A madrugada estava densa, um manto de sombras e mistérios. Ayumi caminhava pelas ruas quase desertas de Tóquio, o telefone pressionado contra o ouvido.
— O que você descobriu? — perguntou, a voz carregada de urgência.
Do outro lado da linha, a voz de Hayato, o detetive particular, soou calma.
— Seu namorado foi levado para a zona industrial. Rastreamos a van até um galpão antigo, abandonado há anos. Mas, Ayumi, você precisa entender: isso é perigoso. Muito perigoso.
Ela apertou os olhos, determinada.
— Eu não me importo. Eu vou até lá.
— Eu não recomendo. Deixe-me cuidar disso.
Ayumi parou na calçada, o vento gelado cortando sua pele como lâminas invisíveis. Mas nada era mais cortante que a dor em seu peito.
— Não. Se há uma chance de salvá-lo, eu mesma vou.
Hayato suspirou.
— Então nos encontramos em vinte minutos, no endereço que enviei. E Ayumi... esteja preparada para o pior.
Ela desligou antes que o medo pudesse dominá-la.
**
Ayumi entrou em seu apartamento por poucos minutos apenas para pegar a única coisa que poderia ajudá-la: a caixa escondida no fundo do armário. Dentro, uma arma antiga de seu pai — uma relíquia, mas ainda funcional. Ela nunca imaginou que usaria aquilo. Mas hoje, ela precisava.
Engolindo o nervosismo, colocou a arma na bolsa e saiu novamente.
O táxi que pegou parecia correr mais devagar que o tempo. Cada segundo que passava era uma tortura.
Finalmente, a zona industrial surgiu à frente — prédios abandonados, luzes piscando, a sensação constante de que algo sombrio se escondia em cada esquina.
Hayato a esperava em frente a um depósito. Alto, de expressão dura e olhos atentos, ele vestia roupas pretas e carregava uma mochila.
— Está pronta? — ele perguntou.
Ayumi assentiu, embora soubesse que ninguém poderia estar realmente pronto para aquilo.
— Vamos. — Hayato entregou a ela um pequeno rádio comunicador. — Fique atrás de mim. E só atire se não houver escolha.
Ela engoliu em seco, sentindo o peso da responsabilidade.
**
Dentro do galpão, Renji lutava contra as amarras que prendiam seus pulsos. Sua cabeça latejava, e o gosto de sangue invadia sua boca. Mas sua mente estava focada apenas em uma coisa: Ayumi.
Se Kaito ousasse machucá-la…
As portas rangeram. Kaito apareceu, um sorriso satisfeito no rosto.
— Como está a estadia, meu velho amigo? — zombou, aproximando-se.
Renji o fuzilou com os olhos.
— Acabe logo com isso, Kaito. Me mate, se quiser. Mas deixe Ayumi fora disso.
Kaito se agachou à sua frente, os olhos brilhando de diversão.
— Ah, Renji... Ainda não percebeu? Ela já está envolvida até o pescoço.
Renji sentiu o estômago revirar.
— Se tocar nela, eu...
— Você não está em posição de ameaças, amigo — cortou Kaito, rindo.
Ele se levantou, caminhando até uma bancada próxima onde havia um celular. Digitou algo e, em poucos segundos, o aparelho vibrou. Um vídeo começou a rodar.
Era Ayumi.
Imagens captadas secretamente dela entrando no táxi, depois saindo armada, encontrando Hayato.
Renji prendeu a respiração.
— Ela está vindo para cá — disse Kaito, sorrindo como um predador.
Renji lutou ainda mais contra as amarras, a raiva misturada ao medo crescendo dentro dele.
— Se você a machucar, eu juro que...
— Shhh — Kaito colocou o dedo nos lábios, teatral. — Você verá com seus próprios olhos.
**
Ayumi e Hayato se aproximaram do galpão em silêncio absoluto. Hayato sacou uma pequena câmera e espiou pelo canto da janela.
— Dois homens armados na entrada. E, provavelmente, mais lá dentro — murmurou. — Não vai ser fácil.
Ayumi sentiu o suor frio escorrer pela coluna. Mas desistir nunca foi uma opção.
— O que fazemos?
Hayato analisou o local com olhar tático.
