Capítulo 9 - O Jogo Começa

O salão principal do Banco De Luca era o cenário perfeito para o evento da noite: um coquetel luxuoso destinado a angariar investidores e reforçar a imagem de solidez da instituição. Lustres de cristal iluminavam o ambiente, refletindo nas paredes de mármore branco, enquanto homens de ternos impecáveis e mulheres em vestidos deslumbrantes conversavam em pequenos grupos.

No evento do Banco De Luca, Sara sabia que seria observada de forma diferente. Não era apenas "a nova esposa de Samuel", mas também uma mulher que desafiava as expectativas apenas por estar ali, em sua cadeira de rodas, mantendo a cabeça erguida. Sentindo todos os olhares voltados para eles. Vestia um vestido longo de seda azul-marinho, simples, mas elegante, que realçava sua figura delicada. O cabelo estava preso em um coque baixo, e um par de brincos discretos adornava suas orelhas.

Apesar da sua aparência impecável, ela se sentia como uma intrusa. O braço de Samuel estava ao alcance, mas ele mantinha uma distância formal, sem nenhum gesto que sugerisse proximidade.

— Lembre-se — disse ele em voz baixa, inclinando-se para ela quando se aproximaram dos primeiros convidados. — Você está aqui para parecer confiante e encantadora. Não diga nada que possa causar problemas.

Sara lançou lhe um olhar afiado, mas se conteve.

— Não se preocupe, Samuel. Não vou envergonhá-lo.

Ele não respondeu, apenas sorriu de forma calculada ao ser cumprimentado por um grupo de banqueiros importantes. Sara permaneceu próxima dele , acenando educadamente, ouvindo a conversa com atenção, mas sem se envolver.

Conforme a noite avançava, Sara começou a relaxar. Embora estivesse fora de sua zona de conforto, ela sabia como usar sua inteligência e graça para se misturar. A esposa do presidente de um dos bancos parceiros a abordou, e as duas logo começaram a conversar.

— Então, você é Sara Miller, a nova senhora De Luca? — perguntou a mulher, avaliando-a dos pés à cabeça.

— Sim, sou eu — respondeu Sara com um sorriso calmo. — E você é...?

— Maria Clemente. Meu marido trabalha com Samuel há anos. Você parece muito jovem para este mundo — comentou Maria com um tom levemente condescendente.

— Jovem, talvez, mas aprendo rápido — respondeu Sara, sem perder o sorriso.

Maria pareceu surpresa pela resposta afiada, mas antes que pudesse dizer algo, Geovana Rossi apareceu.

Vestindo um vestido vermelho que abraçava seu corpo perfeitamente, Geovana era um contraste gritante com a elegância discreta de Sara. Ela se aproximou como quem não tinha pressa, com um sorriso que transbordava autoconfiança.

— Que surpresa vê-la aqui, Sara. Não imaginava que você fosse do tipo que gosta de eventos assim — disse Geovana, com um tom de falsa inocência.

Sara sorriu, controlando a irritação.

— Surpreendente, não é? As pessoas têm o hábito de subestimar o que não entendem.

Geovana riu suavemente, mas havia algo cortante em sua expressão.

— Talvez. Mas nem todos se adaptam a este mundo. É preciso mais do que determinação.

— Concordo — respondeu Sara, inclinando-se ligeiramente para frente. — Também é preciso coragem.

Samuel chegou a tempo de ouvir a troca de palavras e, pela primeira vez, notou a força com que Sara se defendia. Ele permaneceu em silêncio, mas não conseguiu evitar um lampejo de admiração por sua esposa, algo que ele não reconheceria nem para si mesmo.

Sara sabia que aquele evento era apenas o começo. Seria difícil, mas ela estava pronta para enfrentar cada batalha, tanto com Samuel quanto com o mundo ao seu redor.

Mais tarde, enquanto Sara observava o salão, Samuel se aproximou com um copo de vinho na mão.

— Você se saiu bem hoje — comentou ele, sem emoção.

— Isso soa quase como um elogio — respondeu ela, sem olhar para ele.

Samuel inclinou a cabeça, observando-a.

— Não banque a difícil, Sara. Você sabia no que estava se metendo.

Ela finalmente o encarou, com os olhos brilhando de indignação.

— Achei que estava me casando com um homem, não com uma estátua de gelo.

Samuel ficou surpreso pela audácia da resposta, mas antes que pudesse dizer algo, um dos investidores o chamou. Ele olhou para Sara uma última vez antes de se afastar.

Ficando sozinha novamente, Sara respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão de emoções.

Aquela noite havia lhe ensinado uma lição importante: naquele jogo de poder e aparências, ela precisaria ser tão forte quanto as pessoas que tentavam derrubá-la.

E, se Samuel achava que ela iria recuar, estava muito enganado.

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