Capítulo Cinco

Jade Sinclar

A manhã estava ensolarada, mas eu mal conseguia perceber a luz entrando pelas janelas. Estava focada no meu café da manhã, enquanto Carla, minha melhor amiga e assistente, andava de um lado para o outro na cozinha, como fazia sempre que queria me dizer algo importante.

— Jade, o fisioterapeuta é gatinho, quem sabe ele não cuida também desse coração— Carla finalmente falou, me olhando com aquela expressão de quem estava prestes a dar uma bronca. — Sabe que é mais um gasto, e sinceramente, você está bem, mesmo com as sessões que faz na clínica.

Suspirei, olhando para minha xícara de café. Carla era prática e sempre se preocupava em me manter feliz, mas eu sabia que ela só queria me proteger, assim como fazia desde o acidente quando perdi meu pai, fiquei paraplégica e perdi meu noivo que me deixou por não suportar estar com alguém que nunca mais poderia voltar a andar.

— Não estou pensando em nada além da empresa, Carla. — Respondi, firme, querendo encerrar o assunto. — E, sinceramente, não estou interessada em relacionamento nenhum. Especialmente com um fisioterapeuta.

Carla parou, me observando com aqueles olhos que sempre pareciam enxergar através de mim. Ela se aproximou, segurando minhas mãos, e seus olhos suavizaram.

— Jade, eu sei que é difícil. Mas você precisa seguir em frente. Nem todo homem é como o James, sabe? Ele foi um idiota por te deixar logo após o acidente, mas isso não significa que todos vão fazer o mesmo.

Senti um aperto no peito ao ouvir o nome de James. A cicatriz emocional ainda estava lá, mesmo que eu tentasse escondê-la. Balancei a cabeça, tentando afastar a lembrança dele e do quanto me magoou.

— Eu realmente não quero me envolver com ninguém agora, Carla. Estou focada na empresa. Quero honrar o que meu pai construiu, e isso é tudo o que importa para mim.

Ela suspirou, soltando minhas mãos com um leve aperto, mas não insistiu. Carla sabia quando recuar, e eu sabia que suas palavras vinham do coração. Ela era como uma irmã para mim, sempre me apoiando, mesmo quando eu estava presa em minhas próprias teias de insegurança e medo.

Saímos juntas da cozinha, e com a ajuda do motorista, fui para a empresa. A rotina diária na cadeira de rodas era um lembrete constante das limitações que o acidente trouxe, mas eu nunca deixei que isso me definisse. Assim que cheguei ao prédio, cumprimentei os funcionários com um sorriso determinado e me dirigi ao estúdio, meu lugar favorito. Era aqui que eu realmente me sentia livre, no controle, conectada com algo maior que minhas limitações físicas.

Preparei o equipamento de som, ajustando os microfones e colocando meus fones de ouvido. Era hora do meu programa de podcast, onde eu falava sobre sentimentos através das músicas. Cada episódio era uma oportunidade de me expressar de um jeito que talvez eu nunca conseguisse na vida real.

O programa estava no ar há alguns minutos quando recebi uma ligação ao vivo. O sinal piscou e atendi, curiosa.

— Alô, Jade? — a voz do outro lado soou jovem, talvez de uma garota na casa dos vinte anos. — Eu adoro o seu programa, e você fala tanto sobre amor... Eu queria saber, você já amou? Porque fala sobre isso com tanta paixão, mas nunca diz se já viveu isso de verdade.

Fiquei em silêncio por um segundo. Era uma pergunta simples, mas que me atingiu de um jeito inesperado. Eu sabia que minha audiência era fiel e, muitas vezes, curiosa sobre minha vida pessoal, mas essa pergunta em específico me pegou desprevenida.

— Acho que todos nós já nascemos com amor, sabe? — comecei, escolhendo as palavras com cuidado. — Amor não é algo que você só sente por alguém, ele está em tudo. Está no cuidado que você tem por si mesma, no respeito que você nutre pelos outros e, principalmente, na música que nos conecta. Eu já amei, sim, de várias formas. E mesmo que algumas experiências sejam dolorosas, o amor sempre encontra um jeito de nos alcançar novamente.

Desliguei a ligação e segui com o episódio da rádio, a pergunta ficou na minha cabeça. Por mais que eu que falasse sobre amor no meu podcast, o que eu sentia mesmo era um vazio difícil de preencher. Mas ali, no estúdio, entre músicas e palavras, eu encontrava um jeito de seguir em frente, um dia de cada vez.

Continua...

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