Capítulo 16 - Força em Movimento

Na manhã seguinte, Sara acordou com uma nova energia. A experiência do dia anterior, visitando a fazenda e trabalhando ao lado de Samuel, havia despertado nela um senso de propósito que não sentia há muito tempo. No entanto, a realidade de sua condição física logo a lembrou que cada movimento, cada decisão simples, exigia um esforço a mais.

A rotina de preparar-se sozinha era algo que ela fazia questão de manter, mesmo diante das dificuldades. Movendo-se da cama para a cadeira de rodas com habilidade, Sara sentiu um orgulho silencioso. Por mais que o mundo tentasse tratá-la como frágil, ela sabia que havia uma força imensa dentro dela.

Durante o café da manhã, Samuel mencionou que passaria o dia no banco e perguntou se Sara gostaria de acompanhá-lo.

— No banco? — perguntou ela, surpresa.

— Sim. Se você quiser, claro. Sei que talvez não seja muito interessante, mas... depois de ontem, acho que sua perspectiva pode ser útil.

Sara ficou tentada a recusar. Apesar da melhora recente no relacionamento deles, a ideia de estar em um ambiente cheio de pessoas desconhecidas — todas provavelmente julgando a esposa cadeirante do poderoso Samuel De Luca — era intimidadora. Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que essa era uma oportunidade de mostrar ainda mais sua capacidade.

— Eu vou — disse ela, com firmeza.

O banco De Luca era imponente. O edifício, localizado no centro de Villagio Sereno, tinha uma fachada moderna de vidro que refletia o céu azul. Dentro, o saguão era amplo e movimentado, com executivos de terno circulando de um lado para o outro.

Ao entrar, Sara sentiu os olhares curiosos de algumas pessoas. Sabia que estar ali, ao lado de Samuel, chamava atenção. Mas ela ergueu a cabeça e seguiu em frente, mantendo a postura firme.

No elevador, Samuel olhou para ela, percebendo seu desconforto.

— Se isso for demais, podemos sair a qualquer momento — disse ele, em um raro tom de preocupação.

— Estou bem — respondeu Sara, tentando soar mais confiante do que se sentia.

No andar executivo, Samuel apresentou Sara a alguns de seus colaboradores mais próximos. A reação inicial deles foi de surpresa, mas logo se transformou em cordialidade. Samuel parecia fazer questão de incluí-la nas conversas, algo que Sara notou com um misto de gratidão e estranhamento.

Mais tarde, em uma reunião com os diretores, Sara ficou ao lado de Samuel enquanto ele revisava os relatórios financeiros. Em determinado momento, ela percebeu algo que os outros pareciam ignorar.

— Desculpe interromper, mas notei que esses dados estão inconsistentes com os relatórios das fazendas — disse Sara, apontando para uma planilha na mesa.

Os diretores a olharam, surpresos com sua intervenção. Samuel seguiu o olhar dela e, depois de alguns segundos, assentiu.

— Ela tem razão. Precisamos revisar esses números.

Sara sentiu uma onda de satisfação ao ver que sua observação fora valorizada.

Ao final do dia, enquanto voltavam para casa, Samuel parecia reflexivo.

— Você foi incrível hoje — disse ele, quebrando o silêncio.

— Eu só fiz o que achei certo — respondeu ela, com um sorriso tímido.

— Não, você fez mais do que isso. Você mostrou que tem uma visão que eu não esperava.

Sara riu suavemente.

— Isso é um elogio?

— É — respondeu ele, olhando diretamente para ela. — E eu não faço muitos elogios, então aproveite.

Os dois riram juntos, e pela primeira vez, o silêncio que se seguiu não foi desconfortável.

Mais tarde, na mansão, Sara refletiu sobre o dia enquanto se preparava para dormir. Embora sua cadeira de rodas fosse uma constante lembrança de suas limitações, ela sabia que suas contribuições iam muito além de qualquer obstáculo físico.

Samuel estava começando a enxergar isso também, e, no fundo, ela sentia que algo dentro dele estava mudando. Talvez, apenas talvez, eles estivessem caminhando para um lugar onde não apenas sobreviveriam, mas prosperariam juntos.

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