Café da Manhã com um Toque de irônia

Liam

Estou na cozinha, mexendo em uma panela, enquanto o aroma de café fresco começa a preencher o ambiente. Para ser honesto, encontrar tudo o que precisava no caos organizado de Aria foi um pequeno milagre. Graças aos céus, ela pelo menos tem uma cafeteira decente e uma boa seleção de chá – algo que todo inglês respeitável admira

Já preparei torradas com manteiga e um pouco de ovos mexidos para Aria. Mesmo com todo o sarcasmo que ela lançou em cima de mim, acho que ela merece algo decente para começar o dia. Além disso, sempre é bom manter as coisas cordiais – não que eu seja exatamente um mestre em diplomacia.

Assim que estou prestes a colocar o café para coar, a campainha toca. Aposto que é Cole. Espero que ele tenha seguido minhas instruções e trazido roupas decentes, porque não vou passar mais um minuto enrolado em uma toalha.

Pego a chave pendurada no chaveiro ao lado da porta e vou até a entrada. Quando destranco e abro, os olhos de Cole se arregalam tanto que acho que ele vai engasgar com o próprio ar.

-Pelo amor de Deus, Liam!-ele exclama, com aquele sotaque galês carregado, enquanto aponta para mim.

-Se eu soubesse que era assim que você recebe as pessoas, teria trazido flores.

Reviro os olhos, ignorando o comentário.

-Cala a boca e entra logo, antes que alguém veja.

Agarro o braço dele e o puxo para dentro, fechando a porta com um clique rápido. O último problema que eu preciso agora é de um paparazzi tirando fotos minhas nesse estado.

Cole solta uma risada enquanto larga uma bolsa no chão da sala.

-Então, é assim agora? Você já tá no nível de passar a noite na casa dela? E, claramente, do jeito mais... casual possível.

Dou a ele o olhar mais entediado que consigo. -Você só pensa besteira. Nada aconteceu, e essa toalha é por pura necessidade. Então, antes que sua imaginação fique mais fértil, trouxe as roupas?

Ele balança a cabeça, ainda rindo, mas pega a bolsa e a estende para mim.

-Você tá me dizendo que dormiu aqui e nada aconteceu? É quase decepcionante, pra ser honesto.

Pego a bolsa e vou em direção ao quarto onde passei a noite, sem responder à provocação. -Fica aí, come alguma coisa, mas não encosta no café. É inglês e eu não vou deixar você estragar.

Cole levanta as mãos em um gesto de rendição teatral.

-Sim, senhor. Vou só admirar a decoração impecável.

Entro no quarto e fecho a porta, soltando um suspiro enquanto coloco a bolsa sobre a cama. Finalmente, roupas limpas. Cole, pelo menos, sabe escolher algo apresentável. Troco rapidamente, vestindo uma camiseta preta e jeans escuros. Aproveito para recolher a bagunça que fiz antes – toalha molhada no chão, lençóis bagunçados – e deixo tudo minimamente em ordem.

Quando volto para a cozinha, encontro Cole de pé, examinando a cafeteira com um ar curioso.

-Devo dizer- ele começa, apontando para a bancada,

-Essa cafeteira é um sinal de que ela sabe viver bem. Mas, sério, você cozinhando? Isso é novo.

-Nem comece- retruco, voltando para o fogão. -Só estou sendo educado. Diferente de você, eu sei como fazer algo além de fritar ovos.

Ele ri, cruzando os braços e se apoiando na parede.

-Então, como foi passar a noite aqui? Aposto que ela deve ter te adorado.

-Ela quase me matou quando me viu de toalha hoje de manhã- respondo, sem me virar.

-Acho que ‘adorar’ não é exatamente a palavra certa.

-Pelo menos ela não te expulsou- ele diz, e sua voz está carregada de diversão.

-Ainda há esperança.

Reviro os olhos mais uma vez, mas não consigo evitar um sorriso. Isso é típico de Cole – transformar qualquer situação em uma piada. Coloco uma caneca de café em suas mãos e pego outra

-Agora cala a boca e bebe. Você ainda tem que me aturar no ensaio mais tarde.

-Ah, mal posso esperar- ele diz, erguendo a caneca em um brinde sarcástico antes de dar um gole.

Dou uma última risada curta enquanto Cole devora sua torrada, claramente satisfeito com o café que preparei. Por mais que ele goste de zoar, sei que ele não resistiria a uma refeição decente. Coloco mais uma fatia de torrada no prato e arrumo a bandeja com um cuidado que certamente ninguém esperaria de mim. Um prato com ovos mexidos, uma torrada bem dourada e uma caneca de café forte – tudo pronto. Não é nada gourmet, mas funciona.

