Capítulo 04

No hall de entrada, havia marcas de barro no chão, indicando que alguém havia passado por ali recentemente. Uma das cadeiras da sala de jantar estava caída, e uma garrafa de vinho aberta repousava sobre a mesa.

— Parece que saíram às pressas. — David comentou, observando os detalhes.

— Ou foram forçados a sair. — Respondi, caminhando em direção à escada que levava ao segundo andar.

No quarto principal, as coisas estavam aparentemente em ordem, mas algo me chamou a atenção: o espelho do banheiro estava embaçado, como se alguém tivesse tomado banho recentemente. Já que todas as janelas estavam fechadas.

— Eles estavam aqui. Não faz muito tempo. — Falei, saindo do quarto e descendo as escadas rapidamente.

Assim que voltei à sala, um dos peritos se aproximou segurando um objeto pequeno em um saco plástico.

— Encontramos isso perto da porta dos fundos. — Ele disse, me entregando o saco.

Dentro havia uma correntinha de ouro com um pingente delicado. David reconheceu imediatamente.

— É da Amanda. — David confirmou, olhando por cima do meu ombro.

— Se ela estava aqui, pode estar fugindo. — Concluí, sentindo a tensão aumentar. — E Gael? Nenhum sinal?

O perito balançou a cabeça negativamente.

— Não até agora.

Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos.

— Precisamos ampliar a busca. — Falei, virando-me para os policiais que aguardavam instruções. — Verifiquem a área ao redor da casa e as trilhas na floresta. Ela pode estar desorientada ou tentando encontrar ajuda.

O jogo havia mudado, e o tempo era nosso maior inimigo.

Um dos peritos se aproximou novamente, segurando mais um saco plástico. A chuva fina dificultava a visão, mas a lanterna que ele carregava iluminava o conteúdo.

— Encontramos isso debaixo do carro do casal. — Ele entregou o saco, que continha um batom, um rímel e um corretivo.

Olhei para os objetos, sentindo um frio subir pela espinha. Eram itens típicos de maquiagem, provavelmente pertencentes a Amanda. A posição em que foram encontrados sugeria que caíram enquanto ela saía do carro às pressas.

— Ela deve ter derrubado isso quando tentou sair. — David comentou, examinando os itens comigo. — Talvez estivesse com a bolsa, mas deixou cair na correria.

Antes que eu pudesse responder, outro policial veio até nós, carregando outro saco plástico, desta vez com um celular dentro.

— Detetive, encontramos isso no início da trilha que leva à mata. — Ele apontou para o caminho estreito e escuro que adentrava a floresta. — É de uma mulher. A tela está rachada, mas ainda conseguimos ver o papel de parede.

Peguei o saco e observei o celular. Apesar das rachaduras, a imagem de Amanda era nítida na tela. Era uma selfie em que ela sorria, aparentemente despreocupada, em um dia que agora parecia pertencer a outra vida.

— É dela. — Falei, devolvendo o saco ao policial. — Ela definitivamente passou por aqui.

David olhou para a trilha com uma expressão séria.

— Se ela foi para a mata, não foi por vontade própria. Esse lugar é um labirinto, ainda mais à noite e com chuva.

Virei-me para a equipe de busca que já estava reunida.

— Dividam-se em grupos. Quero equipes percorrendo a trilha e vasculhando cada centímetro da mata. Usem lanternas, rastreiem pegadas, qualquer coisa que possa indicar para onde ela foi.

Os policiais assentiram e começaram a se organizar. David se aproximou novamente, agora com o olhar ainda mais preocupado.

— E Gael? Nada que indique o paradeiro dele?

— Não ainda. — Respondi, franzindo a testa. — Mas alguma coisa me diz que a resposta está lá dentro da mata.

A chuva havia se intensificado novamente, tornando o cenário ainda mais sombrio. Com lanternas em mãos e o som dos rádios preenchendo o silêncio opressor, seguimos em direção à trilha, na esperança de encontrar Amanda antes que fosse tarde demais.

A trilha estava escura e escorregadia, a chuva fazia com que o som de nossos passos ficasse abafado pela lama. Minhas mãos seguravam a lanterna firmemente enquanto a luz iluminava a mata densa à minha frente. O silêncio era perturbador, quebrado apenas pelo som do vento e o ocasional farfalhar das folhas.

— Antony! — David chamou baixinho, um pouco atrás de mim. — Alguma coisa ali na frente.

Segui a direção em que ele apontava com sua lanterna e vi uma figura encurvada, quase imóvel, debaixo de uma árvore. Aproximei-me com cuidado, tentando não assustá-la.

Era Amanda.

Ela estava sentada no chão, abraçada aos próprios joelhos, tremendo de frio e molhada até os ossos. Havia sangue na testa, os pés estavam sujos e machucados, e sua cabeça estava encostada no tronco da árvore, enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela soluçava baixinho, como se todo o peso do mundo estivesse sobre ela.

— Amanda? — Minha voz saiu firme, mas calma. — Meu nome é Antony, sou policial. Você está segura agora. Vou te tirar daqui, tudo bem?

Ela ergueu o olhar lentamente, os olhos perdidos, quase sem brilho, como se não registrasse o que estava acontecendo. Não respondeu, apenas chorou ainda mais alto, escondendo o rosto nas mãos. Era como se estivesse presa em um estado de choque profundo.

Eu me ajoelhei ao lado dela, colocando minha lanterna no chão para iluminar o espaço ao redor. Com cuidado, toquei em seu ombro.

— Amanda, eu preciso que confie em mim. — Falei com um tom suave, mas firme. — Vou te levar para o hospital. Você está machucada, mas está segura agora. Ninguém vai te machucar mais.

Ela ainda não disse nada, mas não se afastou. Respirei fundo e tirei meu casaco, colocando-o sobre seus ombros para protegê-la da chuva. Em seguida, segurei suas mãos, notando que estavam geladas como gelo.

— Vamos sair daqui, tudo bem? Vou te ajudar. — Disse, tentando tranquilizá-la.

David chegou perto, com o rosto preocupado. Ele avaliou a situação e acenou discretamente para que eu tomasse a dianteira. Amanda estava completamente vulnerável, e cada segundo ali poderia piorar sua condição física e emocional.

Com muito cuidado, passei um braço ao redor dela e a ajudei a se levantar. Ela mal conseguia ficar de pé, então a apoiei contra meu corpo, garantindo que não caísse.

— Vai dar tudo certo, Amanda. — Murmurei enquanto caminhávamos pela trilha de volta. — Você está salva agora.

Ela continuava em silêncio, o choro diminuindo aos poucos, mas sua expressão ainda carregava o peso de algo que não conseguia verbalizar. Sabia que o caminho para entender o que havia acontecido seria longo, mas, pelo menos por enquanto, o mais importante era tirá-la dali em segurança.

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Comments

Dulce Gama

Dulce Gama

Que situação misericórdia 🎁🎁🎁🎁🎁

2025-01-10

1

Thaliaa Vieira

Thaliaa Vieira

Que angustiante 😣

2025-01-09

1

Ver todos

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