Amor ou Dever?

O dia amanheceu nublado, refletindo o turbilhão de sentimentos que Lucas sentia dentro de si. A conversa com Clara ainda ecoava em sua mente, como uma tempestade que se recusava a acalmar. Ele sabia que as consequências de sua decisão estavam apenas começando a se desenrolar, mas o que mais o consumia era a dúvida. Ele queria ser verdadeiro com seus sentimentos, com Sofia, mas o peso de sua família, as obrigações e as expectativas se faziam pesadas demais.

Enquanto caminhava pelos corredores do castelo, Lucas percebeu o quanto tudo ao seu redor parecia estar em desacordo com seu coração. Cada objeto, cada cena, parecia uma lembrança de um futuro que ele não escolhera, mas que havia sido traçado para ele desde o momento em que nascera. Ele havia sido condicionado a seguir um caminho, e agora, ao tentar mudar esse destino, sentia-se como se estivesse quebrando algo que jamais poderia ser consertado.

As palavras de Clara voltavam à sua mente, afiadas como facas. "Você vai se arrepender disso, Lucas." Ela tinha razão em alguns pontos. O que ele sentia por Sofia era real, era avassalador, mas será que esse amor poderia superar as barreiras impostas pela sua posição e pelo destino de sua família? Ele se perguntava se estava pronto para desafiar tudo o que havia sido ensinado a acreditar sobre o que era certo e esperado.

Naquele momento, sua mente começou a buscar uma resposta clara. Mas, como sempre, ele se viu dividido entre o que sentia e o que deveria fazer. O peso da obrigação era mais forte do que ele gostaria de admitir.

Foi quando a voz suave de Sofia interrompeu seus pensamentos.

“Lucas,” ela disse, sorrindo timidamente enquanto se aproximava. “Eu não queria te pressionar, mas acho que precisamos conversar.”

O sorriso dela trouxe uma leveza temporária para seu coração pesado. Sofia não fazia parte daquelas obrigações. Ela era livre, ela era a possibilidade de um futuro diferente, e, por um breve momento, Lucas permitiu-se sonhar com o que poderia ser. Mas logo a realidade o alcançou, e ele sabia que sua decisão iria além dos seus próprios sentimentos. Ele precisava decidir o que valia mais para ele: o amor verdadeiro que sentia por Sofia ou o dever que sua família impunha sobre ele.

“Eu sei que as coisas estão complicadas,” ele começou, olhando para Sofia com um olhar sincero. “Mas eu realmente não sei o que fazer. Eu prometi a Clara. Prometi à minha família que eu casaria com ela, que eu seguiria os passos esperados de mim.”

Sofia o observava em silêncio, o rosto sério, mas os olhos cheios de compreensão. Ela sabia da luta interna dele, sabia que ele estava em um dilema profundo, mas também sabia que ele não poderia viver sua vida para agradar aos outros. Ele precisava decidir por si mesmo, precisava fazer uma escolha.

“Lucas,” ela disse com suavidade, aproximando-se mais dele. “Você não pode viver para agradar os outros. Não é isso que te faz feliz. Você tem o direito de ser feliz, de viver a sua verdade. Eu não quero que você se sinta preso em algo que não é seu.”

“Mas e Clara?” Lucas perguntou, a dúvida e o peso de suas obrigações transparecendo em sua voz. “E minha família? Eu não posso simplesmente virar as costas para tudo o que esperam de mim.”

Sofia suspirou, como se sentisse o peso de suas palavras. “Eu sei que é difícil, mas você precisa ser honesto consigo mesmo, Lucas. O amor não é algo que se força, e se você casar com Clara apenas porque é o esperado, isso não vai ser justo para nenhum de vocês. Nem para ela, nem para você.”

Lucas fechou os olhos, a pressão aumentando em seu peito. Ele amava Sofia, isso era claro, mas ele também sabia que sua escolha traria consequências graves. Ele ainda amava Clara, mas o que sentia por ela era uma ligação baseada em uma promessa, em um dever, e não em um amor genuíno. O que ele tinha com Sofia era diferente. Era real, intenso, algo que ele nunca imaginou ser capaz de sentir.

“Eu não quero te perder, Sofia,” ele disse, sua voz falhando. “Mas eu não sei se posso ir contra tudo o que me foi ensinado. Eu não sei se posso desafiar a minha própria família.”

Sofia colocou a mão sobre a dele, transmitindo uma sensação de conforto que ele tanto precisava naquele momento. “Eu entendo que não é fácil, Lucas. Mas a vida não é sobre fazer o que os outros esperam de você. É sobre fazer o que faz seu coração bater mais forte. Você merece ser feliz. Eu sei que você pode encontrar o caminho certo. Só espero que me deixe estar ao seu lado enquanto você descobre qual é esse caminho.”

A sinceridade no olhar de Sofia tocou Lucas de uma forma profunda. Ele a queria, ele a amava, e, de alguma forma, sua presença era o que o fazia sentir que havia algo mais na vida do que apenas cumprir expectativas. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas naquele momento, ele sabia o que precisava fazer.

“Eu vou tentar, Sofia. Eu vou tentar ser verdadeiro comigo mesmo. E vou tentar ser verdadeiro com você.”

Ela sorriu, a luz em seus olhos voltando a brilhar, como se o peso do mundo tivesse sido aliviado de seus ombros. “Eu acredito em você, Lucas. Só não se esqueça de que, no final, é a sua felicidade que importa.”

Eles ficaram ali por um momento, ambos em silêncio, cientes de que o futuro ainda era incerto, mas ao mesmo tempo cientes de que a decisão estava em suas mãos. A luta entre amor e dever continuaria, mas, ao menos agora, Lucas sabia que a verdade em seu coração não poderia ser ignorada por muito mais tempo.

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