Com a bandeja em mãos, subo as escadas e paro em frente à porta do quarto de Aria. Dou três batidas leves, sem pressa.

-Aria?- chamo, inclinando a cabeça para escutar.

Ouço um suspiro pesado do outro lado.

-Entre.

Giro a maçaneta e entro, encontrando Aria sentada na cama, com o cabelo bagunçado e o celular na mão. Quando me vê, seus olhos rapidamente fazem um inventário de mim, e ela suspira de alívio.

-Pelo menos agora você está vestido.

Não consigo evitar o sorriso que surge no meu rosto.

Coloco a bandeja na mesinha ao lado dela. -Achei que você fosse precisar de algo para comer. E, antes que reclame, o café é decente. Pode confiar.

Ela olha para a bandeja e depois para mim, como se estivesse tentando decidir se aceita a gentileza ou não. Acaba soltando um murmúrio de agradecimento, que soa quase relutante. Isso me faz rir baixinho.

-Relaxa, não é um favor- digo, afastando-me um pouco e cruzando os braços.

-Considero isso parte da compensação por ter que lidar comigo hoje.

Ela me lança um olhar que beira o ceticismo, mas pega a caneca e dá um gole. Vejo os ombros dela relaxarem um pouco, o que considero um pequeno triunfo.

-Aproveita- digo, já me virando para sair.

'Eu vou tomar café com o Cole e sair daqui. A propósito...- Faço uma pausa, apoiando a mão no batente da porta.

- Você ainda me deve uma resposta sobre a proposta.

Ela levanta o olhar, estreitando os olhos.

-Você sabe que eu ainda estou pensando.

-Ótimo- respondo, dando um sorriso de canto. -Vou dar mais alguns dias. Mas não se empolgue – paciência nunca foi meu ponto forte”

Sei que minha voz soa ligeiramente provocativa, mas não consigo evitar. Ela revira os olhos, como já era esperado, e murmura algo que não consigo ouvir direito. Dou de ombros e, sem dizer mais nada, fecho a porta atrás de mim, deixando-a sozinha com o café e seus pensamentos.

Enquanto desço as escadas, escuto Cole falando algo sobre como o cheiro de café é a única razão para ele me suportar.

Ele está sentado na mesa, mastigando outra fatia de torrada como se tivesse todo o tempo do mundo. Quando me sento à mesa, ele me lança um olhar desconfiado, mas com um sorriso de canto. Sei exatamente o que está por vir.

-Ok, agora me conta, o que está acontecendo de verdade?- ele pergunta, inclinando-se ligeiramente sobre a mesa, como se estivesse tentando desvendar um mistério.

-Desde quando você leva café na cama pra alguém? E ainda por cima pra uma mulher que acabou de conhecer?

Dou um gole no meu café, saboreando o amargor antes de responder.

-Desde nunca. Isso é uma situação atípica, cara.-

Ele arqueia uma sobrancelha, claramente não satisfeito com minha resposta vaga.

-Você já conhecia essa tal Aria e escondeu isso da gente, não é? Vai lá, confessa.

Suspiro e coloco a caneca na mesa com mais força do que o necessário. Cole nunca sabe a hora de parar, mas talvez seja melhor esclarecer antes que ele crie teorias ainda mais absurdas. -Nunca tinha visto Aria pessoalmente antes de ontem à noite. Aconteceu de eu topar com ela no parque. A história é longa, mas, resumindo, ela achou que eu era algum tipo de maníaco.

Ele para de mastigar, franzindo a testa. -Maníaco? Tá, agora você conseguiu minha atenção.

-Sim, maníaco- repito, minha voz carregada de ironia.

-Ela tentou fugir, tropeçou e torceu o pé. Eu tive que levá-la ao hospital. Acabou com o pé enfaixado e, como não conseguiu chamar ninguém pra ficar com ela à noite, eu... bom, dormi aqui.

Cole fica em silêncio por um momento, processando tudo, e depois começa a rir, alto e sem parar.

-Então você virou babá da Aria? Isso é ouro puro. Mas ainda não explica...- Ele aponta para mim, segurando o riso.

-Você andando só de toalha pela casa dela. O que diabos é isso, Liam?

-Eu tomei banho, obviamente- respondo, sem paciência.

-E não ia colocar as roupas sujas que usei ontem. Nem morto. Isso é nojento.

Ele ri ainda mais alto, batendo na mesa.

-Cara, isso é tão você. Preocupado com higiene no meio de uma situação completamente ridícula.

Reviro os olhos, mas não consigo segurar um sorriso. Ele tem razão. A cena toda é ridícula, mas não tenho tempo nem energia pra me importar.

