capítulo 20

Rafael

Eu estava ali, parado na escuridão da rua, ouvindo o som do motor do carro se afastando. A chuva ainda caía, a sensação de frio cortante me envolvia, mas não era a água ou o vento que me fazia tremer. Era o ódio, a raiva acumulada que fervia dentro de mim. Como eles ousavam? Como poderiam escapar assim? Como ela poderia se afastar e me deixar para trás?

Simone, aquela maldita. Ela se achava a heroína agora, não? Tinha se distanciado de tudo o que eu representava, tudo o que eu havia dado para ela. E Diego... Diego não passava de um lixo que se achava capaz de salvar o mundo. Eles estavam brincando com fogo, e eu não tinha intenção de deixar que saíssem impunes.

Eu sabia que ela estava ouvindo tudo o que ele estava dizendo para ela. Eu podia imaginá-la, lá dentro do carro, digerindo as mentiras que ele estava despejando sobre ela. "Sua mãe era uma heroína," ele devia ter dito. "Seu pai estava envolvido em algo muito maior." Eu quase podia ouvir as palavras, pesadas, tentadoras, como uma armadilha para puxá-la mais fundo nesse buraco.

Mas ela não sabia de nada. Não sabia o quanto estava sendo manipulada. Eles achavam que podiam me vencer, que podiam esconder a verdade de mim, mas não entendiam o jogo. Eles estavam brincando com forças muito maiores, com coisas que nem eles podiam controlar.

Eu dei um passo à frente, olhando para onde o carro desaparecia na escuridão. Não seria tão fácil escapar. Eles podiam fugir por um tempo, mas não iam longe. Eu sabia onde encontrá-los. E eu faria questão de garantir que eles soubessem exatamente o que aconteceria quando eu os alcançasse.

"Você acha que me venceu, Simone?" Eu murmurei para mim mesmo, com uma raiva crescente. "Você acha que pode escapar desse jogo? Não, garota. Não enquanto eu estiver respirando."

Eu sabia o que precisava fazer. Sabia o que deveria acontecer agora. Não era apenas uma questão de vingança. Era sobre o controle. Era sobre retomar o poder que me fora tirado, sobre mostrar que ninguém escapa de mim. E eu não ia descansar até vê-los de joelhos, implorando por misericórdia.

O carro de Simone estava longe, mas eu estava mais perto do que eles imaginavam. Eu sabia como encontrá-los, e sabia o que precisava fazer para fazer a verdade vir à tona. Quando chegasse a hora, eles iriam se arrepender de me desafiar.

A verdade? A verdade era que eu nunca fui o vilão dessa história. Eles estavam apenas tentando me derrubar, mas não iam conseguir. Eu controlava tudo, e ninguém, nem Simone, nem Diego, ia impedir o que estava por vir.

Eu estava em pé, na escuridão, com os olhos fixos no ponto onde o carro de Simone desaparecia na chuva, e a raiva que queimava em mim não era mais só por ela ter se afastado. Não era só sobre ela ter se unido a Diego. Era sobre o que ela representava. Ela sempre foi a chave para tudo, e agora eles estavam tentando afastá-la, mas não iam conseguir. Eu nunca deixaria que ela escapasse do meu controle.

Simone… a filha de dois grandes jogadores, forçados a entrar em um jogo que eles não podiam mais controlar. Mas Simone tinha algo que ninguém mais tinha. Algo que até os mais poderosos temiam. E era isso que ela ainda não sabia.

A organização, o verdadeiro poder que a movia, não era sobre riquezas ou fama. Não era sobre conquistar terras ou destruir impérios. Eles queriam algo muito mais profundo, muito mais insidioso. E Simone… Simone era a chave para tudo isso. Ela carregava em suas veias o que o mundo ainda não podia entender. Ela era o ponto crucial para o que viria.

Era simples, na verdade. Seu pai, sua mãe, todos eles foram peões em uma jogada muito maior. Eles estavam, como tantos outros, tentando controlar uma força que não podiam compreender. Mas Simone… ela era diferente. Sua mãe soubera disso. Era por isso que a mataram, por isso a sacrificaram. Porque ela tinha algo que poderia parar tudo isso, algo que poderia destruir os planos da organização antes mesmo que se concretizassem.

Simone possuía dentro de si o código para decifrar o futuro, a chave para liberar uma tecnologia tão avançada e perigosa que poderia mudar tudo. E eu sabia disso porque, bem antes dela nascer, já havia sido feito um experimento. Ela foi uma das primeiras a ser escolhida. Uma criança cuja mente foi moldada para carregar algo que nenhum outro ser humano possuía: a capacidade de acessar e controlar as memórias. Não apenas as suas, mas de qualquer um.

Eu podia ouvir sua voz, agora, ecoando na minha mente: "Mas por que eu, Rafael? O que eu tenho de tão especial?" A resposta era simples, e a dor de vê-la em dúvida só me fazia mais determinado. Ela tinha o poder de manipular memórias, de reescrever o passado e moldar o futuro, algo que ninguém, nem mesmo os maiores líderes da organização, haviam conseguido fazer. Essa era a chave. Ela tinha a habilidade de controlar as mentes de qualquer pessoa, qualquer memória, qualquer pensamento.

E, sem saber, Simone era a única capaz de impedir a destruição iminente. A organização queria isso. Eles queriam que ela fosse uma marionete em suas mãos, controlada por um poder que, até agora, nem eles tinham conseguido acessar completamente. Eles queriam usar Simone para manipular a história, moldar os destinos, construir um novo futuro onde eles fossem os deuses.

A morte da mãe dela foi um aviso. Eles sabiam que ela sabia demais, que ela era uma ameaça. E o que fizeram? Apagaram suas memórias. Mas as memórias dela não estavam completamente perdidas. Elas ainda estavam lá, em algum lugar, esperando ser despertadas. E quando o momento certo chegasse, Simone despertaria para a verdadeira razão pela qual ela foi escolhida. Para o que ela realmente é.

Eu dei mais um passo para a frente, meus olhos ainda fixos no vazio da noite. Simone ainda não sabia a verdade, mas o tempo dela estava chegando. A luta seria dela. A escolha seria dela. E eu sabia que, quando ela descobrisse, quando ela finalmente entendesse o que estava acontecendo, ela não teria mais escolha a não ser se aliar a mim.

Eu sorri, um sorriso cruel, sabendo que o destino dela já estava traçado. Ela não escaparia dessa vez. Ela seria a chave para o que estava por vir. E quando eu a tivesse ao meu lado, tudo o que estava planejado se tornaria realidade.

E, quando chegasse o momento, a verdadeira batalha se desenrolaria. A guerra pelas memórias, pelo controle, pelo futuro, tudo isso começaria, e Simone seria o epicentro.

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