— Eu vou criar uma distração. Você entra pelos fundos e procura por Renji. Quando encontrá-lo, use este rádio para me avisar.
Ayumi assentiu, o coração batendo descompassado.
— E cuidado, Ayumi. Eles não vão hesitar em atirar.
**
Hayato se moveu rápido, jogando uma pedra contra uma lata, criando um estrondo. Imediatamente, os dois homens armados na entrada correram para investigar.
Ayumi correu em silêncio, contornando o galpão até encontrar uma porta lateral enferrujada. Com um empurrão, ela conseguiu abrir uma fresta e deslizar para dentro.
O cheiro de mofo e óleo velho enchia o ar. A escuridão parecia engolir tudo, exceto pelas poucas luzes de emergência que piscavam intermitentemente.
Cada passo que ela dava ecoava no silêncio mortal do lugar.
De repente, vozes.
Ela se escondeu atrás de uma pilha de caixas, ouvindo.
— O chefe disse que a garota está vindo — disse um dos capangas. — Tem certeza que ela vai cair nessa armadilha?
— Ah, vai sim — respondeu outro. — Corações apaixonados fazem burrices.
Ayumi cerrou os dentes. Eles sabiam que ela viria. Era tudo parte do plano.
Respirando fundo, ela se moveu sorrateiramente, procurando Renji. Cada batida de seu coração parecia ensurdecedora.
Então, finalmente, ela o viu.
Amarrado a uma cadeira no centro do galpão, machucado, mas vivo.
E diante dele... Kaito.
Ayumi tirou a arma da bolsa, suas mãos tremendo.
**
Kaito falava algo para Renji, mas Ayumi não conseguiu ouvir. Sua mente estava focada apenas em como chegar até ele.
Ela se moveu devagar, escondendo-se nas sombras, até ficar a poucos metros.
Kaito se virou de repente, como se pressentisse algo.
— Ah, Ayumi-chan — ele disse, sua voz ecoando no galpão. — Bem-vinda.
Ayumi engoliu em seco, apontando a arma para ele.
— Solte-o.
Kaito sorriu, um sorriso frio.
— Você não sabe no que está se metendo, minha querida.
Ela firmou a mão.
— Eu disse: solte-o.
— Ou o quê? Vai atirar em mim? — Kaito abriu os braços, desafiando.
O tempo pareceu parar.
Ayumi hesitou. Nunca havia atirado em ninguém.
Kaito aproveitou a hesitação. Com um movimento rápido, puxou Renji da cadeira, usando-o como escudo humano.
— Solte a arma — ordenou Kaito, apertando o pescoço de Renji.
Ayumi tremia.
— Faça o que ele diz — sussurrou Renji, a voz rouca.
— Não — respondeu ela, lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Agora, Ayumi! — gritou Renji.
Mas antes que ela pudesse reagir, um tiro ecoou.
O mundo desabou em um segundo.
Ayumi fechou os olhos instintivamente, esperando pela dor. Mas quando os abriu, viu Kaito caído no chão, sangue manchando sua camisa.
Hayato apareceu atrás dele, arma em punho.
— Rápido! — gritou Hayato.
Ayumi correu até Renji, cortando as cordas com uma faca que Hayato lançou para ela.
Renji, mesmo fraco, sorriu para ela.
— Você... veio...
Ela tocou seu rosto gentilmente.
— Sempre.
Hayato os apressou.
— Precisamos sair daqui antes que o resto da gangue descubra!
Apoiando Renji nos ombros, Ayumi e Hayato correram para fora do galpão, as sirenes da polícia começando a soar ao longe.
**
Horas depois, no pequeno apartamento de Ayumi, ela limpava os ferimentos de Renji. Ele estava exausto, mas vivo.
— Você me salvou — murmurou ele.
Ayumi sorriu entre lágrimas.
— Sempre vou salvar você.
Renji segurou sua mão, puxando-a para perto.
— Eu te amo, Ayumi.
Ela sentiu o coração explodir de emoção.
— Eu também te amo, Renji. Mais do que tudo.
Eles se beijaram, um beijo que prometia amor mesmo em meio ao caos.
Mas enquanto se entregavam um ao outro, do outro lado da cidade, alguém assistia tudo de longe... e planejava a próxima cartada.
Porque a guerra, afinal, estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 53
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