Mentiras que Enlaçam

Após o intenso confronto com a criatura marinha, eu estava exausta. Minhas roupas estavam molhadas, grudando em minha pele, enquanto eu tremia pelo esforço de segurar o arco e pelas emoções que borbulhavam em meu peito. O silêncio da noite foi rompido apenas pelo som das ondas tranquilas e dos passos cuidadosos de Lucien.

Ele se aproximou devagar, seus olhos heterocromáticos brilhando à luz da lua. "Você está bem?" sua voz era firme, mas havia um toque de preocupação que Joyce não pôde ignorar.

"Estou... estou bem," respondi ofegante, tentando recuperar o fôlego e recompor-se. "Obrigada. Se não fosse por você..." As palavras ficaram no ar, mas Lucien as completou com um sorriso leve.

"Não é todo dia que se encontra alguém tão teimosa a ponto de enfrentar uma criatura dessas sozinha," ele comentou, enquanto estendia a mão para ajudá-la a levantar. Joyce hesitou por um instante antes de aceitar, sentindo a força dele ao puxá-la para cima.

Enquanto caminhavam para longe da margem, Lucien a estudava de soslaio. "Você é humana," ele afirmou, mais como uma constatação do que uma pergunta. "E, ainda assim, está viajando por lugares perigosos como este. Por quê?"

Parei e olhei para ele. "Eu tenho meus motivos," disse, a voz firme, mas não hostil. "E você? Por que estava por aqui? Não me diga que foi coincidência."

Lucien arqueou uma sobrancelha, divertido. "Digamos que tenho meus próprios motivos também." Ele evitou responder diretamente, mas o brilho de curiosidade e cautela em seus olhos deixava claro que não era comum encontrar humanos ali.

A noite estava fria, e o vento carregava o cheiro salgado da água misturado com a fragrância das árvores próximas. Coloquei os meus próprios braços ao meu redor para afastar o frio, mas não deixou de reparar que Lucien havia se posicionado entre ela e a direção de onde a criatura havia surgido, como uma barreira protetora.

"Você vai ficar bem?" ele perguntou novamente, sua voz agora mais baixa, quase íntima.

Joyce ergueu o queixo, determinada. "Sim. Não se preocupe comigo."

Lucien apenas riu baixinho, balançando a cabeça. "Muito bem, então. Mas, se for continuar nesse caminho, sugiro que esteja preparada para mais do que apenas monstros marinhos. Há coisas bem piores adiante."

Com isso, ele se afastou um pouco, mas não o suficiente para deixá-la sozinha. Joyce o observou por um momento antes de decidir seguir em frente. Algo nele a intrigava, algo que ela não conseguia entender completamente. E enquanto o silêncio da noite voltava a envolvê-los, Joyce sabia que aquele encontro mudaria mais do que apenas o curso de sua jornada.

Enquanto seguíamos pela trilha estreita, a escuridão era cortada apenas pelo brilho prateado da lua que filtrava entre as copas das árvores. O som de nossas botas esmagando folhas secas parecia quase ensurdecedor no silêncio da floresta. Eu estava alerta, cada fibra do meu corpo preparada para reagir a qualquer novo perigo.

Lucien caminhava alguns passos à frente, a postura relaxada em contraste com a minha rigidez. Era irritante o quanto ele parecia confortável mesmo depois do confronto com a criatura aquática. O movimento fluido de seus cabelos vermelhos sob a luz da lua quase me fazia esquecer que estávamos em território hostil.

"Você sempre encara tudo com tanta seriedade?" ele perguntou de repente, sem sequer olhar para trás.

"Quando minha vida está em risco, sim, costumo levar as coisas a sério," respondi seca, apertando a alça do arco sobre meu ombro.

Lucien riu baixo, aquela risadinha irritante que fazia meu sangue ferver. "Bom saber. Assim fica mais fácil para mim saber quando você está relaxada. Se é que isso acontece."

Ignorei o comentário, embora sentisse minhas bochechas esquentarem. Não ia dar a ele o prazer de uma resposta. Ainda assim, havia algo nele que me deixava inquieta. Talvez fosse o fato de que, apesar do sarcasmo e das provocações, ele parecia estar genuinamente preocupado comigo.

Depois de um tempo, o silêncio entre nós foi interrompido novamente, desta vez por ele. "Você mencionou estar atrás de alguém... Por acaso, essa pessoa tem algo a ver com a Corte Primaveril?"

