Capítulo Nove

Jade Sinclair

Desde que a última sessão de fisioterapia terminou, eu não conseguia tirar da cabeça o sorriso e os olhos daquele fisioterapeuta que parecia ter saído de um catálogo de moda. Três dias se passaram e eu já estava ansiosa para vê-lo de novo. Carla, minha amiga e confidente, sempre brincava sobre o quanto ele era um colírio para os olhos, e eu não podia discordar. Naquela tarde, enquanto nos preparávamos para o dia, ela me fez rir com seus comentários maliciosos, mas a verdade é que ele era, de fato, um homem lindo. Era impossível não reparar.

Mais tarde, quando cheguei à empresa, o clima parecia refletir meus pensamentos confusos: uma chuva pesada e incessante, como se o céu também estivesse em conflito. Ao entrar, fui surpreendida pela presença de David, meu ex, parado na recepção como se tivesse todo o direito de estar ali. Um desconforto imediato tomou conta de mim. Aquele era o homem que eu tinha amado de uma forma que nunca amei ninguém, que tocou meu coração de maneiras que eu nem sabia ser possível. E também foi o homem que me deixou na pior fase da minha vida, quando eu mais precisava dele. Agora, vê-lo ali só me fazia lembrar da dor e do abandono.

Rolei minha cadeira de rodas em direção ao meu escritório, o som dos pneus molhados ecoando pelo piso frio. A cadeira era um lembrete constante do acidente que mudou tudo e do momento em que David decidiu que eu não valia mais o esforço. Evitando olhar diretamente para ele, entrei na minha sala e perguntei, seca:

— O que você quer, David? O que está fazendo aqui?

Por um segundo, imaginei que ele pudesse estar ali para se desculpar, talvez para consertar as coisas, quem sabe? Mas conforme ele começou a falar, ficou claro que o tempo não tinha mudado nada nele, nem a maneira como ele me via.

— Jade, eu precisei vender minhas ações. Estou prestes a me casar e preciso pensar no meu futuro.

A raiva queimou dentro de mim. Como ele podia ser tão egoísta? Tão insensível? Respirei fundo, tentando manter a calma, e disse:

— Eu compro suas ações.

Mas David balançou a cabeça, despreocupado, como se tivesse todo o tempo do mundo.

— Já vendi — ele disse, com um tom de indiferença que me fez querer gritar.

— A quem? — perguntei, minha voz carregada de frustração.

— Para a empresa Ashford.

Por um instante, senti como se o chão tivesse sumido sob mim. A raiva fervia, misturada com um sentimento de traição renovado. Ele ainda estava ali, balbuciando desculpas, tentando justificar suas ações, mas eu já não queria ouvir nada do que ele tinha a dizer.

— Saia! — ordenei, tentando manter minha voz firme.

David hesitou, como se quisesse continuar com o discurso patético que preparara, mas quando vi o olhar dele, era como se ele tivesse pena de mim. Isso foi a gota d’água.

— Eu disse para sair! Agora! — gritei, deixando que toda a minha frustração escapasse em um grito que ecoou pelas paredes do escritório.

Ele ainda tentou resistir, parado como um espectador de um desastre, mas um dos funcionários entrou, talvez alertado pelos gritos, e exigiu que David saísse. Sem mais argumentos, ele finalmente deixou a sala, me deixando sozinha com a tempestade que rugia tanto lá fora quanto dentro de mim.

Assim que ele saiu, fechei os olhos e respirei fundo. David tinha voltado para minha vida apenas para bagunçar tudo de novo. Mas dessa vez, eu não deixaria que ele me abalasse. Se a empresa Ashford achava que poderia comprar meu futuro, eles estavam prestes a descobrir que não seria tão fácil assim, pois se teve algo que aprendi com minhas limitações é que ninguém pode me superar diante das minhas dificuldades a não ser eu mesma.

Continua...

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