Capítulo 03

Acordei sentindo minha cabeça latejar. Onde eu estava? Pisquei algumas vezes, tentando ajustar minha visão ao ambiente ao meu redor. O chão molhado pela chuva estava frio contra a minha pele, e o som dos pássaros ecoava de forma quase assustadora na vastidão daquela mata.

Sentei-me devagar, sentindo meu corpo pesado e trêmulo. Foi então que vi a arma ao meu lado, reluzindo sob a luz fraca que escapava das nuvens carregadas. Meu coração disparou, o medo se instalando. Abracei o próprio corpo em busca de conforto, mas tudo o que senti foi o tecido úmido e frio contra minha pele.

Olhei para o céu, agora ameaçando mais chuva, e senti uma lágrima quente escorrer pelo meu rosto. O que tinha acontecido? Por que eu estava ali?

Levantei-me trêmula, dando um passo em falso. Meu pé tropeçou em algo e, antes que pudesse me equilibrar, caí de joelhos no chão. Olhei para trás, assustada, e vi... um corpo.

Meu coração parou. Era Gael.

Um grito silencioso ficou preso na minha garganta. Levei as mãos à boca, horrorizada, tentando processar o que via. Meu estômago revirou, e o pânico tomou conta de mim.

Eu... eu fiz isso?  Olhei para a arma novamente. Ela estava ali, ao meu lado. Meus dedos tremiam só de pensar em tocá-la.

Levantei-me às pressas, tropeçando em meus próprios pés enquanto me afastava do corpo. Minha respiração estava descompassada, meus pulmões pareciam não conseguir absorver ar suficiente. Comecei a caminhar sem direção, a vasta floresta à minha frente parecendo um labirinto sem saída.

O som da chuva se intensificava, e o vento fazia as árvores balançarem de forma ameaçadora. Meu coração martelava no peito enquanto sentia o desespero me consumir. Então, esbarrei em alguém.

— Ei! Tome cuidado! — a voz feminina foi firme, mas carregava uma preocupação evidente. Seus olhos me examinaram rapidamente, e sua expressão mudou para alarme. — Você está bem? Precisa de ajuda?

Recuei, assustada, me esquivando de seu toque. Não podia confiar em ninguém. Não sabia o que tinha acontecido, mas sabia que algo estava muito, muito errado.

Sem responder, virei e comecei a correr. As lágrimas agora desciam em torrentes, misturando-se com a chuva que começava a cair com força. Minha visão ficava turva, minha cabeça girava.

O céu escurecia rapidamente, mas não era só isso. Tudo ao meu redor parecia se apagar. Minhas pernas fraquejaram, e o mundo à minha volta foi se tornando um borrão até que a escuridão tomou conta de mim.

.........

— Atenção, todas as viaturas. — A voz feminina soou clara no rádio, com um tom de urgência. — Recebemos uma ligação de Cunha. Uma mulher foi vista andando desnorteada pela estrada. Descrições: cabelos castanhos, baixa, pele clara, mas estava suja de barro, vestindo um vestido vermelho e descalça.

A mensagem ecoou dentro da viatura, e meu coração acelerou. Olhei para David ao meu lado, que apenas assentiu, já entendendo o que precisávamos fazer.

— Pode ser ela. — murmurei, engatando a marcha e pisando fundo no acelerador.

— Se for, temos que chegar rápido. Com a chuva e o vento forte, ela pode estar em perigo. — David ajustou o cinto, seu olhar fixo na estrada à frente.

A chuva, que antes era apenas uma garoa leve, começava a ganhar força. O vento balançava as árvores, e as folhas rodopiavam pelo asfalto molhado. As condições estavam se tornando cada vez mais complicadas, mas isso não diminuiu minha determinação.

— Estamos a quanto tempo de distância? — perguntei, mantendo os olhos na estrada enquanto ultrapassava um caminhão.

— Quarenta e cinco minutos, talvez menos se continuar assim. — David olhou o GPS rapidamente antes de voltar a atenção para o rádio, que continuava a transmitir atualizações.

O silêncio dentro da viatura era tenso. A cada quilômetro percorrido, minha mente tentava montar as peças do quebra-cabeça. Amanda estava desaparecida, e agora tínhamos uma pista concreta. Mas o que a tinha levado a essa situação? E onde estava Gael?

— Se ela está andando pela estrada... — David começou, mas parou, deixando a frase no ar.

— Pode estar fugindo de alguma coisa. Ou de alguém. — completei, apertando o volante com mais força.

O clima pesado parecia refletir a urgência da situação. Cada minuto contava. E, no fundo, eu só tinha uma certeza: encontrar Amanda era apenas o começo de algo muito maior.

O barulho das sirenes se misturava ao som da chuva que agora caía com força. Assim que chegamos ao local indicado, várias viaturas já estavam estacionadas ao longo da estrada de terra que levava à casa do casal em Cunha. Policiais vestindo capas de chuva andavam de um lado para o outro, lanternas iluminando o chão enlameado e as árvores ao redor.

Estacionei a viatura e saí rapidamente, sentindo o vento gelado bater no rosto. David fez o mesmo, ajustando o capuz do casaco enquanto olhava ao redor.

— Detetive Antony, vocês demoraram! — Um dos policiais se aproximou, falando alto para superar o som da chuva. — Encontramos o carro deles, mas ainda não há sinal de Amanda ou Gael.

— Onde está o carro? — perguntei, tentando ignorar o frio que começava a se infiltrar pela roupa.

— Lá, na entrada da propriedade. — Ele apontou para um sedã preto estacionado de qualquer jeito, com uma das portas ligeiramente aberta.

Caminhamos até o veículo, a chuva tornando o percurso ainda mais difícil. O carro estava claramente abandonado, com marcas de pneus indicando uma freada brusca. David abriu a porta do motorista e examinou o interior com cuidado.

— Não há sinais de luta aqui dentro, mas também não há pertences. — Ele olhou para mim. — Nenhuma bolsa, nenhum celular... Nada.

Olhei ao redor, tentando entender o que poderia ter acontecido. A casa ficava a poucos metros dali, imponente no meio do nada, mas com um ar sofisticado sob o céu cinzento.

— Já verificaram a casa? — perguntei ao mesmo policial que nos recebeu.

— Sim, senhor. As portas estavam destrancadas, mas ninguém foi encontrado lá dentro. Os peritos estão vasculhando o local agora.

— Vamos dar uma olhada. — Falei, acenando para David me seguir.

Caminhamos até a casa, passando por policiais que seguravam lanternas enquanto verificavam a área ao redor. Assim que entramos, a sensação de abandono ficou ainda mais evidente. O silêncio era quase ensurdecedor, interrompido apenas pelo som da chuva batendo nas janelas.

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Comments

Dulce Gama

Dulce Gama

interessante 🎁🎁🎁🎁 🎁

2025-01-10

1

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