não serei sua

A arena estava agora vazia, o eco dos passos ainda ressoando em minha mente. Azriel e Cassian ainda estavam lá, provavelmente discutindo algo, mas eu não me importava. Eu estava sozinha em meus pensamentos, tentando afastar a lembrança do beijo inesperado. A raiva ainda queimava em mim, mas havia algo mais. Algo que eu me recusava a admitir.

Eu caminhei sem destino, afastando-me da arena, dos feéricos, de tudo. Precisava de um momento só meu. A brisa fria da noite acariciava minha pele, mas não conseguia me acalmar. As árvores que cercavam o campo pareciam me observar, como se soubessem do tumulto que se passava dentro de mim.

Encontrei um pequeno jardim afastado, onde o cheiro das flores e a umidade da terra pareciam me envolver. Era o único lugar onde eu poderia ser eu mesma sem ter que dar explicações. Me sentei no banco de madeira desgastado, os dedos tocando levemente as flores ao meu redor, sem realmente vê-las.

O som suave de passos interrompeu minha solitude, e eu já sabia quem era antes mesmo de olhar para trás. A presença dele era inconfundível.

Azriel.

Ele apareceu na entrada do jardim, seus olhos dourados brilhando sob a luz da lua. Estava ali, em silêncio, observando-me com um olhar que tentava penetrar mais fundo do que eu estava disposta a permitir.

— Você não deveria ter saído assim, Joyce. — Sua voz estava calma, mas a tensão era palpável. Ele sabia que me abalara, e isso o fazia ainda mais perigoso.

Eu não olhei para ele, mantendo a vista fixa no chão. Cada parte de mim queria gritar, queria dizer tudo o que estava pensando. Mas não poderia. Não agora. Eu tinha que manter o controle.

— E o que você queria que eu fizesse, Azriel? Ficar lá e deixar você brincar com a minha cabeça? — A raiva saltava nas palavras, mas minha respiração ainda estava acelerada, um reflexo do que aquele beijo havia causado.

Azriel deu um passo à frente, mais perto, e eu podia sentir o peso de sua presença como uma sombra ao meu redor. Ele não falava, mas seus olhos diziam tudo. Aquela expressão séria, mas com algo mais por trás. Algo que eu não sabia identificar.

— Eu não estou brincando, Joyce. — Ele se aproximou ainda mais, quase ao ponto de seu corpo tocar o meu, mas não me tocou fisicamente. — Eu não sou como os outros, e você sabe disso.

Meu coração disparou. Eu queria sair dali, mas algo me mantinha ancorada ao chão. Eu não sabia o que era. A tensão no ar era espessa, densa.

Eu o encarei finalmente, e ele estava mais perto do que eu gostaria. O olhar dele era de uma intensidade que me fazia questionar minhas próprias reações.

— Eu não sou sua, Azriel. Não sou um brinquedo para você jogar. — As palavras saíram mais firmes do que eu imaginava, mas a sensação de estar vulnerável diante dele me fazia querer recuar.

Azriel inclinou a cabeça ligeiramente, como se ponderasse o que eu acabara de dizer. Seu olhar não se desviava do meu, e pude ver o brilho dourado intensificando-se, como se ele estivesse se aproximando de algo mais profundo. Algo mais... sombrio.

— Não estou dizendo que você seja um brinquedo. Mas você é minha. — Sua voz era baixa, quase um sussurro, e a maneira como ele pronunciou as palavras me fez estremecer por dentro.

Eu não sou uma pessoa fácil de ceder. Não seria. Mas ele estava fazendo meu corpo reagir de maneiras que eu não queria. Era um jogo, e eu não queria jogar.

— Você acha que pode me controlar, Azriel? Não sou como as outras.

Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, deu um passo mais perto, e dessa vez, seus dedos tocaram suavemente meu rosto, de uma maneira tão delicada que me fez esquecer por um segundo a raiva que ainda queimava em mim.

Foi um toque sutil, mas a eletricidade entre nós estava lá. E então, em um movimento inesperado, ele se aproximou ainda mais, inclinando-se para me beijar novamente. Eu não fiz nada para impedir. Não podia. Eu me entreguei ao beijo, mesmo que fosse o último que eu deveria aceitar.

O sabor dele era quente e urgente, como se ele soubesse que isso me abalaria. Mas quando finalmente me dei conta de que estava sendo beijada por ele, de que estava cedendo de novo, um turbilhão de raiva tomou conta de mim.

