
— Você nunca vai nos separar — disse ela, a voz trêmula, mas cheia de coragem.
Kaito sorriu friamente e sacou uma arma.
— É o que vamos ver.
Ele apontou para Ayumi.
Renji gritou.
Tudo aconteceu rápido demais.
Kaori, surgida do nada, atirou contra Kaito, acertando-o no ombro.
A arma dele disparou no susto, errando o alvo.
Ayumi aproveitou a distração e se jogou para o lado, escapando por um fio de cabelo.
Kaori correu até eles, ofegante.
— Vamos! — gritou ela.
Os três correram em direção à floresta, Kaito urrando de raiva atrás deles, apesar do ferimento.
**
Horas depois, já seguros em uma caverna escondida entre as rochas, Ayumi limpava o corte no braço de Renji enquanto Kaori mantinha vigília.
— Me desculpem — sussurrou Kaori. — Eu... eu fui forçada a entregar vocês.
Renji olhou para ela, os olhos endurecidos.
— Eu entendo. Mas agora estamos juntos nisso. Sem mais mentiras.
Kaori assentiu, aliviada.
Ayumi terminou de cuidar de Renji e sentou-se ao lado dele.
— Você acha que ele vai desistir? — perguntou ela.
Renji olhou para o fogo fraco que iluminava a caverna.
— Não. Kaito nunca desiste.
Ayumi encostou a cabeça no ombro dele.
— Então também não podemos desistir.
Renji passou o braço ao redor dela, puxando-a para perto.
— Nunca. — prometeu.
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Do outro lado da ilha, Kaito apertava o braço
Ensanguentado e fitava o mar tempestuoso com olhos cheios de ódio.
— Isso ainda não acabou. — rosnou para si mesmo.
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As estrelas surgiam tímidas no céu limpo.
E mesmo com a ameaça pairando sobre eles, Renji e Ayumi sabiam que, enquanto tivessem um ao outro, poderiam enfrentar qualquer tempestade.
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Atualizado até capítulo 53
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