Notas De Embriaguez

Aria

Duas latas de cerveja. Droga. Eu nunca fui boa com álcool, e isso não está sendo diferente agora. O problema é que, quando Cole me ofereceu a primeira, parecia rude recusar. A segunda? Bem, talvez tenha sido só teimosia. Agora estou sentada no sofá, tentando ignorar a leve tontura que ameaça tomar conta de mim.

O som de risadas preenche o estúdio. Felix está jogando dardos em um alvo improvisado na parede, enquanto Jasper bate as baquetas distraidamente em uma mesa, criando um ritmo que só ele entende. Harper, como sempre, está concentrada, provavelmente respondendo e-mails no celular.

Já Liam... bom, Liam está recostado na poltrona oposta à minha, uma expressão de diversão estampada no rosto enquanto me observa.

Preciso de um momento para me recompor, mas a tontura está começando a me incomodar. Respiro fundo e me inclino para Harper, que está mais perto de mim.

— Onde é o banheiro? — pergunto, minha voz saindo mais arrastada do que eu gostaria.

Antes que ela possa responder, Liam ri. É um som baixo, rouco, e irritantemente charmoso.

— Você já está bêbada? — ele pergunta, aquele sorriso de canto aparecendo nos lábios.

— Eu não estou bêbada — digo, ou pelo menos tento. As palavras saem meio emboladas, e isso só faz o sorriso dele crescer.

— Ah, claro que não — ele provoca, inclinando-se para frente como se estivesse analisando minha cara. — Você só está... o quê? Ensaiando pra algum papel de alguém que não consegue andar em linha reta?

Estreito os olhos para ele, tentando ignorar o calor subindo ao meu rosto.

— Tira esse sorriso da cara, Liam. Eu tô perfeitamente bem.

— É mesmo? Porque parece que você está brigando com a gravidade — ele dispara, e dessa vez até Felix solta uma risada do outro lado da sala.

— Cala a boca — retruco, mas minha voz não ajuda — está mole demais, quase um riso preso.

— Talvez a gente deva gravar isso. Uma cena de Aria ‘perfeitamente bem’ — diz Cole, já segurando o celular como se fosse registrar o momento.

— Vocês são ridículos — murmuro, tentando me levantar.

A tontura, no entanto, tem outros planos. Quando balanço levemente para o lado, Harper está ao meu lado em um segundo, segurando meu braço.

— Ok, chega. Vamos lá — ela diz, ignorando completamente as risadas dos rapazes enquanto me guia.

— Eu tô bem, Harper — insisto, embora meu equilíbrio esteja gritando o contrário.

— Claro que está — ela responde calmamente, mas seu tom deixa claro que não acredita em uma palavra sequer.

Enquanto ela me leva até o banheiro, ouço Cole dizer algo como:

— Harper, você é tipo a babá oficial da Aria agora? — seguido por outra risada.

— Pelo menos alguém aqui tem responsabilidade — Harper rebate sem nem se virar.

No banheiro, ela me ajuda a me apoiar na pia.

— Você precisa comer alguma coisa — diz, cruzando os braços.

Olho para meu reflexo no espelho. Meus olhos estão ligeiramente brilhantes, e há um rubor nas minhas bochechas.

— Eu tô ótima — minto.

Ela arqueia uma sobrancelha.

— Sim, está incrível. Melhor performance da noite.

Não consigo evitar um sorriso.

— Você é péssima em me fazer sentir melhor.

— E você é péssima em admitir que não tem resistência para bebida — ela retruca, mas há um toque de humor na sua voz.

Harper me observa lavar o rosto com o cuidado de quem monitora uma criança prestes a cair da bicicleta. A água fria é um alívio imediato, e por um segundo eu quase consigo ignorar a tontura.

— Melhor? — Harper pergunta, oferecendo uma toalha.

— Bem melhor — minto, enxugando o rosto.

Harper não parece convencida, mas me ajuda a sair do banheiro de qualquer forma. No corredor, sua postura rígida se suaviza um pouco.

— Vou te levar até o sofá. Você precisa de água e, se possível, um prato de comida.

— Ou só mais uma cerveja — brinco, mas ela me lança um olhar que poderia congelar o inferno.