Parei abruptamente, e ele fez o mesmo, virando-se para me encarar. "O que você sabe sobre isso?" perguntei, estreitando os olhos.

Lucien ergueu as mãos, como se quisesse demonstrar que não representava uma ameaça. "Só estou juntando as peças. Não é todo dia que uma humana aparece em Prythian, ainda mais tão decidida a arriscar o pescoço por algo."

Antes que eu pudesse responder, ele acrescentou: "Seja lá quem for, espero que valha a pena. Não é fácil sair viva de certas situações, especialmente quando se trata de feéricos."

"Eu me viro," respondi com firmeza. "Não preciso da sua preocupação."

"Ah, mas eu me preocupo," ele retrucou, com um sorriso provocador. "Principalmente porque você parece atrair problemas como uma mariposa para a chama."

Reprimi um revirar de olhos e comecei a andar novamente, passando por ele. Não queria admitir, mas parte de mim apreciava a companhia. Mesmo que fosse a companhia dele.

Conforme a madrugada avançava, o ar parecia mais pesado, carregado com o cheiro doce e fresco das flores da Corte Primaveril. Quando as primeiras luzes do amanhecer começaram a tingir o céu, a visão diante de nós me deixou sem palavras. Campos intermináveis de flores coloridas, árvores carregadas de folhas brilhantes e riachos cristalinos que serpenteavam pelo cenário. Era como se tivéssemos cruzado um limiar mágico.

"Bem-vinda à Corte Primaveril," Lucien disse, quebrando meu transe. Havia um toque de orgulho em sua voz, mas também algo mais... algo mais sombrio, escondido sob a superfície.

Não tive tempo de absorver completamente a paisagem. Fui guiada diretamente para a grande mansão que dominava o centro do vale. Suas colunas brancas e detalhes dourados brilhavam sob o sol nascente. Meu coração começou a bater mais rápido. Eu estava a um passo de descobrir algo sobre Feyre.

Assim que cruzamos as portas, meus olhos se fixaram na figura que nos aguardava no salão principal. Alto, de cabelos loiros dourados e olhos verdes intensos. Ele irradiava poder, mas havia algo de feral nele, algo que fazia minha pele arrepiar.

"Tamlin," Lucien disse, inclinando a cabeça em respeito. "Esta é Joyce. Ela está em busca de... respostas."

Antes que qualquer formalidade pudesse ser estabelecida, dei um passo à frente. "Onde está Feyre? O que vocês fizeram com ela?" Minha voz saiu mais alta do que pretendia, ecoando pelo salão.

Os olhos de Tamlin se estreitaram, e o ambiente pareceu esfriar. Ele não respondeu imediatamente, mas algo em sua postura mudou. Antes que eu pudesse reagir, ele se transformou. Seu corpo alargou-se, e a forma de fera que havia sido apenas um rumor agora era real diante de mim. As garras enormes e o rosnado profundo fizeram meu coração parar.

"Tamlin, não!" Lucien entrou na frente dele, as mãos erguidas em um gesto pacificador. "Ela não sabe. Ela não entende."

Aos poucos, Tamlin pareceu recuperar o controle, voltando à forma feérica. Ele me olhou com um misto de desprezo e curiosidade. "Você é ousada, humana, ao mencionar o nome dela aqui."

"Eu quero respostas," insisti, tentando ignorar o tremor na minha voz. "Por que ela não está aqui?"

Tamlin suspirou, passando uma mão pelo cabelo dourado. "Feyre... foi levada à força pela Corte Noturna. Eles a mantêm prisioneira." Sua voz era grave, carregada de dor. "Ela não pode ser salva. Não agora."

As palavras dele me atingiram como um soco no estômago. Mas havia algo na forma como ele falou... algo que não parecia completamente verdadeiro. Eu olhei para Lucien, buscando alguma pista em sua expressão, mas ele evitou meu olhar.

"Você ficará aqui esta noite," Tamlin declarou. "Viajar à noite seria suicídio. Além disso, há muito que precisamos discutir."

Queria protestar, mas a intensidade em seus olhos me fez recuar. Algo me dizia que a história que ele contou estava longe de ser a verdade. E agora, mais do que nunca, eu precisava descobrir o que realmente estava acontecendo.

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Comments

RinSantorski

RinSantorski

Me apaixonei

2025-01-10

1

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