A cela era fria e silenciosa, mas minha mente era um caos. Estava deitada no pequeno colchão, olhando para o teto manchado, tentando juntar os pedaços quebrados da minha memória. Tudo ainda parecia um borrão. Quanto mais tentava lembrar, mais a dor na minha cabeça aumentava.
Os últimos dias foram um tormento. Antony me olhava com aquele misto de dúvida e determinação, como se estivesse tentando arrancar de mim uma verdade que nem eu sabia. E agora, sozinha, o silêncio da cela era quase ensurdecedor, mas me forçava a confrontar as sombras que rondavam minha mente.
Fechei os olhos, tentando me concentrar.
Um som.
De repente, como um eco distante, veio um som... Um assobio. Era uma melodia baixa, lenta, e me causava arrepios. Não era algo que eu conhecesse, mas era familiar de alguma forma.
Minha respiração ficou pesada, o coração acelerou. Não era Gael. Eu sabia disso. Ele nunca assobiava. Na verdade, ele detestava esse tipo de coisa. Mas então, quem era?
Tentei puxar mais da memória, e imagens vagas começaram a surgir. Estava na mata, isso era certo. A chuva escorrendo pelo meu rosto, os galhos arranhando meus braços enquanto eu corria. E o assobio... Ele estava lá, misturado ao som da tempestade.
Um calafrio percorreu meu corpo. Não era algo que eu pudesse ignorar. Era um homem, com certeza. A melodia parecia calma, mas havia algo perturbador nela. Algo que me fazia querer fugir.
Abri os olhos de repente, sentindo a respiração presa no peito.
— Quem é você? — Murmurei para o vazio, minhas mãos tremendo ao puxar o lençol para mais perto do corpo.
Tentei me levantar, mas minhas pernas estavam bambas. Fui até a pequena pia e joguei água fria no rosto, tentando clarear minha mente. O que aquele assobio significava? Quem era aquele homem?
Voltei para a cama e me sentei, abraçando os joelhos contra o peito. A lembrança era vaga, mas o suficiente para despertar algo em mim. Talvez eu estivesse começando a lembrar. Talvez a névoa estivesse finalmente começando a se dissipar.
Mas com isso, veio o medo. E se, ao lembrar, eu descobrisse algo ainda pior do que já imaginava?
A noite mal havia passado. O frio da cela parecia penetrar meus ossos, mas a lembrança daquele assobio não me deixava em paz. Eu precisava falar com alguém, precisava contar. E havia apenas uma pessoa em quem eu sentia que podia confiar, mesmo que ele não acreditasse completamente em mim: Antony.
Quando o policial de plantão apareceu para a troca de turno, eu me levantei da cama e me aproximei da grade.
— Preciso falar com o detetive Antony. É importante. — Minha voz estava firme, mas as mãos tremiam de ansiedade.
O policial me olhou por um momento, cruzando os braços.
— Ele já foi pra casa, senhorita. Só deve voltar pela manhã.
Dei um passo para trás, sentindo o peso da decepção. Esperei tanto para conseguir falar com ele, mas agora teria que aguentar mais horas até poder tentar explicar.
Na manhã seguinte, fui levada novamente para a sala de interrogatório. Antony já estava lá, acompanhado do delegado. Meu coração acelerou ao vê-lo. Ele parecia cansado, os olhos marcados por noites sem dormir, provavelmentee, mas havia uma determinação inabalável em sua expressão.
Me sentei diante deles.
— Lembrou de algo? — O delegado perguntou, a voz baixa e objetiva, enquanto folheava alguns papéis.
Respirei fundo, tentando organizar as palavras.
— Eu... eu me lembrei de um homem. — Olhei diretamente para Antony. — Ele estava assobiando. Uma melodia lenta... estranha. Eu sei que parece pouco, mas não era Gael. Tenho certeza disso.
Antony franziu o cenho, inclinando-se ligeiramente para frente.
— Um homem assobiando? Onde?
— Na mata. Quando eu estava correndo. — Minha voz tremeu. — Não sei como, mas eu ouvi isso, mesmo com a chuva. Não era um pássaro, não era o vento... era alguém.
O delegado soltou um suspiro audível, como se estivesse tentando conter a irritação.
— Amanda, você estava na mata, provavelmente desorientada. Podia ser qualquer coisa. Até um animal.
— Não! — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, e Antony levantou a mão num gesto para acalmar o delegado.
— Ela está certa. O assobio não parece algo que seria feito por acaso, especialmente em uma noite chuvosa. — Antony olhou para mim. — Mais alguma coisa? Algum detalhe sobre essa pessoa?
Eu balançava a cabeça, tentando buscar algo mais, mas nada vinha. Até que meus olhos caíram sobre a mesa. Havia uma miniatura de carro ali, um modelo antigo, bem cuidado, que parecia ser apenas um enfeite na ponta de uma caneta.
Minha respiração parou, e senti meu corpo congelar.
Uma estrada.
Faróis cortando a escuridão.
Um carro parado um pouco atrás do nosso.
As memórias vieram como um choque, me atingindo de forma tão forte que minhas mãos se agarraram às bordas da mesa para não cair.
— Amanda? — Antony chamou, mas minha mente estava longe.
— Um carro... — sussurrei, minha voz trêmula.
— O que você disse? — O delegado perguntou, agora parecendo mais atento.
Ergui os olhos, encontrando os de Antony.
— Eu vi um carro na estrada. Um pouco atrás do nosso. Era deserto, não tinha ninguém mais ali. Mas eu lembro... lembro de olhar para trás e ver os faróis.
Antony se inclinou para frente, a expressão agora totalmente focada.
— Você consegue lembrar de mais alguma coisa sobre esse carro? A cor, o modelo...?
Fechei os olhos, tentando puxar mais da memória, mas era como se estivesse olhando para algo através de uma névoa espessa.
— Não sei. Estava escuro, e eu só vi os faróis... Mas ele estava lá. Tenho certeza disso.
Antony olhou para o delegado, que apertava os lábios, claramente pensativo.
— Vamos verificar câmeras de trânsito. Se havia outro carro na estrada, alguém pode ter registrado algo.
O delegado assentiu, parecendo mais disposto a agir agora.
Antony voltou a me olhar, os olhos fixos nos meus.
— Amanda, você fez bem em lembrar disso. Vamos seguir essa pista, e eu prometo que vamos descobrir a verdade.
Assenti, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair. Pela primeira vez em dias, senti que talvez houvesse esperança de entender o que realmente aconteceu naquela noite.
.........
...Ps: Antony acredita mais na Amanda do que ela mesma hahaha. Amo eles dois ! 🥺Ah, desculpa não postar antes, passei o dia ocupada....
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Atualizado até capítulo 30
Comments
lua 🌙
autora doida para saber quem matou o namorado dela
2025-01-10
1
Ana Silva
acho q tem algum policial corrupto no meio
2025-01-11
1