Os dias após a visita de Ariel trouxeram uma sensação de conforto a Sara, mesmo que temporária. Conversar com sua irmã havia reacendido algo dentro dela: um lembrete de quem ela era antes de estar presa em um casamento frio e calculado.
Naquela manhã, Sara decidiu revisitar o jardim para continuar seu trabalho na estufa. Enquanto manobrava sua cadeira pelo caminho de pedras, notou Samuel sentado em um banco, ao lado de uma fonte. Ele segurava o telefone, mas parecia perdido em pensamentos, os olhos fixos na água que escorria.
Por um momento, Sara considerou ignorá-lo e seguir para a estufa. No entanto, algo em sua postura chamou sua atenção. Samuel parecia... vulnerável. Era uma visão incomum para um homem que sempre se apresentava como inabalável.
Respirando fundo, ela se aproximou.
— Posso me sentar? — perguntou, apontando para o espaço ao lado dele.
Samuel ergueu os olhos, surpreso por vê-la ali. Ele hesitou, mas assentiu, indicando o banco com um movimento sutil da cabeça.
Sara posicionou sua cadeira ao lado do banco e esperou que ele quebrasse o silêncio. Quando não o fez, ela decidiu tomar a iniciativa.
— Parece que você tem algo em mente.
Ele soltou um suspiro, passando a mão pelos cabelos.
— Sempre há algo. Trabalho, decisões, expectativas... você sabe como é.
Ela soltou uma risada curta, mas sem humor.
— Sei como é ter expectativas que nunca consigo atender.
Samuel virou a cabeça para encará-la, intrigado.
— Você acha que não atende expectativas?
— Não as da sua família. Não as da minha. Nem mesmo as suas, pelo visto.
Houve um silêncio pesado entre eles. Samuel olhou para as mãos, os dedos apertando levemente o celular.
— Nunca foi sobre atender expectativas para mim, Sara. Pelo menos, não as suas.
Ela o encarou, surpresa com a confissão.
— Então, o que é? Por que você é tão distante?
Samuel parecia lutar consigo mesmo, como se escolher as palavras certas fosse um desafio.
— Porque é mais fácil. Manter distância significa que nada pode me afetar.
— Nada, ou ninguém? — provocou ela.
Ele ficou em silêncio, sua expressão endurecendo levemente.
— Ambos.
Mais tarde, Sara voltou para o interior da mansão, determinada a não deixar a conversa morrer ali. Algo em Samuel havia se aberto, ainda que de forma mínima, e ela sentia que podia aproveitar isso para entender mais sobre ele.
Na biblioteca, encontrou Dona Helena ajustando os livros nas prateleiras.
— Dona Helena, posso perguntar algo? — começou Sara.
— Claro, senhora De Luca.
— Samuel sempre foi assim? Distante, frio?
A governanta hesitou, como se ponderasse o que poderia dizer.
— O senhor De Luca não é um homem fácil, mas... ele também carrega muito. Perdeu a mãe jovem, e o pai era um homem duro. Cresceu acreditando que sentimentos eram fraquezas.
Sara sentiu um aperto no peito ao ouvir isso.
— Ele nunca tentou mudar?
— Não sei dizer, senhora. Talvez esteja esperando por alguém que o desafie.
À noite, Sara se encontrou pensando sobre o que havia descoberto. Samuel era um homem quebrado, escondido atrás de uma fachada de força. E, de certa forma, ela se via nele: duas pessoas tentando sobreviver em um mundo que exigia mais do que podiam oferecer.
Enquanto ela se ajeitava na cama, ouviu passos no corredor. Samuel passou, mas, para sua surpresa, parou diante da porta do quarto dela.
— Boa noite, Sara — disse ele, sua voz baixa, antes de seguir para o próprio quarto.
Era um gesto pequeno, quase insignificante, mas para Sara, era um passo. Talvez não fosse suficiente para mudar tudo, mas era um começo.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Sil Fernandes
Tá demorando ele ser mais humano com ela.
2025-02-05
0
Dayse De Assis
Hum...pelo menos a educação ele teve... pouco a pouco ele vai amolecer 🙏
2025-02-02
2