Minha noiva tem coragem

“Lara”

Eu nunca fico sozinha, tem sempre um segurança me vigiando de perto.

Agora estou no jardim da nossa casa, tem um canteiro de rosas maravilhoso e um pergolado de madeira com uma trepadeira com flores azuis.

Embaixo tem um banco onde passo boa parte do dia, aqui com meus livros e meus amigos beija-flores que sempre estão por perto.

Hoje resolvi pesquisar um pouco sobre a máfia italiana e os casamentos, e vi que a maioria é como vai ser o meu, programado desde a infância. Estava desolada porque não achei nenhuma saída para que não me casasse com o tal Capo.

Mas aí li uma coisa que me deu um fio de esperança, a mulher que vai se casar com o Capo tem que ser virgem, ele tem três meses para mostrar para um grupo escolhido a dedo o lençol da cama com o sangue da referida perda da virgindade.

Tenho certeza de que minha mãe não era virgem quando foi sequestrada pelo meu pai, e ele pode colocá-la como esposa. Preciso perguntar de um jeito que não levante suspeitas.

Vou arrumar um jeito de descobrir, e se isso for verdade, é só eu perder minha virgindade que estarei livre dele.

Nossa, como será que isso acontece? Se sangra, é porque deve doer, mas para me livrar desse casamento farei, lógico, se eu tiver certeza de que isso vai me livrar dele.

Voltei para casa e dei uma boa olhada no segurança, ele pode ser um homem em potencial, mesmo nem me olhando na cara. Todos têm tanto medo de meu pai e do Don Antônio que quase fogem de mim.

O único desavisado que tentou falar comigo foi o ano passado, eu estava dormindo no banco do jardim quando senti tirarem meu cabelo do rosto.

 Abri meus olhos e o moço estava lá me olhando e sorrindo. Tentei avisá-lo, mas não deu tempo, meu segurança o tirou de perto de mim e logo meu pai chegou, deu uma surra tão grande nele bem na minha frente para eu aprender a não deixar ninguém me tocar.

Tive pesadelos vários dias com o sangue do rapaz respingando em mim, meu pai é muito violento, não precisava agir daquele jeito.

Não vi mais o rapaz, mas acho que foi morto, porque meu pai tem medo de chegarem conversas erradas no ouvido do Capo.

Entrei em casa e minha mãe está na cozinha, um dos lugares prediletos dela. Ela diz que um homem é conquistado diariamente através do seu estômago e depois na cama.

— Oi, mãe! O que a senhora está fazendo de gostoso?

— Filha, que bom que você veio, vou te ensinar a fazer esse prato, tenho certeza de que Don Antônio vai adorar quando vocês saborearem juntos.

Eu nunca vou cozinhar para o cretino do Don, mas por enquanto vou deixar minha mãe achar que estou muito interessada em aprender.

— Seu pai adora feijoada, quando chegamos ao Brasil, foi o primeiro prato que fiz para ele comer.

 — Mãe, a senhora era virgem quando meu pai te sequestrou?

— Já te disse para não falar assim, eu amo seu pai.

— Mas ele não te sequestrou?

— Sim, mas logo me apaixonei por ele e fiquei porque quis.

— A senhora não respondeu à minha pergunta, a senhora era virgem?

— Não, filha, eu tinha namorado alguns caras aqui no Brasil. 

Eu tinha me separado de um namorado fazia pouco tempo e fui viajar para a Itália para esquecer e curar meu coração partido, quando, sem querer, trombei no seu pai na praça São Pedro e selei meu destino.

Seu pai me seguiu e me sequestrou, me levou para uma casa particular e ficou comigo durante um mês até eu entender que não tinha como fugir dele.

Perguntei para minha mãe, só para ter certeza.

— Mãe, então não precisa ser virgem para se casar com alguém da máfia.

— Só o Capo tem que casar com uma mulher pura.

Eu abri um sorriso.

— Quer dizer que, se eu já tiver sido de outro homem, ele não vai me querer como esposa?

Minha mãe parou o que estava fazendo e veio até mim, me pegou pelos ombros e disse, me olhando nos olhos.

 — Filha, se isso acontecer, todos estaremos mortos, porque uma das condições de morarmos no Brasil foi manter você pura para este casamento.

Meu pai veio falar alguma coisa para minha mãe e escutou só uma parte da nossa conversa.

— Lara Beatrice Morabito, se você me envergonhar, vou ser obrigado a te matar.

— Me mata logo, pai, assim não vou ter que me casar com um homem que nem conheço e o senhor resolve esse problema.

— Já te falei que não vou discutir isso com você, dei minha palavra faz muito tempo e vou cumprir.

Vejo ele indo em direção à sala e vou atrás. Ele tem que me escutar, isso está errado eu sou filha dele e não um dos empregados.

