Os dias na mansão De Luca continuaram a seguir o mesmo ritmo opressivo, mas Sara percebeu pequenas mudanças. Samuel ainda era distante, mas seu comportamento parecia menos frio, menos calculado. Ele agora fazia comentários ocasionais durante o café da manhã e, por vezes, até perguntava como ela estava se sentindo. Embora fossem gestos simples, eram o suficiente para fazer Sara acreditar que algo estava mudando.
Naquela tarde, Sara decidiu explorar o escritório que havia no andar superior da mansão. Era um espaço raramente usado, mas ela ouvira Dona Helena mencionar que ali estavam guardados documentos antigos da família De Luca. Curiosa para saber mais sobre o homem com quem estava casada, ela foi até lá.
As dificuldades impostas pela falta de acessibilidade eram constantes, mas Sara se recusava a pedir ajuda. Subir as rampas improvisadas no corredor e abrir portas pesadas sozinha era um esforço físico e emocional, mas ela continuava. Entrando no escritório, encontrou uma sala ampla, com móveis de madeira escura e uma parede inteira forrada de livros e arquivos.
Enquanto explorava, encontrou uma gaveta destrancada cheia de fotografias antigas. Entre elas, viu imagens de uma mulher com cabelos escuros e um sorriso suave. Era óbvio que ela era a mãe de Samuel. Em quase todas as fotos, Samuel aparecia ao lado dela, ainda menino, com um brilho nos olhos que agora parecia perdido.
— Gostando da pesquisa? — A voz de Samuel ecoou na sala, fazendo Sara quase derrubar as fotos.
Ela virou-se rapidamente, o coração acelerado. Ele estava parado na porta, com as mãos nos bolsos e uma expressão indecifrável.
— Eu... não queria invadir sua privacidade — disse ela, colocando as fotos de volta na gaveta. — Só queria saber mais sobre você.
Samuel entrou na sala, caminhando lentamente até ela. Pegou uma das fotos que ela havia deixado na mesa e olhou para a imagem de sua mãe com um misto de saudade e tristeza.
— Ela era incrível — disse ele, sua voz quase um sussurro. — Tudo o que eu sei sobre bondade, eu aprendi com ela.
— O que aconteceu com ela? — perguntou Sara, cautelosamente.
Samuel colocou a foto de volta na gaveta, fechando-a suavemente.
— Ela morreu quando eu tinha 14 anos. Câncer. Foi rápido, mas devastador. Depois disso, meu pai... — Ele fez uma pausa, apertando a mandíbula. — Ele nunca mais foi o mesmo.
Sara sentiu um nó na garganta. Era difícil imaginar o peso que Samuel carregava, especialmente com um pai que claramente não o apoiara emocionalmente.
— Sinto muito, Samuel — disse ela, sinceramente.
Ele a olhou, seus olhos fixando-se nos dela por alguns segundos.
— Não precisa sentir. A dor me tornou quem eu sou.
— E quem você é, Samuel? — questionou Sara, ousada.
Ele hesitou, como se a pergunta o pegasse desprevenido.
— Alguém que aprendeu a sobreviver. Só isso.
— Sobreviver não é viver — retrucou ela, com suavidade.
O silêncio que se seguiu foi denso, mas não desconfortável. Samuel parecia refletir sobre as palavras dela, mas não respondeu. Ele apenas deu um passo para trás e saiu da sala, deixando Sara sozinha com os pensamentos.
Naquela noite, enquanto Sara lia um livro no quarto, ouviu a porta do quarto de Samuel se abrir e os passos dele no corredor. Ele parou por um momento diante de sua porta, como havia feito antes, mas dessa vez, não disse nada.
Ela ficou esperando, mas os passos continuaram, se afastando. Ainda assim, aquele pequeno gesto — a hesitação dele — era suficiente para Sara acreditar que, talvez, ela estivesse conseguindo atravessar as barreiras dele, pouco a pouco.
E Samuel, embora não admitisse, começava a perceber que Sara não era apenas uma esposa em um acordo. Ela era alguém que o desafiava de uma forma que ele nunca experimentara antes. E isso o assustava tanto quanto o intrigava.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Dinanci Macorin Ferreira
É Sara está lentamente, mas conseguindo ,mexer com a estrutura de Samuel.
2025-02-06
2
Sil Fernandes
👏👏👏👏
2025-02-05
0