Capítulo 5 - Noites Frias e Promessas Quebradas

A recepção do casamento foi um espetáculo planejado para impressionar, mas para os recém-casados, parecia um teatro forçado. O salão principal do hotel mais luxuoso de Elmwood Heights estava decorado com candelabros de cristal, mesas cobertas por toalhas de cetim e arranjos de flores que exalavam um perfume doce demais. Convidados conversavam animadamente, brindavam e dançavam ao som de uma banda ao vivo, mas Samuel e Sara estavam presos em uma bolha de desconforto.

Sentados à mesa principal, Samuel manteve-se frio e distante, respondendo a perguntas apenas quando necessário e evitando qualquer contato visual com Sara. Ela, por sua vez, esforçava-se para manter a compostura, tentando ignorar os olhares curiosos e os comentários sussurrados sobre sua presença.

— Parece que você não herdou o charme da sua irmã — disse Samuel baixinho, inclinando-se ligeiramente em direção a Sara.

As palavras cortaram como uma lâmina. Sara olhou para ele, surpresa pela crueldade repentina.

— E você parece não ter herdado nada além de arrogância — respondeu ela, mantendo o tom baixo, mas firme.

Samuel arqueou uma sobrancelha, surpreso pela resposta. Ele não esperava que Sara reagisse, muito menos de forma tão direta. Sem dizer mais nada, ele se afastou, erguendo uma taça de champanhe para brindar com um dos convidados.

Mais tarde naquela noite, o silêncio pairava no quarto do casal. O hotel havia reservado a suíte mais luxuosa, com paredes decoradas em tons de dourado e creme, uma cama king-size coberta por lençóis de seda e janelas que ofereciam uma vista deslumbrante da cidade iluminada.

Samuel estava sentado em uma poltrona próxima à janela, desabotoando os punhos de sua camisa. Sara, por outro lado, estava perto da cama, sentindo-se pequena naquele espaço enorme. O vestido de noiva, agora pesado e desconfortável, parecia um lembrete constante do papel que ela estava forçada a desempenhar.

— Não espere que isso seja algo além de um contrato — disse Samuel finalmente, quebrando o silêncio. Ele não olhou para ela enquanto falava, seu tom era direto e frio. — Estamos aqui porque sua família precisa do dinheiro e porque eu preciso de uma aparência de estabilidade. Nada mais.

Sara sentiu um nó se formar em sua garganta, mas não deixou que ele percebesse.

— Não se preocupe. Eu não esperava nada de você, Samuel — respondeu ela, com a voz mais firme do que se sentia.

Ele finalmente a olhou, avaliando-a por um momento antes de se levantar.

— Bom. É melhor que estejamos claros sobre isso.

Samuel caminhou até o banheiro, fechando a porta com um estalo. Sara soltou um suspiro pesado, sentindo as lágrimas ameaçarem escorrer. Ela não queria chorar. Não naquela noite, não diante de tudo que já havia perdido.

Com dificuldade, ela tirou o vestido de noiva e vestiu um pijama simples que havia trazido. A cama parecia convidativa, mas também assustadora. Depois de hesitar por alguns minutos, ela decidiu que dormiria no sofá próximo à janela.

Enquanto se acomodava no pequeno espaço, ouviu Samuel sair do banheiro. Ele parou no meio do quarto ao vê-la no sofá.

— A cama é grande o suficiente para nós dois — disse ele, sem emoção.

— Estou bem aqui — respondeu Sara rapidamente, virando-se para o lado e fingindo fechar os olhos.

Samuel não insistiu. Ele caminhou até a cama, deitou-se e apagou as luzes.

No escuro, Sara sentiu a solidão se aprofundar. Ela sabia que os próximos dias não seriam fáceis, mas nunca imaginou que o peso daquele casamento começaria a esmagá-la tão rapidamente.

Na cama, Samuel encarava o teto, ouvindo a respiração suave de Sara. Apesar de sua frieza, ele não pôde deixar de pensar na força que ela demonstrou naquela noite. Havia algo nela que o intrigava, algo que ele não estava pronto para admitir nem para si mesmo.

E assim, a primeira noite do casamento terminou com ambos presos em um silêncio carregado de emoções não ditas, como duas almas solitárias em mundos completamente diferentes.

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