O som suave do teclado sendo pressionado e o leve tilintar do telefone preenchiam a sala de Cecília. Ela tentava se concentrar, mas, como de costume, seus pensamentos flutuavam para um lugar que ela não queria explorar. A conversa com Eduardo naquela manhã ainda estava viva em sua mente, e o impacto das palavras dele ainda reverberava em seu coração de maneira desconcertante.
Ela forçou-se a continuar com seu trabalho, mas a distração estava prestes a consumir qualquer senso de produtividade. O toque do telefone a fez pular, e ela olhou para a tela. Era ele. Eduardo.
Ela hesitou, os dedos pairando sobre a tela do celular. Não o atenderia, pensou. Não precisava disso. O que mais ele queria?
Ela pensou em ignorar, mas algo dentro de si fez com que ela tocasse o botão de atendimento.
— Cecília? — A voz dele a envolveu, suave, como uma música calma, mas carregada de uma tensão que ela não podia evitar sentir.
Ela se acomodou na cadeira, tentando manter a postura firme, mas algo em seu tom a fez relaxar de uma maneira desconfortável.
— Eduardo — sua voz soou um pouco mais fria do que ela pretendia, mas o controle ainda estava ali. "O que aconteceu?"
Ele riu suavemente, como se já soubesse o que ela estava tentando fazer. Não se permitir se envolver. Não se permitir sentir.
— Eu estava pensando... Se você quiser, podemos almoçar juntos mais tarde. Só para conversar. Sobre o que você mencionou naquela manhã.
Ela sentiu o corpo se tencionar, como se uma parede invisível tivesse sido erguida de imediato entre eles. "Não há nada para conversar, Eduardo. Eu... já disse o que tinha a dizer."
Mas ele insistiu, o tom mais firme agora.
— Eu sei que há algo mais, Cecília. Eu não sou ingênuo. E, se você realmente não quiser falar sobre isso, eu entenderei, mas... se você me der a chance, podemos conversar sobre o que está por trás dessa fachada. Eu não sou só um colega de trabalho, lembra?
Ela sentiu uma ponta de irritação crescer em seu peito. Como ele ousava se aproximar assim? Como ele tinha a coragem de ver através dela, de penetrar em suas defesas com tanta facilidade?
— Eu não preciso disso, Eduardo. — A resposta saiu mais abrupta do que ela pretendia. Ela sentiu um calor crescente no rosto. O desconforto de estar vulnerável diante dele era algo que ela nunca imaginou que sentiria.
Um silêncio pesado pairou no ar do outro lado da linha. Cecília fechou os olhos por um segundo, tentando se acalmar, mas a sensação de ser vigiada, compreendida, estava crescendo dentro de si.
— Então, você realmente prefere continuar assim? — A pergunta dele estava cheia de uma paciência silenciosa, mas havia um fundo de cansaço em suas palavras. "Sozinha?"
Ela mordeu o lábio inferior, sentindo uma mistura de frustração e um tipo de tristeza que ela não sabia como lidar. Ela sempre preferiu a solidão, sempre acreditou que a distância era o que a protegeria. Mas, de alguma forma, Eduardo parecia querer derrubar todas as suas barreiras. E isso a assustava mais do que ela gostaria de admitir.
— Eu não estou sozinha — respondeu, quase sem pensar. "Eu escolhi isso."
Eduardo, por algum motivo, não parecia surpreso. Ele já sabia disso. Mas ao ouvir a forma como ela se defendeu, ele percebeu que havia algo muito mais profundo naquelas palavras.
— Não é o que parece, Cecília. Você está se escondendo. E, por mais que você tente manter a distância, eu sinto que está prestes a quebrar.
Ela sentiu uma onda de emoções tumultuadas invadir seu peito, mas manteve sua postura. Não iria ceder. Não com ele.
— Eu não sei o que você está vendo, Eduardo, mas você está errado. Eu não estou quebrando, só estou... — Ela fez uma pausa, as palavras escapando de sua boca sem ela realmente querer dizê-las. "Eu estou protegendo a única coisa que me resta."
Eduardo percebeu o quão profundo aquilo ia. Ela não estava apenas se referindo a seu trabalho, nem à sua fachada profissional. Ela estava falando de algo muito mais pessoal, muito mais íntimo. Ela estava se protegendo de algo ou alguém, mas não de forma aberta. Era como uma armadura invisível que ela havia construído com anos de esforço, e ele podia ver que ela estava com medo de deixá-la cair.
— O que você está tentando proteger, Cecília? — perguntou ele, com um tom mais suave, tentando alcançar a raiz daquele medo que ela estava guardando.
Ela permaneceu em silêncio, o coração acelerado. O que ela estava realmente tentando proteger? Era um segredo que ela jamais se permitiria revelar. Não com ele. Não agora.
— Eu não preciso disso, Eduardo. Eu estou bem, sozinha.
Havia algo na forma como ela se fechava que fazia Eduardo querer insistir. Mas ele sabia que empurrar demais a faria se afastar ainda mais.
— Tudo bem — disse ele, sua voz agora mais suave, compreensiva. "Eu só quero que saiba que, se precisar, estarei aqui. Não importa o que você decida."
A frase ficou no ar, carregada de algo que ela não conseguia definir. Ela queria desligar, queria se afastar de novo. Mas, no fundo, algo dentro dela estava se mexendo.
— Obrigada — disse Cecília, quase em um suspiro, antes de encerrar a ligação.
Ela se recostou na cadeira, exausta de um cansaço que não vinha de seu trabalho. Não sabia o que fazer com aquilo que sentia, o que Eduardo havia feito despertar. Mas ela sabia de uma coisa: não poderia continuar correndo por muito mais tempo.
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Atualizado até capítulo 27
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