Liam
Sentado na cama de Aria, eu olho ao redor do quarto enquanto o som da água correndo no banheiro preenche o silêncio. É estranho estar aqui, no espaço pessoal dela. Não sei por que, mas há algo interessante em como ela tenta me afastar a cada chance que tem. Talvez seja isso que me faz querer ficar por perto – só para ver até onde ela vai.
Também não ajuda o fato de que, quanto mais ela tenta me tirar do sério, mais eu me divirto. Aria tem essa intensidade que é quase impossível ignorar. E, honestamente, é engraçado demais vê-la explodir com cada provocação minha. Se bem que, considerando o que aconteceu hoje, as chances dela aceitar aquela proposta maluca do namoro falso estão praticamente zeradas.
Suspiro, pego meu celular no bolso e desbloqueio a tela. Algumas mensagens chegaram enquanto eu estava ocupado bancando o cavaleiro em armadura branca . Uma delas é de Cole:
"Onde você tá? Não chegou até agora."
Ah, claro. Cole provavelmente achou que eu estava metido em alguma encrenca. Tecnicamente, não está errado. Digito rapidamente uma resposta:
"Vou passar a noite fora. Explico amanhã."
Espero por uma resposta, mas nada. Provavelmente ele já foi dormir. O cara tem um sono invejável, especialmente depois dos shows. Desde que começamos a dividir o apartamento, por conta das coisas que ele está enfrentando, tenho aprendido que, se não for algo urgente, ele não se incomoda.
Coloco o celular ao meu lado e encaro a porta do banheiro. O vapor começa a escapar pelas frestas, e o som da água cessa. Penso por um momento em como tudo isso é ridículo – eu, Liam Ashford, vocalista do Nocturnal Echo, sentado no quarto de uma atriz irritada e tentando não rir da situação inteira. Parece um roteiro mal escrito. Quase como se o destino tivesse decidido brincar comigo hoje.
A porta do banheiro se abre, e lá está Aria, parada em um pé só, apoiada no batente. Os cabelos dela estão úmidos, caindo em ondas bagunçadas pelos ombros, ela usa um pijama simples, mas nada desprezível. Tento não parecer óbvio enquanto um sorriso irônico surge automaticamente no meu rosto.
-Você tá se superando, estrela -digo, levantando e caminhando em direção a ela.
-Precisa de ajuda ou vai tentar pular de novo?
Ela revira os olhos, como sempre faz quando estou por perto, mas não responde de imediato. O que significa, claro, que ela precisa de ajuda, mesmo que não vá admitir.
Antes que ela tenha a chance de protestar, coloco uma mão firme na sua cintura
-Pronto, nem precisa agradecer.
Ela suspira, como se a minha presença fosse o maior fardo que já carregou, mas não tenta me afastar.
-Você não sabe o significado de ‘irritante’, sabe?- ela diz enquanto começamos a caminhar até a cama.
-Sabe o que dizem: mantenha seus inimigos por perto- retruco, lançando um olhar de canto para ela.
-Eu não sou sua inimiga- ela rebate, franzindo a testa.
-Ótimo, porque se fosse, eu estaria vencendo- provoco, e posso jurar que vejo o canto da boca dela ameaçar um sorriso antes de se fechar novamente.
Quando a ajudo a sentar na cama, me afasto e cruzo os braços, inclinando a cabeça para observá-la. Ela parece exausta, mas ainda mantém aquele ar teimoso de quem se recusa a ceder.
-Agora o que? Vai me expulsar?- pergunto, levantando uma sobrancelha.
-Eu deveria- ela responde.
-Mas, considerando que você parece determinado a ficar, talvez seja melhor eu simplesmente ignorar sua existência.
-Boa sorte com isso- digo, me jogando na poltrona perto da janela.
-Eu sou meio difícil de ignorar.
Ela me lança um olhar que poderia perfurar aço. -Isso é um eufemismo.
Um silêncio se instala por alguns segundos. O vapor do banheiro ainda paira no ar, e a luz suave do abajur deixa o ambiente com um ar quase íntimo. Algo que, claro, ela deve odiar tanto quanto eu acho engraçado.
-Por que você faz isso?- ela pergunta de repente, me pegando desprevenido.
-Faço o quê?
-Isso. Me irrita. Me provoca. Parece que você vive pra isso.
Dou de ombros, um sorriso se formando de novo.
