Capítulo 18 - Conexões e Rupturas

Os dias que se seguiram ao rompimento de Samuel com Geovana foram tensos, mas marcados por pequenos avanços. Na mansão, Sara sentia um alívio crescente, embora soubesse que ainda era cedo para confiar completamente. Ela não era ingênua; sabia que o comportamento de Samuel poderia voltar a mudar. Mas, por enquanto, escolheria se concentrar no presente.

Uma manhã ensolarada trouxe consigo uma oportunidade de sair da rotina. Samuel sugeriu que fossem juntos a um evento beneficente promovido pelo banco. O objetivo era arrecadar fundos para programas de acessibilidade na cidade de Villagio Sereno, algo que imediatamente chamou a atenção de Sara.

— Um evento sobre acessibilidade? Isso é novidade para você — comentou ela, enquanto ajustava os punhos de sua blusa na cadeira de rodas.

Samuel deu um sorriso enigmático.

— Talvez eu esteja aprendendo a prestar atenção em coisas que antes ignorava.

Sara não pôde evitar um pequeno sorriso diante da resposta.

O evento aconteceu em um grande salão no centro da cidade. Sara estava acostumada a receber olhares em lugares públicos, mas ali, sentiu algo diferente. Era como se a atmosfera estivesse impregnada de curiosidade, mas também de respeito. Ela sabia que a presença de Samuel ao seu lado contribuía para isso.

Durante o discurso de abertura, Samuel surpreendeu Sara ao subir ao palco e fazer um pronunciamento.

— A acessibilidade não é um luxo; é um direito — começou ele, olhando para a plateia. — Todos aqui sabem que sou um homem de negócios, acostumado a lidar com números e estratégias. Mas, recentemente, tenho aprendido que há coisas muito mais importantes do que gráficos e planilhas.

Ele fez uma pausa, deixando as palavras ecoarem pela sala.

— Quero agradecer à minha esposa, Sara, que me ensinou a importância de enxergar além das aparências e desafios. Ela é a razão de estarmos aqui hoje.

Sara sentiu os olhos marejarem enquanto a plateia aplaudia. Era a primeira vez que Samuel a reconhecia publicamente de forma tão genuína.

Depois do evento, Samuel e Sara ficaram para conversar com alguns dos organizadores. Em um momento de distração, Sara foi abordada por uma mulher mais velha, de sorriso caloroso.

— Você deve ser Sara Miller, ou melhor, Sara De Luca agora.

— Sou, sim — respondeu Sara, com um sorriso educado.

— Preciso dizer que fiquei impressionada com o discurso de Samuel. Ele nunca foi tão... humano, por assim dizer.

Sara riu suavemente.

— Ele está mudando. Acho que todos somos capazes de mudar, se quisermos.

A mulher assentiu, parecendo considerar suas palavras.

— Espero que ele saiba o quão sortudo é por tê-la ao lado dele.

Antes que Sara pudesse responder, Samuel se aproximou, tocando levemente o ombro de Sara.

— Tudo bem por aqui? — perguntou ele, lançando um olhar amistoso para a mulher.

— Tudo ótimo. Estávamos apenas elogiando seu discurso, Samuel — disse a mulher, antes de se despedir e deixá-los a sós.

— Você realmente me elogiou? — perguntou Sara, brincando.

Samuel sorriu, genuinamente divertido.

— Eu só disse a verdade.

Na volta para casa, o carro estava tranquilo, mas Sara não pôde evitar pensar em como aquele dia parecia um marco.

— Samuel — começou ela, quebrando o silêncio. — Por que decidiu organizar algo sobre acessibilidade?

Ele ficou em silêncio por um momento, olhando pela janela antes de responder.

— Porque eu quero que você saiba que estou tentando, Sara. Quero que você veja que estou levando a sério o que dissemos naquela noite.

Sara o observou, tentando medir a sinceridade em suas palavras.

— Você está mudando — disse ela, por fim.

Ele virou-se para ela, seus olhos encontrando os dela.

— Talvez seja porque você está me mudando.

Sara não soube o que responder. Pela primeira vez, não sentiu que as palavras dele eram vazias. Havia algo real ali, algo que ela não podia ignorar.

Enquanto o carro seguia pelas ruas tranquilas de Villagio Sereno, Sara permitiu-se acreditar que, talvez, o amor pudesse realmente surgir das cinzas de tudo o que haviam enfrentado.

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