— O senhor está me condenando sem direito à defesa, eu não quero me casar desse jeito, se ele for um homem que agride as mulheres, o senhor vai ficar com remorso quando me ver toda machucada.

— Filha, nós, homens da máfia, respeitamos nossas esposas, não existe a possibilidade dele te agredir.

— O senhor é tão nojento quanto ele, sequestrou minha mãe, obrigou-a a ficar com o senhor, sabe-se lá o que fez com ela e vem me dizer que vocês respeitam suas esposas.

Meu pai é um homem agressivo e reativo, de um tempo para cá parou de me corrigir com surras porque diz que não pode me marcar, mas irritei ele tanto que virou com tudo e me deu um tapa no rosto.

— Cale-se e me respeite, não sou um amiguinho seu, sou seu pai e você vai me respeitar e obedecer, entendeu?

Minha mãe está tão acostumada com minhas brigas com meu pai que nem saiu da cozinha, sabe que não vai adiantar, eu e ele temos o mesmo gênio forte.

Saí correndo da sala e chorando, voltei para o único lugar em que me sinto bem, com meus beija-flores. Eles são meus confidentes e me escutam.

Mas antes de chegar, passei pelas queridas rosas do meu pai. Já que vou apanhar, vou dar um motivo bom para isso, arranquei todas, não deixei um pé enterrado, o jardineiro vai ter bastante trabalho.

“Antônio”

Chegamos à casa do senhor Rocco Morabito e escutamos uma discussão entre ele e a filha. Meu amigo fez um movimento para entrar e parar a discussão, eu seguro o braço dele e balancei a cabeça, negando.

A menina que abriu a porta saiu correndo em direção à cozinha.

Ficamos ali ouvindo minha noiva enfrentando o pai, como imaginei, ela não quer se casar comigo.

Não ouvi o começo da briga, mas ela mandou ele matá-la, assim vai resolver o problema.

Fora jogar na cara dele que sequestrou a mãe dela, ela tem muita coragem, ouvimos o tapa e a porta batendo com força.

Entramos na sala e o senhor Rocco mudou de cor quando me reconheceu.

— Don Antônio, desculpe o senhor ter presenciado uma cena dessa, minha filha normalmente é muito dócil, mas está meio inconformada com a data do casamento se aproximando.

— Está tudo bem, vim conhecê-la, mas acho que vai ter que ser mais tarde, o senhor sabe para onde ela foi?

— Não se preocupe, ela não tem permissão para sair da propriedade, deve estar no jardim se acalmando, vou perguntar para o segurança dela.

Vejo Rocco ligar no celular de alguém.

— Marcos, onde está minha filha?

Não sei o que o segurança respondeu, mas vi um homem virando um vulcão.

— Ela fez o quê?

Vi Rocco indo em direção à porta, resolvi usar minha autoridade para proteger minha noiva.

— Rocco, para onde você vai?

— Vou corrigir aquela menina ingrata, ela destruiu meu canteiro de rosas-amarelas, eu plantei todas com minhas próprias mãos para a mãe dela, não posso admitir tanto desrespeito.

— Pare, não vou permitir que minha noiva seja agredida devido a um punhado de rosas.

Rocco volta para mim e, sem pensar, vem na minha direção.

— Aqui em minha casa, quem manda sou eu, e educo minha filha do jeito que eu quiser. O seu direito só vai começar o dia que você levá-la daqui com uma aliança no dedo.

Meu amigo tenta parar o pai dele, porque sabe que se eu perder a paciência, a coisa pode ficar feia. Ergui a mão e parei Rodrigo, virei para Rocco e com minha voz de comando.

— Rocco, se você esqueceu vou te lembrar quem sou. Sou Antônio Maori, seu Capo e espero que se lembre do que isso significa.

Vi Rocco recuar e abaixar a cabeça, sei que é difícil para ele me atender, tenho menos da metade da idade dele, mas sou a porra do Capo e ninguém vai passar por cima da minha autoridade.

— Desculpa, Don Antônio, me excedi, não vai acontecer de novo, minha filha me tira do sério.

Estiquei minha mão esperando ele beijar, veio e deu um beijo.

— Agora vamos conversar, como pessoas civilizadas.

— O que o senhor quer fazer? Quer que eu chame Lara para o senhor conhecê-la?

Fiquei pensando por um momento e faz tempo que não brinco de jardineiro, vou conhecer minha noiva de um jeito diferente.

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Comments

Ana Lúcia De Oliveira

Ana Lúcia De Oliveira

boa ideia, ela vai gostar do novo jardineiro

2025-03-24

1

Maryan Carla Matos Pinto

Maryan Carla Matos Pinto

novo jardineiro da casa

2025-04-01

1

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