-Olha, só preciso sobreviver até Harper chegar pra ficar com ela. Depois disso, vou pro ensaio e finjo que essa noite nunca aconteceu.

-Boa sorte com isso- ele diz, ainda rindo, enquanto pega outra fatia de torrada.

-Mas, sério, quero ver como você vai explicar isso pro resto da banda. Eu já estou me divertindo só de imaginar.

Dou outro gole no café, ignorando a provocação. No fundo, sei que ele vai contar pra todo mundo assim que tiver a chance, mas por enquanto, estou mais preocupado em terminar meu café e cair fora antes que as coisas fiquem ainda mais complicadas.

Cole ainda está mastigando quando lança outra pergunta, porque é claro que ele não vai me deixar em paz.

-Então, você aproveitou pra perguntar à Aria se ela aceita sua brilhante proposta de namoro falso?

Reviro os olhos, cansado da insistência.

- Ela disse que está pensando.

Cole solta uma risada curta e zombeteira, como se isso fosse a coisa mais absurda que já ouviu.

- Pensando? A coitada tem que pensar mesmo. Afinal, você é maluco. Qualquer um hesitaria antes de se meter numa dessas com você.

Não consigo evitar o sorriso cínico que se forma no meu rosto.

-Muito engraçado, Blackburn. Agora, será que dá pra terminar de comer e me deixar em paz por dois segundos?

Ele ergue a caneca de café num gesto dramático, como se estivesse fazendo um brinde.

-Como quiser, chefe.

Termino meu café em silêncio, ignorando os olhares ocasionais que Cole lança na minha direção, claramente tentando provocar mais uma vez. É nesse momento que a campainha toca, cortando a tensão com um som estridente.

Provavelmente Harper. Finalmente. Levanto-me, colocando a caneca na pia, enquanto Cole murmura algo sobre não ter tempo de lavar as louças.

- Anda logo- digo, já caminhando para a porta. -Harper chegou, e a gente precisa ir pro ensaio.

Destranco a porta e a abro para encontrar Harper, exatamente como imaginei. Ela está impecável, como se tivesse acabado de sair de uma sessão de fotos para uma revista de negócios. O cabelo perfeitamente alinhado, um sorriso polido no rosto, e uma postura que grita confiança.

-Sr. Ashford- ela diz com um leve sotaque londrino, inclinando a cabeça em um cumprimento.

-Obrigada por cuidar da Aria.

Dou um sorriso rápido, sentindo a urgência de sair dali.

-Foi... interessante, pra dizer o mínimo- respondo, mais sarcástico do que deveria.

Antes que eu possa continuar, Harper olha por cima do meu ombro. Instintivamente, viro-me e vejo Cole parado logo atrás de mim, claramente sem pressa, segurando a alça de sua mochila com um sorriso casual nos lábios.

Os olhos de Harper encontram os de Cole, e por um momento, a atmosfera parece mudar. Não é nada escandaloso, mas algo no olhar dela suaviza, como se estivesse avaliando-o com mais atenção. Cole, por sua vez, ergue as sobrancelhas, surpreso, mas logo seu sorriso se torna mais... interessado.

-Você deve ser a Assessora de Aria-ele diz, estendendo a mão com um gesto descontraído, mas ainda educado.

-Cole Blackburn, guitarrista da banda

-Sim sou eu -ela responde, apertando a mão dele. Seu tom ainda é formal, mas há um brilho curioso nos olhos dela

Cole segura o aperto por um segundo a mais do que o necessário, como se quisesse registrar a impressão dela.

-Prazer em conhecê-la.

-Digo o mesmo- Harper responde, a voz ainda controlada, mas com um tom quase imperceptível de algo a mais.

Sinto um suspiro escapar antes que perceba. É só o que me faltava.

-Ok, vocês dois, se quiserem trocar cartões de visita ou seja lá o que for, podem fazer isso depois. Temos um ensaio pra ir.

Harper sorri de lado, um daqueles sorrisos que dizem que ela está sempre um passo à frente. -Não vou tomar mais o tempo de vocês. Aria está descansando, então agradeço por tudo, Sr. Ashford.

-Liam, pode me chamar só de Liam-corrijo automaticamente.

-Liam- ela repete, ainda com aquele tom profissional, antes de olhar novamente para Cole, que devolve o olhar com o mesmo sorriso descontraído de sempre.

Reviro os olhos enquanto fecho a porta atrás de mim. Se depender de Cole, ele vai encontrar um jeito de fazer essa interação parecer mais significativa do que realmente foi. Mas agora, só quero terminar o dia e sair dessa confusão.

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