Eu não conseguia lembrar da última vez que uma noite parecia tão normal e, ao mesmo tempo, tão especial. Antony parou o carro em frente ao meu prédio, desligando o motor. A rua estava silenciosa, iluminada apenas pelos postes e pelas luzes amareladas da entrada do edifício.
— Obrigada pelo jantar, Antony. — Minha voz saiu mais suave do que eu esperava.
— Foi um prazer. — Ele sorriu, apoiando as mãos no volante, mas não fez menção de sair imediatamente.
Por um momento, ficamos em silêncio. Um daqueles silêncios que não são desconfortáveis, mas carregam algo que nenhum dos dois sabia como abordar. Meu coração batia rápido, e eu odiava admitir que era por causa dele.
— Você quer subir? — As palavras escaparam antes que eu pudesse pensar nelas.
Antony me olhou, levantando uma sobrancelha, surpreso.
— Você sempre é tão direta assim?
Eu ri, sentindo minhas bochechas esquentarem.
— Desculpa, acho que perdi um pouco o filtro depois de tudo isso.
Ele riu junto, mas balançou a cabeça.
— Não, Amanda. É bom ver você sendo... você.
Aquilo me desarmou de um jeito que eu não estava preparada.
— Eu... acho que não sei bem quem sou ainda.
— Talvez você só precise de tempo. E alguém que te lembre disso de vez em quando.
Meu olhar encontrou o dele, e naquele instante, parecia que o tempo tinha parado. Sem pensar muito, me inclinei um pouco na direção dele, quebrando a barreira invisível entre nós. Antony não se mexeu imediatamente, mas seus olhos não desviaram dos meus.
— Antony...
Antes que eu pudesse completar qualquer frase, ele fechou a distância entre nós. Seus lábios tocaram os meus, e o mundo inteiro desapareceu. O beijo foi suave no começo, mas cheio de intensidade contida. Como se ambos estivéssemos esperando por isso sem perceber.
Minhas mãos foram instintivamente até seu rosto, sentindo a barba ruiva sob meus dedos. Seu perfume, a força controlada em sua presença... Era tudo ele, tão diferente de tudo que eu conhecia.
Quando o beijo terminou, eu ainda sentia o calor dele. Ficamos ali, tão próximos que nossas respirações se misturavam.
— Eu não devia ter feito isso — ele disse, mas o sorriso no canto de seus lábios mostrava que ele não estava arrependido.
— Então ainda bem que eu fiz primeiro.
Antony riu baixo, balançando a cabeça, e me deu um último olhar antes de se afastar um pouco.
— Melhor você entrar antes que eu mude de ideia.
— Talvez eu gostasse se você mudasse.
Ele soltou uma risada curta, mas apenas abriu a porta para mim, como o cavalheiro que ele insistia em ser.
— Boa noite, Amanda.
Desci do carro com um sorriso bobo nos lábios e entrei no prédio, mas não resisti a olhar para trás antes de entrar. Antony ainda estava lá, me observando, o mesmo sorriso no rosto.
Eu não sabia o que estava acontecendo entre nós, mas pela primeira vez em muito tempo, eu sentia algo que me parecia certo. Algo real.
...[...]...
Um mês parecia tanto e, ao mesmo tempo, tão pouco. Antony e eu nos aproximamos de um jeito que eu não esperava. Trocávamos mensagens o tempo todo, piadas leves, conversas profundas sobre a vida e até o que iríamos jantar. Ele era a calmaria no meio do caos, alguém em quem eu podia confiar e, surpreendentemente, alguém com quem eu podia ser eu mesma.
Mas o dia do julgamento de Marco chegou como um lembrete sombrio de tudo o que aconteceu. Meu coração estava pesado enquanto eu me arrumava naquela manhã. Sabia que teria que encarar os advogados, as perguntas, os olhares curiosos e, pior de tudo, Marco.
Antony passou para me buscar no horário combinado. Assim que entrei no carro, ele me lançou aquele olhar que dizia que sabia como eu me sentia, mesmo sem eu dizer nada.
— Nervosa? — perguntou, enquanto ajustava o retrovisor.