Com sua ajuda, consigo me sentar novamente no sofá. Os caras ainda estão rindo de algo que Cole disse, provavelmente sobre mim, mas estou muito tonta para me importar. Antes que Harper possa me dizer mais alguma coisa, seu celular começa a tocar.

Ela hesita, olhando para mim.

— Você vai ficar bem?

— Sim, Harper. Vai lá, atende.

Ela franze o cenho, claramente em dúvida. Cole, sempre o engraçadinho, interrompe:

— Pode ir tranquila, Harper. Nós cuidamos bem da Aria.

Harper o olha como se ele tivesse acabado de sugerir algo obsceno.

— É disso que eu tenho medo — ela resmunga, mas eu coloco uma mão no braço dela, tentando soar convincente.

— Eu tô bem, sério. Vai lá — insisto.

Depois de mais um olhar desconfiado, Harper finalmente se afasta para atender a ligação.

O silêncio dura exatamente dois segundos antes de Cole começar:

— Então, Aria, como é se sentir o centro das atenções?

— Normal — respondo, sem pensar, mas minha voz ainda está arrastada, o que faz Felix gargalhar.

— Você é uma peça rara — diz Jasper, do outro lado da sala, enquanto batuca em uma lata vazia.

— Vocês podem parar de falar de mim? — retruco, mas o efeito é arruinado pelo fato de eu me inclinar para o lado e quase cair no sofá.

— Ok, ok, calma aí — Liam finalmente intervém, levantando-se da poltrona com uma lata de cerveja na mão. Ele se inclina sobre mim, seu rosto próximo demais, e aquele maldito sorriso ainda nos lábios. — Você tem certeza de que está bem?

— Tenho — digo, tentando soar firme, mas minha voz sai embargada.

— Claro que sim — ele murmura, a voz baixa e provocante, enquanto seus olhos percorrem meu rosto como se estivesse tentando decifrar algo.

O calor sobe ao meu rosto, e antes que eu possa me controlar, deixo escapar:

— Você tem esse sorriso irritante... e sexy demais, pra ser honesta.

O ar parece congelar na sala. Felix engasga com a cerveja, Jasper para de batucar, e Cole começa a rir tanto que quase derruba a guitarra que estava no colo.

Liam ergue uma sobrancelha, claramente se divertindo.

— Sexy demais, hein?

— Eu disse isso em voz alta? — Minha mão vai direto para minha boca, mas já é tarde demais.

— Disse — ele confirma, o sorriso de canto ainda mais largo.

— Ah, cala a boca — murmuro, afundando no sofá e cobrindo o rosto com as mãos.

Liam não cala. É claro que não.

— Eu sempre soube que você era fã do meu sorriso. Mas ouvir isso assim, publicamente... É um dia histórico.

— Você não presta — retruco, tentando ignorar o olhar que ele me lança, cheio de malícia e algo mais que não consigo identificar.

— Talvez — ele diz, se inclinando ainda mais próximo. — Mas, pelo menos, agora sei que você me acha sexy.

— Eu disse que o sorriso é sexy, não você — corrijo, ainda com a mão no rosto.

— Claro, Aria. Claro.

Os outros membros da banda parecem estar aproveitando a situação como se fosse um espetáculo de comédia, mas não consigo focar neles. Não quando Liam está tão perto, com aquele cheiro de cerveja e algo que é tão distintamente dele.

— Se você não tirar esse rosto da minha frente, eu juro que—

— O quê? — ele me corta, inclinando-se ainda mais, os olhos cravados nos meus.

— Eu... não sei. Mas vai ser algo ruim — digo, a voz saindo trêmula, mas ele apenas ri.

— Tá bem, estrela — ele diz, recuando finalmente e voltando para sua poltrona, mas não sem antes lançar mais um sorriso. — Só tenta não desmaiar antes da próxima rodada.

Enquanto os outros continuam rindo, Harper retorna com uma sacola que parece conter algo para comer nas mãos e olha ao redor, claramente tentando entender por que a sala está tão animada.

— Eu deixei você por cinco minutos — ela diz, com as mãos na cintura.

— Tempo suficiente pra ela confessar que se sente atraída por mim — Liam responde, fazendo Harper revirar os olhos e eu desejar que o chão se abrisse e me engolisse.

Preciso de outra cerveja. Ou de um buraco para me esconder. Talvez os dois

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***