O amanhecer trouxe uma luz suave que invadiu o quarto, desenhando sombras delicadas nas paredes. Evelyn abriu os olhos lentamente, sentindo a estranha mistura de familiaridade que a envolvia. Ao seu lado, Victor dormia em paz, algo que ela nunca imaginou ver. Ele parecia menos carregado, como se o peso que ele sempre carregava tivesse se dissipado, ainda que por uma noite.
Ela ficou ali, observando-o por um momento, antes de se levantar silenciosamente. Colocou um robe e foi para a cozinha, onde começou a preparar café. Enquanto o aroma preenchia o ar, Evelyn se pegou pensando em tudo que os havia trazido até aquele momento. A relação deles era, sem dúvida, algo improvável, quase surreal. Mas, apesar de tudo, havia algo entre eles que ela não conseguia negar.
Victor apareceu na cozinha pouco depois, os cabelos bagunçados e os olhos ainda sonolentos. Ele parou na porta, observando-a em silêncio, antes de finalmente falar.
— Eu achei que você não estaria aqui quando eu acordasse — confessou, a voz rouca da manhã.
Evelyn virou-se para ele, oferecendo um sorriso suave. — E por que eu faria isso?
Ele deu de ombros, aproximando-se lentamente. — Porque parte de mim ainda acha que isso tudo é um sonho. Que você vai desaparecer e eu vou acordar sozinho.
Ela estendeu uma xícara de café para ele. — Não sou um sonho, Victor. Estou aqui. E eu quero estar aqui.
Victor aceitou a xícara, seus dedos tocando os dela por um breve momento. — Eu só espero não estragar tudo. Eu não sei como fazer isso, Evelyn. Não sei como ser... normal.
Evelyn deu uma risada leve, sincera. — Quem disse que precisamos ser normais? Talvez o que precisamos é apenas ser honestos, um com o outro e com nós mesmos.
Victor parecia ponderar aquelas palavras enquanto tomava um gole do café. O silêncio que se seguiu não foi desconfortável, mas carregado de algo novo: esperança.
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Mais tarde, naquele dia, enquanto Evelyn cuidava do jardim, ela percebeu algo estranho. Uma sensação de estar sendo observada. Olhou ao redor, mas não viu nada fora do comum. Ainda assim, o desconforto permaneceu.
Quando mencionou isso a Victor naquela noite, ele imediatamente ficou em alerta.
— Você acha que alguém te seguiu? — perguntou ele, a voz carregada de preocupação.
— Não sei — respondeu Evelyn, tentando minimizar o sentimento. — Talvez eu só esteja imaginando coisas.
Victor, no entanto, não parecia convencido. Ele reforçou as travas das portas e pegou uma arma colocando-a na fivela do cinto, passou o resto da noite verificando o perímetro da casa. Embora não houvesse sinais de intrusos, Evelyn sabia que o comportamento dele vinha tanto de um lugar de proteção quanto de paranoia.
Naquela noite, enquanto estavam deitados, Victor quebrou o silêncio.
— Evelyn, você sabe que, se alguém vier atrás de você... ou de nós, eu farei qualquer coisa para proteger você, não sabe?
Ela virou-se para ele, tocando o rosto dele com delicadeza. — Sei, Victor. Mas não quero que vivamos com medo do que está lá fora. Nós já tivemos medo suficiente dentro dessas paredes. Agora é hora de seguirmos em frente.
Ele assentiu, embora o brilho em seus olhos deixasse claro que ele ainda estava preocupado com ela.
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Na manhã seguinte, enquanto Evelyn regava as plantas, uma carta foi deixada na porta. Não havia remetente, apenas seu nome escrito com caligrafia apressada. Quando ela abriu o envelope, sentiu o coração apertar ao ler as primeiras palavras:
“Evelyn, você acha que está segura? Mas ele nunca vai mudar. Volte para casa antes que seja tarde demais.”
Ela congelou, as palavras ecoando em sua mente. Quem teria enviado aquilo? E o que significava "antes que seja tarde demais"?
Victor encontrou-a segurando a carta, a expressão tensa.
— O que é isso? — perguntou, pegando o papel de suas mãos.
Ao ler, seu rosto endureceu. Ele olhou ao redor, como se esperasse encontrar alguém escondido nas sombras.
— Isso é uma ameaça — disse ele, cerrando os dentes. — Eles querem te assustar. Ou nos separar.
Evelyn colocou uma mão no braço dele, tentando acalmá-lo. — Não sabemos quem enviou isso ou o que querem. Mas, Victor, não podemos deixar que isso nos destrua.
Ele olhou para ela, a determinação brilhando em seus olhos. — Não vou deixar ninguém te machucar, Evelyn. Não importa o que aconteça.
Ela sabia que ele estava sendo sincero. Mas, naquele momento, também soube que os fantasmas do passado ainda estavam à espreita, prontos para testá-los. E, juntos, eles teriam que enfrentar o que viesse, seja lá o que fosse.
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Atualizado até capítulo 23
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