Afastei-me bruscamente, empurrando-o de volta. Eu precisava de espaço, de ar. Minhas mãos estavam tremendo de raiva e frustração.

— Chega, Azriel! — A voz saiu baixa, mas carregada de todo o desgosto que eu sentia naquele momento. — Eu não sou sua. Não vou ser.

Eu me afastei dele, jogando minhas armas no chão com um gesto brusco, os sons metálicos ecoando no ar. Sem olhar para trás, comecei a andar rapidamente, a raiva e a vergonha misturando-se dentro de mim.

Eu não sabia o que fazer com o que estava sentindo. Eu não sabia o que ele queria de mim, mas não estava disposta a ser jogada para lá e para cá como uma peça no jogo dele.

Deixei Azriel e Cassian para trás na arena, e continuei a caminhar para longe. Eu não podia mais ficar ali. Não enquanto ele continuasse tentando me controlar.Entendi! Vou ajustar o cenário para que Joyce fique no local até o pé melhorar, de acordo com sua situação, e também focar no momento de reflexão sobre as roupas e o ambiente.

Quando finalmente entrei no meu quarto, a sensação de alívio foi momentânea. A batalha com Azriel e a raiva de tudo o que aconteceu ainda estavam queimando dentro de mim. Mas, agora, eu precisava me concentrar no que importava. Meu pé estava machucado, e o descanso era o que meu corpo mais precisava.

O quarto estava calmo, silencioso, com uma iluminação suave entrando pelas janelas. O cheiro fresco da madeira e das flores lá fora invadiu o ambiente, mas não conseguia afastar o peso que ainda sentia em meus ombros.

Feyre, com seu jeito atencioso, sabia que eu não ficaria ali quieta por muito tempo. Sabia também que eu não poderia continuar com as mesmas roupas que usava antes, elas não eram práticas para os treinos, nem para enfrentar o que eu sabia que viria. Dentro do guarda-roupa, uma nova coleção de roupas estava pronta para mim, cuidadosamente escolhida por ela.

A princípio, fiquei surpresa. Não era o tipo de peça que eu usava normalmente. Havia calças justas de tecido flexível, que se moldavam ao corpo e acentuavam minhas curvas de uma maneira que eu não costumava mostrar. Havia botas de couro escuro, com um salto discreto, mas firme o suficiente para andar, correr, e lutar. E, claro, blusas de mangas longas, algumas com cortes laterais que expunham um pouco mais da pele do que eu estava acostumada. Uma delas tinha um decote sutil, mas que deixava a sensação de estar sendo observada.

Eu não gostava de me sentir exposta. Sempre preferi roupas que me deixassem mais discreta, que não destacassem nada além da minha presença. Mas Feyre sabia que, para sobreviver ali, eu precisaria mais do que só o básico. Eu precisava de roupas que me lembrassem quem eu estava tentando me tornar. Alguém mais forte, mais decidida. Alguém que enfrentasse a Corte Primaveril, Azriel, e tudo mais sem hesitar.

Dei uma olhada rápida no espelho enquanto passava os dedos pelas roupas. Eu sabia que não teria escolha, ficaria ali até o meu pé melhorar, e isso poderia levar tempo. Então, eu tinha que me adaptar. Meu reflexo no espelho parecia mais seguro, mais pronto para a batalha do que eu realmente me sentia. As roupas pareciam gritar por ação, para que eu fosse além daquilo que me limitei a ser até agora.

Com um suspiro, vesti as calças justas, que se ajustaram perfeitamente ao meu corpo, e a blusa preta com os cortes laterais. Coloquei as botas, sentindo o peso delas e a firmeza nos pés, e, por um momento, me senti um pouco mais confiante. Eu não queria olhar demais para o que a imagem refletia. Eu não queria admitir que, de alguma forma, as roupas estavam fazendo algo que eu nunca pensei ser possível: me fazendo questionar minha própria resistência a mudar.

Mas, enquanto o pé ainda me incomodava, eu sabia que, por mais que estivesse incomodada com tudo o que acontecia ao meu redor, era essa nova Joyce que precisava existir. Não havia outra opção.

Com um último olhar no espelho, sai em direção à janela, olhando para os jardins que se estendiam até onde a vista alcançava. Eu ficaria ali, descansando, recuperando minhas forças. E, talvez, enfrentando os fantasmas do meu passado, e os feéricos que cruzassem o meu caminho.

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