Os dias continuaram a passar, mas com uma leveza que Evelyn não esperava. Ela e Victor pareciam se aproximar de uma maneira que ia além das palavras, além das circunstâncias que os haviam unido. Ele estava mais atento, mais disposto a ouvir e, principalmente, a mudar. E Evelyn, por sua vez, se permitiu enxergar Victor por trás das máscaras que ele havia construído.
Certa noite, após o jantar, Evelyn estava na sala, olhando para a lareira acesa. O calor do fogo aquecia o ambiente, mas o frio interno que ela sentia parecia resistir. Victor entrou na sala silenciosamente, com uma garrafa de vinho na mão.
— Eu pensei que isso poderia ajudar — disse ele, com um leve sorriso. — Faz tempo que não tomamos algo juntos.
Evelyn ergueu os olhos para ele, surpresa pela simplicidade do gesto. — Parece uma boa ideia — respondeu, aceitando a taça que ele lhe entregava.
Eles beberam em silêncio por um tempo, apenas ouvindo o crepitar do fogo. Foi Victor quem quebrou o silêncio, sua voz baixa, quase hesitante.
— Evelyn, você realmente não precisava voltar. Eu sei disso. Então, por que voltou de verdade? Quero ouvir de você.
Ela colocou a taça de vinho na mesa e virou-se para encará-lo. — Porque fugir não me trouxe paz. Eu pensei que me libertar dessa casa, de você, seria o suficiente. Mas não foi. A verdade, Victor, é que parte de mim queria te odiar, mas não consegui. Eu me vi pensando em você mais do que deveria, e isso me assustou.
Victor parecia absorver cada palavra como se fossem verdades que ele nunca ousou esperar ouvir. Ele abaixou os olhos para sua própria taça, pensativo.
— Eu fiz coisas horríveis, Evelyn. Não sei como você pode sequer olhar para mim.
— Talvez porque eu veja mais do que suas falhas, Victor. Eu vejo quem você é quando baixa a guarda. E é essa pessoa que eu estou tentando conhecer.
Victor se aproximou dela, os olhos cheios de uma mistura de esperança e arrependimento. — Eu não sei se mereço isso. Mas quero merecer.
Evelyn sorriu, um sorriso que ela mesma não sabia que tinha guardado. — Então, comece por aqui. Agora. Comigo.
A proximidade entre os dois parecia inevitável. A tensão que os havia mantido afastados por tanto tempo deu lugar a algo mais caloroso, mais urgente. Victor estendeu a mão para tocar o rosto de Evelyn, e ela não recuou. Quando seus lábios se encostaram, foi com uma suavidade inesperada, como se ambos temessem que o momento pudesse se desfazer.
O beijo foi longo, lento, cheio de significados não ditos. Quando finalmente se afastaram, Victor sussurrou: — Você tem certeza disso?
Evelyn assentiu, olhando nos olhos dele. — Tenho.
Ele a pegou pela mão e a guiou até o quarto. O espaço, antes tão carregado de memórias confusas, agora parecia diferente, como um lugar onde eles poderiam recomeçar. Victor foi cuidadoso, seus movimentos cheios de uma ternura, que Evelyn não esperava.
Aquela noite foi diferente de tudo o que eles haviam experimentado. Não era sobre poder ou controle, mas sobre vulnerabilidade, entrega e amor. Quando finalmente adormeceram, estavam entrelaçados, como se fossem partes de um mesmo todo.
Pela primeira vez, Evelyn sentiu que talvez houvesse uma chance de reconstruir algo verdadeiro, mesmo em meio aos destroços de tudo o que haviam sido. E Victor, em silêncio, prometeu a si mesmo que faria tudo para não perder aquela mulher que, de alguma forma, havia escolhido ficar.
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Atualizado até capítulo 23
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