Capítulo 4 - O Casamento Sem Amor

A manhã do casamento chegou com um peso quase insuportável. Sara estava sentada diante do enorme espelho do quarto de Ariel – agora transformado no centro de preparação para a cerimônia. Maquiadores e cabeleireiros trabalhavam rapidamente, ajustando cada detalhe como se aquele casamento fosse um conto de fadas, e não a substituição de uma noiva em fuga.

O vestido, originalmente escolhido para Ariel, era de um branco perolado com rendas finas que desciam até o chão. Ajustado às pressas para caber em Sara, o vestido parecia uma armadura, apertando sua cintura e limitando seus movimentos, tornando ainda mais evidente sua condição.

A cada toque no cabelo ou aplicação de maquiagem, Sara sentia sua respiração ficar mais curta. Ela nunca quisera aquilo. Nunca quisera se casar, especialmente com um homem que não conhecia, e que, até aquele momento, estava apaixonado por outra mulher.

— Está ficando perfeito — disse Clara, parada atrás dela, observando tudo como uma general supervisionando sua tropa.

Sara olhou para o reflexo da mãe no espelho, desejando dizer o que realmente sentia, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Em vez disso, ela apenas assentiu, mantendo a máscara de submissão que havia aprendido a usar ao longo dos anos.

Na mesma manhã, do outro lado da cidade, Samuel De Luca estava no escritório do banco, sentado em sua imensa cadeira de couro. Seus olhos estavam fixos em um documento que deveria estar lendo, mas sua mente estava longe.

— Então é isso — disse ele, em voz alta, sem se dirigir a ninguém em particular.

Geovana Rossi, sua amante e atendente de confiança, entrou na sala, carregando uma xícara de café.

— O que foi? — perguntou, colocando o café sobre a mesa e sentando-se no braço da cadeira de Samuel.

— Ariel Miller fugiu — respondeu ele, olhando para ela com uma expressão sombria.

Geovana abriu um sorriso de escárnio.

— Que surpresa. E o que os Miller fizeram?

— Substituíram a noiva. Vou me casar com a outra filha, Sara.

Geovana inclinou a cabeça, analisando Samuel com curiosidade.

— Você vai aceitar isso?

— Não é como se eu tivesse muita escolha — respondeu ele, amargo. — O dote continua o mesmo, e este casamento é mais um contrato do que qualquer outra coisa.

Geovana riu baixinho e deslizou os dedos pelo braço dele.

— Bem, pelo menos você terá a liberdade que sempre quis. Uma esposa que não será um problema...

Samuel não respondeu, mas seu olhar distante indicava que ele não via a situação como tão simples.

Horas depois, no salão principal do hotel mais luxuoso de Elmwood Heights, a cerimônia estava prestes a começar. As cadeiras estavam alinhadas perfeitamente, decoradas com fitas douradas e arranjos de flores brancas. A família Miller ocupava as primeiras fileiras, mantendo as aparências enquanto cochichos percorriam o local.

Samuel estava no altar, impecável em um terno preto, com uma expressão fria e distante. Para quem olhava de fora, ele parecia o retrato de um homem seguro, mas por dentro, ele mal conseguia conter a irritação. Sara Miller. Ele mal sabia como era o rosto dela, e agora, estava prestes a chamá-la de esposa.

A música começou a tocar, e Sara entrou no salão em sua cadeira de rodas, sendo conduzida por Richard. O silêncio tomou conta do ambiente, e todos os olhares se voltaram para ela.

Samuel ficou imóvel, encarando-a pela primeira vez. O vestido caía delicadamente sobre a cadeira, e seus cabelos estavam presos em um coque elegante, revelando um rosto que misturava fragilidade e força. Não era Ariel. Era alguém completamente diferente.

Enquanto Sara avançava lentamente pelo corredor, sentia o peso de cada olhar, de cada cochicho. Mas o que mais a incomodava era o olhar de Samuel. Não havia nada de acolhedor nele. Apenas frieza. Ela já sabia que ele não a queria ali, mas a intensidade do desprezo era ainda mais evidente do que imaginara.

Quando finalmente chegou ao altar, Richard colocou a mão no ombro de Sara, tentando transmitir algum tipo de apoio que soou vazio. Sara ergueu os olhos para Samuel, que mal conseguia disfarçar o desconforto.

O celebrante começou a cerimônia, mas as palavras pareciam borrões para Sara. Tudo aconteceu em um ritmo frenético e lento ao mesmo tempo, como se estivesse fora de seu próprio corpo. Quando chegou o momento de dizer "sim", a voz de Samuel saiu firme e cortante, sem emoção.

— Sim.

Quando chegou sua vez, Sara hesitou por um momento. Ela olhou para Samuel, que mantinha o olhar fixo em algum ponto além dela. Queria dizer não. Queria fugir como Ariel. Mas sabia que não tinha essa liberdade.

— Sim — respondeu ela, com um fio de voz.

Quando a cerimônia terminou e os dois foram declarados marido e mulher, Samuel deu o braço a Sara, mais por obrigação do que por vontade. A tensão entre eles era palpável.

Enquanto os convidados aplaudiam, Sara sentia um vazio enorme crescer dentro de si. Ela agora era uma Miller casada com um De Luca, mas não sabia se algum dia teria algo além disso.

E na mente de Samuel, uma única pergunta ecoava: Como diabos isso vai funcionar?

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