— Um pouco. — Suspirei, olhando pela janela. — Acho que nunca vou me acostumar com isso.
— Não precisa. Só responda com a verdade e lembre-se de que está do lado certo.
— Às vezes, não parece. — Minha voz saiu baixa.
Ele lançou um olhar rápido na minha direção antes de retornar a atenção para a estrada.
— Você é a vítima aqui, princesa. Nunca se esqueça disso. Marco é o culpado, e hoje isso vai ficar claro para todos.
Eu queria acreditar nele, queria mesmo.
Chegamos ao tribunal alguns minutos depois. A movimentação no local era intensa, jornalistas do lado de fora, câmeras apontadas para qualquer pessoa que parecesse minimamente envolvida no caso. Antony parou o carro em uma vaga reservada e saiu primeiro para abrir minha porta.
— Pronta? — perguntou, oferecendo sua mão.
— Não. Mas estou aqui, então vamos.
Ele sorriu de leve, um sorriso encorajador, e segurou minha mão por um breve instante antes de me soltar.
Dentro do tribunal, tudo parecia mais frio, mais formal. O promotor me cumprimentou rapidamente e explicou como as coisas aconteceriam. Antony ficou ao meu lado o tempo todo, apenas observando, mas sua presença era reconfortante.
Quando o julgamento começou, parecia que todos os olhos estavam em mim. A defesa de Marco, claro, tentou distorcer os fatos, insinuando que talvez eu tivesse algo a esconder. Mas o promotor foi incisivo, usando as provas que Antony e a equipe haviam reunido.
Quando chegou a minha vez de depor, meu coração disparou. Eu subi ao banco das testemunhas, tentando manter a compostura enquanto olhava para Marco. Ele parecia calmo, até arrogante, como se tivesse certeza de que sairia dali livre.
As perguntas vieram uma a uma, e eu respondi com honestidade, mesmo quando era difícil. Contei sobre a noite do crime, o que lembrava, o medo que senti, e como as memórias voltaram aos poucos. Contei sobre o assobio, o carro na estrada, e como tudo se encaixava na narrativa do que Marco havia feito.
Quando terminei, olhei para Antony na plateia. Ele me deu um leve aceno, como se dissesse "você foi incrível".
Horas depois, o julgamento foi encerrado para o intervalo, e todos aguardavam ansiosos pelo veredito. Antony me levou até uma sala reservada, longe do tumulto.
— Você foi incrível lá dentro — disse ele, me entregando um copo de água.
— Eu me senti como se estivesse sendo esfolada viva.
— Mas você fez o que precisava fazer. Agora é com a justiça.
Olhei para ele e suspirei, deixando meu corpo relaxar um pouco.
— Obrigada por estar aqui. Não sei o que faria sem você.
Antony sorriu, mas antes que pudesse responder, alguém entrou na sala para nos chamar. O juiz estava pronto para dar o veredito.
Quando voltamos ao tribunal, meu coração parecia querer sair pela boca. Marco estava sentado no banco dos réus, ainda com aquela expressão de superioridade. Mas, no momento em que o juiz começou a falar, sua confiança pareceu vacilar.
O juiz declarou Marco culpado de homicídio culposo e tentativa de obstrução da justiça. Ele foi condenado a anos de prisão, e pela primeira vez desde que tudo começou, eu senti um peso imenso sair dos meus ombros.
Quando saímos do tribunal, Antony estava ao meu lado, como sempre.
— E agora? — perguntei, olhando para ele.
Ele sorriu, colocando a mão no meu ombro.
— Agora você pode começar a viver, Amanda. Do jeito que você merece.
Eu sabia que tinha um longo caminho pela frente, mas com Antony ao meu lado, talvez eu finalmente tivesse uma chance de ser feliz.
.........
...Ps: Eu amo eles dois....
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Vanusa Candida Alves Nunes
Tá muito fácil, não sei não, vem coisa aí
2025-01-19
1
Hope
Por que o Marcos matou o irmão?
2025-04-14
0
Anne-Cécile
Eu também
2025-02-09
1