No entanto, o que eles acreditavam ser o fim estava longe de ser o encerramento definitivo. Durante o retorno à cidade, Evelyn começou a repassar os detalhes do encontro na cabana. Algo estava fora do lugar.
— Victor — ela disse finalmente, quebrando o silêncio. — Há algo que não está certo. Lucas sabia muito sobre nós, mais do que ele deveria.
Victor franziu a testa, ainda absorvido pelos acontecimentos.
— Ele teve anos para me observar, Evelyn. Ele disse isso.
Evelyn balançou a cabeça.
— Mesmo assim, ele sabia de coisas que você só me contou recentemente. Como ele poderia saber?
A pergunta pairou no ar como uma tempestade prestes a desabar. Victor não tinha uma resposta, mas sentia-se inquieto. Ele apertou mais forte o volante, os dedos brancos de tensão.
Quando chegaram à casa, a sensação de estarem sendo observados retornou com força total. Evelyn correu os olhos pela sala de estar, onde os bilhetes ainda estavam espalhados sobre a mesa. Algo neles parecia agora mais sinistro, como se estivessem vivos, esperando para revelar segredos adicionais.
— Precisamos levar isso para a polícia — ela disse, apontando para os bilhetes.
— Não antes de entendermos tudo — Victor respondeu, a voz firme. — Se existe outra pessoa envolvida, não posso simplesmente deixar isso nas mãos deles.
Evelyn hesitou, mas concordou. Sabia que Victor estava lutando contra demônios que ela mal compreendia, e forçá-lo a desistir não ajudaria. Então, eles se sentaram novamente à mesa, revisitando cada palavra, cada símbolo.
Enquanto folheavam os bilhetes, Evelyn notou algo que antes havia escapado. Em um dos papéis, sob a luz do abajur, havia uma leve marca d'água — um logotipo quase imperceptível.
— Victor, olhe isso. Esse papel... é de uma empresa específica.
Victor pegou o bilhete, os olhos analisando o detalhe.
— Eu conheço esse logotipo. É de uma gráfica que eu costumava contratar... quando trabalhava com Lucas.
Os dois se entreolharam, a conexão se tornando clara.
— Se Lucas está morto... — Evelyn começou, mas hesitou.
— ...então talvez alguém da gráfica esteja envolvido — Victor completou.
---
Na manhã seguinte, Evelyn e Victor foram até a gráfica, um lugar pequeno e antigo, escondido em uma rua pouco movimentada. Ao entrarem, o som de máquinas ecoava pelo ambiente, e o cheiro de tinta era quase esmagador. Um homem idoso, de cabelos grisalhos, estava atrás do balcão.
— Posso ajudá-los? — ele perguntou, olhando para os dois com curiosidade.
Victor tirou o bilhete do bolso e o colocou sobre o balcão.
— Este papel foi impresso aqui?
O homem pegou o bilhete e ajustou os óculos.
— Sim, parece que sim. Esse é um dos nossos modelos personalizados. É usado por clientes que querem algo mais discreto.
Evelyn inclinou-se, tentando não parecer ansiosa.
— Você pode nos dizer quem encomendou isso?
O homem hesitou, franzindo a testa.
— Não costumo divulgar informações de clientes, mas... posso verificar se me mostrarem algum tipo de identificação oficial.
Victor suspirou, frustrado.
— Por favor, é uma questão de segurança. A pessoa que encomendou isso nos ameaçou.
O tom de Victor pareceu convencer o homem, que desapareceu no escritório por alguns minutos. Quando voltou, carregava um pequeno caderno de registros.
— Aqui está. Foi feito em nome de... Anna Duarte.
Evelyn congelou ao ouvir o nome.
— Anna... Duarte? — ela repetiu, incrédula. — Isso não pode ser. Ela era minha colega na faculdade. Mas... ela morreu num acidente de carro há anos.
O homem deu de ombros.
— Não sei o que dizer, senhora. Foi esse o nome dado no pedido.
Victor olhou para Evelyn, a dúvida em seus olhos refletindo a dela. Algo estava errado. Muito errado.
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De volta à casa, Evelyn puxou um álbum antigo da estante. Virando as páginas apressadamente, parou em uma foto que mostrava um grupo de jovens sorrindo para a câmera. Ela apontou para uma mulher alta, de cabelos escuros e sorriso radiante.
— Aqui, Victor. Essa é Anna. Eu não entendo. Ela morreu, eu fui ao funeral.
Victor estudou a foto, mas algo sobre o rosto dela parecia estranhamente familiar.
— Evelyn... e se ela não morreu? E se o acidente foi encenado, assim como o incêndio de Lucas?
A hipótese era aterrorizante, mas fazia sentido. Lucas não agiu sozinho. Ele tinha um cúmplice, alguém que também guardava rancor de Victor. Mas por quê?
Evelyn ficou pálida ao lembrar de algo.
— Anna e Lucas... eles eram amigos. Muito próximos, na verdade. Ela sempre o defendia, mesmo quando ele estava errado. Talvez ela tenha fingido a morte para ajudá-lo.
Victor assentiu lentamente, sentindo as peças se encaixarem.
— E se Lucas era o executor, Anna era a mente por trás disso.
Uma batida alta na porta os interrompeu. Evelyn se levantou, mas Victor a segurou pelo braço.
— Espere. Pode ser ela.
Victor pegou a arma que mantinha em uma gaveta e se aproximou da porta com cuidado. Ele abriu uma fresta, mas não havia ninguém ali. Apenas um envelope preto no chão.
Victor o pegou e fechou a porta rapidamente. Dentro, havia apenas uma foto — a mesma foto do álbum, mas com os rostos de Evelyn e Victor riscados em vermelho.
E um bilhete curto:
"O jogo ainda não acabou."
Evelyn sentiu um arrepio correr pela espinha enquanto olhava para Victor.
— Ela está viva, Victor. E está nos observando.
Victor apertou o bilhete com força, a raiva evidente em seu rosto.
— Então ela que venha. Dessa vez, eu estou preparado.
Mas, no fundo, ambos sabiam que estavam entrando em um jogo muito mais perigoso do que podiam imaginar.
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Atualizado até capítulo 23
Comments
Maria Luiza Santos Silva
gente que babado fortíssimo.....
2025-01-22
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