Capítulo Dezesseis

Greg Ashford

O dia parecia seguir a mesma rotina de sempre. Meu pai estava ocupado em mais uma de suas reuniões intermináveis, e eu tentava focar no meu próprio trabalho enquanto aguardava as atualizações sobre as negociações que ele tanto prezava. As últimas semanas tinham sido um jogo de gato e rato com Jade Sinclair, e eu sabia que o desfecho estava perto. O meu pai não conseguiria o que queria.

Saí da minha sala e fui em direção ao lobby para ir a cafeteria próxima a empresa e espairecer a mente, voltei para a empresa após comprar o meu café, estava olhando para o celular, respondendo alguns e-mails, quando de repente, quase trombei com alguém. Levantei o olhar e congelei. Jade Sinclair estava saindo pela porta principal da Ashford e a expressão no rosto dela não era nada boa. Eu a observei por um instante, confuso. O que diabos ela estava fazendo aqui?

Ela parou assim que me viu, e eu pude ver a surpresa cruzar o rosto dela. Eu sentia meu coração bater mais rápido enquanto processava o que estava acontecendo. Jade, na minha empresa? Meu primeiro instinto foi que meu pai havia feito algum movimento sem me avisar, mas antes que eu pudesse perguntar, ela se adiantou.

— Greg? — Jade perguntou, a voz dela carregada de incredulidade e um toque de desconfiança. — O que você está fazendo aqui?

Eu dei um passo para trás, tentando disfarçar meu próprio choque. Precisava de uma boa desculpa, e rápido. Para Jade, eu era apenas um fisioterapeuta, e essa ilusão precisava continuar.

— Eu que deveria perguntar isso — eu disse, tentando soar casual. — Achei que fosse me encontrar com um cliente aqui, mas pelo visto, a surpresa foi minha. — Eu ri nervosamente, percebendo o quão ridículo isso soava, mas Jade estava muito atordoada para ligar.

Ela cruzou os braços e me lançou um olhar desconfiado. — Não me diga que você trabalha aqui...

Pensei rápido, não podia deixar ela conectar os pontos ainda. — Nada disso. Apenas estou de passagem. Tenho alguns conhecidos que trabalham aqui e, por acaso, um cliente me pediu um favor. Coincidências, sabe como é.

Jade arqueou uma sobrancelha, claramente não convencida, mas antes que ela pudesse questionar mais, dei um passo em sua direção. Era melhor mudar o foco.

— E você? O que faz aqui na Ashford Arquitetura? — perguntei, fingindo curiosidade e tentando suavizar a tensão com um sorriso.

Ela hesitou por um momento, como se avaliasse se deveria ou não me contar. — Vim discutir alguns assuntos... complicados. Parece que estão tentando comprar minha empresa — disse ela, olhando diretamente nos meus olhos, desafiando-me a desmentir.

Um frio percorreu minha espinha. Claro que ela não sabia que eu era um Ashford. Essa fachada tinha me dado uma vantagem inesperada, mas agora estava começando a se tornar um problema maior do que eu imaginava. Tentei manter o sorriso, sem querer demonstrar o quanto aquilo me afetava.

— Isso parece complicado mesmo, mas você é mais forte do que parece — disse suavemente, inclinando-me para perto dela. — Talvez você só precise de um aliado no lugar certo.

Ela riu, mas não era um riso de humor. Era mais de frustração e uma pitada de desdém. — Um aliado? Nessa selva de negócios? Sabe, Greg, às vezes é difícil saber em quem confiar. Ainda mais quando certas coisas começam a parecer... boas demais para ser verdade.

Ela estava falando sobre mim ou sobre os negócios? Eu não sabia, mas não podia arriscar. Deixei minha expressão ficar séria, mas não totalmente fechada. Ainda precisava manter o charme, o disfarce.

— Confiança é uma coisa difícil mesmo. — Minha voz saiu mais suave, mais pessoal. — Mas acho que você sabe que pode contar comigo. E quem sabe, a vida te surpreende onde menos espera.

Ela parecia ponderar minhas palavras, o olhar dela passando de mim para o prédio atrás de nós. Para Jade, eu era apenas alguém que aparecera em um momento estranho da vida dela, mas para mim, ela estava se tornando algo muito maior do que um simples jogo. Estava ficando difícil lembrar por que eu tinha me envolvido nisso para começar.

Ela finalmente assentiu, um gesto pequeno, mas que me deu um lampejo de esperança. Ela ainda não sabia tudo, e enquanto eu pudesse manter essa distância segura, eu tinha uma chance. Mesmo que pequena, mesmo que incerta, era uma chance de provar a ela que nem tudo que começava com um engano precisava terminar em decepção.

Jade deu um último olhar, como se ainda tentasse decifrar algo, antes de se virar para ir embora. Eu fiquei parado ali, observando-a se afastar, sabendo que cada passo dela me levava para mais perto do momento em que eu teria que revelar quem eu realmente era. Mas até lá, eu iria aproveitar cada segundo dessa ilusão, e talvez, descobrir uma maneira de transformar isso em algo real, que não saíssemos machucados.

Continua...

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