-Talvez eu só goste da sua reação.
-Ou talvez você só não tenha mais o que fazer- ela retruca, mas não há tanto veneno quanto antes.
-Talvez- concedo, relaxando na poltrona.
- Mas, entre nós dois, acho que é você que me mantém por perto. Não é todo dia que eu encontro alguém tão divertido de provocar.
Ela balança a cabeça, mas há algo nos olhos dela – talvez exaustão, talvez algo que ela mesma não percebeu.
-Você é impossível- ela diz, antes de puxar o cobertor para cobrir as pernas.
-E você é teimosa- respondo, sem perder o ritmo.
-Parece que estamos empatados.
-Se você terminou de bancar o Idiota- Aria começa, ajeitando o cobertor e me lançando um olhar impaciente,
-O quarto ao lado está limpo. Você pode dormir lá. E, se precisar de um banho, tem tudo o que precisa no banheiro. Toalhas, sabonete, o básico.
Por um momento, penso em soltar uma resposta sarcástica, mas a exaustão pesa nos meus ombros. Tenho que admitir: o dia foi longo demais até para mim. Ao invés disso, apenas assinto.
-Boa ideia. Preciso mesmo de umas horas de sono- digo, levantando da poltrona e alongando os braços acima da cabeça.
-Boa noite, Estrela
Ela revira os olhos, claro, mas murmura um curto - Boa noite, Liam- antes de se virar e puxar o cobertor até o queixo.
Dou alguns passos até a porta, mas antes de sair, apago a luz do quarto. O ambiente mergulha na penumbra, iluminado apenas pela fraca luz que entra pelas janelas. Fecho a porta atrás de mim e sigo pelo corredor em direção ao quarto ao lado.
O quarto de hóspedes é maior do que eu esperava. As paredes são pintadas de um tom neutro, quase branco, e os móveis seguem o mesmo estilo minimalista do quarto dela: linhas limpas, madeira escura, tudo muito bem organizado. No centro, uma cama de casal com lençóis impecavelmente alinhados. Há uma poltrona no canto e uma pequena estante com alguns livros que parecem escolhidos apenas para decoração. Tudo exala uma elegância calculada, como se o espaço tivesse sido montado para impressionar visitantes ocasionais.
Solto um suspiro, tirando os sapatos e a jaqueta enquanto caminho até o banheiro. Ligo a luz e me deparo com mais um espaço impecável: azulejos brancos, uma pia de mármore, toalhas dobradas perfeitamente sobre uma bancada. Até o sabonete parece caro, o tipo que vem com cheiro de alguma coisa sofisticada que nunca experimentei na vida.
Deixo a água do chuveiro correr enquanto tiro o resto das roupas. O vapor preenche o banheiro rapidamente, e o som do chuveiro abafa os pensamentos que vêm e vão na minha cabeça. O dia foi um caos absoluto – desde o encontro no parque até momento em que me vi carregando Aria pelos corredores da casa dela. Por mais absurdo que tudo pareça, há algo curioso em como as coisas aconteceram. Como se tudo tivesse sido planejado para nos colocar exatamente aqui.
Sacudo a cabeça, tentando afastar essas ideias enquanto entro no chuveiro. A água quente é um alívio instantâneo, relaxando os músculos tensos. Não lembro a última vez que um banho pareceu tão necessário. Fico ali por um tempo, deixando a água lavar o cansaço e a irritação.
Quando finalmente saio, enrolo a toalha em volta da cintura e percebo que esqueci algo essencial: roupas. Fecho os olhos por um momento, frustrado comigo mesmo. É claro que eu não trouxe nada. Quem diria que passar a noite aqui seria parte dos planos?
Enfio-me debaixo das cobertas da cama impecável, a maciez dos lençóis sendo quase desconcertante.
Enquanto encaro o teto, não consigo evitar um sorriso. Amanhã vai ser interessante. Se Aria já estava prestes a me matar hoje, não quero nem imaginar a reação dela quando souber que dormi quase sem roupa a poucos metros do quarto dela. E, de alguma forma, isso me faz rir.
Fecho os olhos, deixando o sono me levar. Talvez eu seja impossível, como ela disse. Mas, pelo menos, sou um impossível bem divertido.
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Atualizado até capítulo 32
Comments
Bruna Carolina
O caos tem nome e se chama Liam, adorei!!!rsrsrs
2025-01-28
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