O mordomo de Aki chegou à escola e dirigiu-se diretamente à diretora.
— Boa tarde, diretora. Vim buscar a senhorita Aki.
A diretora, com um semblante sério, assentiu.
— Antes de levá-la, precisamos conversar sobre um incidente que aconteceu hoje.
O mordomo franziu a testa, preocupado.
— Um incidente? O que aconteceu?
Os dois seguiram para a sala da diretoria. Assim que se acomodaram, a diretora começou a explicar:
— Durante a saída, a senhorita Hanazawa quase foi atropelada por um caminhão em alta velocidade.
O mordomo arregalou os olhos.
— O quê?! Ela está bem?
— Sim, ela saiu ilesa. Mas há algo que me intriga...
O mordomo manteve o olhar atento.
— O que exatamente?
A diretora respirou fundo antes de continuar.
— O motivo pelo qual ela está bem é um aluno chamado Hakari Mikami. Ele a salvou no último instante, usando o próprio corpo como escudo.
O mordomo ficou em silêncio por um momento antes de perguntar:
— O que quer dizer com "usou o próprio corpo como escudo"?
— Quero dizer que ele envolveu Aki com os braços e virou as costas para o caminhão. O impacto deveria tê-los matado... Mas, de alguma forma, Hakari não sofreu sequer um arranhão. Para piorar, a parte da frente do caminhão foi completamente destruída.
O mordomo ficou boquiaberto.
— Isso... Isso não faz sentido.
A diretora assentiu, cruzando os braços.
— Exatamente. E é isso que me preocupa.
A diretora ajeitou os óculos e encarou o mordomo com um olhar firme.
— A senhorita Hanazawa está na enfermaria da escola. Apesar de não ter sofrido ferimentos visíveis, achamos melhor garantir que está realmente bem.
O mordomo soltou um suspiro aliviado e fez uma leve reverência.
— Entendo. Agradeço por cuidarem dela. Com sua permissão, irei me retirar.
— Claro. Nos vemos amanhã.
O mordomo assentiu e saiu da sala, fechando a porta atrás de si.
A diretora permaneceu sentada por alguns instantes antes de se levantar e caminhar até a janela. Cruzando os braços, ela deixou seu olhar vagar pelo pátio da escola enquanto seus pensamentos começavam a se encaixar como peças de um quebra-cabeça.
Aquele garoto… Hakari Mikami…
Ela se lembrou da primeira vez que notou algo estranho sobre ele. Durante a aula de educação física, Hakari havia segurado o dinamômetro manual e, sem esforço aparente, fez o ponteiro chegar ao máximo. Para alguém com um físico normal como o dele, aquilo era simplesmente impossível.
E então veio o teste de velocidade. Ele deu uma volta completa na pista da quadra em apenas três segundos.
Três segundos.
Isso está além dos limites humanos…
A diretora apertou os lábios, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.
E agora, esse incidente com o caminhão.
Hakari não apenas salvou Aki no último momento, mas resistiu ao impacto direto do veículo em alta velocidade. Mais do que isso… a parte da frente do caminhão foi destruída, enquanto ele saiu ileso.
Ela franziu a testa.
— Hakari Mikami… — murmurou para si mesma.
Seria apenas coincidência? Ou ele estava escondendo algo?
A diretora não sabia a resposta, mas uma coisa era certa: aquele aluno não era comum.
Assim que Hakari abriu a porta de casa, foi recebido pelo som animado da voz de sua irmã mais nova.
— Mamãe! O Hakari chegou! — Ayane gritou entusiasmada, correndo pela sala.
Hakari suspirou e tirou os sapatos perto da entrada, sem entender o alvoroço.
— O que tá acontecendo agora?
Ayane cruzou os braços e ergueu o queixo com um olhar triunfante.
— Não é óbvio? Você salvou a vida de uma garota hoje! Minha amiga me mandou uma mensagem contando tudo sobre o seu ato heroico!
