Os dias que se seguiram à fuga foram difíceis para Evelyn. Embora estivesse livre, a sensação de alívio logo foi substituída por um vazio inesperado. Ela havia conseguido escapar, mas por alguma razão, a imagem de Victor não saía de sua mente. Sua expressão de dor ao dizer "vá" assombrava seus sonhos, e suas palavras ecoavam em sua cabeça como um lembrete constante de algo não resolvido.
Evelyn tentou seguir em frente. Alugou um pequeno apartamento em uma cidade distante e começou a reconstruir sua vida. Mas nada parecia suficiente. Havia um buraco em seu peito que ela não conseguia preencher, e, para sua surpresa, percebia que esse vazio tinha a ver com Victor.
Ela se pegava relembrando os momentos em que ele havia mostrado vulnerabilidade, as pequenas gentilezas que ele fazia por ela, como trazer chá nas manhãs frias ou ouvir suas histórias com genuíno interesse. Victor não era apenas um sequestrador obsessivo; ele era um homem quebrado, e, de alguma forma, Evelyn começava a perceber que também havia partes quebradas dentro dela que ele havia tocado.
Certa noite, enquanto estava deitada na cama, Evelyn encarou o teto e se permitiu ser honesta consigo mesma. Não era apenas culpa ou compaixão que a fazia pensar nele. Era algo mais profundo. Algo que ela não queria admitir antes: ela sentia falta dele.
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Evelyn passou mais algumas semanas tentando ignorar seus sentimentos, mas eles só cresceram. A ideia de voltar era absurda, perigosa até, mas ela não conseguia evitar. Queria confrontar seus próprios sentimentos, entender o que realmente estava acontecendo. Então, em uma manhã nublada, ela tomou sua decisão. Pegou um ônibus de volta à cidade onde tudo começou, com o coração pesado e o estômago revirado.
Quando chegou à casa de Victor, hesitou. As janelas estavam fechadas, e a fachada da casa parecia mais sombria do que antes. Evelyn respirou fundo, reunindo coragem, e bateu na porta. Por um momento, não houve resposta, e ela pensou que talvez ele não estivesse lá. Mas então a porta se abriu lentamente, revelando Victor.
Ele estava diferente. Mais magro, com olheiras profundas sob os olhos e uma expressão de choque ao vê-la.
— Evelyn? — Sua voz estava rouca, como se ele não tivesse falado muito nos últimos dias. — O que... o que você está fazendo aqui?
Ela engoliu em seco, sem saber por onde começar. — Eu precisava voltar. Eu... não consegui te esquecer.
Os olhos de Victor se arregalaram, e ele ficou em silêncio por um longo momento antes de abrir a porta completamente e dar um passo para o lado, permitindo que ela entrasse. Evelyn entrou na casa, o coração batendo rápido, e se viu novamente no ambiente que havia jurado nunca mais ver. Mas, desta vez, tudo parecia diferente.
— Por que você voltou? — Victor finalmente perguntou, quebrando o silêncio. Ele estava parado no meio da sala, com as mãos nos bolsos, como se não soubesse o que fazer com elas.
Evelyn o olhou nos olhos, tentando encontrar as palavras certas. — Eu... eu pensei que, ao sair daqui, eu estaria livre. E estava. Mas a liberdade não significou nada sem... você.
Victor parecia incapaz de processar o que estava ouvindo. Ele deu um passo em direção a ela, depois outro, até que estava perto o suficiente para que ela sentisse sua respiração.
— Eu achei que nunca mais te veria — disse ele, a voz quebrada. — Achei que você me odiava.
— Eu achei que odiava também — confessou Evelyn, sentindo as lágrimas se formarem. — Mas eu estava errada. Eu estava com medo, Victor. Com medo de você, de mim mesma... Mas agora eu sei que não posso fugir do que sinto.
Victor estendeu a mão hesitante, como se temesse que ela desaparecesse. Quando seus dedos tocaram o rosto de Evelyn, ela não recuou. Em vez disso, inclinou-se para o toque.
— Eu não sei como te consertar, Victor — ela sussurrou. — E nem sei se posso. Mas eu quero tentar. Quero tentar com você.
Ele não respondeu com palavras. Apenas a puxou para um abraço apertado, como se temesse que ela fosse escapar novamente. E, pela primeira vez em muito tempo, Evelyn sentiu-se em paz. Talvez fosse loucura, mas era a loucura que ela havia escolhido.
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Os dias seguintes foram diferentes. Evelyn e Victor começaram a reconstruir sua relação sob novas bases. Ela ainda sentia medo às vezes, e ele ainda lutava contra seus impulsos de controle, mas havia algo novo entre eles: um desejo genuíno de mudar, de fazer funcionar. E, no fundo, Evelyn sabia que ainda havia um longo caminho a percorrer. Mas, pela primeira vez, ela não queria estar em nenhum outro lugar.
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Atualizado até capítulo 23
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