Lara colocou um pouco em um copo e me ofereceu. Peguei a mão dela e levei com o copo em minha boca, provei e adorei o gosto, adocicado, marcante e refrescante.
— Tony, posso te fazer uma pergunta?
— Pode, o que você quer saber?
— Porque você usa o cabelo caído no rosto, eu não consigo ver seus olhos direito.
Senti ele ficar tenso, soltou minha mão e virou para a frente, acho que pensando no que me responderia.
— Tenho uma cicatriz e não quero te assustar.
Vi ela levantar a mão e tentar tirar meu cabelo do rosto, parei a mão dela antes.
— Deixa eu ver Tony, prometo não gritar como em um filme de terror.
— Agora não, não quero ver medo nos seus olhos.
— Tá bom, mas não pense que desisti, uma cicatriz não faz de você feio, o que faz a pessoa feia é o que tem aqui.
E colocou a mão na altura do meu coração, que acelerou e eu não consegui controlar para ela não sentir o tanto que suas palavras me afetaram.
Peguei a mão dela e acariciei onde estava o vergão vermelho.
— O que aconteceu com sua mão?
— Não foi nada de mais, é uma história chata.
— Tenho tempo, me conta.
— Faço várias aulas durante as minhas manhãs, entre essas aulas tenho aula de como pôr uma mesa, porque meu noivo faz várias reuniões com pessoas importantes e eu, como esposa dele, vou ter que saber pôr a mesa com perfeição.
— Mas ele não tem empregados para fazer isso?
— Sim, tem, mas eu, como senhora da casa, não vou poder deixar acontecer erros, e hoje eu estava um pouco distraída e minha professora me deu uma reguada na mão ao errar a posição do garfo.
-Nossa Ragazza! E sua mãe não te defende dessa tirania?
— Esta professora em questão foi indicada pelo meu noivo, então só ele pode me livrar da tirania dela. Como ele está na Itália e nem se preocupa com estou ou deixo de estar, vou continuar tomando reguada.
— Quem sabe ele pode estar mais perto do que você imagina.
— Don Antônio não sai do seu trono nem para ver se sou bonita. Acho que se eu fosse um homem disfarçado assim mesmo, ele casaria porque não iria perceber.
— Você tem a língua bem afiada, já pensou se ele te escuta falando algo assim?
— 15 anos de treinamento, em como xingar meu noivo mandão, se ele estivesse preocupado com o que penso dele, teria vindo pelo menos me ouvir. Nem se fosse para me ouvir xingá-lo. Você não concorda comigo?
— Eu não quero me meter em assuntos particulares seus.
— Vou te dizer outra, ontem um irmão que eu não via há anos chegou e aparentemente era para meu noivo estar com ele, mas inventou uma desculpa qualquer e não veio.
— Talvez ele tenha um bom motivo para não estar aqui.
— Você está defendendo ele demais.
Lanchamos, eu bebi mais um pouco do suco, a conversa flui fácil, ela é inteligente, conversa sobre qualquer coisa, eu me senti leve, até que ela me perguntou:
— Você veio da Itália, conhece o Capo Antônio Maori?
— Não pessoalmente, mas ele é bem famoso, e nós todos trabalhamos para ele.
— Sou prometida dele, vou ter que casar com ele assim que fizer 18 anos.
— Ele é considerado um homem justo.
— Claro, só mata os que contrariam ele, não é?
— Não estou te entendendo.
— Tony, desde que me conheço por gente, fui treinada para satisfazer as vontades dele:
* Senta direito, senão seu noivo vai se zangar.
* Toca piano porque ele gosta de ouvir músicas clássicas.
*Aprende direito a pôr a mesa, senão ele vai te tratar mal na frente dos convidados.
Nem comer o que gosto posso, só posso comer se o idiota do Capo gostar.
— Você está querendo me dizer que ele lá da Itália controla até o que você come?
— Sou um pouco rebelde, às vezes faço como hoje, que fiz meu próprio lanche e o suco que gosto.
— Se fosse para satisfazer o Capo, o que você deveria estar comendo?
— Suco de graviola com hortelã e pão integral com ricota. Odeio suco de graviola e acho uma frescura sem tamanho pão com ricota.
Falei baixinho.
— Eu também não gosto de suco de graviola, não sei de onde tiraram isso.
— O que você falou?
Olhei para ela e me deu vontade de contar quem sou, mas ela começou a falar.