Hakari coçou a nuca, sem dar muita importância.
— Ah, isso… Bom, obrigado, eu acho. Mas, sinceramente, eu só quero relaxar e jogar um pouco no meu PC gamer.
O sorriso de Ayane desapareceu instantaneamente. Uma sombra surgiu em seu rosto, e seus olhos brilharam com uma intenção assassina.
Antes que Hakari pudesse reagir, ela avançou com um movimento preciso e desferiu um chute certeiro entre suas pernas.
— Seu mal-agradecido, oni-chan! — Ayane gritou, enquanto Hakari caiu de joelhos no chão.
Ou melhor, fingiu que caiu.
Na realidade, o golpe não lhe causou dor alguma, mas ele sabia que, se não fingisse, sua irmã começaria a desconfiar.
— A-Ayane…! Isso doeu! — gemeu, segurando-se para não soltar um suspiro entediado.
Ayane bufou e virou o rosto.
— Hmph! Isso é por você agir como se salvar uma garota de um atropelamento fosse algo comum!
Hakari soltou um suspiro interno.
Irmã mais nova são uma espécie perigosa…
Ainda fingindo dor, ele se arrastou para o sofá, decidido a encerrar aquela conversa antes que Ayane resolvesse atacá-lo de novo.
Antes que Hakari pudesse escapar para seu quarto, sua mãe apareceu na sala com um olhar curioso.
— O que está acontecendo aqui? — ela perguntou, cruzando os braços.
Ayane apontou para Hakari com indignação.
— O oni-chan não demonstrou nem um pingo de gratidão pelo próprio ato heróico! Então, como boa irmã mais nova, eu o puni por ser um mal-agradecido!
Hakari, ainda fingindo sentir dor, lançou um olhar incrédulo para a irmã.
— Isso não te dá o direito de me chutar!
A mãe suspirou e balançou a cabeça, sem demonstrar o menor sinal de simpatia.
— Hakari, se você não vier comemorar seu ato heróico com a família, ficará proibido de usar seu PC gamer por uma semana.
Hakari arregalou os olhos, sentindo um arrepio na espinha.
— Espera um momento! Ela me chuta onde dói e eu que sou punido?
A mãe deu de ombros, completamente indiferente ao protesto do filho.
— Você mereceu. Quem mandou ser ingrato com a sua família?
Hakari abriu a boca para argumentar, mas percebeu que não havia escapatória. Com um olhar derrotado, ele suspirou e murmurou:
— Será que eu sou mesmo dessa família...?
Ayane sorriu vitoriosa e puxou o braço do irmão.
— Vamos lá, oni-chan! Hoje você é o herói da casa!
Hakari rolou os olhos, já aceitando seu destino. Ser um Deus do Trovão era fácil… O difícil era sobreviver à própria família.
A mesa estava farta, cheia de pratos bem preparados, e o cheiro delicioso da comida caseira enchia a sala. Hakari, ainda relutante quanto à celebração, sentou-se de braços cruzados enquanto Ayane sorria vitoriosa, animada com a "festa" para seu irmão.
De repente, a porta se abriu, e uma voz firme ecoou pelo ambiente.
— Cadê o nosso super-herói?!
Era o pai de Hakari e Ayane, um homem de postura imponente, mas sempre com um sorriso no rosto. Ele tirou os sapatos na entrada e caminhou até a mesa com um olhar orgulhoso.
Hakari, sem perder a chance de provocar, respondeu com um tom sarcástico:
— Ele está em outro país.
O silêncio tomou conta do ambiente por um segundo. Sua mãe, sem hesitar, pegou o cinto de couro do pai e bateu levemente na palma da própria mão, lançando um olhar ameaçador.
— O que você disse mesmo?
Hakari gelou.
— Eu disse que o super-herói está aqui! Bem aqui! — ele corrigiu rapidamente, erguendo as mãos em rendição.
