Capítulo 3 - A Fuga e o Peso do Destino

A madrugada em Elmwood Heights era silenciosa, interrompida apenas pelo som ocasional de um carro ao longe. Dentro da mansão Miller, as luzes estavam apagadas, e o silêncio parecia engolir cada canto da casa. Mas no quarto de Ariel, o caos estava prestes a começar.

Ariel terminava de colocar suas últimas roupas em uma pequena mala, movendo-se rapidamente, como se estivesse em uma corrida contra o tempo. Vestia jeans e uma blusa simples, algo bem diferente dos vestidos luxuosos que costumava usar. Miguel a esperava do lado de fora, com o carro estacionado na rua para evitar suspeitas.

Ela olhou ao redor do quarto uma última vez, absorvendo os detalhes que não veria mais: a penteadeira cheia de maquiagens, as fotos com amigos de festas grandiosas, o espelho emoldurado em dourado onde ela passava horas se admirando. Tudo aquilo pertencia a uma vida que ela estava prestes a abandonar.

De repente, uma batida leve na porta a fez congelar.

— Ariel, sou eu — sussurrou Sara do outro lado.

Ariel abriu a porta rapidamente, puxando Sara para dentro.

— Está tudo pronto? — perguntou Sara, mantendo o tom baixo.

— Sim. Miguel já está lá fora. Você distraiu os nossos pais?

Sara assentiu.

— Eles estão na sala de estar, discutindo com os advogados. Não vão perceber nada por um tempo, mas você precisa ser rápida.

Ariel sorriu e abraçou Sara inesperadamente.

— Obrigada. Eu sei que isso não é fácil para você.

Sara sentiu o abraço da irmã, mas não conseguiu retribuir completamente. Sua mente estava uma tempestade de pensamentos conflitantes. Ela queria que Ariel fosse feliz, mas a fuga só deixaria um rastro de destruição.

— Só vá, Ariel — disse Sara, soltando-se do abraço.

Ariel pegou a mala e caminhou até a porta. Antes de sair, virou-se para Sara.

— Um dia você vai entender.

E então ela se foi, desaparecendo no corredor escuro. Sara ouviu os passos de Ariel descendo as escadas e a porta da frente se abrir e fechar suavemente. Depois disso, o som de um carro ligando e se afastando quebrou o silêncio da noite.

Sozinha no quarto da irmã, Sara olhou ao redor. Sabia que quando seus pais descobrissem o que havia acontecido, a fúria deles não teria limites. E, como sempre, ela estaria ali, no meio do fogo cruzado.

Horas depois, o amanhecer trouxe a revelação inevitável. O grito de Clara ecoou pela casa assim que descobriu o bilhete deixado por Ariel em sua mesa de cabeceira. Richard correu para o quarto, encontrando a esposa aos prantos, segurando o papel como se fosse um pedaço de vidro quebrado.

— Ela se foi! — gritou Clara, balançando o bilhete para Richard. — Ela fugiu!

— Fugiu? Fugiu para onde? — Richard arrancou o bilhete das mãos da esposa e leu rapidamente. A expressão em seu rosto mudou de perplexidade para raiva.

Sara estava no corredor, observando tudo à distância. Sabia que precisava descer e enfrentar a tempestade, mas cada fibra do seu ser queria permanecer escondida. No entanto, não tinha escolha.

Quando entrou na sala, os olhos de seus pais recaíram sobre ela imediatamente.

— Você sabia disso? — perguntou Richard, sua voz como um trovão.

Sara hesitou por um segundo, mas não adiantava mentir.

— Sim.

A confissão caiu como uma bomba. Clara avançou na direção de Sara, o rosto vermelho de raiva.

— Como você pôde fazer isso? Você ajudou sua irmã a destruir tudo!

— Não foi assim — tentou explicar Sara, mantendo a voz calma apesar do nervosismo. — Ariel tomou a decisão sozinha. Nada do que eu dissesse a faria mudar de ideia.

— Você deveria ter nos contado! — gritou Clara. — Deveria ter nos impedido!

Richard respirou fundo, tentando se controlar.

— Isso não importa agora — disse ele, mais para si mesmo do que para as outras. — Precisamos agir. O casamento estava marcado para amanhã.

Clara olhou para o marido, incrédula.

— O que vamos dizer a Samuel?

Richard fechou os olhos por um momento, como se estivesse considerando todas as opções. Então, virou-se para Sara.

— Sara vai se casar com ele.

Aquelas palavras fizeram o coração de Sara parar por um segundo.

— O quê? — Sua voz saiu mais alta do que ela pretendia.

— Não temos outra escolha — respondeu Richard, com firmeza. — Samuel quer uma noiva Miller. Não podemos correr o risco de perder esse acordo. Você vai assumir o lugar de Ariel.

Sara olhou para os pais, incapaz de acreditar no que estava ouvindo.

— Eu... não posso fazer isso. Ele não quer se casar comigo. Ele nem me conhece!

— Ele não precisa conhecer você. Ele só precisa da aparência de um casamento perfeito — retrucou Clara. — E você vai fazer isso pela sua família.

Sara queria gritar, queria fugir como Ariel havia feito, mas sabia que isso era impossível. Ariel sempre tivera a liberdade de fazer o que queria. Sara, por outro lado, estava presa, tanto fisicamente quanto emocionalmente.

Enquanto os pais continuavam a discutir os detalhes como se ela não estivesse ali, Sara sentiu uma onda de desespero tomar conta de si. Seu destino estava sendo decidido por eles, sem que ela tivesse qualquer voz.

E pela primeira vez, ela se perguntou se algum dia teria a chance de viver sua própria vida.

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