— Odeio o Capo, ele manipulou minha vida de uma forma que me sinto uma porca sendo preparada para o abate. Desculpe, não queria te dizer essas coisas, mas nunca tive um amigo e você está sendo o mais próximo disso que estou tendo.
— Tudo bem, pode falar, eu te escuto.
— Quero te pedir uma coisa, mas posso te colocar em problemas sérios se alguém descobrir.
— Eu não tenho medo de morrer, se é esse seu medo.
— Se você está na máfia há tempo, sabe que morrer é o menor dos problemas. Eles podem te torturar por dias, até você implorar pela morte.
— Vamos fazer assim, deixa que eu me preocupo com a máfia, quero ser seu amigo.
— Então, tá, vou perguntar, mas você tem todo direito de negar, combinado?
— Combinado, pode pedir.
— Quero aprender a beijar.
Fiquei olhando para a frente, sem nem respirar, esperando ele me dar um belo não, você está louca, não vou tocar na mulher que vai comandar a máfia. Você está me condenando à morte.
“Antônio”
Ela quer me trair?
Fiquei olhando para ela, faz dois dias que me conhece e me pede para ensiná-la a beijar, só eu tenho o direito de beijar os lábios da minha esposa.
Estou ficando maluco, estou com ciúmes de mim mesmo, vamos ver até onde você vai, minha ragazza, vou te ensinar, beijar e tudo o que você pedir.
Depois, faço um duelo comigo mesmo e vejo quem vence.
— Eu aceito, te ensino a beijar, mas você tem certeza disso, seu noivo deve querer te ensinar isso.
— Se ele estivesse preocupado com isso, estaria aqui me conhecendo e não a milhares de quilômetros de distância.
Tive a oportunidade de dizer que estou aqui, mas não fiz, agora vou ensinar minha noiva a beijar, ou melhor, o jardineiro vai ensinar minha noiva a beijar.
Voltei dos meus devaneios porque ela estava me olhando.
— Como vamos fazer isso?
Eu me aproximei, coloquei um pouco do cabelo dela atrás da orelha e disse:
— Só relaxa e deixa a emoção fluir.
Toquei o lábio dela com o polegar, fiz um círculo e vi ela fechando os olhos esperando, abaixei, dei um beijo na orelha, depois na bochecha e um selinho nos lábios dela e me afastei.
Ela abriu os olhos e parecia meio decepcionada.
— Só isso? Esse é um beijo?
— Sim, por quê? Você esperava mais?
— Sou inocente, mas já vi beijo no cinema e não parece só isso.
— E como parece?
— Posso mesmo?
Sentei, estiquei as pernas e disse, divertido, o que será que ela vai fazer?
Ela sentou-se de cavalo no meu colo, aproximou-se a boca da minha e falou.
— Acho que é assim.
Começou a me beijar nos lábios, falta experiência, mas a essência é boa.
— O que você achou?
— É quase isso.
Paguei atrás da nuca dela, lambi seus lábios e comecei a beijá-la.
Um beijo simples, sem língua nem nada, mas senti suas pernas se fechando envolta do meu quadril e suas mãos acariciando meu rosto.
Quando senti ela tocar minha cicatriz, fiquei tenso, quase parei, mas ela não fez nenhum movimento para parar, então continuei o contato mais um pouco. Minha ragazza vai aprender rápido.
Parei o beijo e tirei ela de cima de mim, antes que pudesse sentir minha ereção.
— E aí, foi melhor?
— Muito melhor, adorei.
— Podemos fazer de novo?
— Beatrice, deixe para amanhã, por ser a primeira aula já está bom.
— Da próxima vez, quero ver seu rosto, senti sua cicatriz e não me pareceu grande coisa.
— Prometo pensar.
— Agora vou para casa antes que alguém venha atrás de mim e descubra nosso segredo, já está anoitecendo.
— Até amanhã, Beatrice.
Antes de ir, ela me deu um selinho e foi embora correndo. Fiquei ali como um bobo apaixonado, tenho que lembrar que não é por mim que ela está se apaixonando, é pelo jardineiro.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 47
Comments
Marcia 🌻
Autora tô gostando muito do livro 😊😊 só fico aqui pensando quando ela descobrir vai ficar muito brava😂😂😂
2025-03-05
7
Ana Lúcia De Oliveira
pois é, parece que teremos problemas, ela está se apaixonando pelo jardineiro, as primeiras experiências dela está sendo com o "jardineiro"
2025-03-25
1
Claudia Teixeira
tá muito bom, aí aí aí qdo ela descobrir que ele é o prometido dela, quero nem ver😜
2025-03-15
1