O pai riu ao ver a reação do filho e se aproximou, dando-lhe um tapinha no ombro.
— Filhão, você salvou a vida de uma colega de classe.
Hakari suspirou.
— Eu sei, pai… mas não precisamos fazer uma grande comemoração. Um simples abraço já seria suficiente.
O pai cruzou os braços e sorriu.
— Você tem razão… mas salvar a vida de alguém não merece apenas um abraço.
Ele se sentou e pegou os talheres, encarando a refeição como se fosse um verdadeiro banquete.
— Essa noite, vamos celebrar do jeito certo. Agora, pegue seu prato, Hakari. Você pode até ser um herói, mas ainda faz parte dessa família, quer você goste ou não!
Hakari olhou para os pais e para Ayane, que sorria satisfeita. Ele soltou um suspiro resignado e pegou os talheres.
— Certo, certo… Mas se isso se tornar um evento anual, eu vou fugir de casa.
A mesa explodiu em risadas. Mesmo contrariado, Hakari sabia que, no fundo, ter uma família assim também fazia parte do que tornava essa nova vida especial.
Depois do jantar, Hakari se levantou da mesa e olhou para sua mãe com um sorriso tranquilo.
— Mãe, deixa que eu limpo tudo hoje. Pode ir descansar, eu cuido da louça.
A mãe ergueu uma sobrancelha, surpresa com a atitude do filho.
— Você? Quer lavar a louça?
— Sim, confie em mim — ele respondeu com um olhar sincero.
Ela suspirou, tocada pelo gesto, e sorriu.
— Tudo bem, Hakari. Obrigada. Mas se eu acordar amanhã e encontrar um caos na cozinha, você vai me ouvir!
— Pode deixar, vai estar brilhando — ele garantiu.
A mãe assentiu e foi para o quarto, deixando Hakari sozinho na cozinha. Ele recolheu os pratos, copos e talheres, organizando tudo com eficiência. Em seguida, lavou a louça, secou e guardou cada item em seu devido lugar.
Após terminar, foi ao banheiro escovar os dentes e tomou um banho rápido. Saindo do chuveiro, vestiu uma roupa confortável e pegou o celular para colocá-lo para carregar.
Assim que conectou o carregador, uma faísca azul brilhou e, num instante, um estalo ecoou pelo quarto. O celular fritou na hora.
— De novo, não… — Hakari suspirou, olhando para o aparelho completamente queimado.
O barulho fez seus pais se levantarem apressados. Em segundos, eles abriram a porta do quarto.
— Hakari! O que foi isso?! — perguntou o pai, alarmado.
Hakari, já acostumado com a situação, levantou o celular chamuscado.
— Ah, só mais um dos meus celulares que fritou…
A mãe cruzou os braços, desconfiada.
— De novo? Esse já é o nono, Hakari!
O pai franziu o cenho e se coçou na cabeça.
— Eu juro que comprei celulares de marcas confiáveis, aqueles que duram anos! Será que fui enganado...?
A mãe colocou a mão no queixo, pensativa.
— Ou talvez o problema seja outro...
Hakari suou frio.
— Bom, não adianta pensar nisso agora. Melhor tentar outra marca na próxima compra.
O pai suspirou.
— É, vou procurar um modelo diferente. Mas dessa vez, sem garantia estendida!
Hakari riu, aliviado por ter escapado de mais perguntas.
— Beleza, então. Agora vou dormir. Boa noite, mãe. Boa noite, pai.
— Boa noite, Hakari — disseram os dois.
Ao se deitar, Hakari olhou para o teto, pensativo. Preciso aprender a controlar melhor minha eletricidade... ou vou acabar sem celular pelo resto da vida.
Fechando os olhos, ele finalmente se entregou ao sono, pronto para mais um dia cheio de segredos a serem mantidos.
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Atualizado até capítulo 24
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