A noite estava mais fria do que o normal para essa época do ano, mas isso não parecia me incomodar enquanto dirigia. Na verdade, o clima combinava perfeitamente com o que se passava na minha cabeça. Eu olhei de relance para Amanda, sentada ao meu lado, ajustando o cinto de segurança com a delicadeza de quem parecia se preocupar em não amassar o vestido.
Ela estava deslumbrante.
Tentei focar meus olhos na estrada, mas minha mente parecia gostar de se perder em detalhes dela: o jeito como o vestido preto delineava sua silhueta sem exageros, a forma como o batom vermelho destacava seus lábios. Era difícil lembrar que, tecnicamente, essa era só uma "gentileza" entre nós dois.
— Está tudo bem? — ela perguntou, quebrando o silêncio.
— Sim, só estou tentando decidir onde vamos. — Inventei, meio sem graça.
A verdade é que eu tinha planejado isso desde que ela me convidou para jantar. Mas, de alguma forma, agora parecia um desafio absurdo.
— Ah, pensei que o detetive sempre tivesse tudo sob controle — ela brincou, com um sorriso.
— Sempre tenho, mas acho que você é a exceção.
Ela riu baixo, e foi impossível não sorrir também. Amanda tinha essa capacidade de aliviar qualquer peso no ar.
Chegamos ao restaurante em menos tempo do que eu esperava. Era um lugar aconchegante, discreto, com luzes amareladas que criavam uma atmosfera acolhedora. Pedi uma mesa no canto, longe da movimentação principal. Queria que ela se sentisse confortável, principalmente depois de tudo que havia acontecido.
Quando nos sentamos, o silêncio voltou por alguns instantes. Mas não era desconfortável. Era como se ambos estivéssemos processando algo maior do que apenas um jantar.
Seus olhos encontraram os meus, e, por um momento, o mundo pareceu desacelerar. Queria dizer que qualquer um faria o mesmo, mas seria mentira. Eu sabia que havia algo mais, algo que me puxava para ela de uma forma que eu não conseguia explicar.
O garçom interrompeu, trazendo o vinho que eu tinha pedido. Serviu nossas taças e se afastou em silêncio. Amanda pegou a dela, girando o líquido dentro do copo.
— Aos mistérios resolvidos — ela brindou, erguendo a taça.
— E aos que ainda estão por vir. — Respondi, batendo levemente minha taça na dela.
Mas, enquanto bebíamos, tudo o que eu conseguia pensar era em como Amanda não era só mais um "mistério" no meu trabalho. Ela era algo muito mais complicado. E talvez, muito mais perigoso.
...[...]...
Amanda girava a taça de vinho com leveza, o olhar fixo no líquido vermelho como se estivesse contemplando algo distante. Eu sabia que ela tinha muito a dizer, mas também sabia que era difícil. A verdade é que, depois de tudo o que ela passou, qualquer conversa sobre o passado devia ser um território minado.
— Então, me conta, detetive — ela começou, erguendo o olhar para mim com um sorriso leve. — O que te levou a escolher essa vida?
Soltei um suspiro, apoiando o corpo na cadeira. Era uma pergunta que eu já tinha respondido antes, mas nunca parei para pensar profundamente nela até agora.
— Acho que... foi algo que sempre esteve em mim. Desde pequeno, eu tinha essa vontade de entender o "porquê" das coisas. Minha mãe dizia que eu era curioso demais, sempre metendo o nariz onde não era chamado. — Dei um sorriso curto, lembrando dela. — E quando meu pai morreu, vítima de um assalto, percebi que queria fazer alguma coisa. Não podia mudar o passado, mas talvez pudesse evitar que outras pessoas passassem pelo mesmo.
Amanda me olhava atentamente, como se absorvesse cada palavra.
— Sinto muito pelo seu pai.
— Obrigado. Já faz muitos anos, mas acho que nunca deixa de doer completamente.
— Imagino que não. — Ela mordeu o lábio inferior, parecendo hesitante por um momento. — E sua mãe?
— Ela ainda mora na mesma casa onde eu cresci. Faz bolos incríveis e me liga pelo menos três vezes por dia.
Ela riu, e aquilo aliviou o peso da conversa.
— Parece alguém incrível.
— Ela é. E você? — perguntei, inclinando-me um pouco para frente. — Quem é Amanda fora desse turbilhão de acontecimentos?
Ela hesitou, brincando com o guardanapo sobre a mesa.
— Essa é uma boa pergunta. Acho que ainda estou tentando descobrir. — Seus olhos encontraram os meus, sérios. — Minha vida inteira foi moldada para agradar outras pessoas. Meus pais, Gael, o círculo social que esperavam que eu mantivesse... Sempre me senti presa a algo que eu não queria ser.
— E o que você queria ser?
Ela ficou em silêncio por um momento, olhando para a taça.
— Livre.
Aquela palavra parecia pesar no ar entre nós.
— E agora? — perguntei.
— Agora, acho que estou dando meus primeiros passos para isso. Pela primeira vez, estou começando a me perguntar o que eu realmente quero.
Eu assenti, compreendendo mais do que esperava.
— Então, o que você quer agora? — arrisquei perguntar, talvez com um pouco mais de curiosidade do que deveria.
Amanda ergueu o olhar, um sorriso misterioso nos lábios.
— Agora, quero aproveitar esse jantar sem pensar no passado ou no futuro. Só no presente.
Não consegui evitar um sorriso.
— Acho que posso ajudar com isso.
E assim, a conversa mudou para coisas mais leves: músicas favoritas, viagens que queríamos fazer, comidas que odiávamos. Era estranho como, por alguns instantes, parecia que o mundo lá fora não existia.
Mas, ao mesmo tempo, havia algo que ficava evidente: Amanda não era apenas uma "vítima" ou uma "suspeita". Ela era muito mais. E eu sabia que, de alguma forma, queria fazer parte dessa nova fase que ela estava descobrindo.
.........
...Ps: Será que nós estamos incomodando eles ficando de vela aqui? 🥺...
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Atualizado até capítulo 30
Comments
lua 🌙
torso para que o casal seja feliz
2025-01-13
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