Capítulo Dez

Jade Sinclair

Depois de uma manhã exaustiva, onde o peso da raiva e frustração por David ainda me atormentava, voltei para casa na esperança de encontrar algum alívio ao lado de Carla. A chuva continuava a cair forte, como se o mundo estivesse em perfeita sintonia com meu humor tempestuoso.

Carla já sabia de tudo o que tinha acontecido na empresa, claro, e me recebeu com aquele olhar que misturava compreensão e preocupação, o tipo de olhar que só uma amiga de verdade pode oferecer.

— Eu não acredito que ele teve a audácia de aparecer — Carla comentou enquanto servia o almoço, sua voz carregada de indignação.

— Eu também não — respondi, empurrando o prato com pouca vontade de comer. — Mas não vou deixar que isso me abale. Tenho muito o que fazer para ficar remoendo o passado.

Carla sorriu com aprovação. Ela sabia o quanto eu lutei para manter minha sanidade e minha força depois do acidente e, mais ainda, após o abandono de David. Nós comemos em silêncio, a companhia dela era exatamente o que eu precisava para manter meus pensamentos no presente. Cada garfada era um pequeno passo para me afastar da sombra que David havia deixado.

Quando o fisioterapeuta chegou, minha mente já estava mais clara. Ele entrou com aquele mesmo sorriso fácil que fazia meu coração dar voltas e, por um momento, esqueci todas as complicações da minha vida. Greg era mais do que apenas um fisioterapeuta — ele era uma espécie de luz que entrava pelas frestas das minhas janelas fechadas. Seu toque era firme, mas ao mesmo tempo cuidadoso, e ele sabia exatamente como trabalhar meus músculos cansados sem me fazer sentir frágil.

Os exercícios daquela tarde começaram como de costume, mas o clima estava diferente. A proximidade entre nós era palpável, o silêncio era preenchido apenas pelo som da chuva e da nossa respiração ritmada. Em um momento, enquanto ele me ajudava a manter o equilíbrio, nossos olhos se encontraram, e foi como se o mundo tivesse parado.

Sem pensar, me inclinei e o beijei, sentindo a textura suave de seus lábios contra os meus. Foi um beijo urgente, cheio de toda a raiva, tristeza e desejo acumulados. Greg inicialmente hesitou, seus olhos arregalados de surpresa, mas não se afastou imediatamente.

— Jade, eu não posso... — ele disse, ainda respirando contra os meus lábios.

A rejeição implícita bateu forte, e não consegui evitar a pergunta que queimava na minha mente:

— É por causa das minhas limitações? Você não quer ir para a cama comigo por isso?

Ele balançou a cabeça com firmeza, seus olhos escurecendo com algo que parecia ser desejo reprimido.

— Não, Jade, não é isso. Você é incrível. E, sim, eu estou totalmente atraído por você, eu te acho uma mulher deliciosa e tenho desejos por você, Mas... — Greg hesitou, procurando as palavras certas.

Eu o interrompi com um novo beijo, desta vez deixando minhas mãos deslizarem pelo seu peito até alcançar sua camisa. Com movimentos rápidos, tirei sua camisa, revelando o corpo definido que eu imaginava tantas vezes desde que o vi pela primeira vez.

Greg parou o beijo, segurando meus pulsos com delicadeza.

— Eu não vou fazer isso assim — ele disse, sua voz baixa e grave. — Você merece mais do que isso, e eu quero fazer isso do jeito certo.

Ele se afastou, respirando fundo, e eu não pude deixar de sentir uma pontada de frustração. Tudo que eu queria era esquecer a manhã, liberar todas as emoções e, de certa forma, sentir-me desejada novamente. Mas Greg estava determinado a seguir um caminho diferente.

— Vou buscar você esta noite para jantarmos— ele disse, enquanto vestia a camisa novamente, seus olhos ainda queimando com um desejo que ele lutava para controlar.

Eu suspirei, vendo-o sair pela porta. Talvez ele estivesse certo, talvez houvesse algo mais entre nós do que apenas o desejo de aliviar as tensões de um dia difícil. Quando ele desapareceu no corredor, me virei para Carla, que observava a cena com um sorriso malicioso.

— Você vai precisar de algo especial para esta noite — ela disse, já revirando o closet em busca de uma lingerie que, segundo ela, seria perfeita para "matar Greg de desejo".

— Carla, eu não vou para uma guerra — protestei, mas ela apenas riu, ignorando minha resistência.

— Ah, mas você vai vencer, isso é certo — ela piscou.

Escolhemos um conjunto de lingerie sensual, preto com rendas delicadas, que se ajustavam perfeitamente ao meu corpo. Combinamos com um vestido elegante, que destacava minhas curvas e me fazia sentir poderosa. Quando me olhei no espelho, vi mais do que uma mulher em uma cadeira de rodas; vi alguém pronta para recuperar o controle de sua vida, para enfrentar seus medos e, quem sabe, se permitir ser vulnerável de novo.

Naquela noite, eu não seria apenas Jade Sinclair, a mulher que perdeu tudo, mas sim a mulher que sabia exatamente o que queria e estava disposta a lutar por isso. Greg podia até ter resistido à tarde, mas eu estava preparada para mostrar a ele que valia a pena apostar tudo, mesmo que o risco fosse grande. E enquanto eu ajustava o vestido, um sorriso confiante surgiu em meu rosto: naquela noite, eu seria o prato principal, e estava mais do que pronta para isso.

Continua...

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